• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1: Sucesso escolar: variáveis associadas aos alunos

1.6. Autorregulação das emoções

1.6.4. Estratégias de regulação emocional

Essencialmente, estudantes que são capazes de monitorar seu progresso em direção a um objetivo de aprendizagem, lidando com as suas frustrações e obstáculos, têm acesso a um repertório de estratégias. Esses alunos percebem que alguns de seus problemas são controláveis, em detrimento de outros que não são (Phye et al., 2011). As estratégias de regulação emocional são essenciais, já que o indivíduo, ao empregar determinadas estratégias, poderá evitar patologias associadas à não regulação das emoções (Arruda, 2014). Pesquisadores da área de regulação emocional enfatizam que emoções positivas e negativas podem ser reguladas e que ambas expressões dessas emoções e experiências podem ser apontadas (Gross, 1998). Segundo Gross (2002), as estratégias de regulação emocional consistem em ações desempenhadas pelos sujeitos, conscientes ou não, para manter, aumentar, diminuir ou modificar um ou mais componentes de uma resposta emocional. Pesquisas internacionais e nacionais revelam a existência de diferentes estratégias para lidar com as emoções e regulá-las (Bortoletto, 2011). Estudos também revelam que as estratégias de regulação emocional se desenvolvem com a idade e podem ser diferentes, dependendo do contexto cultural em que o indivíduo está inserido e do seu gênero (Cruvinel & Boruchovitch, 2010).

Arándiga e Tortosa (2004), citados no estudo de Arruda (2014), identificaram algumas estratégias de enfrentamento para a regulação da raiva, quais sejam: distração, autoverbalizações, assertividade, alterações cognitivas (pensamento), técnicas de relaxamento e afastamento da situação que ocasionou essa emoção. Em relação à tristeza, os autores acreditam que estratégias de reestruturação cognitiva, atividades sociais, desportivas e de lazer podem auxiliar o indivíduo a lidar melhor com a situação que lhe causou tristeza. O estudo de Cruvinel e Boruchovitch (2010) revelou que a estratégia mais utilizada pelos estudantes brasileiros, de 8 a 11 anos, para lidar com a raiva e a tristeza é a realização de atividades prazerosas e agradáveis. Além disso, os

alunos podem reconhecer as diversas emoções e determinar qual estratégia é mais eficiente para cada uma delas. A literatura também revela que os adolescentes enfrentam dificuldades para lidar com a raiva e a tristeza (Arruda, 2014).

Outras estratégias de regulação emocional são estabelecidas por Gross (1998), tais como: a seleção da situação, uma ação que antecipa a situação; a modificação da situação, uma ação que altera a situação; o investimento da atenção, o desvio da atenção da situação; a modificação cognitiva, a alteração do significado da situação; a modulação de resposta, tentativa de influenciar a resposta fisiológica, experiencial ou comportamental. Tais estratégias também foram avaliadas por Gross e Thompson (2007), no que diz respeito às suas vantagens e desvantagens.

Em resumo, as estratégias de seleção da situação, mudança cognitiva e modulação da resposta podem ser consideradas eficazes, mas possuem pré-requisitos quanto ao desenvolvimento do sujeito, já que requerem a habilidade de abstração e a maturidade emocional, o que permite que a pessoa exerça o autocontrole. Já a modificação da situação, depende de condições externas ao evento. Dentre os investimentos da atenção, é inquestionável que a concentração também pressupõe desenvolvimento cognitivo e emocional. Entretanto, quando a pessoa dirige excessivamente a sua atenção para o evento que lhe causou uma emoção, esse fato pode levá-la à ruminação ou aumento de ansiedade. A distração representa o primeiro processo regulatório da atenção, um recurso disponível desde cedo na criança, e pode ser utilizada durante toda a vida, principalmente quando não é possível modificar uma situação (Macedo & Sperb, 2013).

Desenvolvido por Gross e John (2003), o modelo processual de regulação das emoções distingue diferentes tipos de estratégias, dentre as quais se destacam a reavaliação cognitiva e a supressão emocional, frequentemente utilizadas pelas pessoas (Gross & John, 2003; Gross et al. 2006; Ochsner & Gross, 2005). A reavaliação cognitiva consiste na modificação do significado da situação, para que o seu impacto emocional seja alterado. A utilização dessa estratégia favorece a experienciação de mais emoções positivas e menos emoções negativas, um funcionamento emocional e interpessoal mais adequado, menor recorrência de estados depressivos, maior satisfação com a vida, mais otimismo e maior autoestima. Além disso, permite o crescimento pessoal, a autoaceitação, objetivos de vida mais bem definidos e mais autonomia. Em contrapartida, a supressão emocional promove a inibição do comportamento emocional expressivo, mas não a sua experiência. Essa supressão pode conduzir o sujeito a

experienciar menos emoções positivas e mais negativas, a se isolar socialmente, apresentar mais sintomas de depressão e menos satisfação com a vida, autoestima baixa e até pessimismo, entre outras características (Gross & John, 2003).

Ademais, conforme Garnefski e Kraaij (2007), citados em Bortoletto (2011), pesquisas recentes com adolescentes e jovens adultos apontam a existência de nove estratégias de regulação emocional, quais sejam: culpar a si próprio, culpar o outro, ruminar ou focar o pensamento numa situação, catastrophizing, colocar a situação em perspectiva, repensar a situação de forma positiva, reavaliar a situação positivamente, aceitar e repensar o planejamento. Ao culpar-se, o indivíduo se responsabiliza pelos pensamentos relacionados à emoção vivenciada. Ao culpar o outro, responsabiliza o ambiente ou outra pessoa pelo que foi vivenciado. Ao ruminar ou focar no pensamento, o sujeito pensa sobre os sentimentos associados ao evento negativo frequentemente. A estratégia denominada catastrophizing corresponde aos pensamentos que representa, de forma explícita, o terror que a pessoa tem enfrentado. Colocar em perspectiva consiste em não considerar tão sério o evento e dar ênfase à sua relatividade, quando comparado com outras situações. Ao repensar positivamente, o indivíduo pensa em assuntos prazerosos e agradáveis, e não na situação que lhe gerou determinada emoção. A reavaliação positiva está relacionada à atribuição de significados positivos para um evento. A aceitação representa o reconhecimento de que o fato vivenciado é real. Já a estratégia de repensar o planejamento consiste na reflexão sobre quais medidas devem ser tomadas em relação ao evento e como o indivíduo pode lidar com as questões negativas.

Apesar de os estudos indicarem a existência de um vasto repertório de estratégias de regulação emocional, pesquisadores sugerem que não há respostas conclusivas sobre o modo pelo qual as emoções podem ser controladas (Gross, 1998; Gross & John, 2003; Ochsner & Gross, 2005), porém concordam que a regulação das emoções, por meio de estratégias, é um pré-requisito essencial para o funcionamento adaptativo do ser humano (Bortoletto, 2011; Bortoletto & Boruchovitch, 2013).