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CAPÍTULO 1: Sucesso escolar: variáveis associadas aos alunos

1.6. Autorregulação das emoções

1.6.3. Autorregulação emocional: uma breve conceituação

Pesquisas relacionadas ao tema regulação emocional revelam que o controle das emoções é importante para os processos adaptativos, para o bem-estar e funcionamento do ser humano, o que pode favorecer o processamento da informação e a aprendizagem (Cruvinel, 2009; Ochsner & Gross, 2005; Thompson, 1994).

Apesar de as emoções se modificarem conforme a situação em que ocorrem e serem úteis na resolução de dificuldades, podem também gerar elevado mal-estar, particularmente quando o contexto físico e social em que o indivíduo está inserido é diferente do esperado. Assim, a regulação emocional deve ocorrer nos momentos em que as emoções não são compatíveis com a situação. Por meio dela, o indivíduo tenta regular os seus estados emocionais, com a finalidade de adaptá-los às suas necessidades

e aos seus objetivos pretendidos (Vaz, 2009). Segundo a mesma autora, após o processo de diferenciação emocional, o indivíduo decide expressar ou não as suas emoções, por meio do processo de regulação emocional.

A regulação emocional é compreendida por Thompson (1994) como um conjunto de processos intrínsecos e extrínsecos, os quais iniciam, mantêm, modulam e alteram a ocorrência, a intensidade e a duração dos estados afetivos internos e dos processos fisiológicos. Tais processos também auxiliam os indivíduos a atingir os seus objetivos pessoais, já que os apoia para lidar com os seus estados emocionais e para utilizar diferentes tipos de estratégias, de acordo com as suas metas pessoais.

Gross (1998) afirma que a regulação emocional refere-se aos processos pelos quais os indivíduos influenciam as suas próprias emoções, o que inclui o momento em que as apresenta, como as experiencia e como as expressa. Envolve a iniciação de uma nova emoção ou uma alteração de uma atual resposta emocional, por meio da ação de processos regulatórios (Ochsner & Gross, 2005). Esses processos podem ser automáticos ou controlados, conscientes ou inconscientes e podem interferir em um ou mais pontos do processo gerador das emoções (Gross, 1998; Ochsner & Gross, 2005).

Pode ser considerada, também, como uma modulação das reações emocionais realizadas pelo indivíduo, com o objetivo de se adaptar às circunstâncias nas quais se encontra e atingir os seus objetivos pessoais (Silk et al., 2006). Conceitua-se, ainda, a regulação emocional como uma modificação de qualquer processo no sistema que gera uma emoção ou mudança comportamental. Os processos que modificam as emoções são provenientes da mesma gama dos envolvidos com a geração das emoções. A regulação ocorre em todos os níveis do processo das emoções, a todos os momentos em que as emoções são ativadas e é evidente mesmo antes de uma emoção ser manifestada (Campos et al., 2004). Leahy et al. (2013) acrescentam que a regulação emocional representa um termostato homeostático, capaz de regular e manter as emoções num nível controlável.

A regulação emocional também pode ser concebida como uma modificação intencional, por parte do indivíduo, de uma determinada emoção, o que ocorre desde a infância (Oliveira et al., 2003). Para os autores, as crianças regulam as suas próprias emoções, por meio de estratégias específicas, as quais fazem parte do estágio de desenvolvimento em que se encontram e também podem ser determinadas

culturalmente. Já Bridges et al. (2004) sugerem que a regulação emocional envolve emoções positivas e negativas e que o seu objetivo é minimizar, maximizar, mascarar ou dissimular a experiência e a expressão da emoção. Além disso, esse processo envolve a iniciação e a manutenção dos estados emocionais, positivos ou negativos, assim como a habilidade de reduzir níveis intensos de negatividade.

Para Del Prette e Del Prette (2005), a regulação emocional é um processo que abrange o autocontrole, a expressão da emoção e dos sentimentos, a nomeação e o reconhecimento das próprias emoções e dos outros indivíduos, a verbalização do que se sente, a utilização de estratégias para controlar o próprio humor, a capacidade de lidar com a negatividade, a tolerância às frustrações e o saber aproveitar o que há de positivo em diferentes situações vivenciadas. O objetivo da regulação emocional, segundo Arruda (2014), não é simplesmente suprimir as emoções negativas dos indivíduos, mas sim preservar um clima emocional que promova o seu bem-estar, em que as emoções negativas possam servir de impulso para o indivíduo regular as suas emoções e ultrapassá-las, sem provocar um desgaste emocional. Numa perspectiva da terapia comportamental, Leahy et al. (2013) definem a regulação emocional como um conjunto de habilidades adaptativas, o que inclui a capacidade de identificar e compreender as emoções, controlar os comportamentos considerados impulsivos e usar estratégias adaptativas para cada evento específico, a fim de ajustar as respostas emocionais.

Ter a habilidade de identificar e estabelecer diferenças entre as emoções, compreender a sua função e avaliá-las são requisitos primordiais ao indivíduo, a fim de que alcance a regulação emocional. Tais aptidões são parte do desenvolvimento essencial do ser humano. Nesse sentido, a infância e a adolescência são considerados os períodos mais complexos para essa aprendizagem (Reverendo, 2011). Com isso, o estudo da capacidade de regulação emocional na adolescência adquire significado relevante, já que esta representa uma fase desenvolvimental, a qual se caracteriza por fortes mudanças no nível cognitivo e afetivo do indivíduo. Além disso, a relação da regulação emocional com o bem-estar dos sujeitos está sendo estudada predominantemente em populações adultas (Freire & Tavares, 2011).

Por fim, há na literatura diversas maneiras de se estudar e conceituar a variável regulação emocional. De maneira geral, os pesquisadores corroboram que entender como ocorrem os processos de controle da emoção é de suma importância para se compreender o desenvolvimento emocional. Isso acontece, já que a regulação

emocional auxilia os indivíduos no controle de seus estados emocionais. Para isso, utilizam-se diferentes tipos de estratégias específicas para cada emoção, a fim de se obter uma adequada regulação emocional (Cruvinel & Boruchovitch, 2011; Gross, 1998, 1999; Oliveira et al., 2003; Silk et al., 2006; Vaz, 2009). Essas estratégias de regulação emocional serão descritas a seguir.