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3 HISTÓRICO FÁTICO E NORMATIVO DO ZONEAMENTO AMBIENTAL

4.3 Similaridades com outros instrumentos

4.3.3 Avaliação ambiental estratégica

A avaliação ambiental estratégica é espécie do gênero avaliação de impacto ambiental e, portanto, também corresponde a um dos instrumentos previstos na Política Nacional do Meio Ambiente, nos termos do artigo 9º, III da Lei Federal 6.938/81.

Tal qual ocorre com o zoneamento ambiental, a avaliação ambiental estratégica está diretamente relacionada ao planejamento de ações (políticas, planos e programas) voltadas ao desenvolvimento sustentável, e aí reside sua principal relevância.

Através dela avaliam-se previamente os efeitos cumulativos e sinérgicos de sucessivas atividades desenvolvidas ou a se desenvolverem em determinada área, a fim de permitir que o Poder Público e a coletividade adquiram mais conhecimento sobre as condições do meio ambiente a ser afetado (potencialidades e vulnerabilidades), e, assim, adotem as medidas mais adequadas para a implementação de empreendimentos em equilíbrio com a proteção ambiental.

Nos dizeres de Édis Milaré (2007, p. 401) ³D HVWUDWpJLD SDODYUD RULJLQDGD GR JUHJR que significa arte ou técnica de preparar e vencer uma batalha), como bem se vê, deve preceder a ação, orientá-la para os objetivos a serem alcançados, indicar os melhores FDPLQKRVSDUDFKHJDUDRDOYR´

A avaliação ambiental estratégica, ao lado de outros instrumentos e mesmo avaliações de impacto ambiental, concretiza o princípio da prevenção, pois através dela é possível

prever-se os impactos do desenvolvimento pretendido para determinada área, subsidiando a tomada de decisões.

André Lima (2006, p. 98), ao resgatar o histórico de definições do ZEE, destaca a seguinte definição atribuída ao zoneamento ambiental pelo Ministério Extraordinário de Projetos Especiais, que incorporou parte das atribuições da Secretaria de Assuntos Estratégicos:

Avaliação estratégica dos recursos naturais, socioeconômicos e ambientais, calcada no inventário integrado de um território definido, visando identificar potencialidade e vulnerabilidades para o desenvolvimento socioeconômico, e necessidades de conservação e proteção de ecossistemas, a fim de proporcionar aos órgãos federais, estaduais e municipais e à sociedade uma base de informações e diretrizes para ordenamento territorial em condições VXVWHQWiYHLV´ (grifo nosso)

Diante dessa definição, Lima (2006) ressalta a aproximação conceitual entre o ZEE e a avaliação ambiental estratégica, justamente pois esta última é voltada para a avaliação dos impactos de políticas, planos e programas governamentais.

Lima (2006) afirma que a avaliação ambiental estratégica, como o próprio nome sugere, aplica-se em níveis estratégicos de decisão anteriores à etapa de análise dos projetos e obras específicos, o que, inclusive, facilita a análise pontual de cada projeto. Ela pode orientar a decisão do governo em torno de políticas setoriais (energia, transportes, mineração, agropecuária), de programas de desenvolvimento regional, de políticas de crédito e tributárias, ou ainda direcionar a avaliação de impacto de novas legislações.

Paulo Egler (apud LIMA, 2006, p. 186), também correlaciona o ZEE à avaliação ambiental estratégica. Para referido autor, um dos aspectos a reforçar a aplicação da avaliação ambiental estratégica no Brasil

é o esforço que já foi feito, seja em nível federal como no estadual, para por em prática o Programa de Zoneamento Ecológico Econômico ± ZEE. Como um dos principais objetivos do ZEE é o desenvolvimento de uma avaliação

do uso do território que venha a considerar, de forma efetiva, no processo de tomada de decisão a integração dos domínios econômico, social e ambiental, é possível se afirmar que o ZEE e a AAE partilham objetivos comuns. Dessa forma, a implantação da AAE no País pode vir a representar um reforço para o ZEE e vice-versa.

A integração destes instrumentos, vale destacar, está expressamente prevista na Política Nacional de Biodiversidade, aprovada pelo Decreto Federal n 4.339/2002, quando a norma trata do monitoramento, avaliação, prevenção e mitigação de impactos sobre a biodiversidade. O item 13.2.4 traz o seguinte objetivo específico (BRASIL, 2002): ³3URPRYHU D LQWHJUDomR HQWUH R =RQHDPHQWR (FROyJLFR-Econômico e as ações de licenciamento ambiental, especialmente por intermédio da realização de Avaliações Ambientais EstraWpJLFDVIHLWDVHPHVFDODUHJLRQDO´

Como bem aponta Édis Milaré (2007, p. 402), porém, a avaliação ambiental estratégica ³pXPD ILJXUDDLQGD PDOGHOLQHDGDVHMDSDUDRVDJHQWHVDPELHQWDLVVHMDSDUDR3RGHU 3~EOLFRHDVXDDGPLQLVWUDomR´

De fato, tal instrumento também foi pouco explorado até o momento, e seus critérios de elaboração, conteúdo mínimo e competência não foram ainda delimitados de forma geral e clara.

5 CRITÉRIOS E REGULAMENTAÇÃO DO ZONEAMENTO AMBIENTAL DE ACORDO COM O DECRETO FEDERAL Nº 4.297/2002

Como visto, a discussão referente à gestão territorial vinculada a aspectos socioeconômicos e ambientais é antiga. De todo modo, é a Política Nacional do Meio Ambiente, definida na Lei Federal nº 6.938/81 (BRASIL, 1981), que representa o grande marco na definição do zoneamento ambiental como um dos instrumentos através dos quais a proteção do meio ambiente deverá ser implementada.

Passados vinte e um anos desde a edição da Política Nacional do Meio Ambiente, o zoneamento ambiental foi finalmente regulamentado pelo Decreto Federal nº 4.297 de 10 de julho de 2002. (BRASIL, 2002)

Como destaca Édis Milaré (2004, p. 420),

a bem ver, a legislação correlata ao Zoneamento Ambiental é farta, porquanto em seu conjunto são compreendidas as leis e os decretos referentes ao uso do solo, à instituição de áreas especiais, à proteção da flora e da fauna, ao gerenciamento costeiro, às bacias hidrográficas, ao tombamento de áreas e monumentos de valor paisagístico, e outros mais.

O histórico de fatos e normas relacionados ao tema, apontado acima, corrobora com a visão de Milaré. É certo, no entanto, que após a publicação da Política Nacional do Meio Ambiente, a necessidade de definição de diretrizes e padrões para a efetiva realização do zoneamento ambiental era ainda sentida. Assim, buscando suprir tal necessidade, o Decreto Federal nº4.297/2002 estabeleceu critérios mínimos para o que, ele próprio, denomina de Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) do Brasil.