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Da alteração constitucional da competência ambiental

4.3 A Competência dos Entes Federativos em Matéria Ambiental

4.3.1 Da alteração constitucional da competência ambiental

A CF/88 mudou, profundamente, o sistema de competência ambiental. A parte global da matéria ambiental deve ser legislada nos três planos - federal, estadual e municipal, isto é, a concepção meio ambiente não ficou na competência

da União, ainda que alguns setores do ambiente (águas, atividades nucleares e transporte) estejam na competência privativa deste ente federativo.

Houve equilíbrio na posição de competência. Não se permite mais que somente a União exerça os poderes de sanções sobre as empresas poluidoras, mesmo aquelas que representem considerável importância para a segurança e/ou o desenvolvimento econômico nacional, vez que a imposição de responsabilidade por dano ao meio ambiente é de competência concorrente da União, Estados e Distrito Federal.

A Constituição Federal previu dois tipos de competência para legislar com referência a cada um dos membros da Federação: a União tem competência privativa (art. 22) e concorrente (art. 24); os Estados e o Distrito Federal têm competência concorrente (art. 24) e suplementar (art. 24, § 2o); e os Municípios têm competência para legislar sobre assuntos de interesse local (art. 30, I) e para suplementar a legislação federal e estadual (art. 30, II).

No entender do jurista Diogo de Figueiredo Moreira Neto,15 um dos pioneiros no Direito Ambiental em nosso país, a competência extensível ou não exclusiva pode ser de três tipos: delegada, supletiva ou complementar (também chamada de suplementar). A delegada ocorre quando a entidade competente pode transferir a outra o exercício total ou parcial de sua competência ; a supletiva ocorre quando a entidade com competência concorrente tanto pode suprir a falta de norma que deveria ser baixada pela outra entidade originariamente competente, como dispor plenamente sobre o tema ainda não legislado e, ainda, apenas complementar as disposições já existentes. A competência complementar ou suplementar (art. 24, § 2o e 30, II) é aquela atribuída a uma entidade federada para desdobrar disposições já baixadas pela outra entidade originariamente competente, a fim de que esta

adapte algumas considerações a suas peculiaridades regionais ou locais.

Compete, pois, ao Município, conforme art. 30, I, legislar sobre assuntos de interesse local, aí incluídas, evidentemente, as tarefas de limpeza pública, coleta, transporte e disposição final dos resíduos sólidos e, art. 30, II, suplementar a legislação federa l e estadual no que couber.

15 MOREIRA, Diogo de Figueiredo Neto. A Competência Legislativa e Executiva do Município em Matéria Ambientalp. 15.

Com o advento da CF/88, está-se diante de campos legislativos diversos - o da generalidade, o da peculiaridade e o da localidade, isto é, interesse geral, interesse peculiar e interesse local são os campos respectivos da atuação legislativa da União, dos Estados e dos Municípios. O art. 24 § Io da CF prevê a generalidade da norma federal; o art. 24 § 3o prevê a peculiaridade da norma estadual e o art. 30, I prevê o interesse local da norma municipal.

Portanto, a norma federal não está em posição de superioridade sobre as normas estaduais e municipais simplesmente porque é federal. A superioridade da norma federal - no campo da competência concorrente - existe porque a norma federal é geral.

O tema limpeza pública é, notavelmente, de elevada importância ambiental com reflexos diretos na saúde da população, de tal modo que o legislador constitucional conferiu à União Federal competência para traçar normas gerais destinadas a garantir o controle da poluição e impedir a degradação do meio ambiente (art. 24, VI). Indiscutível, portanto, a submissão do tema disposição de resíduos sólidos ao regramento da legislação sanitária e ambiental.

O exame conjunto dos princípios e preceitos estabelecidos na Constituição Federal permite o entendimento segundo o qual o Município, mesmo em tema de vigilância sanitária, pode instituir o regramento necessário, desde que inserido no seu âmbito de atuação (interesse local) e subsumido às diretrizes gerais fixadas pela legislação federal e estadual, praticando a atividade legislativa complementar, no que couber.

Importa ressaltar, com efeito, que o ordenamento constitucional, em tema de tão elevada importância, não quis conferir a um único ente federativo a competência exclusiva para a administração dos problemas ligados ao controle ambiental e saúde pública, preferindo antes compor um quadro harmônico entre as competências federal, estadual e municipal.

A Lei Orgânica do Município de Florianópolis, estabelece, em seu art. 134, XIV, a incumbência do Poder Público Municipal da implementação de uma política setorial visando à coleta, transporte, tratamento e disposição final dos resíduos urbanos, inclusive, enfatizando os processos que envolvam a reciclagem, dispondo, ainda, em seu art. 96 que a execução de serviços públicos, sob competência municipal, será efetuada diretamente ou por delegação, sob regime de

concessão ou permissão, sempre através de licitação, impondo-se ao concessionário ou permissionário a qualidade do serviço prestado aos usuários.

No mesmo dispositivo legal, o art. 99, II, inserido no Capítulo II - Do Desenvolvimento Municipal, parte integrante do Título VI - Da Ordem Econômica, prescreve que a política de desenvolvimento municipal deve ser integrada e baseada nos aspectos sociais, econômicos, culturais e ecológicos, assegurando a ordenação territorial integrada aos valores ambientais. .

Esses objetivos estão estreitamente ligados ao adequado ordenamento e planejamento da disposição final dos resíduos sólidos produzidos no Município, tema de engenharia sanitária que envolve técnicas especiais e de alto custo.

Já a competência concorrente do Estado, em matéria ambiental, é de suplementar as normas gerais da União, ou, na falta delas, a competência será plena para atender às peculiaridades regionais. A edição posterior de normas gerais da União suspende a eficácia da lei estadual, no que esta for contrária. A norma estadual, portanto, pode ocupar o espaço das normas gerais até a sua edição, por tratar-se de competência legislativa concorrente.

Paralelamente à competência legislativa, há a competência comum ou administrativa (art. 23, CF). Essa competência atribuída à União, Estados, Distrito Federal e Municípios objetiva uniformizar o desenvolvimento e o bem-estar nacional. Assim, todo programa ou plano de desenvolvimento - federal, estadual ou municipal - deve atender às atribuições relacionadas nesse art. 23. Dentre elas, a de proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas (inciso VI).

Diz o art. 23 da CF:

“Art. 23 - É competência comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios:

VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;

VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;

IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico”.

Portanto, é comum à União, ao Estado e aos Municípios a competência de defender o meio ambiente e combater a poluição em todas as suas formas e

preservar a fauna, a flora e as florestas. Esta competência comum significa co- responsabilidade de atribuição e atuação.

A determinação, portanto, da CF, é a de que a competência comum cabe a todos os planos de administração do Poder Público: federal, estadual e municipal.

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