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4.4 Meio Ambiente Urbano: Recursos Legais e Instrumentais ao Alcance

4.4.4 Avaliação de estudo de impacto ambiental

Toda e qualquer atividade que, potencial ou efetivamente, ofereça riscos ao equilíbrio ambiental, deve submeter-se a um estudo prévio e conseqüente relatório de impacto ambiental (EIA/RIMA), consoante o art. 225, § Io, inciso IV, da Constituição Federal.

O licenciamento da obra ou atividade poluidora ou degradadora somente deverá ser concedido após a elaboração do EIA e do RIMA. “O estudo é de maior abrangência que o relatório e o engloba a si mesmo” .23 Já o RIMA reflete as conclusões do estudo de impacto. Através deles é possível apresentar um projeto paralelo de monitoramento dos impactos positivos e negativos, de prevenção e de reparo dos danos que a atividade ou obra poderá causar ao meio ambiente.

22 Em Porto Alegre/RS, a Lei Complementar n° 234/90 instituiu o Código Municipal de Limpeza Urbana. 23 MACHADO, Paulo Affonso Leme, op. cit., p. 121

A avaliação do estudo de impacto ambiental é medida de caráter preventivo, que se insere não só no planejamento das atividades diretamente relacionadas com o ambiente, como também no planejamento global da União, dos Estados e dos Municípios.

Trata-se de um instrumento da política de meio ambiente, que aparece, primeiramente, na Lei federal 6.803/80 (diretrizes básicas para zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição) e que deve orientar o estudo de impacto ambiental e oferecer alternativas de solução. Posteriormente, na Resolução 1/86, do Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA, foram definidas as responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes gerais para se exigir a avaliação de impacto ambiental.

O art. 2o, X da Resolução 01/86 prescreve que o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, como aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou perigosos, dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e, respectivo relatório de impacto ambiental - RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente (FATMA, em Santa Catarina) e do IBAMA (órgão federal), em caráter supletivo.

O Poder Público deve estar convicto de que não se trata apenas de cumprir uma formalidade ou justificar uma obra já aprovada, mas fazer cumprir um preceito constitucional. O teor do estudo deve ser divulgado, propiciando à população a oportunidade de seguir as medidas preventivas e corretivas que de fato impeçam a destruição atual ou futura de ecossistemas ou a degradação da qualidade de vida.

Essas observações são muito importantes quando se pensa na construção de um aterro sanitário ou de uma usina de reciclagem que é sempre vista com repulsa pela população circunvizinha à área do projeto pela falta de informações confiáveis quanto à segurabilidade do empreendimento.

Conforme Res. 1/86 do CONAMA, arts. 5o e 6o, o município deve exigir o estudo de impacto ambiental sempre que se fizer necessário, e ainda fixar “diretrizes adicionais que, pelas peculiaridades do projeto e características ambientais da área, forem julgadas necessárias, inclusive os prazos para conclusão e análise dos estudos” .

Desta forma, há a possibilidade da Administração ambiental formular, no início dos trabalhos, diretrizes para a equipe multidisciplinar, independentemente da solicitação de esclarecimentos posteriores ao estudo.

A equipe multidisciplinar, segundo o art. 17 da Lei 6.938/81, formada por pessoas físicas ou jurídicas que se dediquem à consultoria técnica sobre problemas ecológicos ou ambientais e à indústria ou comércio de equipamentos, aparelhos e instrumentos destinados ao controle de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras deve estar, obrigatoriamente, inscrita no Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental. Neste mesmo sentido, a Resolução 01/88 do CONAMA que, em seu art. 2o, fixa o prazo de noventa dias, contado a partir da publicação da resolução (publicada no DOU de 15.6.88), para essa inscrição. O descumprimento da lei acarreta responsabilidade do servidor público por omissão.

A equipe multidisciplinar habilitada, segundo a Resolução 01/86 do CONAMA, não deve depender, direta ou indiretamente, do proponente do projeto e será responsável tecnicamente pelos resultados apresentados.

Conforme assinala Paulo de Bessa Antunes, “a independência técnica deve ser total, não se admitindo vínculos entre esta e o proponente do projeto. Tal vínculo não precisa ser explícito, cabal. O que se pretende é afastar qualquer parcialidade da equipe técnica, qualquer suspeita, qualquer promiscuidade” .24

Paulo AfFonso Leme Machado,25 reportando-se a alguns juristas estrangeiros de renome, traz algumas considerações que julgamos de extrema procedência em sua obra:

M ichel Despax assinala: ‘é preciso que a reforma seja crível, que o estudo de impacto seja efetuado por organismo independente ou que, pelo menos, a Administração aja com extrema vigilância para controlar o conteúdo do estudo; a menos que os tribunais, eventualmente solicitados a conceder uma medida liminar, julguem que um estudo de impacto muito incompleto significa ausência de estudo de impacto Fr a n d s Caballero acentua que ‘quando o empreendedor apresenta sua própria avaliação, evidentemente, tem a tendência de minimizar os inconvenientes e maximizar as vantagens de seu projeto ’. M ichel Prieur afirma: ‘Para evitar que os estudos assim realizados pelo proponente do projeto sejam parciais e de um nível científico insuficiente, bastaria a instituição de um controle sério do conteúdo do estudo pelos poderes públicos em ligação com institutos científicos independentes. Isto está longe de ser, ainda, o caso no sistema francês ’.

24 Curso de Direito Ambiental, p. 339.

Cumpre assinalar, ainda, que, a despeito do EI A/RIM A ser, muitas vezes, usado para fins postergatórios, não é admissível que sejam desprezados pelos órgãos ambientais responsáveis pela concessão de licenças ambientais, sob pena de ser impetrada a competente ação civil pública contra o referido órgão que descumpre preceito constitucional (art. 225 § I o, IV da CF/88).

No tocante à competência legislativa, em matéria de estudo de impacto ambiental, podem surgir conflitos entre os entes federativos estadual e municipal e, neste sentido, remetemo-nos ao julgamento do TJRJ, 5a Câmara Cível, processo n° 759/90 que, ao julgar mandado de segurança impetrado com o objetivo de afastar a exigência de estudo prévio de impacto ambiental, formulada pela Municipalidade do Rio de Janeiro, para a realização de aterro sanitário já licenciado pela Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente - FEEMA, decidiu ser legal a exigência:

A sim ples circunstância de haver a autoridade estadual consentido na realização de obra não afasta a possibilidade de seu embargo pelo M unicípio, no pleno exercício de seu poder de polícia, para evitar a poluição do meio ambiente, constatada a necessidade de atendimento das exigências legais para o prosseguim ento da mesma obra. A s unidades federativas atuam de form a harmônica na proteção ao meio ambiente e o

seu fim comum é o bem-estar da coletividade administrada.26

Este entendimento vai de encontro à idéia de que o Município, ao planejar seu desenvolvimento, deve levar em conta sua capacidade de receber rejeitos de outros municípios, bem como avaliar sua própria capacidade de tratar os rejeitos de seus munícipes, tendo em vista que fatores geológicos, geográficos, climatológicos, hidrológicos, entre outros, limitam o crescimento do Município e indicam o número aceitável de pessoas que poderão utilizar-se de seus recursos naturais de forma sustentável27

4.4.4.1 Audiência pública

A Audiência Pública, prevista no art. 11, § 2o da Resolução 001/86 e Resolução 09/87, ambas do CONAMA, tem por finalidade expor aos interessados o conteúdo do produto em análise e o do RIMA (Relatório de Impacto Ambiental), dirimindo dúvidas e recolhendo dos presentes as críticas e sugestões a respeito.

A sua realização vai de encontro ao princípio ambiental constitucional da publicidade, previsto, explicitamente, no art. 225, § Io, IV da Constituição Federal,

preconizando que será dada publicidade ao estudo prévio de impacto ambiental.

Conclui-se, pois, que não só o RIMA deve ser debatido em audiência pública como também o próprio estudo de impacto ambiental.

Seguindo orientação da Constituição Federal, várias constituições estaduais previram a obrigatoriedade da audiência pública, e, entre elas, a de Santa Catarina, em seu art. 182, V.

A Resolução 09/87 possibilitou o requerimento da audiência pública por entidade civil, pelo Ministério Público ou por cinqüenta ou mais cidadãos, dispondo, ainda, em seu art. 2o, § 2° que, caso tenha sido regularmente solicitada e não realizada, a licença concedida não terá validade.

Com isso, verifica-se a importância que o legislador concedeu à audiência pública, enquanto instrumento de publicidade das decisões administrativas, embora o que se constata, na realidade, é a quase inobservância deste preceito legal.

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