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Blumenau como “vitrine de Santa Catarina”

61 AURAS, op cit., p 301.

62 RODRIGUES, Marly. A década de 80. Brasil: quando a multidão voltou às ruas. São Paulo: Ática, 1992. P. 18.

63 Idem. p. 307.

64 Isto foi motivo de denúncias de deputados da oposição, nos pronunciamentos da Assembléia Legislativa, como o que se segue, proferido pelo deputado do PMDB da capital, Édison Andrino: E neste momento, tem muita gente querendo aparecer, em nome da reconstrução do estado de Santa Catarina. O Sr. Governador quando vai entregar uma casa leva a televisão a tiracolo, fazendo política em nome da solidariedade do povo brasileiro. Os saquinhos de mantimentos estão sendo distribuídos com o logotipo, com a marca do estado de Santa Catarina; isto é crime porque estes mantimentos não são do governo do estado de Santa Catarina, foram doados pela solidariedade do povo brasileiro”. ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA. Diário da

Márcio Konder, integrante da conhecida família Konder de Itajaí, escreveu em coluna jornalística:

(...) Espiridião Amin não estará obrigado a colher apenas os prejuízos desta situação tão difícil. Abre-se para o jovem governador uma oportunidade histórica de demonstrar, numa fase particularmente grave, todas as suas qualidades de liderança. Os catarinenses e o Brasil inteiro estão a testemunnhar o zelo, a firmeza, a sobriedade e a clarividência que tem caracterizado as palavras e os atos do governador nestes dias (...)®6.

Em meio aos discursos proferidos pelos deputados da oposição, há um depoimento acerca da atuação do governador numa manifestação pública em Blumenau, contra o descaso federal para com o problema das enchentes, a 07 de agosto de 1983. Este depoimento, mesmo proferido no meio de disputas partidárias, é válido para atestar o jogo político que ocorria durante a reconstrução da cidade e do estado. Na ocasião, o governador encomendou faixas com dizeres “Blumenau acredita

no governo”, “Amin, nós trabalhamos por você”6?. Este dado foi apresentado por

Édison Andrino, deputado estadual pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro, partido de oposição ao PDS, quando chamava de “crise de vedetismo” o fato de muitas pessoas quererem “aparecer” às custas dos flagelados68:

O governador teve o apoio de empresários blumenauenses na medida em que estes, naquela manifestação realizada defronte às escadarias da Igreja Matriz,

65 RODRIGUES, op. cit., p. 22.

66 KONDER, Victor Márcio. A oportunidade histórica de unia liderança. Jornal de Santa Catarina, Blumenau, 24 e 25.07.83.

67 As faixas. Jornal de Santa Catarina, Blumenau, 10.08.83, p. 02.

impediram que o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, autoridade importante da Confederação Brasileira dos Bispos do Brasil, ali presente, subisse ao palanque oficial. Conforme informação dada pelo deputado João de Borba, representante de Blumenau, os empresários não queriam dar a voz ao cardeal para não apagar a imagem e o brilho do discurso do g o v e rn a d o r^ . Tal informação é prestada após o deputado do partido governista Lauro Silva, dizer que o governador não havia se oferecido mas que havia sido convidado para a manifestação em Blumenau.

Até a ocorrência das enchentes, em julho de 1983, a “identidade catarinense” havia sido buscada no oeste de Santa Catarina. A partir da necessidade de verbas federais para reconstruir o estado, o governador começou a usar um discurso semelhante ao que fazia o governo municipal blumenauense, isto é, um discurso dignificador do “espírito de trabalho” dos catarinenses.

Nos seus discursos, visando angariar verbas federais, Santa Catarina aparece como o “filho conformado” e esquecido pelo resto do país, da mesma forma que o Vale do Itajaí, nos debates intra-estaduais, aparecia como “o filho órfão largado à soleira da

porta”70. Em suas palavras, o povo catarinense está submerso nas águas do

esquecimento e da desconsideração. Santa Catarina mereceria ajuda federal naquele momento tão difícil, pelo seu caráter “aguerrido, inovador e destemido”:

Santa Catarina tem sido sempre o filho conformado deste país (...) somos um povo forte e independente, aguerrido, inovador e destemido (...) sempre demos

69 ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA. Diário da Assembléia Legislativa de 08.08.1983. N. 2.655, p. 03. 70 Expressão utilizada pelo deputado João de Borba, PMDB. ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA Diário da

expressiva contribuição para a consolidação do sonho brasileiro de tomar-se um país forte e independente. Tiramos da terra, na força do trabalho de nossos agricultores, considerável parcela dos alimentos que chegam à mesa do povo brasileiro. Nossa industrialização alcançou destaque nacional, honrando pela qualidade dos produtos que fabricamos.^

Este. é um trecho do documento enviado ao presidente da república em exercício, Aureliano Chaves, que visitou o estado após as enchentes de julho de 1983. No dia 25 daquele mês, o presidente em exercício reuniu-se com empresários, políticos e representantes dos mais diversos segmentos de Blumenau, para ouvir reinvindicações e apelos. No documento enviado ao presidente, Santa Catarina aparece como sinônimo de “estado de trabalho”, um exemplo a ser seguido, um estado que chegou a criar um “modelo catarinense de desenvolvimento". Dados estatísticos são apresentados para afirmar a significativa contribuição econômica do estado para o progresso do país:

Sr. Presidente, o que vale Santa Catarina? (...) Quanto convém investir em quem produz e exporta tanto e está em risco de parar, de retroceder, de desesperar? 20% do PIB será uma cifra alta demais? O equivalente a dois anos de exportação será exagerado? (...) Se as medidas vierem, Santa Catarina reoferecerá ao Brasil a qualidade de seus produtos, a diversidade de suas exportações, o equilíbrio de seu modelo social, a riqueza para a função comum, os bilhões de cruzeiros do seu empenho, o exemplo quem sabe?72

71 A Notícia, Joinville, 21.07.83, p. 7.

72 Aureliano chega dia 25 e traz a resposta aos apelos de Santa Catarina. Jornal de Santa Catarina, Blumenau,

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