2.2 AVALIAÇÃO
2.2.1 Avaliação da Aprendizagem do Aluno
O termo avaliação parece sempre muito familiar, naturalmente por ser uma característica intrínseca do ser humano: julgar e comparar fatos, coisas e pessoas. Talvez resida nesta familiaridade a dificuldade em definir exatamente o que significa o termo. Mantendo contato com a literatura pertinente ao assunto em questão,
encontra-se uma variedade de definições, e embora alguns autores afirmem que essas definições são diferentes e ambíguas entre si, neste trabalho é defendida a tese de que as definições são complementares, pois do ponto de vista de suas finalidades, as avaliações completam-se mutuamente.
O quadro 5 apresenta, em ordem cronológica, as principais definições nacionais e internacionais sobre o tema. Destaque ao clássico Tyler (1974), considerado o pai da avaliação educacional e Scriven (1978) apontado como o pai da avaliação formativa e da avaliação somativa.
Quadro 5 - Definição do termo avaliação
Autores Definição de avaliação
Tyler (1974) É o processo de determinação da extensão com que os objetivos educacionais se realizam. Scriven (1978)
É uma atividade metodológica que consiste na coleta e na combinação de dados relativos ao desempenho, usando um conjunto ponderado de escalas de critérios que leve a classificações comparativas ou numéricas.
Bloom, Hastings, Madaus (1983)
É um método de coleta e de processamento dos dados necessários à melhoria da aprendizagem e do ensino.
Libâneo (1994, p. 195) É uma tarefa complexa que não se resume a realização de provas e atribuição de notas. A mensuração apenas proporciona dados que devem ser submetidos a uma apreciação qualitativa.
Sacristán (2000, p. 312) Deve servir de procedimento para sancionar o progresso dos alunos pelo currículo sequencializado ao longo da escolaridade, sancionando a promoção desses.
Demo (2002, p. 139) O conhecimento e a aprendizagem são atividades que expressam processos não lineares, entretanto o debate em torno da avaliação está repleto de supostos não lineares.
Piletti (2010, p.188) É um processo contínuo de pesquisas que visa interpretar os conhecimentos, habilidades e atitudes dos alunos, tendo em vista mudanças esperadas no comportamento.
Veiga (2012, p. 152) É vista como o resultado do processo de ensino, consequentemente, a avaliação é parte integrante desse processo. Candau (2012, p. 152) É um processo presente em todos os aspectos da vida escolar, é sem dúvida um dos aspectos mais problemáticos da prática
pedagógica. Fonte: Organizado pela autora (2015)
Embora o termo avaliação apresente várias definições, os autores são unânimes no que tange à classificação das avaliações, do ponto de vista da sua função. A classificação clássica encontrada é: avaliação diagnóstica, avaliação formativa e avaliação somativa.
A avaliação cuja finalidade é diagnóstica deve ser realizada no início do ano, módulo, unidade, aula, e possibilita ao professor conhecer o que seus alunos sabem sobre determinado conteúdo, tendo assim, um ponto de partida real para iniciar o processo ensino-aprendizagem. Nesta avaliação, também é possível identificar o
padrão de comportamento dos alunos e constatar carências em termos de pré- requisitos, especificidades e particularidades. As ações decorrentes desta avaliação podem ser: encaminhar a setores especiais os alunos que não tem o nível de conhecimento exigido como pré-requisito para novas aprendizagens, propor atividades com vistas a superar as possíveis deficiências encontradas, individualizar o ensino de acordo com a necessidade do aluno, entre outras (PILETTI, 2010).
A avaliação formativa contempla o construtivismo e ocorre durante todo o período letivo. Parte da premissa básica que o aluno está constantemente construindo conhecimento e que cabe ao professor controlar quais conhecimentos já foram assimilados pelos alunos, aferindo também, de certa forma, o processo de ensinagem19. As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNS) para a Formação de
Professores da Educação Básica estão em harmonia com a avaliação formativa “A avaliação deve ter como finalidade a orientação do trabalho dos formadores, a autonomia dos futuros professores em relação ao seu processo de aprendizagem e a qualificação dos profissionais com condições de iniciar a carreira” (BRASIL, 2002, p. 40). Zabala (2010, p. 201) apresenta sua concepção para essa modalidade de avaliação.
A partir de uma opção que contempla como finalidade fundamental do ensino a formação integral da pessoa, e conforme uma concepção construtivista, a avaliação sempre tem que ser formativa, de maneira que o processo avaliador, independentemente do seu objeto de estudo, tem que observar as diferentes fases de uma intervenção que deverá ser estratégica. [...] Um planejamento da intervenção fundamentado e, ao mesmo tempo, flexível, entendido como uma hipótese de intervenção.
A avaliação somativa é empregada com a finalidade de qualificar os alunos de acordo com objetivos previamente estabelecidos, aferir valor as atividades avaliativas e classificar os alunos de acordo com seu aproveitamento acadêmico. Geralmente é empregada ao final de um módulo, curso, série ou unidade curricular. “Essas três formas de avaliação estão intimamente vinculadas, para garantir a eficiência do sistema de avaliação e a eficácia do processo ensino aprendizagem, o
19 A expressão “ensinagem” foi cunhada por Anastasiou (1998, p. 193-201), para significar uma situação de ensino da qual obrigatoriamente decorra a aprendizagem, sendo a parceria entre professor e alunos, condição fundamental para o enfrentamento do conhecimento, necessário à formação do aluno. ANASTASIOU, L. G. C. Metodologia do Ensino Superior: da prática docente a uma possível teoria pedagógica. Curitiba: IBPEX, 1998.
professor deve fazer uso conjugado das três modalidades” (HAYDT, 1997, p. 18), conforme é demonstrado no quadro 6.
Quadro 6 - Modalidades e funções da avaliação
Modalidade Função Propósito Época
Diagnóstica Diagnosticar
Verificar a presença ou ausência de pré-requisitos para novas
aprendizagens;
Detectar dificuldades específicas de aprendizagem.
Início do ano ou semestre (ou ainda
unidade)
Formativa Controlar
Constatar se os objetivos estabelecidos foram alcançados;
Fornecer dados para aperfeiçoar o processo ensino-aprendizagem.
Durante o ano letivo
Somativa Classificar
Classificar os resultados de
aprendizagem alcançados pelos alunos de acordo com níveis de
aproveitamento estabelecidos.
Ao final do ano ou período letivo. Fonte: Haydt (1997, p. 19)
Consoante o relatado, o conceito de interação “é a ação recíproca entre dois ou mais atores onde ocorre a intersubjetividade, isto é, encontro de dois sujeitos – que pode ser direta ou indireta (mediatizada por algum veículo técnico de comunicação)” (BELLONI, 2009, p. 58). Da mesma forma, os conceitos clássicos da teoria interacionista apontam que o sujeito desenvolve suas capacidades cognitivas em relação e interação direta com o meio em que vive e o mundo que o rodeia, assim cada aluno de um curso a distância, mediado pelo AVA, tem seu percurso de aprendizagem e avaliação “permeado pelo caminho percorrido pelo outro/coletivo, em que cada um (re) constrói seu conhecimento a partir da perspectiva do outro” (BEHAR, 2009, p. 94).
Na educação à distância, o modelo de avaliação da aprendizagem deve ajudar o estudante a desenvolver graus mais complexos de competências cognitivas, habilidades e atitudes, possibilitando-lhe alcançar os objetivos propostos. Para tanto, esta avaliação deve comportar um processo contínuo, para verificar constantemente o progresso dos estudantes e estimulá-los a serem ativos na construção do conhecimento. Desse modo, devem ser articulados mecanismos que promovam o permanente acompanhamento dos estudantes, no intuito de identificar eventuais dificuldades na aprendizagem e saná-las ainda durante o processo de ensino-aprendizagem (BRASIL, 2007, p. 16).
Alguns autores, como Polak (2009, p.154), por exemplo, admitem que tanto na EAD quanto no ensino presencial, existem somente três modalidades de avaliação (somativa, diagnóstica e formativa) e cada uma delas tem uma função
específica, conforme visto. Para o autor, a avaliação formativa seria a mais significativa para a EAD, pois utiliza diversos instrumentos e busca o aperfeiçoamento do processo ensino-aprendizagem, na qual se procura o aprendizado do aluno, ajudando-o em sua trajetória em busca do conhecimento e no modo como os resultados encontrados são posteriormente trabalhados.
Embora haja vasto suporte teórico acerca da avaliação da aprendizagem do aluno, como apresentado, no que concerne à legislação da educação superior brasileira, essa avaliação está contemplada em um único artigo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996 (LDBEN).
Capítulo IV – Da educação superior
Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular, independente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos dias de trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver.
§ 1º As instituições informarão aos interessados, antes de cada período letivo, os programas dos cursos e demais componentes curriculares, sua duração, requisitos, qualificação dos professores, recursos disponíveis e critérios de avaliação, obrigando-se a cumprir as respectivas condições.
§ 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveitamento nos estudos, demonstrado por meio de provas e outros instrumentos de avaliação específicos, aplicados por banca examinadora especial, poderão ter abreviada a duração dos seus cursos, de acordo com as normas dos sistemas de ensino (BRASIL, 1996, p. 16).
Especificamente em EAD, encontra-se apenas um parágrafo que versa sobre avaliação, parágrafo 1º do artigo 1º do Decreto 5.622 de 19 de dezembro de 2005, que regula o Art. 80 da LDBEN/1996:
§ 1o A educação a distância organiza-se segundo metodologia, gestão e
avaliação peculiares, para as quais deverá estar prevista a obrigatoriedade de momentos presenciais para:
I. Avaliações de estudantes;
II. Estágios obrigatórios, quando previstos na legislação pertinente; III. Defesa de trabalhos de conclusão de curso, quando previstos na
legislação pertinente;
IV. Atividades relacionadas a laboratórios de ensino, quando for o caso (BRASIL, 2005, p. 1, grifo nosso).
Retomando o parágrafo primeiro do decreto ora citado, temos que a EAD organiza-se “segundo metodologia, gestão e avaliação peculiares”. Peculiar significa que é inerente de alguém ou de alguma coisa, que constitui o atributo de alguém ou algo. Contudo, na literatura pertinente a EAD não se encontram modalidades de avaliação diferenciada, “peculiares” da empregada na educação presencial, o que
sofre alteração é o suporte tecnológico. Na educação presencial para o aluno realizar uma prova utiliza da tecnologia caneta e papel, já na EAD uma prova tanto pode ser realizada no AVA, como presencialmente, mas frequentemente, nos mesmos moldes da educação presencial.