• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 5: Discussão

5.2. Teste Cloze/ Níveis de leitura

De acordo com os resultados, a compreensão em leitura da maior parte da amostra, segundo Bormuth (1968), apresenta-se no nível independente, representado pelos leitores que obtêm acima de 57% dos acertos no Teste Cloze, resultado este que pressupõe uma leitura crítica, criativa e autônoma do texto. Pode-se aventar a hipótese de que os participantes deste estudo analisem os textos que leem de acordo com os seus objetivos preestabelecidos, utilizando também de seu conhecimento prévio e um repertório de estratégias de leitura cognitivas e metacognitivas que favoreçam a extração do significado daquilo que se lê (Dembo & Seli, 2008; Solé, 1998). Entretanto, essa hipótese deve ser considerada com ressalvas, visto que os mesmos estudantes

reportaram utilizar estratégias de aprendizagem ligeiramente acima da média, as quais incluem algumas estratégias de leitura, tais como perceber que não está entendendo o conteúdo que está sendo lido. Considera-se que esses resultados são positivos, tendo em vista os dados alarmantes do último IDEB (MEC, 2016), que avaliou os alunos em Leitura e Matemática. Conforme os resultados, os estudantes brasileiros do Ensino Médio apresentaram o baixo índice de 3,7, o mesmo desde o ano de 2011, demonstrando, entre outros aspectos, a sua falta de proficiência em leitura.

Já o estudo de Cantalice e Oliveira (2009), apesar de ter sido realizado no Ensino Superior, mostrou que os universitários, embora tenham relatado empregar estratégias de leitura, apresentaram nível de compreensão leitora abaixo do esperado para essa etapa da escolarização. Em contrapartida, o estudo de Silva e Santos (2004), também realizado no contexto acadêmico, apontou uma correlação positiva e estatisticamente significativa entre a pontuação no Teste Cloze de alunos ingressantes na universidade, o rendimento acadêmico e a nota em Língua Portuguesa obtida no vestibular.

Pode-se inferir que a leitura proficiente dos participantes do presente estudo tenha contribuído para o seu sucesso no ingresso no Ensino Médio. Todavia, não foram localizadas pesquisas nacionais e internacionais que relacionassem a compreensão leitora e a sua relação com o sucesso de alunos no ingresso nesse segmento de escolarização. A pesquisa conduzida por Oliveira et al. (2008), realizada no Ensino Fundamental, mostrou que os estudantes que apresentaram melhor compreensão textual demonstraram também um desempenho escolar mais satisfatório nas disciplinas de Português e Matemática. No Ensino Superior, as pesquisas conduzidas por Oliveira e Santos (2005, 2006) também evidenciaram que há uma associação significativa entre compreensão em leitura de universitários e desempenho em conteúdos específicos.

Em função da escassez de estudos que examinam a compreensão em leitura, um dos principais meios para aquisição de novas aprendizagens (Solé, 1998), no Ensino Médio, sugere-se a realização de futuras pesquisas que investiguem especialmente essa variável nesse segmento de escolarização e sua possível relação com o sucesso escolar dos estudantes.

5.2.1. Teste Cloze/ Níveis de leitura e variáveis demográficas

Os resultados não revelaram diferenças significativas entre a pontuação no Teste Cloze, o nível de leitura e o sexo dos participantes, indicando que estudantes de ambos os sexos compreendem bem os textos que leem. Esse resultado não se assemelha aos de alguns estudos internacionais encontrados na literatura, os quais revelaram que as estudantes do Ensino Médio compreendem melhor os textos que leem (Chen & Chen, 2015; Denton et al., 2015), por intermédio da utilização de estratégias de leitura, tais como: estratégias de resolução de problemas, de leitura global, de suporte à leitura (Chen & Chen, 2015; Leon & Tarrayo, 2014), estratégias de avaliação, integração e regulação (Denton et al., 2015).

Observa-se que esse resultado também se diferencia dos encontrados no estudo nacional de Marini e Joly (2008), em que as pesquisadoras constataram que as alunas de Ensino Médio utilizam mais estratégias de leitura, principalmente durante o ato de ler, podendo ser consideradas, então, leitoras mais estratégicas, que compreendem melhor os textos que leem, quando comparadas aos alunos do sexo masculino.

Embora tenham sido realizados no Ensino Fundamental, estudos nacionais revelaram que estudantes do sexo feminino apresentaram um escore mais elevado no Teste Cloze, demonstrando que alunas compreendem melhor o que leem (Oliveira et al., 2007b; Piovezan & Castro, 2008). A investigação de Oliveira e Santos (2006), conduzida no Ensino Superior, não revelou diferença estatisticamente significativa entre o nível de compreensão leitora e o sexo de estudantes universitários.

O estudo realizado por Marini e Joly (2008) no Ensino Médio verificou que os estudantes do período diurno fazem maior uso das estratégias metacognitivas de leitura, havendo diferenças significativas para o momento de antes e durante a leitura. Na presente pesquisa, os estudantes também diferiram significativamente no que diz respeito à compreensão leitora e o período, revelando que a maior parte dos alunos do diurno parece compreender melhor os textos que leem. Porém, não foram examinadas as estratégias de leitura empregadas pelos participantes. É possível se aventar que o desempenho inferior dos alunos do período noturno em compreensão leitora esteja relacionado ao tempo, como sendo insuficiente para os seus estudos. Entretanto, sugere- se que futuras pesquisas sejam realizadas, com a finalidade de se verificar quais estratégias de leitura, considerando os momentos antes, durante e depois da leitura, são

utilizadas pelos estudantes dos diferentes turnos do Ensino Médio e a relação desses recursos com o respectivo nível de compreensão leitora dos alunos. Apesar de o estudo nacional de Carelli e Santos (1998) ter sido realizado no Ensino Superior, é interessante mencionar que os universitários do período noturno reportaram que o tempo representa o "principal motivo da insuficiência para os estudos", além do fato de gastarem um tempo maior dedicando- se ao trabalho fora da universidade.

Não houve diferenças estatisticamente significantes entre os escores dos alunos dos diferentes cursos no teste de compreensão leitora, podendo-se inferir que, independentemente do que estão cursando, os participantes compreendem bem os textos. É necessário frisar que não foram encontradas pesquisas que comparassem o nível de compreensão leitora de alunos de diferentes cursos; com isso, recomenda-se que sejam realizadas novas investigações, com o objetivo de examinar mais especificamente essa relação.

As relações entre o nível de compreensão leitora e idade também foram examinadas. Os resultados revelaram que os alunos das três faixas etárias compreendem bem os textos que leem e apresentam níveis de leitura equivalentes, o que pode ser decorrente da proximidade das idades dos participantes. Não foram localizadas investigações, na literatura nacional e internacional, que comparassem o nível de compreensão leitora e a idade de estudantes no Ensino Médio. Sugere-se, pois, que pesquisas sejam conduzidas no Ensino Médio, preferencialmente com alunos do primeiro, segundo e terceiro ano, a fim de se ampliar a faixa etária da amostra e se verificar, mais precisamente, a relação entre a compreensão leitora e a idade dos estudantes.

Já o estudo de Cantalice e Oliveira (2009), apesar de ter sido realizado no Ensino Superior, revelou que as universitárias mais jovens apresentaram uma maior compreensão em leitura do que os mais maduros, indicando que estudantes mais novos têm uma maior abstração em relação à compreensão da informação lida. Outro estudo realizado com universitários não constatou diferença significativa em relação à faixa etária dos estudantes e o seu respectivo desempenho em compreensão leitora (Oliveira & Santos 2006).

Em suma, os estudantes apresentaram um nível independente de leitura no Teste Cloze. Quanto ao período, os alunos do diurno indicaram um desempenho mais

satisfatório no Teste Cloze, ao serem comparados com os seus colegas do noturno. Na comparação entre sexo, curso e idade, não houve diferenças significativas entre o desempenho na compreensão leitora dos alunos.