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2   O ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA COMO INSTRUMENTO PARA

2.2   Conceito e Objetivos do Estudo de Impacto de Vizinhança 33

2.2.2   A Avaliação de Impacto Ambiental 38

2.2.2.1 Breve Histórico da Avaliação de Impacto Ambiental no Brasil

O termo avaliação de impacto ambiental (AIA) foi trazido à realidade através da legislação ambiental americana, mais precisamente a National Environment Policy Act –

NEPA, a lei de política nacional do meio ambiente dos Estados Unidos (SÁNCHEZ, 2013, p.

40).

No Brasil, a primeira lei a tratar sobre a avaliação de impacto ambiental foi a Lei Federal n. 6.803, de 02 de julho 1980, que dispõe sobre as diretrizes básicas para o zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição e, em seu art. 10 § 3o, estabelece que a aprovação das zonas, além de outros estudos, será precedida de “estudos especiais de alternativas e de avaliações de impactos” (BELTRÃO, 2007, p. 33).

Posteriormente, a Política Nacional de Meio Ambiente, Lei Federal n. 6.938/1981, incorporou definitivamente a AIA ao ordenamento pátrio (SÁNCHEZ, 2013, p. 68). No entanto, em que pese ter previsto a sua existência, a aplicação da AIA ainda carecia de

 

 

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regulamentação, o que restou trazido pela Resolução Conama n. 1, de 23 de janeiro de 1986 (BELTRÃO, 2007, p. 34).

Em 1988, a exigência de Estudo de Impacto Ambiental foi categoricamente imposta como condição aos empreendimentos com significativo impacto através do comando constitucional imposto no artigo 225 da Carta Magna de 1988.

A realização de estudos ambientais no Brasil, todavia, remonta à década de 1970, quando estes foram exigidos não como requisito legal pela Administração Pública, mas pelo Banco Mundial como condição para a concessão de empréstimos para a construção das barragens de Sobradinho, no Rio São Francisco, em 1972 e Tucuruí, no Rio Tocantins, este realizado em 1977, um ano depois que a construção da barragem havia sido iniciada (SÁNCHEZ, 2013, p. 57/58).

A realização de estudos de impacto ambiental, portanto, se faz indubitável nos dias atuais. Mas, para a sua correta utilização, é indispensável que se tenha em mente o que se entende como “impacto ambiental”. É o que buscaremos a seguir.

2.2.2.2 O Conceito de Impacto Ambiental

A doutrina clássica do Direito Ambiental baseia seu entendimento do conceito de impacto ambiental a partir do texto do artigo 1o da Resolução CONAMA n. 1, de 23 de

janeiro de 1986, que aduz:

Artigo 1º - Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:

I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas;

III - a biota;

IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - a qualidade dos recursos ambientais.

Desta maneira, impacto ambiental é compreendido como toda ação ou omissão que ocasione alteração de alguma das condições primárias do ambiente em questão e, atrelado a este fato, implique em afetação da população, biota, atividades econômicas, recursos ambientais ou condições estéticas e sanitárias do meio ambiente.

Sendo assim, quase todas as ações humanas poderiam ser consideradas como impactantes, tornando, destarte, essencial ir além do conceito normativo para determinar

quando uma atividade deve merecer análise específica através de procedimento de avaliação de impactos ambientais – AIA.

Luiz Enrique Sánchez conceitua impacto ambiental como a “alteração da qualidade ambiental que resulta da modificação de processos naturais ou sociais provocada por ação humana” (SÁNCHEZ, 2013, p. 34) e traz outros conceitos também adotados pela doutrina técnica da área:

Qualquer alteração no meio ambiente em um ou mais de seus componentes – provocada por uma ação humana (Moreira, 1992, p. 113)

O efeito sobre o ecossistema de uma ação induzida pelo homem (Westman, 1985, p. 5)

A mudança em um parâmetro ambiental, num determinado período e numa determinada área, que resulta de uma dada atividade, comparada com a situação que ocorreria se essa atividade não tivesse sido iniciada (Wathern, 1988, p. 7) (SÁNCHEZ, 2013, p.29).

O referido autor ainda reforça o fato de que a conduta humana não é impacto, mas pode causá-lo. Assim, um shopping center não configura um impacto ambiental, mas a sua construção pode trazer impactos ambientais ao local e entorno. O impacto ambiental, portanto, “é, claramente, o resultado de uma ação humana, que é a sua causa” (SÁNCHEZ, 2013, p. 34).

Para Maria Célia Nunes Coelho, o impacto ambiental não deve ser visto como conduta isolada, estanque, mas como processo de mudanças ecológicas e sociais associadas:

Impacto ambiental é, portanto, o processo de mudanças sociais e ecológicas causado por perturbações (uma nova ocupação e/ou construção de um objeto novo: uma usina, uma estrada ou uma indústria) no ambiente. Diz respeito ainda à evolução conjunta das condições sociais e ecológicas estimulada pelos impulsos das relações entre forças externas e internas à unidade espacial e ecológica, história ou socialmente determinada. É a relação entre sociedade e natureza que se transforma diferencial e dinamicamente. (COELHO, 2001, p. 24/25)

A Avaliação de Impactos Ambientais, portanto, consiste em um processo de exame das consequências futuras de uma ação presente ou proposta (SÁNCHEZ, 2013, p. 45) e tais consequências não podem se limitar ao meio físico. A AIA pretende entender como aquele ambiente se transformará com a introdução de um caractere novo, representado pela implantação de um empreendimento. Tal transformação não se limitará ao meio biótico, mas alcançará o social, especialmente quando estamos diante de atividades urbanas.

O impacto ambiental a ser analisado via AIA é, portanto, não apenas o reflexo da conduta humana no meio físico, mas também no seio social e, para tanto, necessária a mudança de olhar sobre o meio ambiente urbano:

 

 

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A compreensão dos impactos ambientais como processo depende, sobretudo, de se compreender a história (não-linear) de sua produção, o modelo de desenvolvimento urbano e os padrões internos de diferenciação social. O estudo exaustivo e fragmentado do meio biofísico natural (clima, relevo, vegetação), de um lado, e do meio artificial (caracteres da população e condições de habitação, meios técnicos), de outro, acaba por resultar numa classificação intelectualmente passiva que separa impactos físicos dos impactos sociais. (COELHO, 2001, p. 35)

O homem faz parte do meio ambiente e, como tal, deve ser considerado no momento de avaliação de impactos ambientais de empreendimentos. No mesmo sentido se posiciona Luis Enrique Sánchez, para quem:

Na verdade, a distinção entre “sujeito” e “objeto” perde muito de seu sentido, haja vista a crescente artificialização do mundo natural.

(...)

Assim, sob um ponto de vista que, idealmente, coadune as visões e contribuições das diversas disciplinas para o campo do planejamento e gestão ambiental, deve-se buscar entender o meio ambiente sob múltiplas acepções: não somente como uma coleção de objetos e de relações entre eles, nem como algo externo a um sistema (a empresa, a cidade, a região, o projeto) e com o qual esse sistema interage, mas também como um conjunto de condições e limites que deve ser conhecido, mapeado, interpretado – definido coletivamente, enfim -, e dentro do qual evolui a cidade. (SÁNCHEZ, 2013, p. 22)

A realização, portanto, de uma Avaliação de Impactos Ambientais – AIA, deve levar em conta as relações das condutas humanas com a natureza em si e, ao mesmo tempo, o liame entre tais comportamentos e o meio social. Para tanto, essencial será a busca da territorialidade do impacto, sua temporalidade e extensão.

Por outro lado, é essencial frisar que a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) é gênero do que o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) é espécie. Portanto, além do EIA, há outras formas de avaliação de impacto, designadas genericamente de “estudos ambientais” (BELTRÃO, 2007, p. 35), dentre as quais se insere o Estudo de Impacto de Vizinhança.