• Nenhum resultado encontrado

APUCARANINHA 310 ANEXO A – APROVAÇÃO DO CEPSH

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.3 PESQUISA DE CAMPO DESCRITIVA DE ABORDAGEM QUALITATIVA E ESTRATÉGIA ETNOGRÁFICA

3.3.2 Autorizações, Contatos e Ética em Pesquisa

De acordo com a Resolução N° 304, de 09 de agosto de 2000 que complementa a Resolução CNS 196/96 (Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas envolvendo Seres Humanos) e em

respeito aos direitos dos povos indígenas no que se refere ao desenvolvimento de pesquisas teóricas e práticas que envolvam comunidades e indivíduos indígenas, foi necessário solicitar uma série de autorizações e entregas de declarações e termos de sigilo e confidencialidade antes do início do projeto, a fim de dar entrada no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade. Para tanto, o primeiro passo foi solicitar autorização na Fundação Nacional do Índio (FUNAI / Jurisdição Londrina) para entrar em contato com o cacique da Terra Indígena Apucaraninha, a fim de solicitar permissão para a realização da pesquisa. Este contato foi iniciado no dia 19/03/2012 com o Coordenador técnico da FUNAI, Sr. Casturino de Almeida, em que foi apresentado o anteprojeto de pesquisa, obtendo neste momento um retorno positivo desta coordenação técnica da FUNAI para a realização do projeto na TI. Esta autorização foi primeiramente, fornecida à pesquisadora via e-mail, em 20/06/2012 e, posteriormente, por escrito e assinada, em 26/07/2012. Foram entregues também Ofício e Termo de Confidencialidade e Sigilo (APÊNDICES A e B).

A partir deste momento, providenciou-se a ida à aldeia para apresentar o projeto ao Cacique da Terra Indígena Apucaraninha, Sr. João Norogso Cândido. Foi muito difícil este contato, pois o cacique e o vice-cacique fazem muitas atividades externas à aldeia e o sinal de telefones celulares é muito fraco na região. Tal declaração foi redigida nos moldes da CEP/UFSC e, primeiramente, explanada ao Cacique na presença de outras lideranças kaingang para que ele pudesse assinar com segurança, embora já me conhecesse, assim como meu trabalho nesta TI. Foi também explicada a Resolução CNS 196/96.

O cacique João Norogso foi bastante solícito e receptivo a este projeto, mencionando sua importância e enfatizando que era muito bom ter a nossa presença na TI. Autorizou oralmente a realização do projeto e por meio da declaração assinada (APÊNCICE F). Nesse momento, foram solicitadas as declarações da Diretora da Escola Estadual Indígena João Gavagtãn Vergílio, profa. Janaína Kuitá, e da liderança indígena do grupo de artesãs kaingang, Sra. Albertina Gavog Prag. Estas últimas solicitações foram realizadas com mais uma descrição do projeto e apresentação das autorizações anteriores da FUNAI e do Cacique da TI.

Com as declarações e autorizações em mãos, se iniciou a submissão do projeto de pesquisa ao Comitê de Ética em Pesquisa da

Universidade Federal de Santa Catarina (CEPSH / UFSC), por meio da Plataforma Brasil68.

Esta submissão foi realizada em 31/08/2012, tendo o primeiro parecer consubstanciado do CEPSH/UFSC em 10/09/2012, sob o n°. 97.293, em que as seguintes pendências estavam listadas: a ausência de algumas cartas de concordância; readequação da planilha de orçamento; inclusões no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE); e descrição dos critérios de inclusão e exclusão dos participantes do projeto. Foram realizadas as recomendações e providências e encaminhadas ao CEPSH / UFSC. Em 10/12/2012, recebemos a versão 2 do parecer consubstanciado do CEPSH/UFSC (sob o n°.161466). Nesta versão do parecer, não havia recomendações ao projeto, concluindo que apresentamos a documentação necessária solicitada pelo CEPSH / UFSC, atendendo às recomendações do CEPSH com situação do parecer aprovado (ANEXO A). Tratando-se de pesquisa em comunidade indígena, há a obrigatoriedade de apreciação pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Deste modo, o CEPSH enviou o projeto para esta Comissão, com aceitação do PP em 23/01/2013. Em 24/04/2013, a CONEP forneceu parecer consubstanciado (versão 3), sob o n° 257767, em que listavam-se pendências. Buscamos atender as solicitações dentro do prazo e, juntamente, com as alterações no TCLE e no PP, enviamos a resposta no dia 04/06/2013, via Plataforma Brasil, e no dia 08/07/2013 foi aceito o PP. O parecer aprovado desta Comissão (CONEP 417.831), embora a data da relatoria conste do dia 31/07/2013, obteve-se apenas o protocolo aprovado (Parecer 257767) em 08 de novembro de 2013 (ver ANEXO B).

3.3.2.1 Itens relevantes do projeto de pesquisa enviado ao CEPSH / UFSC e ao CONEP

O desenho da pesquisa aponta que esta se enquadra no paradigma interpretativo. A pesquisa é qualitativa, descritiva e conceitual e, por meio das estratégias de pesquisa bibliográfica e etnográfica, desenvolvee-se estudo descritivo e interpretativo sobre o conhecimento gráfico e visual documentado em artefatos autóctones, utilizando as técnicas de observação, diário de campo, entrevista e registro imagético.

68 “A Plataforma Brasil é um sistema eletrônico criado pelo Governo Federal para sistematizar o recebimento dos projetos de pesquisa que envolvam seres humanos nos Comitês de Ética em todo o país” (PLATAFORMA..., 2013).

Muitas artesãs falam apenas o kaingang. Por isso, juntamente com as especificidades culturais, há o risco de alguma informação não ficar explícita para algum dessas integrantes. Nesse sentido, o acompanhamento de um profissional de antropologia é fundamental para a lisura do processo de investigação.

Conforme Resolução 196/9669, no item III.1 sobre a eticidade da pesquisa, imputa-se o consentimento livre e esclarecido aos indivíduos participantes e a proteção a grupos vulneráveis, como nesse caso que envolve área temática especial (populações indígenas). Os pesquisadores se comprometem a tratá-los com dignidade, respeitá-los em sua autonomia e defendê-los em sua vulnerabilidade (BRASIL, 2014f). Neste sentido, buscou-se envolver na pesquisa os indivíduos que façam parte das lideranças na TI e que tenham domínio da língua portuguesa falada e escrita. Outro possível risco que a pesquisa poderá ocasionar é o da apropriação indevida do patrimônio imaterial desta comunidade artesã da TI Apucaraninha, com consequente dano a sua dimensão cultural. Vale ressaltar, a propósito desse ponto, a definição do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) sobre o Patrimônio Cultural Imaterial, o qual

é transmitido de geração a geração, constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana. É apropriado por indivíduos e grupos sociais como importantes elementos de sua identidade (IPHAN, 2013b).

Deste modo, o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial do IPHAN (2014d) visa "contribuir para a preservação da diversidade étnica e cultural do país e para a disseminação de informações sobre o patrimônio cultural brasileiro a todos os segmentos da sociedade", com

69 Tal Resolução “se fundamenta nos principais documentos internacionais sobre pesquisas que envolvem seres humanos, a saber, o Código de Nuremberg, de 1947, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, a Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, de 2005, e outros documentos afins. Cumpre as disposições da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e da legislação brasileira correlata” (MINISTÉRIO..., 2014, p.1).

ênfase em uma política de inventário, registro e salvaguarda de bens culturais de natureza imaterial.

A apropriação indevida deste patrimônio material e imaterial já ocorre, ao longo dos séculos, por meio de transfigurações étnicas (RIBEIRO, D. 2010, pp. 28-29)70 e transformações sociais, até por não haver registro sistematizado que gere, posteriormente, um processo de salvaguarda para esta comunidade. A proposta é relacionar esta linguagem visual, este saber tradicional e local com a comunidade kaingang desta TI de modo a colaborar com a sua identificação, preservação, proteção e pertencimento cultural por meio de registro visual identificado e sistematizado.

Esta tese buscou avançar na pesquisa sobre o etnodesign gráfico- visual de cultura indígena para a sustentabilidade cultural de comunidade de prática artesanal. A contribuição se dará na valorização de comunidade artesanal indígena e no processo de inserção desta na sociedade do conhecimento por meio da preservação de suas riquezas culturais documentadas. A destinação deste estudo será as Escolas Estaduais Indígenas, situadas na TI Apucaraninha como início de um acervo da cultura material e imaterial kaingang nesta TI. Nessa condição, a disseminação ocorrerá entre professores e estudantes deste estabelecimento de ensino que ainda não possui nenhum registro sobre os grafismos desenvolvidos, exclusivamente, por esta etnia.

O Cacique e as lideranças artesãs desta TI receberam cópia impressa e digital desse material catalogado. Este poderá servir de instrumento de reconhecimento da diversidade e pertencimento cultural e, como salienta Nogueira (2007, p.259), pode ser ponto de partida para as políticas de patrimônio como forma de preservação em si.

A investigação sobre a revitalização do conhecimento local e indígena é que será promovida em âmbito científico, de modo a permitir sua replicabilidade em outros estudos sobre este tipo de conhecimento por meio de recursos estruturantes para a construção de um sistema habilitante, que possa colaborar com a identificação, preservação e proteção deste conhecimento.

No objeto de estudo desta pesquisa, se espera contribuir com a preservação por meio do registro de grafismos desenvolvidos por artesãs kaingang da TI Apucaraninha e registrá-los em um documento digital e

70 Conceito cunhado por Darcy Ribeiro que consiste nos modos de transformação da vida e cultura de um grupo para viabilizar sua existência no contexto hostil, mantendo e persistindo sua identificação étnica e resistindo às violências físicas e culturais. (RIBEIRO, D., 2010, pp. 28-29).

impresso para que possam ser preservados e identificados por pertencer a esta comunidade. Tais registros ainda não existem e muito desse conhecimento local está se perdendo.

A condição para que o indivíduo seja sujeito participante desta pesquisa é o conhecimento tácito sobre o artesanato e a prática constante do artesanato nesta Terra Indígena. Neste caso, incluem-se as mulheres artesãs kaingang da TI Apucaraninha que aceitem, por intermédio de suas lideranças, fazer parte das observações, independente de sua faixa etária, e que possuam domínio da língua portuguesa falada e escrita.

Para os sujeitos participantes da Escola da TI, o critério de inclusão na pesquisa foi a condição de pertencerem a seu quadro de professores com interesse na revitalização deste patrimônio do conhecimento cultural kaingang, independentemente de sua etnia71. Conforme Flick (2004, p.58), o que determina o modo de selecionar as pessoas que farão parte da pesquisa é a sua relevância ao estudo e não a sua representatividade. O critério de exclusão do sujeito da pesquisa foi a falta de interesse manifesto na revitalização do patrimônio do conhecimento cultural kaingang. Este critério foi mediado pelas lideranças indígenas desta TI.