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Autoeficácia no uso de computadores: Definições e Pesquisas sobre o

Para conhecer o que já havia de produção científica sobre o assunto autoeficácia no uso do computador, foi realizado um levantamento bibliográfico durante a elaboração deste trabalho, buscando em fontes como artigos, dissertações, teses e capítulos de livros conteúdos que mencionassem estudos sobre autoeficácia no uso de computadores, em situações de aprendizagem nas organizações. Banco de dados como o Web of Science, Proquest e Periódicos Capes, foram utilizados no período de 2009 até o 2012 para o levantamento de produções no assunto. Ao final, foram encontradas 30 pesquisas científicas que investigaram

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o tema autoeficácia no uso de computadores em situações de aprendizagem no período de 1996 a 2011.

De uma forma geral o levantamento bibliográfico e a análise da produção científica permitiram constatar que, entre os conceitos mais comuns de autoeficácia no uso do computador, a definição de Compeau e Higgins (1995), foi a mais popular, sendo adotada em 21 dos 30 artigos consultados. Em segundo as definição de Gist (1987) e de Murphy, Coover e Owen (1989), foram referência em 3 artigos cada um. Assim, apesar de 100% dos trabalhos fazerem referência à obra de Bandura como pioneira no tema autoeficácia em geral, a delimitação mais específica do construto, chamada pelos autores internacionais de Computer self-eficacy (CSE) (Autoeficácia no uso de computadores) se encontra dividida entre os autores supracitados.

Compeau e Higgins (1995) definem Autoeficácia no uso de computadores como a crença de um indivíduo quanto à sua capacidade de manipular softwares e executar tarefas inerentes ao manuseio de computadores com sucesso. Refere-se à autopercepção do indivíduo sobre a própria capacidade para organizar e implementar ações necessárias ao desempenho desejável, a fim de ter sucesso nessas tarefas específicas. Segundo os autores:

“Autoeficácia no uso do computador refere-se ao julgamento de uma pessoa sobre sua capacidade de usar um computador, (...) não se refere a subcompetências de componentes simples, como a formatação de disquetes ou inserir fórmulas em uma planilha. Em vez disso, ele incorpora juízos sobre a capacidade de aplicar essas habilidades para tarefas mais amplas como elaboração de relatórios escritos ou análise de dados financeiros” (Compeau & Higgins, 1995, p.2).

Para Claggett, Goodhue e Georgia (2011) a definição de Compeau e Higgins (1995) de autoeficácia no uso do computador manteve-se fiel a conceituação de Bandura, uma vez que para esses autores, o construto é definido por Compeau e Higgins (1995) com as mesmas expressões que Bandura utilizou em sua definição de autoeficácia de 1986, referindo-se aos julgamentos das pessoas sobre suas capacidades para organizar e executar cursos de ação necessários para atingir certos desempenhos esperados.

A segunda definição mais utilizada pelos artigos selecionados é a de Gist (1987) que conceitua autoeficácia como a crença de um indivíduo na própria capacidade de realizar uma tarefa. Segundo Claggett et al. (2011) essa definição parece estar incompleta em seu significado, quando faz referência ao construto Autoeficácia, pois, apesar de Gist (1987) citar Bandura em seus artigos, há uma diferença entre a definição proposta por Bandura (1986), mais completa, que enfatiza a necessidade do indivíduo além de acreditar que é capaz, colocar em prática o direcionamento de ações que contribuirão para o sucesso da tarefa, e a de Gist,

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que se apresenta mais superficial, e utiliza apenas a expressão “crença”, para descrever um construto tão complexo como a autoeficácia.

Também em segundo na preferência dos autores citados na revisão bibliográfica realizada, a definição de Murphy, Coover e Owen (1989) citada por 3 dos trabalhos referidos, assim como Gist (1987) também faz referências a auto-percepção sobre as habilidades específicas que o indivíduo possui ao utilizar o computador e seus recursos. Murphy et al. (1989) definem autoeficácia no uso do computador como a percepção do indivíduo sobre suas próprias capacidades de manusear o computador, no que se refere a conhecimentos de informática e outras habilidades específicas.

Apesar dessa comparação sobre as definições mais utilizadas atualmente na pesquisa científica sobre autoeficácia no uso de computadores, preferiu-se, nessa revisão, manter todas as conceituações adotadas pelos autores supracitados como válidas, a fim de agregar as diferentes possibilidades de definições atualmente adotadas na literatura nacional e internacional sobre o assunto.

Detalhando melhor alguns achados científicos encontrados nessa revisão, Torkzadech, Chang e Demirhan (2006) afirmam que a autoeficácia no uso do computador desempenha um papel significativo na decisão de um indivíduo de utilizar (ou não) o computador e seus recursos, e no quanto tais usuários estão abertos a adquirirem novas habilidades relacionadas ao uso dessa ferramenta ou programas (softwares) de computador. Marakas, Yi e Johnson (1998) corroboram o pensamento de Torkzadeh et al. (2006) e afirmam que aqueles que se percebem com alta autoeficácia no uso de computadores tendem a ser mais eficientes na aquisição de novas competências associadas à utilização dessa ferramenta.

Para Eastin e LaRose (2000), a relação entre a autoeficácia e a utilização do computador pessoal pode ser considerada óbvia. Para eles, o computador pessoal apresenta-se por meio de uma tecnologia complexa e um tanto incômoda, exigindo habilidades e treinamentos específicos para ser operada com êxito. A autoeficácia torna-se, nesse contexto, essencial para superar o medo de muitos novatos em suas primeiras experiências com computadores.

Staples, Hulland e Higgins (1998) observaram que aqueles egressos com níveis elevados de autoeficácia em situações de computação foram mais produtivos, satisfeitos e capazes de enfrentar desafios quando trabalhavam sozinhos, se comparado com aprendizes que apresentaram, no início do curso, baixa autoeficácia no uso de computadores.

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Compeau e Higgins (1995) descobriram que o nível de autoeficácia no uso de computadores apresentado pelos sujeitos da pesquisa influenciou as expectativas desses sobre seus resultados futuros, em tarefas que requerem a utilização do computador.

Hsu, Wang e Chiu (2009) afirmam que o nível de autoeficácia do indivíduo influencia o seu desejo de adquirir novas habilidades, a escolha de tarefas a serem realizadas, bem como a persistência em continuar uma ação em curso. De acordo com essa pesquisa, pessoas que se percebem com uma baixa autoeficácia no uso de computadores podem tomar atitudes coerentes com essa cognição e evitar ações ou atividades que envolvam o uso do computador.

Aprofundando a análise sobre o tema autoeficácia no uso de computadores, vários autores diferenciam autoeficácia no uso dos computadores em geral e específica. Autoeficácia no uso dos computadores geral refere-se ao julgamento de um indivíduo sobre suas habilidades para realizar tarefas genéricas em um computador, sem associar esse desempenho a um software, aplicativo ou ambiente virtual específico (Hasan, 2006). Sobre a autoeficácia no uso dos computadores tipo específica, Hasan (2006) afirma que esse construto está ligado à percepção do indivíduo sobre sua autoeficácia na execução de tarefas, programas ou softwares característicos como, por exemplo, um programa estatístico ou de edição de fotos. Estudos como de Hasan (2003) e Agarwal, Sambamurthy e Stair (2000) demonstraram uma relação positiva entre autoeficácia no uso dos computadores geral e autoeficácia no uso dos computadores específica.

Em pesquisas realizadas especialmente na área de TD&E, vários autores concordam que autoeficácia no uso dos computadores é uma característica relevante para se considerar nas situações de treinamento em que o computador é ferramenta essencial na aprendizagem (Chou, 2000). Compeau e Higgins (1995) indicaram que a percepção de uma pessoa sobre o grau de autoeficácia no uso de computadores afeta, significativamente, as expectativas do usuário e seu desempenho na realização dessa tarefa.

Outras investigações trataram como a autoeficácia no uso dos computadores atua no resultado do evento instrucional nas mais diversas circunstâncias, tais como em programas informatizados de aprendizagem (Gist, Shwoerer, & Rosen, 1989), em treinamentos de habilidades interpessoais (Gist, Stevens, & Bavetta, 1991) e em cursos de formação em desenvolvimento de páginas da Web (Chou, 2000).

No Brasil, Alvarenga (2011) estudou o nível de autoeficácia de professores no uso de computadores ou tecnologias de informática no ensino. Participaram do estudo 253 professores de escolas públicas do município de Campinas-SP. Foi aplicado um questionário

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que investigou a percepção de autoeficácia computacional docente e suas fontes. Os resultados apontaram que os professores apresentaram, em geral, uma crença moderada de autoeficácia computacional. A experiência vicária foi a fonte que os professores perceberam como mais influente na sua crença de autoeficácia, seguida da persuasão social e da experiência direta. Ao final, a autora propôs que professores com crenças mais elevadas de AEC são os que acreditam ter melhor habilidades para usar o computador e que se sentem mais preparados e motivados para ensinar com o apoio de tecnologias computacionais.

Joly e Martins (2006) apresentaram a Escala de Desempenho em Tecnologia (EDETEC), que tem como objetivo identificar características de desempenho, relacionadas ao domínio técnico e ao uso eficaz e ético dos recursos tecnológicos em situações de uso cotidiano ou em momentos de aprendizagem. Apesar dos autores citarem artigos relacionados à autoeficácia no uso do computador, tais como Bandura (1989), Cassidy e Eachus (2002) e Eastin e LaRose (2000), a escala não faz referência ao nível de autoeficácia no uso de Novas Tecnologias da Informação e Educação (NTICs), e sim à frequência com que o sujeito se sente capaz em desempenhar atividades relacionadas ao uso de tecnologias de informação e comunicação tal como “consultar livrarias virtuais” ou “avaliar se um site é seguro”. Conforme os autores, o instrumento proposto é adequado para avaliar os estudantes que utilizam tecnologias de informação e comunicação no dia a dia e em situações de aprendizagem.

Segundo Driscoll e Carliner (2004), alunos de cursos oferecidos a distância são, predominantemente, adultos detentores de vários papéis sociais. Perante tantas demandas do mundo moderno, Driscoll e Carliner afirmam que, dentre as características de um “aluno virtual de sucesso”, estão: mente aberta, automotivação e autodisciplina, dedicação em quantidade significativa de seu tempo semanal aos seus estudos, pensamento crítico, capacidade de reflexão e outros. Conforme esse perfil, é certo que, realizar um levantamento sobre as características da clientela, por meio de uma avaliação de necessidade de treinamento, favorece o entendimento das necessidades e dos objetivos dos participantes do curso em si. Dentre essas ações preventivas e avaliativas, certificar-se do acesso e do domínio da tecnologia e ferramentas disponibilizadas aos participantes torna-se pré-requisito na elaboração de cursos a distância que sejam estimulantes, de qualidade e atraentes ao aprendiz. Vinculando essas ideias ao construto autoeficácia no uso de computadores e internet, assegura-se que conhecer um pouco mais sobre essa crença autorreferente pode direcionar melhor as ações de identificação e desenvolvimento da autoeficácia no uso de computador de aprendizes de cursos mediados por essa tecnologia. A construção e validação de medidas de

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avaliação sobre a autoeficácia no uso do computador e internet vêm sendo divulgadas em publicações científicas internacionais desde Hill, Smith e Mann (1987). Apesar disso, no Brasil, as publicações sobre o tema mostram-se escassas.

Será apresentada na seção seguinte uma análise crítica dos 30 trabalhos científicos que estudaram o tema autoeficácia no uso de computadores e internet no contexto de TD&E e foram tomados como referência nesta tese.