• Nenhum resultado encontrado

Avaliação dos(as) monitores(as), gestores e coordenadora de uso público acerca dos

7.1 Conhecimentos e práticas de educação ambiental associados aos parques estaduais

7.1.4 Avaliação dos(as) monitores(as), gestores e coordenadora de uso público acerca dos

Após apresentarmos as diversas direções que os(as) monitores ambientais, gestores e coordenadora de uso público destes parques seguiram e que buscavam levar a um destino – a realização das ações de EA – o conjunto de novos dados obtidos nos possibilitaram ponderar considerações que contemplaram reflexões e análises destes atores acerca dos processos que engendraram e compuseram as práticas de educação ambiental atualmente em curso.

A tabela 11, dessa forma, está organizada em torno de quatro principais questões avaliadas e que se relacionam com a formação e capacitação do(a) MA, responsável pela execução das ações de EA, com as atividades desenvolvidas e os conhecimentos transmitidos durante as monitorias.

Tabela 11 - Avaliação dos(as) monitores(as) e gestores acerca de questões que tangenciam o planejamento e o desenvolvimento das ações de educação ambiental

AGRUPAMENTO UNIDADE(S) DE SENTIDO FREQUÊNCIA35

Rigidez dos procedimentos norteadores das

atividades

“Ficar só assim, roteiro e o que o monitor fala eu achava muito engessado.” (MA4)

7 “A rigidez do atendimento e do

conteúdo abordado no atendimento, ela é muito prejudicial” (G3)

Fatores limitantes

Olha, eu já digo para você que depois de pouco mais de vinte dias de gestão, eu vejo uma dificuldade muito grande de executar o plano fora do parque. Não há essa experiência aqui. Os braços da educação ambiental só estão abraçando a unidade. Não estão abraçando o

2

35

entorno”. (G3).

“A gente não consegue implementar a ação como algumas ações do plano de manejo não foram implementadas” (G1)

Ineficiência dos procedimentos

“As pessoas entram do jeito que elas saem daqui. Elas não ganham conteúdo. E aí que eu falo: a falha é de não ter um pré conhecimento. Falha nossa de não conseguir chegar com essas informações [...]” (G1)

2

Escassez de tempo

“A gente acaba não tendo tempo de reunir o pessoal, o nosso time de monitores. As vezes um [...] acaba vindo, mas [...] está empenhado em uma coisa, o outro começa a fazer outra. Então a gente acaba conversando, vai conversando, mas acaba não sentando e falando: ‘Não, vamos fazer um roteirinho para todos’.” (MA2)

1

Fonte: Dados da pesquisa

A principal crítica empreendida pelos(as) monitores(as) e gestores refere-se à rigidez dos procedimentos que norteiam as atividades de EA. Contudo, nem todos(as) se referem à rigidez como um ponto negativo, a exemplo:

O andamento, eu senti que foi padronizado para não ter dúvida quando surgisse uma nova equipe, porque eu, pelo menos, me adequei fácil (MA3).

Dentro deste agrupamento, foi ainda mencionado o caráter idealizador do plano de manejo, que dificulta por em prática alguma ação que seja compatível com a realidade (MA7). Porém, ele(a) se contradiz em um momento posterior, quando diz:

O trabalho que a gente estava fazendo seguia exatamente o plano de manejo

[...] (MA7).

O G3, dado o tempo no cargo, se baseou bastante em experiências anteriores ao avaliar os procedimentos adotados pelo parque. Contudo, ele se mostrou bastante crítico em relação aos procedimentos empregados. Somente ele apresentou a questão da rigidez dos conteúdos abordados, ato que, para ele, prejudica o trabalho do(a) próprio(a) monitor(a). Ele diz:

Ainda dentro deste agrupamento pudemos notar que alguns parques adotam o uso de roteiros para auxiliar o desenvolvimento das atividades vinculadas ao PUP. Outros não o fazem. Para os que não o utilizam, a justificativa apresentada pelo(a) MA2 é de que falta tempo para desenvolver um roteiro, a qual foi incluída no agrupamento “escassez de tempo”. Todavia, ele(a) não comenta de forma mais aprofundada a respeito do modelo desejado de roteiro a ser implementado.

Para os que fazem uso exclusivo, o roteiro foi bastante rechaçado, ora sendo considerado “engessado”, “repetitivo” e ora “cansativo”. A coordenadora de uso público faz algumas considerações a respeito de um novo roteiro, ainda em fase de elaboração:

Esse ano estamos montando um roteiro de monitor, porque existe essa carência, essa dificuldade da gente ter uma coerência em tudo que é passado em todos os núcleos. Não só na questão histórica, porque o que é história, é história. É imutável. Mas essa questão dos conceitos. [...] Mesmo sabendo que cada núcleo tem uma característica diferente, atrativo diferente, conta uma história diferente em relação aos conceitos

(COORD1).

A intenção não é engessar ninguém. Não é pegar o monitor e falar: ‘Olha,

você tem que seguir o que está aqui e pronto’ Não! É o mínimo. Então, olha,

se a gente for falar sobre como São Paulo cresceu, qual foi a história, a densidade demográfica, enfim alguma coisa assim, a gente tem esse conceito que a gente trabalha e ele é trabalhado mais ou menos dessa forma, para que tenha coerência. Se não um fala A, outro fala B, outro fala C, outro fala Z, enfim (COORD1).

Ela afirma que esse novo roteiro possibilitará alinhar algumas questões que antes não estavam claras, como por exemplo, definir quais serão as atividades desenvolvidas e quais recursos serão utilizados pelo(a) monitor(a) para fortalecer as práticas de EA atualmente em andamento. Ele serviria como um treinamento para subsidiar a prática:

Eu estou acreditando muito nesse treinamento e nessa questão de poder organizar isso que as vezes eu sinto de falta, que é atingir os objetivos, com quais atividades, quais são as nossas metas, o que a gente pretende dentro de um ano, quais são os equipamentos que a gente vai se utilizar? Vai ser só as trilhas ou a gente vai se utilizar do viveiro que a gente tem? Ou se vão ser inseridas atividades lúdicas, atividades práticas? (COORD1).

São indicados pelos gestores apenas pontos negativos. Além da rigidez, são destacadas as limitações dos procedimentos, como por exemplo, a falta de projeção de atividades para além das dependências da UC. Isto é, a dificuldade de executar o plano fora do parque é, na

visão do gestor G3, um ponto crítico. Ele aponta para a relevância de desenvolver atividades de EA na(s) comunidade(s) do entorno:

Os braços da educação ambiental só estão abraçando a unidade. Não estão abraçando o entorno [...] (G3).

A ineficiência dos procedimentos adotados para alcançar os objetivos propostos para a UC também é destacada. Às críticas do G3 somam-se algumas críticas elaboradas pelo G1: é questionada a qualidade das atividades, consideradas ineficientes, ora por não conseguir transmitir uma informação, ora por não ultrapassar os limites da educação formal.

Eu acho que a gente patina um pouco na questão da informação, de fazer isso chegar realmente, de que isso seja absorvido. Acho que, uma opinião particular minha, a gente discute bastante, mas eu acho que a gente patina

[...] porque realmente as nossas ações são bastante limitadas [...] A gente

faz muito uso público e pouca educação, porque foi o que eu disse: a informação não é absorvida (G1).

Visitar, fazer uma trilha monitorada era nada mais do que ter uma aula fora da escola [...] você já enfileira todo mundo na trilha seguindo o modelo escolar tradicional [...] Você coloca uma pessoa na frente, que teoricamente é aquela pessoa que domina tudo, é a que controla todo mundo e é a que vai passar para você o que você tem que aprender (G3).

A execução do plano de manejo, com a mesma frequência (dois), é julgada limitada. De acordo com os G1 e G3, as ações previstas não conseguem ser concretizadas e não conseguem ultrapassar o interior da UC, respectivamente. O G2 e os(as) MA6 e MA8, por sua vez, não teceram nenhum comentário durante toda a entrevista a respeito de sua avalição relativa aos procedimentos adotados para desenvolver a EA nos parques nos quais atuam.

A partir destas reflexões, foi possível evidenciar que os gestores abordam muito mais questões relativas ao planejamento, a avaliação das atividades de EA e aos desafios encontrados para desenvolvê-las (estes dados serão apresentados de forma mais detalhada na próxima subseção). Estes comentam sucintamente a respeito dos conhecimentos e conteúdos abordados pelos(as) monitores(as) ambientais durante as atividades de educação ambiental realizadas nos parques.

A respeito do papel exercido pelo gestor para que as ações de EA sejam e continuem sendo desenvolvidas, de acordo com o G1, é preciso também dar diretrizes, acompanhar e avaliar, não somente o programa de EA, mas todos os programas de gestão:

Eu acho que o papel de todo gestor de UC, além de ser a referência como gestor, é poder dar diretrizes para que esses programas funcionem. E não é só diretriz, eu acho que é acompanhamento, avaliação, porque isso é uma dificuldade que a gente tem em órgãos públicos. Se faz, mas não se acompanha, não se avalia [...] (G1).

Isso é totalmente justificável, visto que os gestores atuam como administradores das Unidades de Conservação e são responsáveis por gerir todos os programas previstos no plano de manejo. Até mesmo em alguns trechos das entrevistas com os G1 e G2 são mencionadas questões relacionadas aos diferentes programas de gestão. Uma passagem da entrevista deixa bastante evidente nossa percepção:

Quando você planeja, é difícil você executar. Então acaba que os monitores eles são os executores [...] do trabalho. E o gestor é o planejador. É assim que funciona, é assim que deveria funcionar, que deve funcionar (G3).

Já os(as) monitores(as) discorrem mais sobre as ações de EA baseados(as) na experiência que acumularam a partir de conhecimentos relativos ao desenvolvimento e à execução das atividades. Ou seja, é evidenciado muito mais o modo como os(as) MA se apoderam de conhecimentos, das funções que devem exercer e o modo como conduzem as atividades. Por isso, as avaliações que estes(as) fazem acerca dos instrumentos que devem subsidiar a prática, em nosso entendimento, refletem a compreensão do trabalho desenvolvido.

Concluímos ainda, especialmente através dos dados apresentados nas subseções 7.1.2 e 7.1.3, que as atividades que são utilizadas para subsidiar as ações de EA e os conhecimentos abordados por cada monitor(a) ambiental durante a monitoria independem do grupo ou da faixa etária. Estes(as) se basearam em roteiros (quando existentes) e sequer fizeram uma avaliação acerca das atividades adotadas e dos conhecimentos abordados por eles(as) para desenvolver as ações de EA organizadas pelos parques.

Pelo exposto, essas seriam as principais dificuldades encontradas pelos parques para desenvolver as ações de EA e alcançar os objetivos propostos para ela. Ainda, entendemos que elas não estão desvinculadas dos desafios impostos à gestão dos parques em estabelecer e institucionalizar um programa de educação ambiental não formal para as unidades de conservação. Na próxima seção apresentamos alguns dados e tecemos alguns comentários que retratam essa realidade.

7.2 Dificuldades e desafios enfrentados pela gestão do parque para implementar um programa de educação ambiental para as unidades de conservação

Vimos, com base nos dados apresentados em seções anteriores que a realidade dos parques é bastante semelhante quando diz respeito às atividades e às metodologias empregadas para desenvolver as ações de educação ambiental. Eles apresentam atividades relativamente estruturadas, mas nenhum deles apresenta um programa de educação ambiental formalizado.

Por isso, nesta seção, expomos as dificuldades e os desafios citados tanto pelos atores responsáveis pelo planejamento e desenvolvimento da EA em UC, quanto pelos documentos oficiais – os planos de manejo – que estabelecem as normas e os usos que devem presidir a área e que, portanto, fazem menção aos problemas e os possíveis entraves que não permitem que um programa de educação ambiental seja implementado nestas Unidades de Conservação.

Para tanto, dividimos esta seção em três blocos, que compreendem as problemáticas que norteiam a capacitação do ator responsável pela execução das EA (7.2.1), os limites dos planos de manejo enquanto instrumento normativo (7.2.2) e a inexistência de diretrizes e escassez de recursos humanos e financeiros para desenvolver as ações de EA (7.2.3). A seguir, expomos cada uma destas questões.