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Obtenção de conhecimentos pelos(as) monitores(as) ambientais acerca das

7.1 Conhecimentos e práticas de educação ambiental associados aos parques estaduais

7.1.1 Obtenção de conhecimentos pelos(as) monitores(as) ambientais acerca das

Apresentaremos e discutiremos, neste momento, dados que apontam para os processos formativos recebidos pelos(as) monitores(as) ambientais – responsáveis pela execução das ações de EA – e que nos fornecem informações acerca do processo de apropriação e aprendizado do trabalho desenvolvido.

Os dados serão apresentados a partir de seis agrupamentos, a saber: “Plano de manejo”, “Prática”, “Experiência com outros monitores”, “Cursos e capacitações”, “Iniciativa própria” e “Orientação da gestão”.

Vale ressaltar que o(a) mesmo(a) monitor(a) pode ter recorrido a mais de um recurso para adquirir conhecimentos sobre EA. No entanto, podemos observar na tabela 4 que o número não extrapola o total de oito monitores(as), considerando cada agrupamento. Na somatória, o número poderá ultrapassar esse total.

Tabela 4 - Obtenção de conhecimentos pelos(as) monitores(as) ambientais acerca das atividades de educação ambiental realizadas pelos Parques Estaduais da Cantareira, do

Jaraguá e da Serra do Mar

AGRUPAMENTO UNIDADE(S) DE SENTIDO FREQUÊNCIA28

Experiência com outros monitores

“Foi prestando atenção no que os monitores falavam. Foi assim que eu acabei pegando sobre o parque mesmo, foi ouvindo a monitoria dos antigos monitores.” (MA2)

7

Plano de manejo “A gente sempre procurou recorrer ao 6

28

plano de manejo.” (MA1) Cursos e capacitações

“Que eu me dei bem mesmo foi através dos cursos, que só acompanhando e tendo o roteiro não era suficiente” (MA4).

5

Iniciativa própria “De resto foi tudo pesquisa, por minha iniciativa.” (MA1) 3

Orientação da gestão

“Então quando vim para cá teve a orientação da gestão a princípio: ‘Ó, é legal ler [o plano de manejo], é importante pelo trabalho que você está fazendo’.” (MA7)

3

Prática

“Eu penso assim, eu peguei experiência na prática. Fui aprendendo ali na prática.” (MA7)

1 Fonte: Dados da pesquisa

Podemos observar que os canais para obtenção de conhecimentos sobre as ações de EA realizadas pelo parque mais recorrentes foram: a observação das práticas dos monitores mais antigos e a troca de experiências, com o total de sete menções e; o contato com o plano de manejo, citado por seis monitores(as).

Os monitores possuem a sua disposição a base de conhecimentos teóricos e práticos que advém dos monitores mais experientes e além dessa base, possuem como recurso o plano de manejo, que, como vemos, é bastante requisitado:

As vezes surge alguma dúvida: ‘Por que não pode fazer isso?’ Aí você vai

no plano de manejo dar uma conferida (MA7).

Importante apontar que ter o plano de manejo como único guia de obtenção de conhecimentos teóricos sobre Educação Ambiental não nos parece ser satisfatório. Como já apontado neste trabalho, há uma importante discrepância entre a parte descritiva (excessivamente extensa) e a propositiva (muito breve) nesses documentos (DOUROJEANNI, 2005a).

Os cursos e as capacitações ofertados pelo parque foram destacados como fontes de conhecimento por cinco monitores(as) – MA1, MA4, MA5, MA7 e MA8, que comentaram a respeito das características e dos conteúdos dos cursos e das capacitações dos quais participaram:

Teve curso de capacitação, monitoramento de trilhas, de impacto, de uso público, como tratar o visitante, a recepção. Então isso ajudou bastante também (MA7).

Cabe destacar que a oferta de cursos e capacitações pelas empresas terceirizadas está prevista durante a contratação de monitores(as), conforme enfatizado pelo PM3 e que, no entanto, não apresenta uma periodicidade definida:

A empresa terceirizada que contrata os monitores tem como compromisso ministrar cursos de capacitação, entretanto, isso não ocorre de forma regular (PM3).

A não regularidade da oferta destes cursos, evidenciada no documento oficial PM3, fundamenta a razão de três MA não terem participado de nenhum curso ou capacitação. Coincidentemente, todos haviam assumido recentemente a posse do cargo (MA2, MA3 e MA6). No plano de manejo PM2 é possível termos acesso aos cursos e capacitações (referidos no documento como “atividades de formação de monitores”) já ofertados e aos cursos que estão previstos:

Já os funcionários terceirizados têm necessidade de capacitações específicas, como vigilância florestal, combate a incêndios florestais, legislação ambiental, atendimento ao público, entre outras. [...] (PM2).

Particularmente nos casos de formação dos(as) monitores(as), é dito que não existe um programa formativo sistematizado. Ela ocorre ao longo do período, que compreende desde a contratação até a aquisição de experiência, variando entre “cursos de curta duração”, “transmissão de informações dos monitores mais velhos aos mais novos”, “leitura de apostilas contendo artigos sobre fauna e flora, legislação ambiental, interpretação da natureza” e “eventuais palestras ministradas por profissionais que desenvolvem pesquisas científicas na UC” (PM2).

Ainda consta neste plano de manejo como linha de ação o aprimoramento das atividades de educação ambiental a partir da construção de um acervo bibliográfico para “possibilitar a formação dos monitores”. Não identificamos, contudo, referência às palestras ministradas por profissionais ou até mesmo à criação de espaços que permitissem que os(as) monitores(as) fizessem consultas a um “acervo bibliográfico”.

Todavia, estes(as) profissionais mais experientes também passaram aparentemente por um processo formativo pouco sistematizado. É curioso o fato de apenas os(as) monitores(as)

mais antigos(as) revelarem buscar conhecimentos e aprofundar estudos por iniciativa própria (MA1; MA5; MA7). A respeito deste agrupamento, temos duas situações: uma em que são empreendidas pesquisas pelos(as) próprios(as) monitores(as) em outras fontes; a outra refere- se a vontade do(a) MA de acessar os materiais disponibilizados pelos parques, exemplificada pela seguinte fala:

Nós temos bastante material falando sobre o parque, sobre mata atlântica. Aí vai de cada pessoa querer ler (MA5).

Embora o(a) MA4, também monitor(a) antigo(a), não tenha relatado que alguns de seus conhecimentos sobre educação ambiental tenham sido construídos por iniciativa própria, de certa forma apresenta uma justificativa para tanto – a falta de tempo:

Mas aqui às vezes sobra um tempo e a gente poderia usar esse tempo para estudar, porque é importante, tudo muda. E outra, tem artigo, eu sei que tem autores que defendem uma coisa e autores que defendem outra. Então a gente deveria ter mais esse tempinho (MA4).

Apontamentos dessa natureza nos possibilita indicar que os(as) MA carecem de uma formação profissional, que não foi suprida pelo plano de manejo, pela transmissão de informações dos monitores mais velhos aos mais novos, pela orientação da gestão e nem pelos cursos e capacitações ofertados.

Vale a pena relembrar o critério utilizado para selecionar os(as) monitores(as) ambientais que participaram das entrevistas. Selecionamos o(a) monitor(a) que exercia há mais tempo e o que exercia há menos tempo a função do cargo, entendendo que o(a) primeiro(a) possivelmente teve acesso a um número maior de cursos e/ou capacitações e apresentava experiência acumulada.

Devido a inexistência de um programa formativo sistematizado, contínuo e permanente, as experiências atualmente vividas parecem não dar conta das necessidades dos(as) monitores(as) ambientais, que precisam buscar outras fontes para se apropriarem das atividades de EA realizadas. Essa característica seria perpetuada no momento em que houvesse predominantemente e/ou exclusivamente (no caso dos(as) MA2 e MA8) a troca de experiências entre os(as) monitores(as) mais antigos com os mais recentes. Neste sentido, parece existir nas Unidades de Conservação no qual atuam estes(as) MA um círculo vicioso.

Em relação a estes canais e recursos aos quais recorrem os(as) monitores(as) para adquirirem conhecimentos acerca das atividades de educação ambiental, são tecidos comentários bastante pertinentes pela coordenadora de uso público:

Quando o monitor entra aqui ele é pego no susto, ele acaba aprendendo muito com os outros, com os anteriores. E a gente vai dando orientações conforme o tempo vai passando e conforme as dúvidas vão surgindo. As empresas que [os] contratam, elas tem a obrigação de ceder alguns cursos básicos para o monitor em relação a educação, em relação a conduta de grupos, dar esse apanhado geral. Então muitos deles já passaram por esses cursos (COORD1).

A COORD1 ainda diz que a gestão do parque não ofertou nenhum curso de capacitação para MA. Nesse sentido, a formação teria ocorrido nos moldes de uma orientação aleatória conforme as dúvidas dos(as) monitores(as) iam surgindo. Para tentar suprir essa demanda, foi relatado um procedimento (desenvolvimento de roteiros interpretativos/educativos) – inclusive citado como uma das linhas de ação para o aprimoramento das atividades de educação ambiental nos PM2 e PM3 – que está em fase de elaboração, cuja meta será fornecer uma formação completa:

A gente está elaborando uma, que eu acredito que vai acontecer na segunda semana de dezembro para poder dar essa formação mínima. Bem mínimo mesmo, para poder equiparar, porque a equipe trocou muito nos últimos dois anos [...] A maioria dos monitores que eu tenho aqui no [parque], por exemplo, são novos [...] Então para tentar dar uma equiparada nos conhecimentos e no que o parque pensa sobre EA, o que é desenvolvido, a gente está montando... Eu já montei a minha parte de EA e uso público. Vai ter sobre condução de grupo, interpretação de paisagem, uso de GPS, manejo de trilha. A gente pegou alguns assuntos que são os mais trabalhados pela equipe para elaborar e aí cada pessoa ficou responsável por uma parte (COORD1).

Vale a pena lembrarmos que o(a) MA é entendido como:

[...] agente multiplicador e facilitador da interpretação ambiental (PM3) ou; [...] aqueles que fazem o atendimento direto com o visitante. Têm a missão

de informar, orientar e sensibilizar em relação aos objetivos da unidade e questões sócio-ambientais [sic] [socioambientais] (PM2).

Embora a coordenadora procure estabelecer uma relação mais próxima com os(as) monitores(as) com os(as) quais atua, este acompanhamento não parece ser realizado por todos os parques. Apenas três monitores(as) fizeram menção à orientação da gestão do parque. Por

gestão, entendemos profissionais habilitados e responsáveis pelo gerenciamento e administração de projetos e de pessoas. Ainda, os monitores fizeram distinção entre os responsáveis pelas orientações que receberam: o(a) MA7 se referiu ao gestor da UC, enquanto os(as) MA4 e MA5 se referiram à coordenadora de uso público:

Quando eu entrei eu recebi um documento com o histórico do parque

(MA5).

A gente conversa bastante com o gestor. Ele se preocupa muito com a ação do parque, dos funcionários em relação a educação ambiental e o programa de uso público. Ele nos orienta bastante nessa questão (MA7).

O fato de que estes(as) monitores(as) nem sempre são orientados pela própria direção do parque, tampouco incentivados a estudar e aprimorar seus conhecimentos nos chamou a atenção, pois tal distanciamento entre os gestores das UC e os(as) monitores(as) parece traduzir a inexistência de acompanhamento das atividades de EA realizadas. Em parte, conhecemos as dificuldades dos(as) gestores(as), que assumem diversos papéis e desempenham variadas funções.

Apenas um(a) monitor(a) comentou que parte do seu aprendizado foi devido a experiência adquirida no dia a dia (MA7). Este(a) mesmo(a) monitor(a) citou, com exceção da “experiência com outros monitores”, todos os outros recursos e estratégias adotadas para conhecer e aprofundar seus conhecimentos sobre as atividades de EA desenvolvidas no parque. Em parte, isso reflete um interesse no trabalho desenvolvido por ele e complementa:

Eu estou feliz com o que eu faço. É muito gostoso a gente trabalhar assim

(MA7).

Ainda que o gosto pelo trabalho faça parte da realidade de alguns/algumas, veremos na seção 7.2.1 quais são as problemáticas que estão associadas ao processo de capacitação do(a) MA.

É interessante perceber a existência de uma preocupação mínima em discutir o que é educação ambiental – esta é evidenciada na fala da coordenadora de uso público ao se referir ao processo de desenvolvimento de um roteiro educativo. Um dos documentos oficiais já apontava para a existência de uma desarticulação do programa de EA com outras ações desenvolvidas pelo parque devido à “insuficiência de discussão institucional (IF e SMA) quanto à concepção e as potencialidades de programas de educação ambiental em unidades de conservação” (PM1).

Os dados apresentados nesta subseção nos permitiu reconstruir os processos que compuseram a formação dos(as) monitores(as) ambientais. Na próxima subseção identificaremos as atividades de EA desenvolvidas nos parques.

7.1.2 Atividades adotadas pela gestão dos três parques estaduais para o desenvolvimento das