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5   Avaliação de Aprendizagem em Ensino a Distância 82

5.8   Avaliação em Sistemas Web 94

Independente do enfoque ou do seu tipo, toda avaliação pressupõe a verificação de um aprendizado, ou seja, pretende-se avaliar os conteúdos que foram aprendidos (ROQUE, 2007). Porém, a avaliação não deve se limitar ao papel de medir a quantidade de informação que o aprendiz possui. A avaliação deve, sim, extrapolar esses limites e verificar até que ponto vão a capacidade e a disposição que o aprendiz possui para usar e comunicar a informação. Tomando essa segunda abordagem, a avaliação tem como intuito fornecer ao professor dados importantes sobre as aptidões, preferências, metas e dificuldades dos alunos e, além disso, propiciar aos aprendizes a oportunidade de aprender, melhorar e refletir sobre o seu desempenho.

Muitas pesquisas, entre elas: (CRISTEA, 2006), (MORAN, 2005), (ZAINA, 2005), (CALDEIRA, 2004), (CRISTEA, 2003), (DE BRA, 2003), (STASH, 2003), (ZAINA, 2002), (ARROYO, 2001), (BARIANI, 2000), (KIRKPATRIC, 1998), possuem como foco, a avaliação de aprendizagem em cursos a distância baseados na Web. Em grande parte dos casos, essas pesquisas buscam adaptar os modelos de avaliação existentes às novas características dessa forma de ensino (ROQUE, 2007).

Nos tempos atuais a aplicação de métodos de avaliação tem sido cada vez mais freqüente tanto nas corporações e empresas como na educação. O ensino a distância através da Web tem, cada vez mais, se tornado parte integrante do contexto mundial de ensino. Atualmente, universidades e empresas estão em busca de recursos e de conhecimentos para utilizar esta nova forma de ensino com o objetivo de minimizar problemas de custos e de distância entre participantes do evento educacional (ZAINA, 2002).

A verificação do processo de aprendizagem em um curso ministrado a distância através da Web é uma tarefa difícil e trabalhosa. Acompanhar a evolução do aluno analisando os conhecimentos assimilados é um dos desafios que os professores e os desenvolvedores de ambientes virtuais de aprendizagem via Web devem transpor.

Diversas são as formas de acompanhar a trajetória do aluno pelo curso, considerando desde um acompanhamento realizado através de exercícios propostos pelo professor, uso de ferramentas disponíveis no ambiente (fórum, chat, mural) até a análise das páginas (ou conceitos) acessadas pelo aprendiz. Os sistemas gerenciadores de cursos a distância podem amenizar parte do problema, disponibilizando estatísticas de acompanhamento da evolução do aprendiz, uma vez que os dados relativos aos acessos são armazenados em Banco de Dados.

Estes dados podem apresentar subsídios importantes, pois retratam o processo de interatividade do aprendiz e podem ser encarados como um recurso importante para suprir a distância que o professor muitas vezes tem dos aprendizes (MORAN, 2001), (ZAINA, 2001), (ZAINA, 2005).

De acordo com Neder (1996), a avaliação de aprendizagem ou de desempenho do aprendiz em cursos a distância exige considerações especiais por dois motivos:

“primeiro, porque um dos objetivos fundamentais da educação a distância deve ser a de obter dos alunos não a capacidade de reproduzir idéias, informações ou pontos de vista críticos que lhes proporcione determinado material fornecido pelo professor ou, ainda, apenas uma perspectiva crítica frente a determinados conteúdos. O que deve importar realmente para um sistema de EaD é desenvolver a autonomia do aluno, frente a situações concretas que lhe sejam apresentadas. Segundo, porque num sistema de EaD, o aluno não conta com a presença física do professor. Por esta razão, é necessário desenvolver método de trabalho que oportunize sua confiança, possibilitando-lhe, não só o processo de elaboração de seus próprios juízos, mas também de desenvolvimento de sua capacidade de analisá-los.” (NEDER, 1996, p.4)

Nas pesquisas de Willis (1996), fica claro que a opinião do autor considera o ato de avaliar como a ação de determinar quanto e quão bem os estudantes estão aprendendo. Para ele, no ensino presencial, os professores utilizam expressões da linguagem facial e corporal, observação das atitudes dos aprendizes e comentários realizados em sala como forma de uma avaliação informal, ao passo que, na Internet, somente se verifica a avaliação formal.

Segundo Campos (2002), a “avaliação vai decorrer da capacidade de interação do aprendiz com o professor, com o sistema, com o conteúdo a ser aprendido e, finalmente, vai decorrer da motivação que as situações de aprendizagem conseguirem despertar”. Essas situações devem ser ricas e devem levar ao desenvolvimento de diferentes habilidades cognitivas.

Acompanhar a trajetória do aprendiz nos cursos a distância é uma das maiores preocupações que se apresenta quando se desenvolve ambientes de EAD. Segundo Viccari et al. (2001)

“[..] na maioria dos ambientes ou cursos a distância disponíveis na Web, um dos problemas detectados é a falta de mecanismos que possibilitem o professor realizar um acompanhamento completo e abrangente das atividades dos aprendizes, diagnosticando o seu nível de conhecimento bem como seu ritmo de aprendizagem.” (VICCARI, 2001, p.2)

Essa preocupação motivou o surgimento dos sistemas de EaD com conceitos de multiagentes, tutores inteligentes ou adaptabilidade de apresentação, conteúdo e navegação. A

proposta inicial para a utilização dessas tecnologias citadas é auxiliar no processo de observação do comportamento do aluno, possibilitando um tratamento personalizado, reproduzindo a avaliação informal que existe em cursos presenciais e traçando perfil dos mesmos até para auxiliar o aprimoramento das avaliações formais nesses ambientes.

Para Fuks et al. (1998), observando o comportamento dos alunos durante seu processo de interação com o ambiente, é possível verificar sua aquisição de conhecimento. Isso permitirá a complementação dos processos de avaliação. A utilização de sistemas multiagentes inteligentes, segundo o autor, “possibilita a implementação de um estilo complementar de interação, chamado gerência indireta, no qual o computador se torna uma entidade ativa, dotada de certo grau de autonomia e capaz de realizar tarefas que auxiliem o usuário no desempenho de suas atividades, de acordo com seus interesses”.

De acordo com Silva (2001) e Otsuka (2003), os Sistemas Tutores Inteligentes (STI) podem direcionar os estudos dos aprendizes, com base em plano de estudo proposto pelo professor, ou considerando resultados de testes dos aprendizes. No escopo desta pesquisa, a segunda indicação, guiar o aprendiz com base nos resultados de testes torna-se relevante. Esse direcionamento é realizado com base nas análises dos resultados de avaliações impostas durante o processo de aprendizagem, ou durante o processo de navegação no conteúdo. Os tutores inteligentes ditos clássicos trabalham com apresentação progressiva dos conteúdos, dividindo-o basicamente em três níveis: básico, intermediário e avançado. As avaliações que ocorrem durante o processo de aprendizagem é que guiam os níveis de conteúdos para um determinado aprendiz. Durante o percurso no ambiente, o tutor inteligente deve fornecer o conteúdo (textos, atividades, leituras complementares) de acordo com conhecimentos e motivações que o aprendiz sinaliza, para auxiliá-lo no processo de aprendizagem.

Uma terceira forma de garantir computacionalmente que a avaliação e seus resultados sejam utilizados para beneficiar o aprendiz em sistemas de EaD são os ambientes hipermídia adaptativos. Esses ambientes são considerados uma evolução natural dos tutores inteligentes (PALAZZO, 2004), pois abarcam características de tutoria durante a utilização do sistema com técnicas mais elaboradas para adaptação do conteúdo, da apresentação e da navegação, já discutidas no capítulo 4 do presente documento. Os ambientes que utilizam esse tipo de tecnologia podem fornecer adaptação de conteúdo, apresentação e navegação, pois utilizam conceitos de Inteligência Artificial, assim como os agentes inteligentes, a fim de prover adaptação no domínio de conhecimento a ser explorado. Isso ocorre para personalizar o ambiente de acordo com as características, motivações, preferências e metas do aprendiz.

Além disso, esse tipo de tecnologia permite um alto grau de interatividade entre os aprendizes e o próprio ambiente (DE BRA, 2003), (CRISTEA, 2006).

Outra opção para a avaliação de desempenho nos cursos a distância é o uso de portfólios. Segundo Gardner (apud MOULIN, 2001), portfólio é “um local para colecionar todos os passos percorridos pelo aluno ao longo da trajetória de sua aprendizagem”. De acordo com Moulin (2001), o portfólio representa uma pasta individual na qual os alunos podem colecionar, além de suas provas e seus trabalhos, o registro de suas reflexões e impressões sobre o curso, opiniões, dúvidas, dificuldades, reações aos conteúdos e textos indicados, às técnicas de ensino, sentimentos, relatos de situações vividas, entre outras. Os dados armazenados no portfólio são a base tanto para a avaliação do aluno como também de todo o processo de ensino. Para o autor, “a análise do conteúdo do portfólio fornece informações que permitem ao docente traçar o perfil do aluno em termos de interesse, de habilidades e capacidade desenvolvidas e por desenvolver” durante o curso. Na análise, deve- se considerar a coletânea de dados como um todo, fazendo “predominar as funções diagnósticas e formativas, abandonando a concepção de avaliação quantitativa”. O mesmo autor sugere que o portfólio seja utilizado no ensino a distância para oportunizar a individualização do ensino, promovendo a avaliação continuada, auxiliando a auto-avaliação ou apoiando o professor nas decisões relativas à avaliação, entre outras.

Diante dessas alternativas, pode-se considerar que as formas de implementação de avaliação em sistemas Web, ou sistemas de EaD, procuram considerar os aspectos pedagógicos, cognitivos e tecnológicos com a finalidade de tornar os resultados da avaliação de aprendizagem úteis tanto para o ambiente como também para o aprendiz.

Geralmente, o sistema de ensino-aprendizagem tradicional prioriza a transmissão de informações e imagens mediante definições que devem ser memorizadas de forma progressiva. As tecnologias acima citadas procuram, cada qual com suas particularidades e artifícios, minimizar a perspectiva de considerar o ambiente um mero transmissor de conteúdo. A avaliação em sistemas Web deve ser considerada como um momento integrado ao processo de aprendizagem e não como um momento determinado e separado do processo de aprendizagem. A idéia de determinar uma data para a aplicação do instrumento de avaliação ainda pode ser considerada nos sistemas de EaD, mas é importante aliar essa iniciativa com as considerações que podem ser extraídas durante o processo de utilização do ambiente pelo aprendiz. Da mesma forma que no ensino presencial, a avaliação pode ser

realizada a partir de instrumentos que mensurem o conhecimento adquirido pelo aprendiz em determinados pontos ou períodos.

A avaliação nesse novo contexto do EaD deve seguir medindo o percurso de aprendizagem. Devem ser considerados os conteúdos aprendidos, bem como o comportamento ou as alterações no comportamento do aprendiz. A solução de como avaliar comportamento parece estar em uma estrutura capaz de sinalizar a evolução do aprendiz em ganhos comportamentais, os quais não dizem respeito apenas à interação consigo mesmo e com os outros, mas também abordam habilidades. Para isso, é necessário permitir que cada aprendiz escolha um caminho para alcançar domínio e proficiência em conteúdos e, então, é necessário utilizar a avaliação como um mecanismo de sinalização, apontando quais atributos foram desenvolvidos ou estão em desenvolvimento no aprendiz, à medida que ele avança na sua caminhada (SILVA, 2004). O mapeamento de inteligências múltiplas de Gardner (1978) sustenta diferentes habilidades em diferentes indivíduos. Segundo Silva (2004), uma avaliação que busca ser sensível a essas características pode encontrar apoio no mapeamento de inteligências proposto por ele.

Outra pesquisa que, além de citar, utiliza a teoria das inteligências múltiplas de Gardner é a de Bugay (2006). A pesquisa também aborda a teoria das inteligências múltiplas de Gardner e seus aspectos relativos à avaliação de aprendizagem, supracitados por Silva (2004). Nesta pesquisa (BUGAY, 2006), é feita a convergência dos conceitos inerentes à teoria de Gardner com os conceitos e técnicas particulares dos ambientes hipermídia adaptativos. A teoria de inteligências múltiplas de Gardner é utilizada como motor de inferência para a adaptação do ambiente hipermídia. Segundo Bugay (2006, p. 104),

“esse modelo de adaptação seleciona o conteúdo a ser apresentado levando em conta o conhecimento do usuário sobre o assunto (como os demais sistemas existentes) e utilizando também o desenvolvimento da suas inteligências (de acordo com Gardner (1978)) para influir na adaptação, de modo que o aprendizado ocorra de acordo com as necessidades deste usuário.”

Nota-se, portanto, que, independente da tecnologia adotada para dar suporte à avaliação de aprendizagem, o resultado final dessa aplicação é criar um instrumento capaz de auxiliar e guiar o aprendiz, e também o professor, no processo de aprendizagem via Web. Silva (2004) indica que é preciso contar com bases estáveis para uma não mais mera avaliação, mas uma estrutura de avaliação.

Essa estrutura pode ser provida e suportada no ensino via Web por ambientes hipermídia adaptativos, já que estes permitem avaliações de aprendizagem em diferentes

domínios de conhecimento, pois possuem uma arquitetura que contempla um modelo de domínio que deve ser integrado aos demais modelos que definem o ambiente. Esses modelos foram apresentados e discutidos no capítulo 3 do presente documento.

De acordo com Silva (2004), um processo de avaliação tem dupla natureza: a estrutural e a dinâmica. Como o objetivo é a concepção de uma estrutura computacional para prover avaliação de conhecimentos e habilidades, as seções seguintes deste capítulo abordarão diferentes sistemas ou ferramentas Web e suas formas de aplicação no processo de avaliação de aprendizagem.