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Idealização dos planos de manejo elaborados para as Unidades de Conservação

7.1 Conhecimentos e práticas de educação ambiental associados aos parques estaduais

7.2.2 Idealização dos planos de manejo elaborados para as Unidades de Conservação

Neste momento voltamos nossa atenção para as considerações que os atores entrevistados fizeram acerca da participação no processo de elaboração do plano de manejo.

Nenhum dos oito monitores(as) entrevistados(as) participou do processo de elaboração do plano de manejo, documento técnico que respalda as atividades implementadas nas Unidades de Conservação. Em alguns casos isso se deveu ao fato do plano de manejo já estar em vigor quando da contratação destes atores. Em outros casos, os(as) monitores(as) tiveram oportunidade de participar, porém, não foram convidados(as) ou participaram indiretamente. Vejamos algumas falas:

Eu não cheguei a participar, mas na época que ele foi elaborado eu já trabalhava aqui, então eu vi quem participou (MA1).

Não participei. O pessoal não me entrevistou, porque assim, eu nunca fiquei muito na administração (MA4).

Na época eu [...] trabalhava na administração do parque e eu participei organizando as oficinas. – E você participou das oficinas? –Não, só da organização mesmo (MA5).

A gente levou alguns grupos para trilha [...] Só acompanhamento, levar o pessoal para realizar o trabalho [de] levantamento de campo. – Você foi

convidado para participar desse processo? – Não, eu era funcionário do

parque e eles precisavam de alguém pra acompanhar, porque eles não conheciam o local [...] Nessa época [...] era da fiscalização (MA7).

A coordenadora de uso público (COORD1), também, não participou do processo de elaboração do plano de manejo do parque no qual atua em função de, na época, não ser funcionária do parque. É importante comentar que apenas um dos três gestores entrevistados participou da elaboração do plano de manejo:

Conheci o plano só de ler, [...] mas não participei da época do plano de manejo aqui não (G1).

Eu conheço. Não participei da elaboração. Acompanhei indiretamente a elaboração, [mas] não tive nenhuma participação direta na produção de nenhum capítulo, nenhum programa do plano desse parque (G3).

Outro gestor em questão, o G2, muito embora tenha participado da fase de elaboração do plano de manejo, não trabalhava na unidade diretamente nessa época, assumindo a gestão dois anos após a sua publicação. Vale ressaltar que a não participação não implica no desconhecimento a respeito do documento. Todos afirmaram conhecer o plano de manejo da unidade na qual atuam.

Toledo (2002), que investigou grande parte dos Parques Estaduais do Estado de São Paulo, obteve resultado muito diferente do encontrado por nós. Na ocasião constatou nos parques investigados que grande parte dos planos de manejo foi elaborada por uma equipe bem diversificada de profissionais, composta pelo coordenador de uso público, monitores, estagiários, técnicos e o próprio responsável pelo programa.

Assumimos que, em parte, isso se deve ao problema – já evidenciado na subseção anterior – de rotatividade de profissionais que assumem os cargos em UC. Observamos que nenhum dos atores entrevistados, responsáveis pelo planejamento, execução e

acompanhamento das atividades previstas, participou do processo de elaboração do documento técnico. Contudo, os planos de manejo dos Parques Estaduais da Cantareira, do Jaraguá e da Serra do Mar foram construídos por equipe variada, composta em sua grande maioria por técnicos e agentes externos às UC, mas também contaram com a participação de funcionários dos parques da época durante sua elaboração.

Em teoria, o plano de manejo deve orientar a administração de todas as UC previstas no SNUC. Acerca deste documento é dito:

Alguns planos de manejo de unidades de conservação são adequadamente divulgados, embora muitos sejam muito divulgados entre os que não precisam saber deles e muito pouco entre os que deveriam conhecer tudo sobre eles, como o próprio pessoal das unidades de conservação e os cidadãos do entorno. Os planos de manejo devem ser, também, uma ferramenta para que a sociedade civil do entorno e os usuários possam fazer cobranças às autoridades sobre a operação da unidade (DOUROJEANNI, 2005b. Não paginado).

O fato de gestores, coordenadora de uso público e monitores(as) ambientais conhecerem pouco este instrumento tão importante para a gestão dos parques é refletida, também, por um defeito bastante comum dos planos de manejo e apresentado por Dourojeanni (2005a. Não paginado): “[...] o grande desequilíbrio que apresentam entre a parte descritiva, desnecessariamente extensa, e a parte analítica e propositiva, muito breve e cheia de lugares comuns, de escassa utilidade prática.”

Além da dificuldade de estar contido no plano a “[...] descrição dos programas e de suas atividades, as especificações suficientes para orientar sua aplicação direta pelos administradores da unidade” (DOUROJEANNI, 2005a, Não paginado), existe também uma lacuna entre o que é proposto no plano de manejo e o que é passível de ser executado, conforme sugerido por um gestor:

A gente tem uma distância grande do que está, não só na questão da educação, em outros programas também do plano de manejo, do que está posto e do que está sendo executado [...] (G1).

De acordo com Milano (2013), por ser um instrumento de apoio à gestão, a melhor opção seria que o plano de manejo fosse mais simples, afinal:

[...] o sucesso de um plano se vincula à sua efetividade em orientar adequadamente a administração da Unidade de Conservação na mobilização e articulação do conjunto de recursos, fatores e agentes que intervém no

processo, viabilizando ou facilitando o alcance dos objetivos para os quais a unidade foi criada. Ainda, podendo ser simples ou complexo, a depender de muitos fatores em jogo, é sempre melhor que o plano de manejo seja simples. Mas é mandatório que seja exequível e operacional (Não paginado). A análise dos planos de manejo dos três parques corroborou com questões discutidas em trabalhos anteriores (DOUROJEANNI, 2005a, 2005b; MEDEIROS; PEREIRA, 2011). O plano de manejo que deveria ser o documento mais importante da gestão das UC é muito descritivo e excessivamente extenso. Pouca ou nenhuma ênfase é dada aos aspectos práticos para o desenvolvimento das atividades propostas pertencentes aos respectivos programas de manejo.

Ainda, o processo de revisão dos planos de manejo que deve ser realizado no intervalo de cinco anos, em muitos casos sequer é feita, quem dirá dentro do prazo. Considerando os planos de manejo dos Parques selecionados, dois deles já estão com o referido prazo vencido (PM1; PM2).

Medeiros e Pereira (2011) relatam casos de alguns parques que enfrentaram problemas para empreender a revisão desse importante documento de gestão. A análise deles permite sugerir que: “[...] os planos de manejo não constituíram ferramenta de uso recorrente para a gestão. Seja porque eles inexistiam ou porque suas versões estavam desatualizadas (p. 284)” e “[...] Em muitos casos não existem condições que permitem implementar as ações previstas, quiçá realizar esse tipo de revisão durante a implementação” (p. 285).

As dificuldades existentes, seja para implementar as ações previstas ou para empreender a revisão do plano de manejo, são abordadas na próxima subseção.

7.2.3 Inexistência de diretrizes e escassez de recursos humanos e financeiros para desenvolver