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Avaliação e gestão do risco clínico

No documento Paulo Jorge dos Santos Sousa Lisboa, 2008 (páginas 91-95)

3 – Risco e ajustamento pelo risco em saúde

3.13 Avaliação e gestão do risco clínico

A gestão do risco é, em geral, um processo que visa identificar e gerir as fontes, potenciais ou reais, causadoras de perdas ou danos. A gestão do risco não é exclusiva da área da saúde. De facto este conceito teve a sua origem, e tem mantido enorme aplicabilidade, no campo da indústria, em particular da indústria aeronáutica; no sector económico!financeiro e noutras áreas da sociedade relacionadas ou não com actividade económica (Rozovsky; Conley, 2007).

Nos últimos anos, as questões da gestão do risco têm vindo a adquirir crescente importância e visibilidade na área da saúde, intimamente ligadas à segurança dos doentes e consequentemente integradas no movimento de avaliação e melhoria da qualidade em saúde. Para isso contribuíram os resultados de vários estudos realizados em diversos países europeus, nos Estados Unidos da América e na Austrália que apontaram para taxas de incidência de eventos adversos em cerca de 10% (variando entre os 4% e os 17%), do total de doentes hospitalizados (Brennan et al., 1991; Wilson et al., 1995; Vincent; Neale; Woloshynowych, 2001; Donaldson, 2004; Lewis; Fletcher, 2005). Acrescem ainda as consequentes implicações económicas, decorrentes do aumento do tempo de internamento e do consumo de recursos de saúde.

Vários autores (Altman; Clancy; Blendon, 2004; Stelfox et al., 2006) referem que nas organizações de saúde, podemos identificar, essencialmente, duas grandes vertentes de risco: o risco clínico e o risco não clínico. O risco não clínico refere!se a todos os “acontecimentos” indesejados, que podem surgir no ambiente das organizações de saúde, que não têm causa clínica, ou seja que decorrem das actividades que servem de suporte à prestação de cuidados de saúde. Neste grande grupo de situações destacam!se: o risco de incêndio; as questões da segurança de pessoas e bens; situações ligadas com as instalações e os equipamentos; e os resíduos hospitalares.

O risco clínico pode ser definido, de uma forma simples, como a probabilidade de um evento indesejado vir a ocorrer na sequência da prestação de cuidados de saúde (Rozovsky; Conley, 2007).O seu cálculo consiste, num procedimento quantitativo que

visa determinar, a proporção de eventos adversos a partir da exposição a determinados factores ou associado a determinada característica (UK. NHS, 2005).

Apesar de conceptualmente bem delimitadas, na prática, as fronteiras entre estes dois tipos de risco não são estanques, sendo nalgumas situações difícil isolar a origem das causas subjacentes ao evento verificado (Reason, 2000; Vicent; Coulter, 2001; Gallagher et al., 2003; Uva et al., 2008).

Diversos factores têm contribuído para a crescente importância da avaliação do risco clínico nas organizações de saúde. Os permanentes avanços tecnológicos, o número cada vez maior de profissionais envolvidos na prestação de cuidados, as exigências dos utentes e os crescentes constrangimentos financeiros do sector, são alguns exemplos daqueles factores (UK. National Patient Safety Agency, 2004; Fragata; Martins, 2005).

Uma garantia fundamental, presente em todos os níveis e dimensões dos cuidados de saúde, que deve ser assumida pelos profissionais da área e partilhada com o doente é que as falhas (e os erros) são realidades incontornáveis na prestação de cuidados de saúde, mesmo que se trate de técnicas, diagnósticas ou terapêuticas, amplamente consensuais e realizadas por equipas muito especializadas e com o recurso a equipamentos de elevado grau de sofisticação.

Habitualmente, o conceito de risco clínico encontra!se intimamente ligado à ocorrência de eventos adversos, tornando!se por isso essencial a sua apreciação, de forma a poder ser medido, comunicado e, consequentemente, gerido (Rozovsky; Conley, 2007).

Figura nº 3 – Esquema de gestão do risco clínico

Adaptado de ! UK. NHS Quality Improvement Scotland – Clinical governance & risk management achivieving safe, effective, patient!focused care and services: national standards, Scotland, Edinburg: National Health System, 2005. 28.

Segundo estes autores (UK. NHS, 2005), a gestão do risco clínico (

) é um processo (sistemático) de identificação, avaliação e definição de estratégias para diminuir ou anular os riscos, potenciais ou efectivos, de ocorrência de erros ou falhas durante a prestação de cuidados de saúde (Figura 3).

O objectivo dos programas de gestão do risco clínico é providenciar condições para reduzir ou eliminar a ocorrência de eventos adversos e, consequentemente, minimizar as consequências humanas e económicas que lhes estão associadas. Dessa forma a gestão do risco visa aumentar a segurança clínica através da redução ou da eliminação dos riscos de ocorrência de eventos adversos. A segurança clínica surge assim como parte integrante da avaliação da qualidade em saúde, nomeadamente, através da melhoria dos resultados. M o n it o ri za çã o e r ev is ão /c o m p ar aç ão

De acordo com Donabedian (Petitti, 1998. 249), resultados em saúde são:

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Os resultados em saúde dependem, ou são influenciados, por múltiplos factores destacando!se, entre outros, as características intrínsecas de cada doente.

Segundo Iezzoni (2003e) existe, hoje, algum consenso em torno do facto de certos indivíduos (ou populações) apresentarem maior propensão para desenvolverem eventos indesejados decorrentes da prestação de cuidados de saúde. Paralelamente, também é sabido que as doenças não se distribuem de forma aleatória pela população.

Tal facto sugere que determinados indivíduos (ou grupos) apresentem maior risco para a ocorrência de eventos adversos ou para a obtenção de resultados menos favoráveis em saúde (Iezzoni, 2003e; Burroughs et al., 2007). Esta questão remete!nos para a existência de determinadas características ou factores (factores de risco) que potenciam a ocorrência de eventos adversos ou que condicionam os resultados em saúde, sejam eles clínicos, económicos, ou relacionados com as expectativas, preferências e grau de satisfação dos doentes.

Assim, a contabilização dos diferentes factores de risco de cada indivíduo, bem como a aferição dos resultados tendo em conta esses riscos, torna!se decisiva para a realização de estudos, projectos ou programas de gestão do risco e de melhoria e avaliação da qualidade em saúde.

No documento Paulo Jorge dos Santos Sousa Lisboa, 2008 (páginas 91-95)