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A autorização do art. 854 do CPC/2015

No documento UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO (páginas 86-89)

2 OS ATOS DA CITAÇÃO, DE BLOQUEIO (ARRESTO) E PENHORA NA

3.1 A autorização do art. 854 do CPC/2015

Conforme exaustivamente demonstrado, a penhora online, prevista no art. 854

do CPC/2015, pode ser aplicada no âmbito da execução fiscal, em observância à Teoria do Diálogo das Fontes, segundo entendimento firmado pela Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça no julgamento do REsp nº 1.184.765/PA, sob a sistemática dos recursos repetitivos.

Logo, não restam dúvidas de que o art. 854 do CPC/2015 deve ser utilizado nos feitos executivos ajuizados pela Fazenda Nacional.

Com efeito, a Procuradoria Exequente entende que a redação do art. 854 do CPC/2015 autoriza o bloqueio de ativos financeiros antes mesmo da tentativa de citação do devedor, como revela o artigo do Procurador da Fazenda Nacional Matheus

Carneiros Assunção122, publicado na imprensa especializada

Nessa senda, a Advogada da União Priscila Leal Seifert destaca e comenta a

expressão “sem dar ciência prévia do ato ao executado”, prevista no caput do art. 854

do Novo Código de Processo Civil:

A princípio, a expressão “sem dar ciência prévia do ato ao executado” autoriza o pedido de penhora on line de dinheiro em depósito ou em aplicação financeira independente da realização da citação, pois a medida de

122ASSUNÇÃO, Matheus Carneiro. A Penhora Eletrônica nas Execuções Fiscais e o novo CPC: bloqueios de ativos financeiros via BANCEJUD prescinde de prévia citação. JOTA, 04 de dezembro de 2017. Disponível em: https://jota.info/colunas/contraditorio/a-penhora-eletronica-nas-execucoes-fiscais-e-o-novo-cpc-04122017. Acesso em: 10 fev. 2019

indisponibilidade somente é convertida em penhora, com a transferência do montante indisponível para conta vinculada ao juízo da execução, diante da ausência ou mediante a rejeição da defesa apresentada pelo executado (§5º, do art. 854), ou seja, antes citação do executado teríamos apenas o arresto executivo123.

Segundo a advogada pública, como o texto legal afasta do executado a ciência prévia do ato, resta autorizada a indisponibilidade de valores, via BACEN JUD, antes mesmo da citação.

Além disso, Seifert destaca que esse arresto executivo não se confunde com a penhora, que só será efetuada se constatada a ausência ou a rejeição da defesa do executado, permitida após a indisponibilidade de valores, nos termos do § 5º, do art. 854 do CPC/2015.

Em outras palavras, o bloqueio pode ocorrer antes da citação, ao revés da penhora, que é efetuada após o ato citatório, quando da inexistência ou rejeição da mini-impugnação, que pode ser apresentada pelo executado, como visto.

Sendo assim, o artigo defendeu “o arresto online de bens do executado inaudita

altera parte, como medida inaugural da execução, independentemente da presença

do periculum in mora124.

Sob essa ótica, Marcelo Abelha Rodrigues também compreendeu que o art. 854 do CPC/2015 autorizou o bloqueio de ativos financeiros antes mesmo da citação do executado:

Esta foi uma inovação importantíssima que não constava no texto do artigo 655 do CPC de 1973. Agora, diz o artigo 854 que o ato de apreensão online dos ativos financeiros será realizado sem a ciência prévia do executado. Assim, antes mesmo de proceder a citação do executado (no processo de execução) ou a sua intimação (no cumprimento de sentença) proceder-se-á a realização do ato de apreensão dos ativos financeiros pela forma descrita no dispositivo. A inovação é importante pois normalmente a citação ou intimação prévia permitia que o executado esvaziasse suas contas bancárias tornando infrutífero o ato de penhora.125

De forma complementar, o jurista acrescentou que a redação do art. 854 do CPC/2015 refere-se tanto à citação no processo de execução quanto à intimação no

123SEIFERT, Priscila Leal. O novo CPC e a recomposição do erário: por uma tutela executiva mais efetiva. Publicações da Escola da AGU. Brasília. v. 8, n. 3, p. 51, jul./set., 2016. p.52-53. Disponibilidade: Rede Virtual de Bibliotecas

124Id. p. 53.

125 RODRIGUES, Marcelo Abelha. Penhora eletrônica de dinheiro no NCPC, 2015. Disponível em: http://www.cjar.com.br/wp-content/uploads/2015/05/penhora-eletr%C3%B4nica-de-dinheiro-marcelo-abelha.pdf. Acesso em: 28 nov. 2018.

cumprimento de sentença, permitindo a prévia indisponibilidade dos valores, sem conhecimento do executado, em ambos os casos, o que representa uma importantíssima inovação do novo diploma processual.

Sendo assim, a Procuradoria da Fazenda Nacional, por meio de um novo modelo de petição inicial das execuções fiscais de débitos federais, vem requerendo “preliminarmente e sem dar conhecimento prévio ao(s) executado(s), nos termos do art. 854 da Lei nº 13.105/2015, a indisponibilidade dos ativos ou de dinheiro em depósito ou em aplicação financeira em nome do(s) devedor(es)”.

Só, depois, o ente público pede “a citação do(s) executado(s), por carta com aviso de recebimento, nos termos do art. 8 da Lei nº 6.830/1980.”

Ou seja, “já na petição inicial da execução fiscal, requer-se ao magistrado que este expeça, no próprio despacho citatório, a imediata ordem de bloqueio”, como comentou o advogado Fabrício José Polli Griebeler em artigo publicado no portal

eletrônico Consultor Jurídico.126

Em suma, com base na interpretação literal do art. 854 do CPC/2015, a Fazenda Nacional voltou a pedir a indisponibilidade de ativos financeiros, via BACEN JUD, antes da tentativa de citação do devedor.

Esse pedido foi deferido pela 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região no julgamento do agravo de instrumento nº 5016119-33.2017.4.03.0000, como se infere da ementa abaixo colacionada, amplamente debatida na impressa

especializada127:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. INDISPONIBILIDADE DE ATIVOS FINANCEIROS. BACENJUD. ARTIGO 854, CPC/2015. AUSÊNCIA DE CIÊNCIA PRÉVIA. POSSIBILIDADE. ARTIGO 8°, LEF. ARTIGO 185-A, CTN. INCOMPATIBILIDADE. INOCORRÊNCIA.

1. Observa-se, hodiernamente, a possibilidade da constrição de ativos financeiros de forma prévia à citação, com fundamento no artigo 854, CPC/2015, tendo em vista que motivada no poder geral de cautela e na necessidade de preservação da utilidade da jurisdição, considerando-se a enorme probabilidade de frustração da garantia pela prévia ciência pela executada, não se verificando conflito com o artigo 8°, LEF, dada a possibilidade da citação da executada em momento posterior, tal como ocorre com as tutelas de urgência.

2. Inocorre incompatibilidade com o artigo 185-A, CTN, que trata da indisponibilidade de bens de forma genérica, pois o artigo 854, CPC,

126 GRIEBELER, Fabrício José Polli. O bloqueio de ativos financeiros antes da tentativa de citação em execução fiscal. Revista Consultor Jurídico. 23 de março de 2018. ISSN 1809-2829. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2018-mar-23/fabricio-griebeler-bloqueio-ativos-financeiros-antes-citacao. Acesso em: 01 nov.2018.

se especificamente à constrição de ativos financeiros, aplicando-se, no caso, a regra de que “lex specialis derrogat lex generalis”. Por sua vez, a inovação legislativa não dispôs sobre normas de direito tributário, a exigir lei complementar (artigo 146, CF/1988), mas sobre direito processual civil (processo de execução e penhora), inexistindo irregularidade formal.

3. Agravo de instrumento provido.

Da leitura, resta claro e evidente que a 3ª Turma da Corte Regional concluiu pela possibilidade do bloqueio dos valores antes de qualquer tentativa de citação do devedor na execução fiscal, com fundamento no art. 854 do CPC/2015.

De acordo com o desembargador federal relator, Carlos Muta, embora a jurisprudência, no regime do CPC/1973, estivesse consolidada no sentido de necessidade de prévia citação do executado para o bloqueio dos ativos financeiros, o entendimento deve ser modificado em virtude das alterações promovidas pelo Novo Código de Processo Civil, que passou a dispensar a ciência prévia do executado.

Ademais, o desembargador federal ressaltou que não existe qualquer conflito entre o art. 854 do CPC/2015 e o art. 185-A do CTN, questão superada pela jurisprudência do STJ e exposta neste trabalho, nem com o artigo 8° da LEF, “dada a possibilidade da citação do executado em momento posterior, tal como ocorre com as tutelas de urgência. ”

Por fim, o desembargador asseverou que a constrição prévia de ativos

financeiros deve ser “motivada no poder geral de cautela e na necessidade de

preservação da utilidade da jurisdição, considerando-se a enorme probabilidade de frustração da garantia pela prévia ciência pela executada”, argumentos expostos nas razões recursais e em artigos da Procuradoria da Fazenda Nacional, que serão expostos a seguir.

3.2 O Poder Geral de cautela do magistrado e a necessidade de preservação da

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