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Diversas terminologias para um mesmo Instituto

3 HISTÓRICO FÁTICO E NORMATIVO DO ZONEAMENTO AMBIENTAL

4.1 Diversas terminologias para um mesmo Instituto

Apesar de aparentemente claras as definições de zoneamento ambiental apontadas no item acima, fato é que o termo zoneamento atrelado à matéria ambiental é utilizado de diversas formas ± e até mesmo com diversos nomes - não só na doutrina, como também nos textos normativos e políticos, o que dificulta a exata compreensão do tema e suscita inúmeras dúvidas quanto à sua implementação prática.

Fala-se em zoneamento ambiental, zoneamento ecológico econômico, zoneamento socioeconômico-ecológico, zoneamento agroecológico, zoneamento costeiro, zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição, zoneamento urbano, dentre outros.

Da mesma forma, algumas definições de zoneamento ambiental dão a entender que o instituto deve servir de subsidio à formulação de planos regionais, ao passo que outras definições consideram que o zoneamento ambiental, em si, consiste em um instrumento para implementação de um planejamento já previamente realizado.

Sem ter a pretensão de esgotar de que forma cada um dos conceitos mencionados acima é utilizado, seja pela doutrina, seja pelos textos normativos e políticos, julgamos pertinente trazer aqui, para referência, o significado e as explicações que o Poder Público, através do Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2009), atribui a esses conceitos:

Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) - O ZEE é instrumento para planejar e ordenar o território brasileiro, harmonizando as relações econômicas, sociais e ambientais que nele acontecem. Demanda um efetivo esforço de compartilhamento institucional, voltado para a integração das ações e políticas públicas territoriais, bem como articulação com a sociedade civil, congregando seus interesses em torno de um pacto pela gestão do território. O ZEE é ponto central na discussão das questões fundamentais para o futuro do Brasil como, por exemplo, a questão da Amazônia, do Cerrado, do Semi-árido Brasileiro, dos Bio-combustíveis e das Mudanças Climáticas. Uma das suas características principais é sobrepor todos os outros tipos de zoneamento existentes.

Zoneamento Ambiental - é o zoneamento que leva em consideração, inicialmente, apenas o aspecto preservacionista. É elencado como um dos instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente (Lei 6.938/1981). O termo, posteriormente, evolui para Zoneamento Ecológico-Econômico, com a prerrogativa de englobar as questões social e econômica à ambiental.

Zoneamento Sócio-Ecológico-Econômico (ZSEE) - significa o mesmo que ZEE, a nomenclatura apenas tenta evidenciar a questão social que já faz parte do Zoneamento Ecológico-Econômico.

Zoneamento Geoambiental - zoneamento voltado para os elementos e aspectos naturais do meio físico e biótico.

Zoneamento Agroecológico (ZAE) - Com essa forma de zoneamento é possível determinar o que e onde será possível plantar; quais as limitações de

uso do solo, em atividades agropecuárias; quais as causas da poluição ambiental e da erosão do solo, o que pode ser feito para combater esses problemas; e como reduzir os gastos com insumos agrícolas, aumentando a produtividade e mantendo a qualidade da produção, facilitando o rendimento da mão-de-obra. É realizado o estudo do uso do solo para a agricultura, pecuária, silvicultura, extrativismo, conservação e preservação ambiental, a partir da elaboração de mapas na escala de 1:100.000 com informações sobre caracterização climática, solos, aptidão agrícola, cobertura vegetal e uso das terras, potencial para uso de máquinas, sustentabilidade à erosão, e potencial social para diferentes atividades.

Zoneamento Agrícola de Risco Climático - Útil para a agricultura, mostra meios para planejar os riscos climáticos, direcionar o crédito e o seguro à produção. A Secretaria de Política Agrícola (SPA) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) define o Zoneamento Agrícola de Risco Climático para o cultivo de algumas culturas.

Zoneamento Costeiro - ZEE aplicado à Zona Costeira.

Zoneamento Urbano - Zoneamento dos municípios de acordo com o Plano Diretor.

Zoneamento Industrial - Zoneamento de áreas destinadas à instalação de indústrias. São definidas em esquema de zoneamento urbano, aprovado por lei. Visa à compatibilização das atividades industriais com a proteção ambiental.

Zoneamento Etnoecológico - instrumento de gestão territorial para populações tradicionais e indígenas.

André Lima (2006, p. 87-88) considera que os conceitos de ZEE e zoneamento ambiental devem ser tratados com equivalência. Para este autor,

ao considerarmos o zoneamento ambiental como instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente, somos levados necessariamente a compreendê- lo a partir e em face dos objetivos e princípios (arts. 2º e 4º)11 da referida

11 Artigo 2º. A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhora e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no país, condições ao

desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:

I ± ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; II ± racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;

III ± planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;

IV ± proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas; V ± controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;

VI ± incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais;

VII ± acompanhamento do estado da qualidade ambiental; VIII ± recuperação de áreas degradadas;

IX ± proteção de áreas ameaçadas de degradação;

X ± educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.

(...)

Artigo 4º. A Política Nacional do Meio Ambiente visará:

I ± à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;

política. Considerados tais princípios, diretrizes e objetivos fica evidenciada a conclusão de que sua [zoneamento ambiental] abrangência extrapola os restritos limites conceituais sugeridos pela definição de meio ambiente dada pelo artigo 3º12 já comentado. Basta refletirmos sobre o alcance do inc. I do art. 4º da própria PNMA ao estabelecer como objetivo da política nacional a µFRPSDWLELOL]DomR GR desenvolvimento econômico-social com a preservação GDTXDOLGDGHGRPHLRDPELHQWHHGRHTXLOtEULRHFROyJLFR¶(VWHpFODUDPHQWH como veremos depois, um dos objetivos do ZEE, senão o principal.

Lima (2006, p. 90-91) compreende que a correlação entre o ecológico e o econômico não é uma questão meramente semântica. Nas suas palavras,

$ FRUUHODomR HQWUH R µHFROyJLFR¶ FRPR EDVH QDWXUDO H R µHFRQ{PLFR¶ FRPR fenômeno social e cultural que compõem o conteúdo e a abrangência do PNMA não é uma questão meramente semântica a conformar o atributo µDPELHQWDO¶ GR ]RQHDPHQWR D TXH QRV UHIHULPRV PDV GHYH FRQVLGHUDU GXDV premissas elementares:

1) DDERUGDJHPµHFROyJLFD¶VHGHYHIXQGDPHQWDOPHQWHjQHFHVViULDFRPSUHHQVmR H DVVXQomR GDV µOHLV¶ GD QDWXUH]D GR DPELHQWH ± casa [oikos] ± como potencial e/ou limite para as ações humanas sobre o meio. Isso porque se pressupõe que haja limite na capacidade de suporte dos ambientes, dos recursos naturais, de suas funcionalidades e de sua capacidade de resiliência; e

2) D DERUGDJHP µHFRQ{PLFD¶13 enseja a normatização e a consideração das dinâmicas e dos interesses humanos por apropriação dos elementos e forças da natureza e sua transformação em riqueza social [privada ou pública]. A abordagem econômica objetiva orientar as regulamentações e as ações de SODQHMDPHQWR SHOR (VWDGR SDUD D PHOKRU µJHVWmR GD FDVD¶ >oikos + nomos: aqui vista como gestão do território], em busca da transformação mais eficaz dos atributos da natureza e da distribuição mais justa de seus benefícios.

Lima (2006) menciona, ainda, que em conversa pessoal mantida em maio de 2004 com Paulo Afonso Leme Machado, que participou da formulação da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, tomou conhecimento que a intenção de introdução do zoneamento ambiental na referida Lei era justamente dar a abrangência que se propõe hoje para o II ± à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; III ± ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;

IV ± ao desenvolvimento de pesquisas e tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais;

V ± à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico;

VI ± à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida; VII ± à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.

12 Artigo 3º. Para os fins previstos nesta lei entende-se por:

I ± meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e ELROyJLFDTXHSHUPLWHDEULJDHUHJHDYLGDHPWRGDVDVVXDVIRUPDV  ´

13 ³(FRQRPLD&LrQFLDTXHHVWXGDRVIHQ{PHQRVUHODWLYRVjSURGXomRGLVWULEXLomRDFXPXODomRHFRQVXPR GHEHQVPDWHULDLV´ +2/$1'$:234)

ZEE, isto é, de que não fosse apenas um zoneamento para espaços territoriais especialmente protegidos ou com uma visão estrita de ambiente. Mais que isso, a idéia era criar um instrumento com a força normativa que se atribui aos zoneamentos urbanos.

Compartilhando da visão de Lima, para fins do presente trabalho, trataremos do zoneamento ambiental como sinônimo de zoneamento ecológico econômico, nos termos conceituais da doutrina especializada trazidos acima.