• Nenhum resultado encontrado

Indicações úteis aos imigrantes para a província de Santa Catarina no sul do Brasil de Dr Blumenau Rudolfstadt, Edição e Distribuição de G Froebel, 1851 p 23.

a “política da valorização étnica”

39 Indicações úteis aos imigrantes para a província de Santa Catarina no sul do Brasil de Dr Blumenau Rudolfstadt, Edição e Distribuição de G Froebel, 1851 p 23.

deveriam “colocar a mão na massa”. Tal preocupação é encontrada no próprio Decreto Imperial de 19 de janeiro de 1867, que regulamentava o funcionamento das colônias:

(...) Art. 12. Todo colono que, dentro de dois anos, contados da data em que fôr empossado no lote comprado, não tiver nêle estabelecido morada habitual e cultura efetiva perderá o direito ao mesmo lote, o qual, precedendo os competentes anúncios, será vendido em hasta pública. (...)

Art. 3 6 - 0 colono, que deixar de se ocupar assiduamente em sua lavoura ou indústria, será admoestado pelo Diretor, ou privado dos trabalhos e favores coloniais, precedendo ordem da Junta, se não se emendar.

Art. 3 7 - 0 colono, que, por sua ociosidade e maus costumes, fôr pela Junta reconhecido incorrigível, deixará de pertencer ao regime colonial, e será excluído do respectivo distrito pelo Presidente da Província (,..)41

Os colonos recém-chegados, abrigados no barracão, eram ocupados em serviços agrícolas, na derrubada de matas, abertura de estradas, construção de pontes e outras obras de interesse coletivo42. Injetando dinheiro de fora para dentro, realizando obras e pagando salário aos colonos, Dr. Blumenau tentava cobrir, em parte, o déficit comercial da colônia43. Este “trabalho acessório” era, inclusive, uma maneira dos colonos pagarem seu lote.

41 Decreto Imperial de 19.01.1867 - Regulamento para as colônias do Estado. In: SILVA, José Ferreira da. História de Blumenau. Blumenau: Fundação “Casa Dr. Blumenau”, 1972. p. 94/102.

42 VIDOR, op. cit., p. 27.

43 SINGER, Paul. Desenvolvimento econômico e evolução urbana: análise da evolução econômica de São Paulo, Blumenau, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife. São Paulo: Ed. Nacional e Ed. da UPS, 1968, p. 101.

Este fato foi interpretado pelo historiador José Ferreira da Silva44 como um meio de evitar a ociosidade dos primeiros colonos. Há os que “aumentam um ponto” nesta questão, e tomam este fato como exemplo da “laboriosidade” dos primeiros colonos, que além de desbravarem a mata para a construção de suas propriedades, ainda

I

ajudavam a construir as estradas. O fato é que, considerando que a maioria dos colonos se estabeleceu no Vale do Itajaí com dívidas a saldar, é fácil explicar que o “trabalho acessório” significou, principalmente, um meio dos colonos regularizarem sua situação financeira. A grande maioria dos colonos não havia pago o seu lote à vista, devendo então saldá-lo dentro de 4 a 5 anos, com juros de 6% ao ano45. Considerando a falta de moeda circulante na colônia e a prática do escambo, o “trabalho acessório” era a única forma de obter dinheiro para a regularização dos lotes.

Todos os fatos acima citados, como a seleção dos imigrantes, os interesses do Império na introdução de mão-de-obra livre e na colonização através de minifúndios, e o próprio fato dos imigrantes virem ao Brasil para construírem uma nova vida para si e sua família, portanto, constituíram uma base forte para a produção de todo um arsenal discursivo de dignificação das colônias alemãs. E Blumenau não fugiu a isto. Todos estes elementos juntos, contribuíram para a construção de uma imagem positiva de Blumenau, fundamentada no que esta Colônia trazia de “diferente”, de “novo” para a sociedade brasileira de então.

44 SILVA, op. cit., p. 49.

43 HILLESHEIM, Anselmo Antônio. O crescimento do mercado interno numa colônia do Império: o caso de Blumenau - 1850-1880. Florianópolis, 1979. Dissertação (Mestrado em História) - Programa de Pós- Graduação em História - UFSC.

Graças à união dos interesses particulares do fundador e do Império brasileiro, foi possível a colonização da cidade. Por isto que o próprio fundador da cidade também representava o elemento alemão como “laborioso” e o elemento nacional como “preguiçoso”, estando sua visão de mundo, portanto, em conformidade com o conjunto de imagens sociais vigentes à época da introdução da mão-de-obra imigrante no país. Dr. Blumenau inclusive dava dicas aos alemães desejosos de imigrar, de fazer concorrência com os luso-brasileiros, pois na certa, segundo ele, se sobressairiam em virtude não só de seu caráter “empreendedor” mas da “preguiça” dos nativos:

Um negócio muito bom atualmente é a manutenção de embarcações costeiras a pessoas empreendedoras e com posse, que adquiram e possam equipá-los com dirigentes alemães e em parte com marinheiros alemães. De modo cômodo e muito seguro, lucrariam e fariam concorrência na retirada de grande parte das mercadorias, aos preguiçosos e medrosos navegadores costeiros nativos, ou então forçá-los a uma atividade maior, a qual em verdade é difícil de conseguir46.

Outro imigrante alemão, Julius Baumgarten, também representa positivamente o alemão. Chega a concluir que, apesar de muitas pessoas na Alemanha viverem em condições de vida piores que a de muitos escravos brasileiros, os primeiros ainda se destacavam como mais “caprichosos e trabalhadores”. Os elementos negros são representados como “bobos e preguiçosos”, e por isto mesmo, quando libertos, tornam- se “malandros e ladrões”:

Eu vim a esta terra com uma opinião pré-concebida a este respeito, corn uma grande aversão contra a escravatura. Naturalmente influenciado pelo livro “A cabana do pai Tomás”, aqui conhecido como “Tia Beerbohm”. Agora, no entanto, que vi com meus próprios olhos os escravos, cheguei à conclusão que estes livros só estão baseados em mera fantasia. A respeito da escravidão no Brasil, muito se escreve na Alemanha. Se no entanto os pobres alemães se lembrassem que muito serviçal existe lá, que leva vida bem pior do que aqui os escravos, calariam a boca por certo, e não escreveriam sobre coisas que não sabem e não entendem. Sim, se os alemães perdessem sua liberdade, fossem vendidos como escravos, então poderiam manifestar um sentimento de revolta. Quando porém se chega a conhecer esta raça de negros e mulatos, estes elementos bobos e preguiçosos, então podemos chegar à conclusão que, com exceção de poucos, estas pessoas se sentiriam muito melhor como escravos. Em sua condição de libertos tornam-se malandros e ladrões e é comum que negros postos em liberdade em pouco tempo voltam para seu dono, implorando que os aceite novamente, nas condições antigas. Somente as pessoas caprichosas e trabalhadoras é possível posicionar-se como libertadas (,..)47

O interessante é que mesmo com este estereótipo acerca do escravo, Julius Baumgarten, após citar o comerciante de Itajaí, Franz Sallentien, que havia comprado um negro, admitia também querer comprar um, assim que tivesse condições.

A residência de escravos nas colônias foi proibida legalmente somente em 1867, através do artigo 40 do decreto imperial48, portanto, dezessete anos após a fundação da colônia. Hermann Blumenau era contrário à prática da escravidão em terras da

47 Carta do imigrante Julius Baumgarten para as irmãs Marie e Emilie. Itajaí-Grande, 10.09.1853. Arquivo

Outline

Documentos relacionados