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APUCARANINHA 310 ANEXO A – APROVAÇÃO DO CEPSH

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.7 COMUNIDADES DE PRÁTICA COP

O estudo sobre Comunidade de Prática (COP) foi desenvolvido por Ettienne Wenger, e possui raízes na natureza social da aprendizagem humana inspirada pela antropologia e teoria social. Embora o fenômeno no contexto socioeconômico seja remoto, este autor, juntamente com cientistas sociais, cunhou o termo por meio de estudos sobre aprendizagem. O conceito de COP está de acordo com a perspectiva tradicional de sistemas, em que uma comunidade de prática em si pode ser vista como um sistema social simples e o inter-relacionamento entre comunidades de prática, um sistema social complexo. Para Wenger e Snyder (2000), COP é um grupo de pessoas informalmente constituído pela troca de experiências ou paixão por uma iniciativa empreendedora em comum. Lesser e Stork (2001) definem como um grupo de pessoas comprometidas em compartilhar aprendizado, preocupação, informações e experiências. As Comunidades de Prática (COPs), conforme Christoupolos (2007), possuem características não convencionais, pois não estão sujeitas a rigidez e metas ortodoxas. Podem ser vistas como comunidades de aprendizagem, quando há ocorrência de um design propício à aprendizagem que considera as dimensões local/global; identidade/negociação; reificação/participação e projetado/emergente.

Wenger (2010) explora a natureza sistêmica do conceito nos níveis de complexidade e utiliza algumas de suas principais críticas para

o desenvolvimento de uma disciplina social da aprendizagem. Para o autor

Comunidades de prática, usualmente, envolvem multiplos níveis de participação, pois tal envolvimento pode produzir aprendizagem de várias maneiras e o domínio tem distintos níveis de relevância para diferentes pessoas. Os limites de uma comunidade de prática são mais flexíveis do que as de unidades organizacionais ou de equipes (WENGER-TRAINER, 2011b).46

Para Von Krogh (2001, p.34), o membro de uma comunidade possui conhecimentos pessoais únicos em que ao menos uma parte deste é considerada conhecimento tácito que não é explicado facilmente aos outros; tais indivíduos compartilham conhecimentos com a comunidade. A criação do conhecimento faz parte de um processo social e individual. De acordo com Terra (2012), o conhecimento humano faz sentido no contexto de comunidades. Esse evolui pelo reconhecimento e validação dos participantes das comunidades. O autor assegura que a crescente geração de novos conhecimentos, compartilhamento e rápida inovação tornam o conceito de COP cada vez mais relevante: “O compartilhamento de conhecimento faz muito mais sentido no contexto da estrutura social e temático de uma COP” (TERRA, 2012, p.2).

As COPs são formadas por pessoas que se envolvem em um processo de aprendizado coletivo em um domínio compartilhado do esforço humano. Para Macedo et al. (2010, p. 143), as COPs “são formadas por pessoas que desenvolvem ou executam uma atividade em comum e se reúnem para debater sobre ela”, tal como “algo que fazem em suas horas livres”. A exemplo, na TI Apucaraninha, os professores se reúnem aos sábados para estudarem a revitalização das histórias que fazem parte de sua mitologia e que estão se perdendo no cotidiano da aldeia. Ressalta-se que nas comunidades indígenas os integrantes possuem inquietações e que atualmente, sobretudo no caso dos professores, há também a inclusão da virtualidade, possibilitando interatividade e compartilhamento.

46 Communities of practice usually involve multiple levels of participation. Because involvement can produce learning in multiple ways and the domain has different levels of relevance to different people, the boundaries of a community of practice are more flexible than those of organizational units or teams (WENGER, 2011).

De acordo com Macedo et al. (2010, p. 143), as COPs

são uma inovação com potencialidade para melhorar a gestão do conhecimento nas organizações, facilitando seu processo de criação, compartilhamento e disseminação entre pessoas e grupos.

Para as comunidades serem consideradas de prática, precisam possuir os elementos decisivos: domínio, comunidade e prática (YOUNG, 2010). E conforme Wenger-Trainer (2011a), os elementos chave são:

O domínio: membros compartilham um aprendizado necessário (se este aprendizado compartilhado tem a necessidade de explitar ou não e se a aprendizagem é a motivação para a sua vinda em conjunto ou um subproduto); a comunidade: a sua aprendizagem coletiva torna-se um vínculo entre eles ao longo do tempo (com experiência em diversas formas e, portanto, não uma fonte de homogeneidade); a prática: suas interações produzem recursos que afetam sua prática (se eles se envolvem na prática em conjunto ou em separado)47.

A combinação destes elementos constitui uma COP que além de ser uma rede de conexões entre pessoas, possui identidade determinada por um domínio compartilhado. Os participantes dessas comunidades valorizam a competência coletiva e aprendem por meio da ajuda mútua. Em busca do interesse em seu domínio, os membros se engajam e compartilham informações. Baseada em uma relação de confiança entre seus membros, encoraja interações frequentes, partilhando e desenvolvendo conhecimentos comuns. Esses membros

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The domain: members are brought together by a learning need they share (whether this shared learning need is explicit or not and whether learning is the motivation for their coming together or a by-product of it); The community: their collective learning becomes a bond among them over time (experienced in various ways and thus not a source of homogeneity); The practice: their interactions produce resources that affect their practice (whether they engage in actual practice together or separately).

não apenas se unem por um interesse em comum, são praticantes de um aprendizado compartilhado que leva tempo e interação sustentada. Para Macedo et al. (2010), as COPs envolvem criação, compartilhamento e disseminação de conhecimento.

Conforme Wenger (1998), uma COP pode ser dividida em três modos de pertencimento: o engajamento; o alinhamento e a imaginação. Esses se apresentam como um processo tríplice de infraestruturas em que o engajamento contém facilidades de reciprocidade, competência e continuidade; a imaginação abrange facilidades de orientação, reflexão e exploração; e o alinhamento compreende facilidades de convergência, coordenação e decisão coletiva.

O engajamento é o envolvimento nas ações de negociação de significados. São práticas comuns, relacionamentos e compartilhamentos de aprendizagem. Este modo de pertencimento inclui facilidades de reciprocidade, competência e continuidade. A reciprocidade se refere às facilidades interacionais que são os espaços físicos e virtuais, as tecnologias, as comunicações, as tarefas realizadas em grupo e a localização periférica (níveis de participação). A competência inclui a iniciativa e o conhecimento (aplicação de habilidade e tomada de decisões), a responsabilidade em avaliações e decisões e as ferramentas, que são os artefatos que dão suporte as competências. A continuidade se refere à memória reificativa, que são os repositórios de informação e mecanismos para a busca de informação, e à memória participativa, que resultam em sistemas de aprendizagem (CHRISTOUPOLOS, 2007). O alinhamento é o modo de pertencimento em que a coordenação das atividades de uma COP se combine em estruturas ampliadas (WENGER, 1998; CHRISTOUPOLOS, 2007). Para Kimieck (2002, pp. 32-33), está ligado ao poder que possibilita uma “ação social organizada”, não o alienante. Para tanto, compreendem-se as facilidades de convergência, coordenação e de decisão coletiva. A convergência compreende o foco e o interesse comum, a visão, a direção, os valores, os princípios e os entendimentos mútuos, a lealdade e a liderança. A coordenação inclui padrões, procedimentos, agenda, divisão de trabalho, discursos. As facilidades de decisão contêm a comunicação, as fronteiras da COP e os

feedbacks (CHRISTOUPOLOS, 2007). A imaginação é a criação de representações do mundo e a busca de conexões entre espaço e tempo, além da experiência do grupo. Por ela, é possível localizar-se no mundo e na história, podendo incluir novos significados, possibilidades e perspectivas de identidades (WENGER, 1998; KIMIECK, 2002, pp. 32- 33). Deste modo, consideram-se as facilidades de orientação, reflexão e

exploração. A orientação é a localização no espaço, no tempo, no poder e nas ideias. A reflexão ocorre no tempo necessário para representações de padrões e análises comparativas a serem realizadas pelos membros. A exploração inclui a verificação e estudos de oportunidades externas e futuras (CHRISTOUPOLOS, 2007).

Ressalta-se que as COPs e as comunidades de interesse são uma inovação com potencialidade para melhorar a gestão do conhecimento nas organizações, facilitando o processo de criação, compartilhamento e disseminação entre pessoas e grupos (MACEDO et al., 2010),

As comunidades de prática, os grupos produtivos ou empreendimentos sociais são considerados também como comunidades criativas que, ao tentar resolver os problemas do cotidiano, trabalham sob o ponto de vista da inovação social.

A seguir será apresentado o conceito de Comunidade Criativa que faz relação direta com o conceito de COP para, posteriormente, analisarmos tais conceitos e definições na realidade estudada.