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Relações entre Irmãos

2. Características da Relação entre Irmãos

2.5.1 Ensino e diferenças de género

Não só ao nível do comportamento na relação entre irmãos, quando se consideram as diferenças de género, se encontram dados contraditórios; também relativamente aos comportamentos de ensino os dados da investigação são divergentes.

Enquanto Pepler, Abramovitch e Corter (1981) não encontraram quaisquer diferenças associadas ao género, ao nível de frequência, solicitação e aceitação de situações de ensino, outros investigadores salientam algumas diferenças quer no estilo, quer na aceitação de ensino.

Stewart (1983a, cit. in Dunn, 1983), por exemplo, ao apresentar a tarefa de ensinar o irmão mais novo a utilizar uma câmara, verificou que os rapazes eram mais eficazes, sobretudo em pares do mesmo sexo.

Contrariamente, Cicirelli (1974, cit. in Dunn, 1983) obteve maior eficácia no ensino nas irmãs mais velhas do sexo feminino, bem como uma maior tendência a oferecer ajuda e apoio que era mais facilmente aceite. No que diz respeito aos irmãos mais novos (Cicirelli, 1975, cit. in Dunn, 1983), verificou que as crianças com um irmão mais velho do sexo masculino trabalhavam melhor na resolução de um problema sozinhas quando comparadas com outras crianças cujo irmão mais velho era do sexo feminino, o que aponta para a possibilidade dos irmãos mais velhos do sexo masculino estimularem mais o desenvolvimento cognitivo dos seus irmãos mais novos.

Tais diferenças poderão dever-se às condições de aprendizagem e de ensino. Poderá ocorrer maior estimulação devido a maior rivalidade ou competitividade com um irmão do sexo masculino numa situação mais informal, mas em situações formais as crianças poderão aprender melhor quando existe uma irmã que pretende ajudar e uma

criança que pretende ser ajudada. Outro factor, para além do tipo de tarefas apresentadas e do estudo efectuado, poderá estar relacionado com a idade dos irmãos, que à medida que crescem e entram num mundo social mais vasto assumem uma maior competitividade, embora esta seja apenas uma interpretação possível. Para melhor compreender as diferenças no que diz respeito ao género é igualmente importante explorar o tratamento parental diferencial, dado que poderão existir diferenças no comportamento parental em relação a pares do mesmo sexo ou a pares de diferentes sexos, ou no comportamento em relação às raparigas ou aos rapazes.

2.6 Comunicação

No que diz respeito ao desenvolvimento das competências linguísticas, a investigação é contraditória. Enquanto alguns estudos apontam para o facto das crianças com melhores capacidades linguísticas interagirem sobretudo com adultos2 (Harkness,

1977 cit. in Dunn, 1983) outros apontam para o facto de que entre crianças, e entre irmãos especialmente, e sobretudo em casos de gémeos, existirem capacidades comunicativas específicas bastante desenvolvidas, sobretudo ao nível de aspectos pragmáticos e de comunicação não verbal ou de outras competências importantes mas que ainda não se situam ao nível da linguagem adulta convencional como é o caso de mecanismos de chamada de atenção e da regulação das sequências da comunicação (Keenan, 1974 cit. in Dunn, 1983, Dunn & Kendrick, 1982).

Dunn & Kendrick (1982) salientaram o facto de que com irmãos de um ano de idade, as crianças de 2 e 3 anos ajustam o seu discurso ao falarem com o bebé e demonstram sensibilidade em relação ao estatuto cognitivo e linguístico do irmão mais novo.

Num estudo de Stern de 1977 (cit. in Dunn, 1983) os irmãos mais velhos, com 6 anos de idade, revelavam os mesmos exageros de expressão e a mesma temporalidade que os adultos no que diz respeito a agudizarem as vozes, prolongarem o olhar, levantarem as sobrancelhas, aconchegando e acariciando os mais novos, tal como se verifica em crianças de 4 anos de idade em relação às bonecas designadas como

2 Embora não se confirme mais uma vez a direcção dos resultados e não seja claro se as crianças apresentam uma

maior capacidade devida à interacção e à estimulação por parte dos adultos ou se é pelo facto de se situarem num nível linguístico mais avançado que interagem mais com os adultos.

bebés (Sachs & Devin, 1976 cit. in Dunn, 1983, Shatz & Gelman, 1973, 1977 cit. in Dunn, 1983).

Numa outra investigação efectuada por Dunn & Shatz (1989) as autoras concluíram que uma grande parte do discurso das crianças com idades compreendidas entre os 24 e os 36 meses se referia a interrupções na conversa de outras pessoas o que consiste num desafio bastante diferente do de responder a questões que lhes são dirigidas. Embora não seja claro se as crianças aprenderão com as conversas que têm com os irmãos mais velhos, parece evidente que se confrontam com as interrupções dos seus irmãos nas conversas, podendo aprender a assegurar o seu próprio sucesso a partir da observação de interrupções bem sucedidas por parte dos irmãos. Da mesma forma, a exposição a conversas regulares entre a mãe e o irmão mais velho poderá encorajar o desenvolvimento precoce de capacidades linguísticas, centrais â participação no contexto social.

Nas famílias em que o primogénito é afectuoso e amigável com o bebé, existe propensão para que se reforcem ainda mais a imitação, a modelação, o comportamento comunicacional e pró-social, bem como as competências sociocognitivas.

Bank & Kahn (1982) num interessante estudo sobre a lealdade entre irmãos verificaram que entre os pares de irmãos que estudaram, existia uma linguagem especial nem sempre compreensível pelos elementos externos à relação, o que ocorre na quase totalidade dos pares de gémeos (Bryan, 1992). Esta linguagem codificada diz respeito não apenas a aspectos verbais da comunicação - Bryan refere sons

específicos que substituem palavras inteiras — mas ainda a aspectos não verbais da

comunicação e que estarão directamente relacionados com a relação de proximidade entre os irmãos e que só eles entendem, que Bank e Kahn referem ser essenciais para a compreensão da relação.