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Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD)

5.3 OS INSTRUMENTOS REGIONAIS DE COMBATE AO TERRORISMO

5.3.6 Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD)

A Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento foi estabelecida em 1996, sendo composta inicialmente por Djibouti, Etiópia, Quênia, Sudão, Uganda e Eritreia – que se retirou em 1998 –, com a posterior adesão, em 2011, do Sudão do Sul. A Autoridade Intergovernamental para Seca e o Desenvolvimento (IGADD), precursora da IGAD, tinha por objetivo mobilizar e coordenar esforços dos Estados membros na prevenção das secas, da fome e do processo de desertificação na região. A transformação da organização, em meados da década de 1990 foi, assim, reflexo do reconhecimento de que a integração regional e o desenvolvimento econômico só poderiam ser alcançados em um contexto de paz e segurança regional, e levou à expansão do mandado da organização, que passou a incorporar questões como a prevenção, gerenciamento e resolução de conflitos (ABRAHAM, 2006).

A partir dos atentados às embaixadas dos EUA no Quênia e na Tanzânia, em 1998, a IGAD incorporou o combate ao terrorismo às suas funções. Assim, em 2003 a organização adotou um Projeto de Implementação de um Plano de Combate ao terrorismo, marcando o início de um posicionamento mais assertivo no fortalecimento da cooperação no combate ao terrorismo na região (DEMEKE; GEBRU, 2014). O Projeto demandava aos Estados parte o desenvolvimento de uma estrutura legal comum e de tratados de extradição e de assistência legal mútua, além de ressaltar a importância do compartilhamento de informações, da realização de treinamentos conjuntos e da cooperação internacional, e de encorajar todos os Estados a ratificarem os instrumentos regionais e continentais relevantes. (CGCC; ISSP, 2012).

Nesse contexto, em 2005, durante a Cúpula dos Chefes de Estado e de Governo da IGAD, realizada no Sudão, foi adotada a Estratégia sobre Paz e Segurança, e no ano seguinte foi lançado o Programa de Fortalecimento Institucional contra o Terrorismo da IGAD (ICPAT), cujo objetivo era avaliar, promover e funcionar como um catalisador no processo de implementação, pelos Estados membros, do Projeto de Implementação. Para tanto, o Programa estruturava-se em torno de quatro componentes principais (reforço da capacidade judicial, cooperação interdepartamental, controle de fronteiras e treinamento e cooperação estratégica), atuando em parceria com Estados membros, Organizações Internacionais, Organizações Não- Governamentais, instituições acadêmicas e Think Tanks (CARDOSO, 2015; CGCC; ISSP, 2012).

Após a adoção, pelo Conselho de Ministros da IGAD de duas novas Convenções (uma sobre extradições e a outra sobre cooperação em assistência legal mútua) em 2009, a organização aprovou, em 2010, a Estratégia de Paz e Segurança (IPSS), que partia de uma percepção de mudança na situação securitária da região, passando a reconhecer a convergência de diversos crimes transnacionais (DEMEKE; GEBRU, 2014). O ICPAT, assim, foi substituído pelo Programa do Setor de Segurança da IGAD (ISSP), que entrou em vigor em 2011, tendo como objetivos aumentar a capacidade dos Estados membros de combater o terrorismo, lidar com ameaças securitárias marítimas, conter a intensidade e os impactos do crime organizado e garantir a eficiência e a eficácia da segurança por meio de reformas no setor de segurança centradas, sobretudo, no aumento das capacidades estatais (CGCC; ISSP, 2012).

Para além das políticas adotadas pela IGAD, os países da região também criaram ferramentas para prevenir e combater o terrorismo. O Djibuti criou, em 2001, um Comitê Nacional de Combate ao Terrorismo, composto por três subcomitês (um sobre justiça, com foco em questões legislativas; um sobre segurança, responsável pela coordenação das agências de segurança; e um sobre finanças, responsável por coordenar as ações financeiras e bancárias) e responsável pelo combate ao terrorismo dentro do país e também por articular sua participação em arranjos internacionais. A Etiópia, por sua vez, adotou, em 2009, uma Proclamação Antiterrorismo, e em 2010, uma Proclamação Anti-lavagem de Dinheiro e Financiamento do Terrorismo, além de estabelecer um Comitê Nacional de Coordenação Antiterrorismo e um Centro de Inteligência Financeira. O Sudão adotou uma Lei Antiterrorismo, em 2001, e uma Lei de Combate à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo, em 2010. Ainda, foi criado um Comitê de Coordenação de Combate ao Terrorismo, responsável por facilitar o diálogo, a cooperação e a coordenação entre os diversos órgãos nacionais responsáveis pela questão e pela interlocução com agências externas (CGCC; ISSP, 2012).

Já o Quênia adotou, em 2003, a Estratégia Nacional de Combate ao Terrorismo, por meio da qual tem coordenado os esforços no combate ao terrorismo no país desde então. Nesse contexto, em 2004 foi criado o Centro Nacional de Combate ao Terrorismo (NCTC),106 uma

agência multidisciplinar responsável pela coordenação das agências de segurança nacionais e pela investigação de casos de terrorismo e outros crimes transnacionais, além de ser a responsável pela interlocução com agências externas, como a ONU. Ainda, em 2009 a Assembleia Nacional do Quênia adotou a Lei de Processos Criminais e de Lavagem de Dinheiro e a Lei de Prevenção ao Crime Organizado, que permitem que o ministro encarregado pela

segurança nacional proscreva grupos considerados criminosos e/ou terroristas,107 além de

criminalizarem várias formas de apoio e a participação nestes grupos (CGCC; ISSP, 2012). Já Uganda adotou uma Lei Antiterrorismo em 2002, estabelecendo como objetivo reprimir os atos de terrorismo e prevendo punição para pessoas envolvidas no planejamento, apoio, financiamento ou execução de atos terroristas, além de proscrever organizações e grupos considerados terroristas e estabelecer punições para seus membros e indivíduos a elas associados. Para muitos críticos, todavia, a legislação tem se mostrado bastante problemática, especialmente por apresentar uma definição de terrorismo excessivamente ampla, capaz de abarcar inclusive atividades políticas legítimas e de ameaçar direitos básicos, como a liberdade de expressão e de reunião – criando a possibilidade de ser usada para reprimir inimigos políticos e para cercear a mídia, por exemplo (OKUMU, 2007). Nesse sentido, como destacam Bossa e Mulindwa (2004, p.6, tradução nossa),

A definição de terrorismo em torno da qual a legislação é construída é tão ampla que poderia ser usada para processar sindicalistas envolvidos em uma greve ilegal, ou aqueles envolvidos em atos de desobediência civil. Isto é assim porque a definição não exclui especificamente greves legais e protestos que não visam interromper serviços essenciais.