• Nenhum resultado encontrado

4.1 O Direito Ambiental Constitucional

4.1.7 O capítulo do meio ambiente Art 225

Como esclarecido anteriormente, o direito ambiental encontra seu núcleo normativo destacado no Capítulo VI do Título VIII que só contém o art. 225, com seus parágrafos e incisos. A inserção do direito ao meio ambiente no capítulo da ordem social lhe confere dimensão dos direitos sociais, “cujas características fundamentais residem na exigência de ação positiva do Estado. São direitos que cumprem uma função social. Por isso, ao Estado cabe vincular ações à disposição de meios materiais instrumentais capazes de operacionalizá-los em prestação positiva” .9

O art. 225 encerra toda a matéria do capítulo referente ao meio ambiente e, a partir de seus enunciados, destaca-se os pontos considerados relevantes e os princípios que nortearam o legislador constituinte no sentido de conferir validade e eficácia às decisões tuteladoras de um meio ambiente sadio e equilibrado.

Eis o texto do art. 225:

Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de

vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e fu tu ra s gerações. §1° - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder

Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

I V - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na form a da lei, as práticas

que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os anim ais a crueldade. §2° - A quele que explorar recursos minerais fic a obrigado a recuperar

o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na form a da lei.

§3° - A s condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoa fís ic a ou jurídica, a sanções penais e administrativas, independentem ente da obrigação de

reparar os danos causados.

§4° - A Floresta Am azônica brasileira, a M ata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal M ato-Grossense e a Zona Costeira são patrim ônio nacional e sua utilização far-se-á, na form a da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. §5° - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos

Estados, p o r ações discriminatórias, necessárias àproteção dos ecossistemas naturais.

§ 6 °- A s usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.

No entender de José Afonso da Silva,10 o ambiente, objeto de proteção do art. 225 da CF/88, é definido como sendo a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas, e discorre sobre os seus três aspectos:

I. meio ambiente artificial, constituído pelo espaço urbano construído,

consubstanciado no conjunto de edificações (espaço urbano fechado) e dos equipamentos públicos (ruas, praças, áreas verdes, espaços livres em geral: espaço urbano aberto);

II. meio ambiente cultural, integrado pelo patrim ônio histórico, artístico,

arqueológico, paisagístico, turístico, que, embora artificial, em regra, como obra do homem, difere do anterior (que também é cultural) pelo sentido de valor especial que adquire ou de que se impregnou;

III. meio ambiente natural, ou físico , constituído pelo solo, água, o ar

atmosférico, a flora, enfim, p e la interação dos seres vivos e seu meio, onde se dá a correlação recíproca entre as espécies e as relações destas com o ambiente fís ic o que ocupam (grifo nosso).

Após essa breve distinção dos elementos que compõem o ambiente, pode-se esquematizar três conjuntos de normas compreendidas no dispositivo referido, conforme o mesmo autor supra citado.

O primeiro acha-se no caput, onde se inscreve a norma-princípio, a norma-matriz, substancialmente reveladora do direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

O segundo encontra-se no § Io, com seus incisos, que estatui sobre os instrumentos de garantia da efetividade do direito enunciado no caput do artigo. Mas não se trata de normas simplesmente processuais, meramente formais. Nelas, aspectos normativos integradores do princípio revelado no caput se manifestam através de sua instrumentalidade. São normas que outorgam direitos e impõem deveres relativamente ao setor ou ao recurso ambiental que lhes é objeto. Nelas se conferem, ao Poder Público, os princípios e instrumentos fundamentais de sua atuação para garantir o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

O terceiro, finalmente, caracteriza um conjunto de determinações particulares, em relação a objetos e setores, referidos nos §§ 2° a 6o, notadamente o 4o, do art. 225, nos quais a incidência do princípio contido no caput se revela de

primordial exigência e urgência, dado que são elementos sensíveis que requerem imediata proteção e direta regulamentação constitucional, visto serem áreas e situações de elevado conteúdo ecológico que o constituinte entendeu que mereceriam, desde logo, proteção ambiental.

Os termos imediata proteção, desde logo, direta regulamentação constitucional caracterizam as normas que, por exemplo, cominam o dever de recuperar, integrante da função ambiental privada. As normas positivadas no § Io, como diz o doutrinador, não são normas simplesmente processuais, meramente formais. Ao contrário, nelas “aspectos normativos integradores do princípio revelado no caput se manifestam [. ..] conferem ao Poder Público os princípios e os intrumentos fundamentais de sua atuação” .11 Atuar para cobrar o cumprimento do dever imposto a todos, Poder Público e coletividade, como consta no caput.

Além de impor um dever, o dispositivo contém também uma norma- objetivo, qual seja, a de defender e preservar o ambiente ecologicamente equilibrado para as futuras gerações.

Nas normas-objetivo são definidas obrigações de resultado e não de meios. A opção pelos meios a serem adotados é dos destinatários da norma- objetivo. Eros Roberto Grau12 afirma serem elas dotadas plenamente de eficácia jurídica. As normas-objetivo, segundo ele, compõem os instrumentos normativos que operam a transformação de fin s sociais e econômicos em jurídicos. E não seria demais repetir, conforme Ihering, que não existe nenhuma norma jurídica que não deva sua origem a uma finalidade, isto é, a um motivo prático. Mas não é só isso, pois elas importam no comprometimento da atividade jurídica com os fins nelas inscritos, na necessidade de conferir-se aplicação teológica às normas de conduta e de organização.

Documentos relacionados