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Autodirecionamento e bem-estar psicológico e social

No documento leticiaoliveiraalminhana (páginas 148-151)

6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

6.2. ESQUIZOTIPIA, PERSONALIDADE E RELIGIOSIDADE EM RELAÇÃO A

6.2.4. Autodirecionamento e bem-estar psicológico e social

O Inventário de Temperamento e Caráter apresentou um número maior de correlações com Qualidade de Vida, do que com Transtornos Mentais. Segundo Cloninger e Zohar (2011), sabemos muito sobre as relações entre psicopatologia e personalidade, mas bem pouco sobre as relações entre personalidade e saúde, especialmente enquanto bem-estar físico, mental e social. Cloninger (2004) também afirma que quando se interessou por investigar felicidade e bem-estar, seus colegas julgaram que estivesse se afastando do campo de estudos da Psicologia, enquanto ciência de rigor. Contudo, o autor argumenta que mesmo estudantes de medicina aprendem como é o funcionamento de um corpo saudável, para depois compreender as doenças. No entanto, a psicologia e a psiquiatria parecem negligenciar o estudo da saúde e bem-estar mentais (CLONINGER, 2004).

Assim sendo, podemos observar os resultados do estudo, que mostraram as correlações significativas entre as dimensões de Esquiva de Danos e menor QV Física; Autodirecionamento e maiores QV Psicológica e Social e Cooperatividade e maior QV

Social. Esquiva de Danos apresentou uma correlação inversa e significativa com QV Física. Como se sabe, ED faz parte do Sistema Comportamental de inibição e suas principais características são preocupação antecipatória pessimismo, medo, incerteza, timidez e rápida fatigabilidade (CLONINGER; SVRAKIC; PRZYBECK, 1993; CLONINGER,1994 e 2004). Por outro lado, QV Física mede, entre outras coisas, fadiga, capacidade de mobilidade, atividades da vida cotidiana e capacidade para o trabalho (FLECK, 2000).

Dessa forma, podemos pensar que uma pessoa com alta ED, apresentando altos níveis de ansiedade (CLONINGER; SVRAKIC; SVRAKIC, 1997), pode encontrar maior dificuldades para sair de casa ou para trabalhar e funcionar adequadamente em relação às atividades cotidianas. Não por acaso, alta ED aparece em inúmeros estudos como um marcador biológico importante para a presença de Transtornos Psicóticos, de personalidade e de humor (BAYON et.al., 1996; BORA; VEZNEDAROGLU, 2007; DANELUZZO; STRATTA; ROSSI, 2005; GONZALEZ-TORRES et.al., 2009; SMITH; RILEY; PETERS, 2009; SVRAKIK et.al, 2002; HORI et.al., 2007). Pode ser que a Esquiva de danos em níveis altos atue na dificuldade de sair de casa e nos graves prejuízos ocupacionais, observados nos pacientes com Esquizofrenia.

Além disso, vemos que, conforme esperado, Autodirecionamento esteve associado positiva e significativamente a QV Psicológica e Social, mostrando a associação mais significativa encontrada em todo o estudo. Sendo assim, vemos que quanto mais Autodirecionada uma pessoa for, maior será seu bem-estar psicológico. Lembrando que AD é a primeira dimensão do caráter, no Modelo Psicobiológico desenvolvido por Cloninger, Svrakic e Przybeck (1993), estando relacionado à aprendizagem baseada em insight (conceitual) e à memória semântica. Isso significa que AD é uma característica desenvolvida ao longo da história de vida, e está relacionada à

capacidade de se adaptar e se reorganizar em experiências que exijam respostas imediatas (CLONINGER; SVRAKIC; PRZYBECK, 1993).

Nesse Modelo, Autodirecionamento é compreendido como a maturação do auto- conceito associado à autonomia (o quanto uma pessoa é capaz de se ver como um indivíduo autômono), à capacidade de assumir responsabilidade pelos próprios atos, admitir seus erros e aceitar a si mesmo da forma que se é (CLONINGER; SVRAKIC; PRZYBECK, 1993). Indivíduos Autodirecionados apresentam noção de identidade, conseguem adiar gratificaçãoes para atingir suas metas e buscam superar desafios. Tais características estão profundamente ligadas ao bem-estar psicológico e ao afeto positivo (CLONINGER, 2004).

Tais achados reforçam a hipótese lançada pelo presente estudo, em relação à maturidade do caráter, essencialmente ligada à responsabilidade, resolução, autonomia (AD). Sendo assim, AD seria o fator diferencial para que uma pessoa que apresente EAs possa desenvolver qualidade de vida psicológica. Além disso, como também observamos correlações significativas e positivas entre AD e QV social, podemos pensar que quanto mais Autodirecionada um pessoa for, ainda que ela apresente EAs, ela tende a ter mais qualidade em suas relações pessoais, a perceber mais suporte social e a ter mais chance de desenvolver relacionamentos duradouros.

A QV social relacionada à AD, parece se confirmar também nas correlações encontradas entre C de e QV Social. As duas variáveis mostraram associações positivas e significativas, sugerindo que pessoas que apresentam EAs podem ter sucesso em suas relações pessoais quando são cooperativas, capazes de identificar-se e de aceitar outras pessoas, sendo tolerantes, empáticas, solícitas e compassivas (CLONINGER; SVRAKIC; PRZYBECK, 1993).

Para compreender melhor essas relações entre personalidade e qualidade de vida (bem-estar subjetivo), é importante observar o estudo desenvolvido por Cloninger e Zohar (2011). Os autores investigaram personalidade e a percepção de saúde e de felicidade em 1102 voluntários (população não-clínica) em Israel. Os participantes preencheram escalas de Afeto Positivo e Negativo, de Satisfação com a Vida, de Suporte Social Percebido e de Saúde Geral, além do ITC.

Os resultados mostraram que Autodirecionamento esteve fortemente associado com todos os aspectos e medidas de bem-estar e de saúde e que isso era indiferentemente das outras dimensões de Caráter (CLONINGER; ZOHAR, 2011). Por outro lado, Cooperatividade correlacionou-se fortemente com Suporte social percebido, mas, ainda assim, as configurações de personalidade que mostravam alta C e baixo AD resultavam em piores índices de saúde e de afeto positivo.

Esses resultados oferecem esclarecimento para o presente estudo, pois vemos que o Autodirecionamento ainda é a medida mais relevante no que diz respeito ao impacto no bem-estar subjetivo. Assim sendo, podemos concluir que as pessoas que apresentam EAs e são cooperativas (C) e possuem autonomia e capacidade de assumir responsabilidade (AD) tendem a ter melhor QV nas dimensões sociais e psicológicas.

No documento leticiaoliveiraalminhana (páginas 148-151)