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Relações entre Irmãos

5. Avaliação da Relação Fraterna

No que diz respeito à avaliação e estudo das relações entre irmãos são descritas na literatura diversas metodologias, sendo que as fontes de informação utilizadas são na quase totalidade dos casos os próprios irmãos e num grande número de estudos a mãe. Em alguns casos recorre-se a ambos os pais, e em número menor apenas ao pai (Schicke, 1995).

A maioria das investigações efectuadas tendo como objecto de estudo a relação entre irmãos, têm utilizado como paradigma a observação da interacção entre as díades, como é o caso dos trabalhos de Dunn, efectuados com crianças, na maior parte das situações, em idades muito novas.

Furman e Buhrmester (1985) quando estudaram a relação entre irmãos (e posteriormente outro tipo de relações sociais) utilizaram outro tipo de metodologia, tendo como ponto de partida aquilo que os próprios intervenientes pensam e dizem da sua relação, em alternativa àquilo que é interpretado a partir do observado. Desta forma, obtêm-se outros dados associados a outros tipos de características que poderão ser avaliadas em diferentes faixas etárias3. Em estudos que seguem a

mesma metodologia as técnicas mais comummente empregues são a entrevista, as escalas de avaliação e as checklists. Em alguns casos verífica-se o recurso a mais do que uma destas técnicas em simultâneo.

A técnica de observação directa é, como já foi referido, a técnica mais utilizada com crianças pequenas. São observados comportamentos interactivos entre a díade de irmãos ou entre estes e outros elementos da família que são normalmente registados e posteriormente codificados (quer os comportamentos, quer as interacções verbais). Na sua maioria, as observações são efectuadas em casa, mas estas também podem ser conduzidas em laboratório ou em contexto escolar. Estes últimos contextos levantam algumas dificuldades: em contexto de laboratório as interacções são em menor número do que em casa, possivelmente devido à novidade dos materiais e do próprio contexto que afastam os irmãos do contacto e interacção um com o outro; em contexto escolar verifica-se o mesmo possivelmente devido ao facto de se tratarem de tarefas demasiado estruturadas.

Quanto à fornia, a observação pode ser naturalista, situação em que é pedido à família que ignore o observador e se comporte do modo habitual numa situação comum como, por exemplo, uma refeição ou uma situação em que um dos pais conta uma história ou brinca com os filhos. Pode ser estruturada, sendo pedido que as crianças efectuem uma determinada actividade a qual pode ser apresentada como uma tarefa de colaboração ou de competição e que normalmente implica o recurso a materiais que são introduzidos pelo observador: jogos, determinados brinquedos. Finalmente, pode ainda ser uma observação de tipo misto.

3 O instrumento criado por estes autores será descrito mais pormenorizadamente na apresentação do estudo, dado

Sendo a observação uma metodologia muito eficaz para captar comportamentos que ocorrem, levanta também alguns problemas: por um lado os observadores não conseguem observar todas as interacções e por outro muitas vezes nos períodos de observação não surgem comportamentos negativos, (o que poderá supor que o facto de uma interacção estar a ser observada pode por si só alterar essa mesma interacção), ocorrendo o efeito do observador. É assim possível que o comportamento, na presença do observador, não seja representativo do comportamento típico e habitual.

Para além da observação, uma das metodologias mais comuns é a entrevista na sua maioria das vezes junto da mãe, em menor número de vezes pelo pai ou por ambos os pais ou pelos próprios irmãos.

As entrevistas aos pais incidem sobre a percepção que os estes têm da relação entre os seus filhos, centrando-se em comportamentos agressivos, de partilha, de competição e de qualidade da relação, fornecendo informação relativa a comportamentos e situações não directamente observadas.

Quanto às entrevistas efectuadas às crianças tratam-se de entrevistas com questões gerais centradas no irmão, na família e nos amigos no sentido de determinar a representação que a criança tem da relação fraterna, contribuindo desta forma para uma melhor percepção do significado da relação fraterna no quadro das relações familiares.

A vantagem principal das entrevistas é o facto de permitir aceder a informação que não é acessível em sessões de observação, ou mesmo que não é observável. Contudo, uma vez que a informação é disponibilizada de modo retrospectivo, poderá perder alguma exactidão.

Finalmente, recorre-se ainda ao uso de escalas de avaliação e questionários que são, na maioria dos casos, desenvolvidos em projectos de investigação. Estes instrumentos são recomendados quando o investigador está interessado em aceder a informação sobre o temperamento dos sujeitos ou à percepção que estes têm da relação.

6. Síntese

No presente capítulo procedeu-se à revisão bibliográfica da investigação centrada no estudo da relação fraterna, conduzida ao longo das últimas décadas.

Foram descritos os estudos que categorizam as características da relação entre irmãos, bem como o impacto destas na própria relação.

Foram igualmente referenciados os estudos que se centram na interacção e os estudos que dizem respeito às variáveis biossociais - quer as relacionadas com o género, quer as associadas à constelação familiar - o intervalo entre nascimentos e o relacionamento com os pais, por exemplo.

Abordaram-se ainda estudos mais recentes que se centram em populações específicas: crianças portadoras de deficiência e crianças em risco.

Por último, foi efectuada uma síntese sobre a avaliação das relações fraternas, sendo efectuada uma sumária comparação entre as diferentes metodologias.