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Em meados de 1890, visando proteger o maior manancial da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) conhecido como Sistema Cantareira de Águas e garantir a prestação de importante serviço ambiental, – o abastecimento de água da cidade de São Paulo – o Governo do Estado de São Paulo iniciou a desapropriação de diversas fazendas que ali encontravam-se instaladas e que aos poucos, estavam desmatando a mata nativa para plantio de café. As terras foram tombadas primeiramente como Reserva Florestal (SÃO PAULO, 2009b) e a área somente foi reconhecida como Parque Estadual após a instituição da Lei nº 6.884/62, regulamentada pelo Decreto nº 41.626/63. Cinco anos depois, foi oficializada a criação do Parque por meio do Decreto Estadual nº 10.228, de 24 de setembro de 1968, nomeando-o como Parque Turístico.

Algum tempo depois, em 1983, com o lançamento da Resolução 18 de 04/08/1983, o Parque Estadual da Cantareira foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT), que o considerou patrimônio cultural paulista (SÃO PAULO, 2009b).

Além de resguardar importantes patrimônios histórico-culturais, a criação do PEC também teve grande importância para a preservação da Mata Atlântica, que “[...] exerce influência direta na vida de mais de 80% da população brasileira que vive em seu domínio. Seus remanescentes regulam o fluxo e a qualidade da água dos mananciais, [...] controlam o clima, seqüestram CO2, [...] além de preservar um patrimônio histórico e cultural imenso.” (SÃO PAULO, 2009b, p. 1).

Esses são alguns dos serviços ambientais prestados por estas áreas e o PEC, localizado em uma área predominantemente urbana, caracteriza-se como uma das poucas opções de espaços voltados para o lazer e recreação da população. Contudo, isso configura-se como um desafio à sua gestão, “[...] principalmente devido à enorme carência de áreas verdes e de lazer que apresenta a quarta maior metrópole do mundo, gerando uma grande demanda de público visitante na área.” (SÃO PAULO, 2009b, p. 270).

A proteção integral do patrimônio natural, somada ao uso indireto dos recursos naturais, apresenta aspectos muitas vezes conflitantes quando aplicados à unidade de conservação da categoria Parque, especialmente nos parques localizados em perímetros urbanos. As unidades de conservação localizadas no contexto urbano têm geralmente boa parte de sua área total, e de seus recursos físicos, humanos e financeiros destinados à visitação pública, tornando por vezes a proteção integral dos recursos naturais uma atividade de segundo plano (SÃO PAULO, 2009b, p. 270).

Sua área, representada por 7.916,52 hectares (ou 90,5 km de perímetro) abrange quatro municípios: São Paulo, Mairiporã, Caieiras e Guarulhos e é dividida em quatro núcleos: Águas Claras, Engordador, Pedra Grande e Cabuçu, conforme vislumbrado pela figura 5.

Figura 5 – Mapa da localização do Parque Estadual da Cantareira

De acordo com o documento, cada núcleo conta com “[...] equipes mínimas para a implantação de atividades e com alto grau de autonomia com relação a tomada de decisão e execução operacional”, embora todos eles sejam geridos por um único gestor (SÃO PAULO, 2009b, p. 11).

Os quatro núcleos possuem infraestrutura para receber visitantes, embora o núcleo Pedra Grande, com 4.278.50 hectares, o primeiro núcleo aberto à visitação no ano de 1989, seja o mais procurado pelo público. As atividades de visitação iniciaram-se, na verdade, em meados do final da década de 1970, sendo o PEC considerado uma das UC pioneiras no desenvolvimento de atividades relacionadas ao uso público. Ele é também sede administrativa do parque. Possui quatro trilhas (do Bugio, da Pedra, da Bica e das Figueiras), sendo o seu principal atrativo o mirante da cidade São Paulo, com 1.010 metros de altitude (SÃO PAULO, 2009b).

O núcleo Engordador foi aberto à visitação pública em 1992, tendo suas atividades interrompidas no período de 1995 a 1997, por falta de recursos. Sua reinauguração ocorreu em 1998, após obter recursos provindos de compensação ambiental. Possui duas trilhas (do Macuco e da Cachoeira) e seu principal atrativo é a Casa de Bombas, um importante patrimônio histórico.

Antes de ser aberto oficialmente para o público, o PEC lançou seu primeiro plano de manejo no ano de 1974, antes mesmo da consolidação do SNUC, que obrigava às UC a elaborar o documento técnico (SÃO PAULO, 2009b). Ele foi, de acordo com Brito (2003), “[...] orientado por técnicos e estrangeiros do escritório da FAO [Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação] para a América Latina” (p. 120). Com a primeira versão desse documento finalizada, todas as atividades propostas estavam regularizadas e oficialmente aprovadas para serem executadas. Dentre as propostas, discutiremos minuciosamente os programas de uso público e de educação ambiental. No entanto, os comentários e análises aqui empreendidas referem-se ao plano revisado, de 2009, que teve apoio de diversos atores e que compõe diferentes segmentos da sociedade: toda a equipe do PEC, os dirigentes e funcionários da Fundação Florestal e Instituto Florestal, as Prefeituras Municipais de São Paulo, Guarulhos, Mairiporã e Caieiras, pesquisadores de diversas instituições e órgãos públicos de pesquisa, Guarda Civil Metropolitana de Guarulhos, Guarda Civil Ambiental de São Paulo e A Polícia Ambiental, as ONGs, Associações de Bairro e moradores do entorno.

Foi também a partir da elaboração deste documento técnico que estabeleceu-se o zoneamento da UC. Para o PEC foram definidas oito zonas: intangível, primitiva,

recuperação, uso conflitante (infraestrutura de base), uso extensivo, uso intensivo, uso especial, histórico-cultural e zona de Amortecimento. Apenas nas zonas intangível, de amortecimento e de recuperação não são recomendadas atividades voltadas à visitação, ao contrário de todas as outras zonas, cujo objetivo envolve, dentre outros, facilitar as atividades de educação ambiental (SÃO PAULO, 2009b). Ainda assim, a zona de recuperação é uma zona provisória e uma de suas recomendações é: “Deverá ser avaliado o potencial dessas áreas para uso em educação ambiental posteriormente à recuperação das mesmas.” (p. 235). Em termos de porcentagem, praticamente toda a área do PEC permite e cria condições favoráveis para o desenvolvimento da EA.