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Relações entre Irmãos

3. Factores que afectam a relação entre irmãos

3.1 Estrutura Biossocial /Variáveis da Constelação familiar

No que toca às diferenças entre irmãos, que se referem mais especificamente ao temperamento e à organização da personalidade, os aspectos que têm sido mais investigados têm a ver com o género, a idade e o intervalo entre os nascimentos.

3.1.1 Diferenças associadas ao género

Relativamente ao género, apesar de existirem estudos nos quais não são visíveis diferenças significativas entre pares de irmãos do mesmo sexo, em alguns estudos são encontradas algumas diferenças. No estudo canadiano de Abramovitch, Pépier e Corter (1982) verificou-se que as crianças primogénitas do sexo feminino eram mais atenciosas e amigáveis quando tinham uma irmã, mas apenas nas observações efectuadas quando os segundos filhos tinham18 meses de idade. Também em relação âs primogénitas Dunn e Kendrick (1982), verificaram uma maior frequência na prestação de cuidados em relação ao irmão mais novo nas suas primeiras duas ou três primeiras semanas de idade. No mesmo estudo, as crianças mais novas eram menos negativas em relação às irmãs mais velhas do que em relação aos irmãos mais velhos.

As mesmas autoras (Dunn e Kendrick, 1981b) verificaram que aos 14 meses dos irmãos mais novos, os pares de irmãos do mesmo género apresentavam mais comportamentos amistosos, sendo que os primogénitos de pares deste tipo evidenciavam um aumento no comportamento social positivo entre ambas as observações (aos 8 e aos 14 meses de idade do segundo filho, com uma variação média de idade entre os irmãos compreendida entre os 26 e os 51 meses, com uma média de 33 meses de diferença). Nestes pares não se verificou um aumento na

agressividade ou na hostilidade, em contraste evidente com os primogénitos de pares de sexo diferente.

Nos pares de irmãos do mesmo sexo, as mudanças entre visitas revelaram um aumento considerável na participação do mais novo na interacção social com os irmãos, o que se deveu provavelmente ao desenvolvimento das aptidões sociais, da mobilidade e da capacidade de participar em jogos sociais mais elaborados.

Dunn e Kendrick (1981 b) apontam para três diferentes interpretações possíveis: (1) os primogénitos reconhecem e identificam o sexo do seu irmão e estão mais interessados na interacção social quando partilham o mesmo género; (2) os mais novos aos 14 meses começam a ter consciência do seu género e revelam maior interesse na interacção com um irmão mais velho do mesmo género ou (3) esses resultados não dizem respeito ao reconhecimento do género, mas sim ao facto dos pares do mesmo sexo apreciarem actividades semelhantes, e os pares masculinos se envolverem em actividades diferentes daquelas que os pares femininos desenvolvem.

Whiting e Whiting (1975, cit. in Dunn, 1983) encontraram diferenças por parte dos irmãos mais novos, no que diz respeito a dirigirem mais propostas para ajuda, conforto e segurança aos irmãos mais velhos, quando estes eram do sexo feminino e em especial quando o par era constituído por duas meninas.

Nos pares do mesmo sexo Whiting e Edwards (1977, cit. in Dunn, 1983) encontraram mais comportamentos de imitação e pró-socíais e menos comportamentos hostis. Por sua vez, Stewart (1983 a, cit. in Dunn, 1983) obteve dados opostos: os pares de irmãos do mesmo sexo apresentavam taxas muito baixas de cuidados, enquanto que quando o par era constituído por irmãos de sexos diferentes se observava mais cuidados em relação ao irmão mais novo, quando estes eram solicitados.

Um estudo mais recente de Oliva e Arranz (2005) encontrou diferenças significativas baseadas no género relativamente ao significado e importância que o ajustamento entre irmãos tem para os adolescentes e a forma como esta relação se associa quer á relação com os pais e com os pares, quer à auto-estima e satisfação com a vida. No referido estudo, este tipo de ligação estava presente nas adolescentes do sexo feminino; nos rapazes já não surgia qualquer associação entre a relação fraterna e as outras variáveis quer as pessoais, quer as familiares.

3.1.2 Posição na fratria/Ordem dos nascimentos

Os estudos de interacção entre irmãos não evidenciam diferenças significativas no comportamento das crianças quando se considera o intervalo etário entre elas (Dunn, 1983). Quando surgem diferenças, essas dizem respeito sobretudo àquilo a que se chama de complementaridade da relação fraterna e que se relaciona com a prestação de cuidados, suporte, ensino e aceitação do ensino.

Pépier e colaboradores (1981) encontraram nos primogénitos de 6 anos mais comportamentos de ensino, por comparação aos primogénitos de 5 anos, sendo o conteúdo do mesmo mais elaborado.

Sutton-Smith (1982) refere, na revisão de uma série de estudos relacionados com a ordem dos nascimentos, não só um maior desenvolvimento psicomotor dos primogénitos, como também comportamentos de procura de ajuda mais frequentes e uma relação "especial" com os pais, apresentando maior semelhança ao adulto, mais responsabilidade, maior domínio, sendo mais conservadores, com preferência por formas verbais de interferência, e percepcionando-se como mais ordeiros, cuidadores, auto-controladores e com preferência por um funcionamento hierárquico de papéis, em vez de igualitário.

Cicirelli (1974, cit. in Dunn, 1983) notou por parte dos irmãos mais novos maior facilidade em aceitar indicações por parte dos irmãos 4 anos mais velhos do que quando a diferença de idades era apenas de 2 anos. Este autor (Cicirelli, 1982) defende ainda o facto de que, na infância, cada criança estabelece papéis específicos na família os quais são determinados pela posição e pelas características dos irmãos: uma irmã mais velha poderá assumir um papel maternal cuidando de um irmão mais novo, um irmão mais novo poderá ser o "bebé" da casa ou o "palhacinho" da família.