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Eventos adversos em ICP

No documento Paulo Jorge dos Santos Sousa Lisboa, 2008 (páginas 79-83)

23 Doenças cardiovasculares e intervenção coronária percutânea (ICP)

3 Complicações com o acesso vascular, Situações de hemorragia ou perfuração no

2.43 Segurança dos doentes e eventos adversos na ICP

2.4.23 Eventos adversos em ICP

Segundo Leap e colaboradores (Leap et al., 1991; Leap, 1995) a complexa combinação que envolve o processo, a tecnologia e a interacção humana, que caracteriza o moderno sistema de prestação de cuidados de saúde, deve trazer benefícios significativos para os doentes. No entanto, a prestação de cuidados de saúde também envolve riscos inevitáveis que poderão desencadear a ocorrência de eventos adversos.

Um evento adverso pode ser definido como um dano causado durante (ou decorrente) de actos clínicos, até certo ponto integrado no processo de doença, que pode resultar numa de duas situações: ou uma estadia prolongada e não esperada na instituição de saúde, ou incapacidade mantida pós alta (Thomas; Brennan, 2000). Outros autores, definiram evento adverso como um evento indesejável que, em condições normais, não surge como consequência da história natural da doença, nem dos efeitos previstos da terapêutica instituída (Austrália. Victorian Department of Human Services, 2001).

O problema dos eventos adversos na área da saúde não é novo. De facto, já nas décadas de 1950 e 1960, apesar de haver registos de ocorrências de eventos adversos, tal assunto foi largamente negligenciado, tendo vindo a ser retomado, mais tarde, já no inicio da década de 1990 com a publicação dos resultados do $ /

(Leap et al., 1991; Leap, 1994b) que, a par com outros estudos realizados ao longo dos anos de 1990 vieram constituir todo um corpo de evidência que viria a lançar o tema dos eventos adversos para o primeiro plano das agendas políticas e das linhas de investigação, tornando!se, em muitos países, de que são exemplo os Estados Unidos da América, a Austrália, o Reino Unido, o Canadá e a Nova Zelândia, um tema central de debate na opinião pública.

A par dos danos e consequências para os doentes, em muitos casos irreversíveis, os eventos adversos envolvem importantes custos sociais e económicos que não podem, ser negligenciados. Estudos realizados no Reino Unido (Vincent; Neale; Woloshynowych, 2001; WHO, 2002) apuraram custos na ordem das 2000 milhões de libras associados ao internamento adicional, e cerca de 400 milhões de libras por ano referente a queixas e indemnizações como consequência de eventos adversos. Alguns

estudos levados a cabo nos Estados Unidos da América (Cook; Woods; Miller, 1998; Thomas et al., 2000) que tinham por base estimar o total de custos que se poderiam poupar com a prevenção dos eventos adversos, resultaram em valores que variaram entre os 17000 milhões e os 29000 milhões de dólares americanos, incluindo perda de rendimento por inactividade, incapacidade e despesas médicas. A par desses custos monetários, devem ser acrescentados os custos intangíveis resultantes, por exemplo, da erosão do grau de satisfação e de confiança entre o cidadão e as instituições prestadoras de cuidados de saúde.

A maioria da evidência acerca dos eventos adversos tem origem nos hospitais (Chassin, 1996; Vicent; Coulter, 2001) em parte devido ao facto de serem estas instituições as que apresentam maior risco associado na prestação dos cuidados de saúde, quer pelo volume, quer pela diversidade e especificidade de serviços prestados e, derivado desse facto, por terem sido desenvolvidos, em muitos casos, sistemas de informação que permitem uma melhor recolha e sistematização dessa informação.

Devido ao crescimento exponencial do número de intervenções coronárias percutâneas realizadas, a par da multiplicidade de técnicas utilizadas, sentiu!se a necessidade de desenvolver estudos que identificassem os factores clínicos, e outras características inerentes aos doentes e aos procedimentos, que apresentassem maior valor predictivo para a ocorrência de eventos adversos decorrentes da intervenção coronária percutânea. No início dos anos de 1990, no estado de Washington, foram lançadas as bases para a criação de um programa de recolha de resultados ( ) da cirurgia de revascularização miocárdica e da técnica de angioplastia coronária transluminal percutânea, realizadas nos hospitais desse Estado (Maynard et al., 2003). Estes esforços iniciais resultaram na formação, em 1999, do /

(COAP), um programa integrado de melhoria da qualidade em CRM e ACTP, desenvolvido e aplicado nos hospitais de estado de Washington (Maynard et al., 2003).

Nos EUA, antes do desenvolvimento desse programa, realizaram!se vários estudos, de

que são exemplos o / : 6 @

(Hannan et al., 1992), : 8

% $ (Kimmel et al., 1995), : $ ; (Hannan et al.,

1999) e o 6 $ A 8

(ACC!NCDR) (Shaw et al., 2002). Alguns destes estudos espelham o actual estado da arte, na medida em que foram realizados na era dos e da utilização dos protocolos mais recentes de terapêutica adjuvante, nomeadamente com os antagonistas dos receptores da glicoproteina IIb IIIa.

Muitos desses estudos (Block et al., 1998; Shaw et al., 2002; Maynard et al., 2003), concluíram que os eventos adversos decorrentes da intervenção coronária percutânea dependem de um conjunto de factores, de entre os quais se destacam as características de risco do doente, a gravidade da doença e a acuidade na abordagem.

Os eventos adversos decorrentes da ICP são categorizados, segundo Smith e colaboradores (Smith et al, 2001; Smith et al., 2006) de acordo com o mecanismo da complicação e pelo tipo de evento adverso causado pelo procedimento. De facto um determinado evento adverso, como a morte, pode ser devido a uma variedade de complicações.

Ainda de acordo com as normas de orientação clínica, da ACC/AHA/SCAI (Smith et al., 2006), relativas à ICP, o grupo de eventos cardíacos e cerebrovasculares adversos decorrentes da ICP integra quatro situações bem definidas, como seja: i) a morte;

ii) o EAM; iii) o AVC; iv) e a necessidade urgente de nova intervenção por cirurgia

revascularização coronária. Este grupo de eventos adversos tem sido utilizado na grande maioria dos estudos realizados nesta área clínica (Smith et al., 2006; King et al., 2007). Isto deve!se, em grande medida, ao facto destas entidades terem uma definição uniforme e consensualmente aceite na comunidade clínica e científica, constando, desta forma, nas bases de dados mais universalmente utilizadas (Weintraub et al., 1997; Malenka; O’Connor, 1998; Brindis et al., 2001; Tu; et al., 2001; Anderson et al., 2002; Flynn et al., 2005; King et al., 2007).

O resultados de vários estudos, reflectindo a prática clínica actual, com a utilização dos com fármaco e com a adopção dos mais recentes protocolos de terapêutica farmacológica adjuvante, apontaram para taxas, de sucesso angiográfico, não ajustadas ao risco, acima dos 95% e, para valores abaixo de 1% para a mortalidade, o EAM com

onda Q, o AVC e a necessidade emergente de nova revascularização por cirurgia (Smith et al., 2006; King et al., 2007).

Nos últimos anos tem havido tendência para a definição de padrões e para o estabelecimento de valores de # nacionais e internacionais, por forma a

diminuir a enorme variabilidade, em termos de resultados e das próprias práticas e, em última instância, contribuir para a melhoria da qualidade nesta área da cardiologia de intervenção (Krumholz, 2005; Smith et al., 2006; Jacobson et al., 2007; King et al., 2007).

O conhecimento e compreensão dos eventos adversos, frequência, causas e determinantes, bem como o seu impacto nos doentes, e o desenvolvimento de formas e métodos de registo e prevenção dos mesmos, constituem, uma parte fundamental do processo, mais amplo, de avaliação da qualidade em cardiologia de intervenção.

No documento Paulo Jorge dos Santos Sousa Lisboa, 2008 (páginas 79-83)