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Auto-eficácia e Interesses Ocupacionais

AUTO-EFICÁCIA OCUPACIONAL

4. Auto-eficácia e Interesses Ocupacionais

Os interesses vocacionais têm uma maior tradição histórica como determinantes da escolha de carreira do que as crenças de auto-eficácia, pelo que alguma atenção tem sido dada à distinção conceptual entre estes dois constructos e ao estudo das suas relações, nomeadamente no quadro de desenvolvimento de carreira das mulheres (Hackett, 1995; Hackett & Betz, 1995).

No quadro da teoria da auto-eficácia, os interesses podem ser definidos como sentimentos de aceitação ou de gosto em relação a tarefas, actividades ou profissões, enquanto que as crenças de auto-eficácia referem-se aos julgamentos de eficácia pessoal persistência, as maiores diferenças na magnitude do efeito são atribuídas à diversidade de formas como a persistência é operacionalizada (Mutton, Brown & Lent, 1991).

para corresponder com sucesso à formação e ao desempenho dessas tarefas, actividades ou profissões. Além disso, esta teoria postula a ascendência causal das crenças de auto- eficácia sobre os interesses, isto é, os resultados anteriores influenciariam os interesses através da auto-eficácia de carreira, e esta afectaria os desempenhos e as escolhas futuros de forma directa e indirecta, através dos interesses.

De facto, a generalidade dos estudos têm revelado que sucessos em tarefas anteriores, que sejam relevantes para a escolha ocupacional, afectam as crenças de auto- eficácia, em primeiro lugar, e só secundariamente os interesses. Este modelo pressupõe, por conseguinte, que existe um interregno temporal considerável entre as experiências que são proporcionadas e os interesses que podem ser despertados por essas experiências (Lent, Brown & Hackett, 1994; Hackett, 1995; Hackett & Betz, 1995).

Se a generalidade dos estudos têm evidenciado uma relação simples entre a auto- eficácia ocupacional e os interesses, demonstrando que estas duas variáveis estão moderadamente relacionadas, outros autores têm questionado se existe, de facto, uma diferença conceptual entre as duas variáveis ou se, pelo contrário, elas são intermutáveis, isto é, duas manifestações do mesmo constructo (Hackett, 1995; Hackett & Betz, 1995). Por esse motivo, algumas investigações foram propositadamente realizadas para discernir a natureza e extensão da correspondência entre a auto-eficácia e os interesses, e a utilidade de cada um destes constructos.

Uma análise do modelo causal suporta as predições teóricas de que a auto-eficácia ocupacional, influenciada pelos desempenhos passados, aumenta os interesses ocupacionais (Lapan, Boggs & Morrill, 1989). Lent, Brown & Larkin (1987 in Hackett,

1995; Hackett & Betz, 1995) relatam que tanto os interesses como as crenças de auto- eficácia são significativamente preditivas do conjunto de opções que os estudantes consideram, mas que a auto-eficácia seria o preditor mais forte dos resultados escolares e

da persistência. Isto significa que apesar das crenças de auto-eficácia e dos interesses de carreira determinarem, em combinação, se uma dada ocupação vai ser considerada ou não, as crenças de auto-eficácia são mais importantes do que os interesses na predição da persistência e do sucesso escolar, duas condições sine qua non de ingresso em muitas ocupações.

Como vimos, segundo a teoria da auto-eficácia, as influências do contexto são determinantes para a criação e desenvolvimento dos interesses, através das experiências de aprendizagem que os promovam ou não, assim como das interpretações cognitivas dos resultados de tais experiências. Nesta perspectiva, pode perceber-se que os interesses profissionais das mulheres fossem tradicionalmente considerados mais universais e menos precisos e específicos do que os dos homens, dada a sua orientação para múltiplos papéis, por contraste com a orientação masculina para um único papel. Por esse motivo, procurava-se distinguir os perfis de interesses de homens e mulheres, no lugar de procurar as similitudes entre ambos. Os primeiros estudos que se destinaram prioritariamente aos interesses das mulheres, tinham como objectivo comparar os interesses daquelas que eram orientadas para a vida doméstica com os das que eram orientadas para a carreira (Ferreira, 1991). Os resultados destas investigações maximizavam a influência da socialização do papel de género tradicional, influência que se reflectia numa maior restrição da amplitude dos interesses expressos por mulheres, limitando, deste modo, as opções de carreira exploradas e perseguidas (Fitzgerald & Betz, 1983 in Ferreira, 1991).

Para além da socialização do género, existem outros determinantes do meio que podem exercer influência directa no processo de escolha ocupacional e afectar a força relativa de alguns determinantes cognitivos. Determinadas condições socioeconómicas e educativas podem levar a que a escolha profissional não traduza fundamentalmente os

interesses profissionais: é o caso dos alunos, cujos níveis socioeconómico e/ou de sucesso

escolar, extremamente baixos, levam-nos ao desempenho de profissões que não expressam o seu gosto, mas antes são fruto de condicionalismos mais fortes, como a necessidade de ingressar precocemente no mundo do trabalho para garantir a subsistência e/ou devido à incapacidade de obter sucesso escolar. De facto, será difícil conceber o trabalho em linhas de produção na indústria ou em minas como resultado da canalização dos interesses das pessoas (Lent, Brown & Hackett, 1994). O pressuposto de que os interesses desenvolvidos durante a escolaridade serão de alguma forma traduzidos em termos de escolha de carreira, não tem suficientemente em linha de conta a interferência de outros aspectos pessoais e do meio. A importância potencial destes últimos aspectos apoia a necessidade da sua incorporação nas investigações do desenvolvimento de carreira para respeitar plenamente o princípio da reciprocidade triádica da teoria social cognitiva (Lent, Brown & Hackett,

1994).

5. Estudos de Auto-eficácia Ocupacional e Académica com Estudantes mais Novos