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CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

3- Trabalho de Projeto

3.7 Os Benefícios do Trabalho de Projeto

Perrenoud (2001) define dez objetivos que podemos cumprir através do Trabalho de Projeto:

1. “Exercitar a mobilização de saberes e saber-fazer adquiridos, construir competências. 2. Implementar práticas sociais que aumentam o sentido dos saberes e das aprendizagens escolares.

3. Descobrir novos saberes, novos mundos, numa perspectiva de sensibilização ou de "motivação”.

4. Colocar à frente obstáculos que não podem ser superados senão à custa de novos saberes, a realizar fora do projecto.

5. Provocar aprendizagens no próprio quadro do projecto.

6. Permitir identificar os conhecimentos e as faltas numa perspectiva de auto-avaliação e avaliação-balanço.

7. Desenvolver a cooperação e a inteligência colectiva.

8. Ajudar cada aluno a ter confiança em si próprio, reforçar a identidade pessoal e colectiva através de uma forma de empowerment, da adopção de um poder do actor.

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9. Desenvolver a autonomia e a capacidade de fazer e negociar escolhas. 10. Formar para a concepção e condução de projectos” (p. 112).

Claro que não será realista esperar que cada trabalho de projeto abranja todos estes objetivos. Pelo contrário, o mesmo autor considera preferível escolher apenas um ou dois e, dos restantes, se surgir mais algum tal ser encarado como um benefício secundário.

Assim, aquando do esboço do projeto, devemos perguntar-nos: quais as capacidades e conhecimentos que é presumível desenvolver prioritariamente? Quando o projeto já se encontra em execução devemos questionar se a dinâmica do mesmo não contradiz os objetivos que procuramos atingir. Por fim, após a sua conclusão, deveremos questionar: que saberes e competências foram desenvolvidos nos alunos (em todos ou em parte deles) por este projeto? (Perrenoud, 2001).

Leite e Arez (2011) sustentam que, independentemente do contexto,

“[...] o trabalho de projeto parece particularmente útil para mobilizar, de forma integrada e pertinente, conhecimentos, atitudes e capacidades já adquiridos, favorecendo o desenvolvimento de competências; e para adquirir novos conhecimentos, atitudes e capacidades, provocando novas aprendizagens que surgem como necessárias para a superação dos obstáculos que a construção do projeto levanta” (p. 88).

Santos et al. (s.d.), referem três pilares fundamentais no trabalho de projeto:

- As aprendizagens devem ter “um sentido” e, para que isto aconteça, devem responder a problemas ou a “verdadeiras perguntas”, ou seja, “perguntas cuja resposta esteja em aberto, não seja já conhecida” (p. 27).

- As aprendizagens devem desenvolver competências como a recolha e tratamento de informação, mas “também de colaboração, de tomada de decisões, de actividade mental, de espírito de iniciativa e de criatividade” (p. 27).

- O projeto deve ser trabalhado em grupo, já que dessa forma será mais fácil identificar problemas e questões, mas acima de tudo, serão desenvolvidas “competências sociais, de colaboração e de promoção da autoestima” (p. 27).

A par destas orientações gerais sobre o que se pode conseguir com o trabalho de projeto, as autoras indicam-nos também as principais competências que podem ser desenvolvidas em cada uma das etapas e que passamos a indicar:

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Quadro 1 - Principais Etapas do Projeto e Competências Desenvolvidas baseado em Santos, Fonseca e Matos (s.d)

Fases do projeto Competências desenvolvidas

Identificação e formulação do problema

Pensamento crítico,

Identificação e análise de problemas; Fazer escolhas e negociá-las;

Recolha, seleção e tratamento da informação; Tomada de decisão. Planificação Projeção; Organização; Avaliação. Desenvolvimento Autonomia; Cooperação; Trabalho em Equipa;

Resolução de conflitos interpessoais; Gestão do tempo;

Realização;

Recolha, seleção e tratamento da informação; Avaliação;

Flexibilidade. Apresentação do Projeto Criatividade;

Síntese;

Planeamento e organização; Comunicação.

Avaliação Auto e hetero crítica;

Análise; Síntese; Avaliação; Projeção.

Olhando para este referencial, salta à vista a existência de competências em vários domínios. Assim, questões como: o que se aprende, como se relacionam as aprendizagens adquiridas com as anteriores e em que áreas do saber, de que modo os conhecimentos foram integrados e se os objetivos previstos foram atingidos, são temas que têm relação com a dimensão cognitiva. À dimensão social estão relacionadas aprendizagens referentes aos valores e ao relacionamento com os outros, tais como: consciência crítica, atitude democrática, atenção aos outros, responsabilidade, entre outros. A perceção dos alunos sobre a forma como se envolvem no projeto (se realizam as tarefas de forma habitual ou se procuram outras respostas, que processos mentais

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utilizam e se utilizam estratégias diversificadas) tem a ver com a dimensão metacognitiva. (Santos, Fonseca & Matos, s.d.).

Salientamos que, apesar de as autoras do artigo mencionarem competências como a Criatividade e a Autonomia apenas na fase de desenvolvimento do projeto, estas podem ser desenvolvidas também noutras fases. Um verdadeiro trabalho de projeto, seja proposto pelo professor ou pelos alunos, implica negociação. Ou seja, se o professor rejeitar o modelo diretivo e exercer uma “autoridade democrática” (Silva, Roque & Vieira, 2008, p. 8), terá de estabelecer um clima permanente de negociação com os alunos, em todas as fases do projeto.

Ora, esta negociação, permite que os alunos se interroguem sobre os próprios objetivos e modos de alcançá-los, “favorecendo o seu envolvimento e responsabilização por uma situação em que são intervenientes diretos” (Leite & Arez, 2011, p. 90), permitindo assim o desenvolvimento da criatividade e da autonomia.

Leite e Arez (2011), baseando-se em Beck e Carstens (2004), defendem uma redução do ensino formal e uma aprendizagem que assente na experimentação (tentativa e erro), na possibilidade de correr riscos, no aumento dos trabalhos de grupo e na redução da dependência do aluno em relação ao professor. Neste sentido, a passividade da instrução formal é substituída por atividades que contribuem para o aumento da autonomia dos alunos.

Em suma, o trabalho de projeto pode trazer várias vantagens aos alunos, como a integração de saberes aparentemente díspares, o desenvolvimento de competências em vários domínios, o aumento da motivação e o encontro de um sentido para as aprendizagens. Não devemos, contudo, esperar que um único trabalho de projeto alcance todos os objetivos ou resolva todos os problemas do ensino. Por outro lado, existe uma metodologia geral do trabalho de projeto que propõe uma determinada estrutura e encadeamento de fases, mas não devemos deixar de ter em conta que cada projeto é único e irrepetível.

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