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Desenvolvimento do Self

4. Avaliação do Self

Existem diversas formas de se obter informação do estádio do self em que uma criança se encontra e do modo como se descreve e ao seu sentimento de identidade. Na sequência do modelo apresentado, e considerando os participantes deste estudo, mais concretamente em termos da faixa etária em que se encontram, optamos por apresentar o instrumento desenvolvido por Harter e Pike (1983,1984), que se destina a crianças dessa idade e que, tal como anteriormente referido, será por nós utilizado. A equipa de Harter desenvolveu uma série de instrumentos de avaliação do self (de constructos que lhe são inerentes) numa perspectiva de ciclo vital construindo instrumentos de avaliação para diferentes faixas etárias.

Dado o objecto deste estudo, apenas será descrita a Escala Pictórica de Auto- Percepçâo de Competência e Aceitação Social na versão Pré-Escolar (Harter e Pike,

1983,1984) que foi elaborada para idades mais novas e na sua adaptação â população portuguesa (Ducharne, 2000).

Na sua versão original a escala é constituída por 24 itens repartidos por quatro sub- escalas: percepção de competência cognitiva, percepção de competência física, percepção de aceitação pelos pares e percepção de aceitação materna. Trata-se de uma escala pictórica de aplicação individual, sendo que o entrevistador coloca uma questão à criança utilizando uma imagem como suporte visual do tema que é questionado. As questões estão formuladas de forma a reduzir a desejabilidade social o máximo possível, sendo os itens apresentados de modo dicotómico permitindo uma resposta numa escala de quatro pontos. Para tal, cada criança é confrontada com duas crianças do mesmo género que o seu; uma das quais é descrita como competente ou socialmente aceite numa situação específica, enquanto a outra é apresentada como menos competente ou menos aceite. A criança entrevistada deverá então indicar com qual das crianças se identifica mais. De seguida, em função da sua escolha, a criança é confrontada com uma nova alternativa entre duas descrições de intensidade diferente, face às quais deve, uma vez mais, optar pela situação com a qual mais se identifica, em termos da sua competência e da sua aceitação.

Da análise efectuada por Harter e Pike (1984) para validação da escala foi saliente uma tendência por parte das crianças à sobrevalorização na auto-apreciação, sobretudo ao nível da competência. Estes resultados poderão ser interpretados considerando a tendência que existe para as crianças dessa idade se auto-avaliarem em função daquilo que gostariam de ser, e não tal como são, uma vez que ocorre dificuldade em efectuar uma separação entre o self ideal e o self real. Estes dados estão de acordo com o processo de desenvolvimento do self anteriormente descrito. Apesar desta tendência, a escala constitui um instrumento de fácil aplicação e com propriedades psicométricas positivas5. Embora exista a possibilidade de utilizar as

sub-escalas separadamente e tal tenha sido feito em variados estudos existem outros estudos que utilizam a auto-percepção de competência e aceitação social como uma das variáveis caracterizadoras da amostra de crianças com idade pré-escolar. "Não há

5 Os valores de consistência interna da escala original (alpha de Cronbach) encontrados foram: para a sub-escala de

percepção de competência cognitiva .71 ; para a sub-escala de percepção de competência física .66; para a sub-escala relação com os pare: .74, para a sub-escala relação com a mãe: .85; para a competência pessoal .79 e para aceitação

dúvida que a auto-percepçâo de competência e aceitação social constitui um importante componente do self pré-escolar" (Duchame, 2000:202).

Na adaptação portuguesa da escala procederam-se a algumas alterações. Após um longo trabalho de tradução e adaptação (Duchame, 2000,2004) foram acrescentados oito novos itens, tendo sido alterados alguns pormenores em algumas imagens.

Posteriormente à análise do comportamento dos diferentes itens no estudo-piloto que foi efectuado, foi construída uma versão final constituída por 32 itens divididos por quatro sub-escalas: percepção de competência na realização de actividades naturalmente aprendidas, percepção de competência na realização de actividades intencionalmente ensinadas, percepção da qualidade de relação com a mãe e percepção da qualidade da relação com os pares, modificadas em relação à escala original pela análise factorial efectuada, com o objectivo de aumentar a validade da mesma.

A partir das sub-escalas são obtidos os valores da auto-percepção de competência pessoal (percepção de competência na realização de actividades naturalmente aprendidas e percepção de competência na realização de actividades intencionalmente ensinadas) e da auto-percepção de aceitação social (percepção da qualidade de relação com a mãe e percepção da qualidade da relação com os pares) que por sua vez compõem a auto-percepção de competência e aceitação social.

Este construto de auto-percepção de competência e aceitação social é assim constituído por dois construtos diferenciados: a auto-percepção de competência pessoal e a auto-percepção de aceitação social, que por sua vez se diferenciam em função do domínio de referência.

Dado que esta adaptação apresentou igualmente bons resultados ao nível da consistência interna e que foi bem sucedida na aplicação a crianças portuguesas com características semelhantes às das participantes neste estudo, optou-se por utiliza-la como medida de avaliação do self.

5. Síntese

Ao longo deste capítulo procurou-se abordar o modelo estrutural cognitivo do self de Susan Harter. Como ponto de partida foram referidos os contributos de William James e Charles Cooley, sendo que o conceito de outros significativos deste último assume não só particular relevância no modelo de Harter como também no presente estudo uma vez que as relações entre irmãos serão provavelmente as mais significativas quando se consideram outras relações familiares para além da relação pais-filhos. Dado que o self é um constructo que se encontra em permanente desenvolvimento e que assume diferentes formas quer em termos da sua estrutura, quer em termos dos conteúdos ao longo do tempo, foi descrito o modo como o self se encontra organizado ao longo da infância, sendo que os participantes deste estudo se encontram inseridos nesta fase etária do desenvolvimento.

Foi igualmente dedicada alguma atenção à avaliação do self na faixa etária do pré- escolar uma vez que a parte empírica do estudo será utilizada a adaptação portuguesa da Escala Pictórica de Auto-Percepção de Competência e Aceitação Social na versão Pré-Escolar de Harter e Pike (1983,1984) na versão desenvolvida por Ducharne (2000, 2004), como instrumento de avaliação do self.