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ESQUIZOTIPIA, PERSONALIDADE E RELIGIOSIDADE EM RELAÇÃO À

No documento leticiaoliveiraalminhana (páginas 153-157)

6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

6.3. ESQUIZOTIPIA, PERSONALIDADE E RELIGIOSIDADE EM RELAÇÃO À

As medidas de Personalidade, Esquizotipia e Religiosidade encontradas nas análises dos dados da primeira coleta, no chamado Tempo 0, foram comparadas aos resultados da segunda coleta, realizada um ano depois no Tempo 1. Os resultados do cruzamento entre as variáveis preditoras (T0) com os desfechos, um ano depois (T1), foram analisados no intuito de observar se as mesmas associações ocorreriam no seguimento de 1 ano. Além disso, o intuito seria verificar quais variáveis estariam apontando para a maior qualidade de vida de cada pessoa. Por fim, o objetivo maior da realização dessa coorte foi identificar critérios que poderiam ser utilizados pelos profissionais da saúde mental para auxiliá-los no diagnóstico diferencial entre EAs e TMs, bem como para a realização de prognósticos mais fundamentados e para a escolha de condutas mais adequadas.

Como se pôde observar, alguns resultados encontrados nas análises do T0 foram repetidos no T1, mas outros não. No que tange às relações entre Esquizotipia e Qualidade de Vida, foram encontradas correlações inversas e significativas entre Desorganização Cognitiva e QV Psicológica. Como verificamos, parece que a DC é um importante preditor para o bem-estar psicológico, no que diz respeito a um indivíduo que apresenta EAs. Em outras palavras, a presença de falhas cognitivas, problemas na forma e no curso dos pensamentos e ansiedade social parecem relacionar-se a pior QV Psicológica, um ano depois.

Importante ressaltar que o 1º. Fator da Esquizotipia – Experiências Incomuns (EAs) – não obteve correlações significativas com ambas as variáveis de desfecho no T0 (QV e presença de TM) ou com a QV no T1. Ainda não temos uma explicação para esse dado, mas o que podemos sugerir é que, sendo assim, pode ser que a simples presença de EI (EAs) não seja uma característica decisiva para o diagnóstico diferencial entre EAs e TMs. De modo inverso, é provável que apresentar altos escores em DC e AI sejam indicadores mais consistentes para um prognóstico ruim relacionado à saúde mental do indivíduo.

No T0, AI apresentou correlações inversas e significativas com todas as dimensões de QV. Já no T1, AI obteve correlações significativas e inversas apenas com QV Ambiental. No WHOQOL, QV Ambiental avalia a medida em que a pessoa percebe-se como tendo segurança, proteção, recursos financeiros adequados às suas necessidades, disponibilidade e qualidade de cuidados de saúde, lazer, transporte e ambiente sem poluição, barulho e clima ruim. Nesse sentido, podemos supor que pessoas com altos escores em AI, um ano depois, apresentem maiores prejuízos na qualidade percebida do ambiente em que vivem.

É provável que a ausência de prazer nas relações interpessoais, observada como característica fundamental de AI apareça de forma mais concreta na percepção de mal- estar no ambiente em que a pessoa vive. Podemos nos questionar se a alta AI, ao longo do tempo, acaba dessensibilizando o indivíduo no que tange à percepção de suas necessidades emocionais, sociais e até físicas. Estando a questão do contexto onde vive e dos recursos que seu ambiente oferece para suprir suas necessidades, enquanto aquilo que ele é capaz de perceber como insuficiente.

Ainda assim, podemos sugerir que uma pessoa que apresenta EAs e que possui alta Desorganização Cognitiva e Anedonia Introvertida possui maiores chances de apresentar pior qualidade de vida, um ano depois. E, como o mesmo não foi observado em relação a EI (EAs), também sugerimos que esse fator não seja indicador de pior ou de melhor prognóstico para a saúde mental do indivíduo. Assim sendo, nos parece que apresentar experiências e crenças incomuns (EAs) ou mesmo experiências alucinatórias e delirantes, poderá indicar um prognóstico ruim caso venha acompanhado de DC e/ou de AI. Como insistimos anteriormente, por si só, não pode ser indicativo de presença de transtorno mental ou de pior qualidade de vida.

As análises do seguimento e, novamente, a ausência de associações significativas entre alta EI (EAs) e pior QV, corroboram com diversos estudos que apresentam amostras de pessoas que possuem experiências paranormais, experiências e crenças religiosas, mas que não possuem os aspectos negativos da esquizotipia (GOULDLING, 2004; SCHOEFIELD E CLARIDGE, 2007; McCREERY; CLARIDGE, 2002; WILLIAMS; IRWIN, 1991; KENNEDY; KANTHAMANI, 1995; PARRA, 2008; PARRA; PAUL, 2010; HERGOVICH; SCHOTT; ARENDASY, 2008; YUNG et.al., 2006; FARIAS; UNDERWOOD; CLARIDGE, 2012). Tais indivíduos,

assim como os participantes do presente estudo, mostram, ao contrário, níveis de bem- estar, afeto positivo e níveis adequados de apego.

6.3.2. Autodirecionamento: principal critério prognóstico de bem-estar psicológico e social

Os resultados encontrados no Tempo 0, que mostraram correlações significativas entre alta Esquiva de Danos e menor QV Física; alto Autodirecionamento e maiores QV Psicológica e QV Social, permaneceram como significativos nas análises entre T0 e T1. Apenas Cooperatividade não obteve associações significativas na relação entre T0 e QV Social, no T1.

Dessa forma, de acordo com os resultados, observamos a importância das variáveis de personalidade ED e AD na previsão do bem-estar subjetivo e da qualidade de vida física, psicológica e social dos sujeitos que possuem EAs. Importante lembrar que essas dimensões no ITC mostram associações com presença ou ausência de transtornos mentais em todos os estudos conhecidos sobre o assunto (BAYON et.al., 1996; BORA; VEZNEDAROGLU, 2007; DANELUZZO; STRATTA; ROSSI, 2005; GONZALEZ-TORRES et.al., 2009; SMITH; RILEY; PETERS, 2009; SVRAKIC et.al.,2002; HORI et.al., 2008). Em outras palavras, alta Evitação de Danos e baixo Autodirecionamento apresentam correlações significativas com desfecho de pior saúde mental e presença de Esquizofrenia e de Transtornos de Humor em todos os estudos encontrados na revisão de literatura dessa pesquisa (BAYON et.al., 1996; BORA; VEZNEDAROGLU, 2007; DANELUZZO; STRATTA; ROSSI, 2005; GONZALEZ- TORRES et.al., 2009; SMITH; RILEY; PETERS, 2009; SVRAKIC et.al.,2002; HORI et.al., 2008). AD esteve diretamente relacionado com bem-estar percebido e com felicidade, no estudo desenvolvido por Cloninger e Zohar (2011).

Os dados dessa pesquisa parecem confirmar as associações encontradas em outros estudos, agora em uma amostra de indivíduos que apresentavam diversas EAs. Isso reforça a hipótese central desse estudo, evidenciando a importância da análise da personalidade desses indivíduos para que se possa realizar um diagnóstico diferencial entre uma experiência saudável e outra não saudável.

Um ano depois, o Autodirecionamento foi a dimensão de personalidade que mais fortemente conseguiu prever desfechos associados à qualidade de vida psicológica e social, em pessoas que experimentam EAs. Desse modo, podemos sugerir que o profissional da saúde mental que estiver lidando com pessoas que referem EAs realize uma análise da personalidade desse indivíduo. Para fazer um diagnóstico diferencial adequado e para estabelecer conduta e intervenções corretas, o profissional precisa observar se o indivíduo que apresenta EAs possui capacidade de assumir responsabilidade pelos seus atos (mesmo por seus erros), capacidade de auto-crítica, autonomia, noção de identidade, consegue adiar gratificações para atingir suas metas e busca superar seus desafios.

No documento leticiaoliveiraalminhana (páginas 153-157)