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CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.6 Avaliação da Criatividade

Uma das questões mais importantes que se tem levantado em torno da criatividade é saber se é possível medi-la eficazmente. Para que essa medição seja considerada credível é necessário que os instrumentos de avaliação sejam considerados sensíveis, fidedignos e válidos, segundo Lubart (2007):

“A sensibilidade significa que o instrumento de medida discrimina bem os indivíduos sobre a dimensão que se mede, e na qual é sensível aos diferentes graus de criatividade. A fidelidade indica que o instrumento de medida avalia com precisão a dimensão da criatividade e não está, portanto, maculado de erros. A validade significa que esse mesmo instrumento mede bem a criatividade – e somente a criatividade – e não um outro fenómeno” (p. 159).

Para avaliar a criatividade pode recorrer-se a uma metodologia psicométrica mais tradicional, onde são utilizados diferentes tipos de testes e questionários ou a uma abordagem mais contextual que recorre à análise dos produtos, à avaliação das particularidades do meio social, às informações de terceiros e às descrições introspetivas (Nogueira & Baía, 2009). Como tal, os instrumentos de avaliação criados para medir a criatividade são vários, diferindo tanto em forma como em princípio. Se no início deste trabalho abordamos a criatividade como sendo uma combinação de diferentes fatores (cognitivos, conativos emocionais e ambientais), também agora ao abordarmos a sua avaliação o faremos descrevendo as diferentes provas, testes, tarefas ou questionários relacionados com cada um dos fatores atrás enunciados.

24 Aspetos cognitivos

Os testes cognitivos têm como objetivo medir os métodos de base do pensamento que conduzem à produção criativa. Estes testes, embora meçam a capacidade de pensar de uma forma particular quando é necessário, não avaliam o modo como um indivíduo utilizará instintivamente essa capacidade fora da situação do teste. Os testes cognitivos, embora estejam excessivamente ligados à inteligência são o modo mais comum de avaliar a criatividade

Testes de pensamento divergente – considerando que o pensamento divergente reflete a capacidade dos indivíduos em produzir um grande número de respostas, diferentes e originais, para solucionar um problema, Guilford (1967), referido por Lubart (2007), desenvolveu os primeiros instrumentos para identificar e medir o pensamento divergente considerando, para isso, três índices: fluidez, flexibilidade e originalidade. A fluidez corresponde à capacidade de produzir um elevado número de respostas a uma tarefa ou problema dado e “é medida contando o número de ideias geradas”. A flexibilidade corresponde à capacidade de produzir muitas categorias de respostas a uma tarefa e a medida consiste “em contar o número de categorias diferentes de ideias gerais”. A originalidade refere-se à capacidade de um indivíduo em gerar ideias estatisticamente raras e a sua medida consiste “em contabilizar a frequência das aparições das ideias em um conjunto de amostra interrogada” (Lubart, 2007, p. 161).

Mais tarde, segundo o mesmo autor, Torrance (1976) e a sua equipa elaboraram um conjunto de testes, designados de «Torrance Tests of Creative Thinking» (TTCT), baseados na produção de soluções divergentes e possibilidades múltiplas. Para algumas provas sugerem a avaliação de mais um índice, o nível de elaboração, o qual se refere à capacidade do indivíduo em inserir detalhes que atribuam uma maior riqueza à informação. Essas provas permitem avaliar os aspetos quantitativos e qualitativos do pensamento divergente.

Os testes de pensamento divergente, para além de constituírem uma primeira tentativa para avaliar a criatividade também são utilizados para desenvolvê-la. Para Cropley (1997), segundo Nogueira e Baía (2009), o essencial é estimular uma forma de pensamento diferente. As mesmas autoras referem que:

“Torrance e Torrance (1974) reconhecem que os testes de pensamento divergente ainda não são capazes de medir a essência da criatividade, nem revelam a capacidade para fornecer soluções novas ou facilmente adaptadas a problemas concretos do quotidiano, mas de forma mais otimista, consideram que os melhores resultados nestes testes permitem prever, com maior grau de probabilidade, o comportamento criativo” (p. 63).

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Provas de insight e de associações remotas – estas provas/tarefas estão ligadas à resolução de pequenos problemas muito específicos e implicam capacidades de codificação, comparação e combinação seletivas, constituindo medidas parciais do potencial criativo (Lubart, 2007).

Seguem-se alguns exemplos de tarefas a partir das quais se pode obter pontuações em fluidez, flexibilidade e originalidade, tendo como base o número e qualidade de respostas dadas.

 Escrever palavras que contenham uma determinada letra ou comecem com uma determinada sílaba;

 Enumerar objetos redondos ou indicar aplicações e usos diversos para um objeto comum, por exemplo, um tijolo;

 Indicar sinónimos de uma palavra;

 Construir objetos com figuras dadas (quadrados, círculos, retângulos, etc.);

 Decorar móveis mostrados esquematicamente no teste;

 Escrever frases com quatro palavras dadas;

 Encontrar rostos escondidos em imagens complexas;

 Propor melhorias em objetos de uso comum como um saca-rolhas, uma torradeira ou um aspirador.

Aspetos Conativos

Segundo Lubart (2007) a avaliação dos elementos conativos da criatividade inclui as medidas de traços de personalidade, de estilos cognitivos e de motivação.

O inventário de personalidade – permite medir e/ou avaliar alguns traços de personalidade tais como: abertura, estabilidade emocional, consciência, extroversão e agradabilidade. A respeito dos traços de personalidade, aqueles cujas medidas têm mais interesse para a avaliação da criatividade, são: os traços de abertura, de adesão ao risco, de tolerância à ambiguidade e de individualismo.

Medidas de estilos cognitivos – avaliam a forma como o indivíduo escolhe tratar as informações propostas.

Avaliação das atitudes e dos interesses – trata-se de avaliar as preferências e os interesses de uma pessoa por um conjunto de atividades criativas. Esta avaliação pode abranger diversas formas de motivação intrínseca e extrínseca.

Estes aspetos podem ser avaliados através de questionários que solicitem ao indivíduo a sua apreciação em torno de uma série de perguntas ou adjetivos que

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identificam os sujeitos criativos. Estes métodos consistem em utilizar, por exemplo, testes clássicos de personalidade, listas de adjetivos e questões mais ou menos abertas.

Aspetos Emocionais

Embora atualmente, as medidas do fator emocional sejam pouco utilizadas, a verdade é que as pesquisas sugerem que elas têm o seu lugar na avaliação do potencial criativo.

Testes de inteligência emocional – onde os sujeitos identificam as emoções, definem e indicam os comportamentos adaptados à situação emocional.

Questionários de autoavaliação – medem os traços emocionais, os estilos afetivos, a intensidade afetiva, a expressão emocional e a idiossincrasia emocional.

O estado emocional, habitualmente é medido por meio de uma lista de verificação de adjetivos, referente ao valor e à intensidade das emoções ressentidas.

Aspetos ambientais

As medidas do ambiente criativo referem-se geralmente aos inventários biográficos e às medidas do ambiente na organização.

Inventário biográfico – trata-se da avaliação do contexto onde o indivíduo se desenvolveu. Alguns autores defendem que o desenvolvimento da criatividade poderá ser facilitado pela presença de um ambiente favorável, permitindo, ainda que indiretamente, determinar o nível de criatividade desse indivíduo.

Medidas do ambiente na empresa – permite avaliar os diferentes parâmetros do ambiente de trabalho que, de alguma forma, contribuem, positiva ou negativamente, para a criatividade. Lubart (2007) refere que foi Amabile (1996), quem desenvolveu um instrumento que permite avaliar os diferentes parâmetros da empresa, contemplando oito dimensões, a saber: incentivo da organização, incentivo do supervisor, apoio oferecido por um grupo de trabalho, liberdade, contribuição satisfatória de recursos, trabalho competitivo, pressão e obstáculos organizacionais.

Os aspetos ambientais poderão ser avaliados através de pesquisas, no caso do inventário biográfico e através de questionários para a medida do ambiente na empresa.

Avaliação das performances criativas

Segundo Lubart (2007) as medidas de performance criativa procuram medir de diferentes formas a atividade criativa de um indivíduo.

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Medidas de execução – correspondem à avaliação do número de produções criativas do indivíduo. Na medida objetiva de execução – a avaliação tem por base apenas a contabilização do número de produções criativas (artigos científicos, obras literárias, pinturas, etc.) realizadas pelo indivíduo, durante um determinado período de tempo. Os inventários de execução – combinam a avaliação objetiva de execução com a autoavaliação dos interesses e das atitudes do sujeito.

Julgamentos de produção criativa – consiste em medir a criatividade a partir de julgamentos sobre composições efetuadas sob comando (com condições controladas e padronizadas) e, normalmente, com o tempo limitado.

A avaliação das performances criativas poderá ser efetuada através de listas de classificação, entrevistas estruturadas, questionários ou avaliação das obras efetuada por juízes (Lubart, 2007).

Para que a avaliação seja completa esta deverá incluir as medidas cognitivas, conativas, emocionais e ambientais, pois ao medir cada um destes fatores identifica-se o potencial criativo do sujeito. O perfil ideal de criatividade não é igual para o desempenho de todos os tipos de tarefa. Um indivíduo pode ter um potencial criativo elevado e este não ser o adequado para o desempenho da sua tarefa, por isso será conveniente comparar o perfil do indivíduo com o perfil dos componentes necessários à criatividade para essa tarefa específica.

A performance criativa dos indivíduos poderá ser melhorada em muitos casos se se adequarem as pessoas às tarefas, cujos requisitos sejam adaptados ao perfil do indivíduo.

Convém ainda não esquecer que a mesma medida de criatividade não será igualmente eficaz em todas as situações, por isso a medida a aplicar deverá ser escolhida em função dos objetivos que se pretendem avaliar (Lubart, 2007).