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Resultados: panorama geral e demais aspectos questionados 118

3   ESTUDOS DE IMPACTO DE VIZINHANÇA NO MUNICÍPIO DE SALVADOR 45

4.3   Resultados: panorama geral e demais aspectos questionados 118

Os impactos de empreendimentos urbanos na paisagem são considerados como questões obrigatórias a todos os Estudos de Impacto de Vizinhança do país, nos termos do inciso VII do artigo 37 do Estatuto da Cidade. No entanto, 02 (dois) dos entrevistados se abstiveram de opinar acerca do tema, tendo os 16 (dezesseis) remanescentes aderido à hipótese, somando, assim, 100% (cem por cento) das respostas.

No que tange aos riscos ambientais, em que pese a cidade de Salvador ser conhecida por seus recorrentes deslizamentos de terras, que datam de desde o século XIX, consoante explanado em título anterior, nenhum dos critérios elaborados obteve a unanimidade de respostas positivas. Todavia, todos as 03 (três) medidas sugeridas contaram com o apoio da maioria dos entrevistados, ficando a análise do “risco à saúde e ao meio ambiente” no topo das medidas obrigatórias sugeridas.

4.3 Resultados: panorama geral e demais aspectos questionados  

O questionário elaborado foi respondido por 18 (dezoito) profissionais de nível superior que atuam diretamente na área de meio ambiente e urbanismo. Todos indicaram que conhecem ou já ouviram falar em Estudo de Impacto de Vizinhança e 17 (dezessete) ou 94,4%, concordam que o EIV é uma espécie de Avaliação de Impactos Ambientais, tendo apenas 01 (um) entrevistado informado que “não sabe responder” o referido quesito.

Com relação ao conceito de “meio ambiente urbano”, apenas um entrevistado pareceu não concordar com o termo, identificando-o como “conceito confuso e complicado” e um entrevistado o resumiu como “onde grande quantidade de pessoas moram”. Os demais foram

 

 

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unânimes em informar a inter-relação entre o natural e o construído, alguns apresentando, inclusive, a necessidade de proteção dos recursos naturais na cidade como conduta imperiosa.

A pesquisa realizada demonstrou, de modo geral, que a escolha das categorias de análise e critérios de avaliação de empreendimentos urbanos realizada com base na doutrina, legislação e entrevistas realizadas foi exitosa. Em sua grande maioria, os critérios obtiveram adesão generalizada dos profissionais que responderam aos questionários, tendo apenas como exceção o critério relacionado à paisagem urbana, que apresentou 02 (duas) abstenções.

Desta maneira, foi possível, através da pesquisa realizada, obter os parâmetros básicos e mínimos de avaliação ambiental de empreendimentos urbanos na cidade de Salvador.

Inicialmente, pudemos observar que a unanimidade dos entrevistados considerou como parâmetros obrigatórios os seguintes:

ÁGUA Impacto sobre o regime de escoamento das águas pluviais - drenagem urbana 18 100%

ASPECTOS BIÓTICOS Existência de vegetação especialmente protegida 18 100%

RESÍDUOS Geração e disposição final de resíduos sólidos 18 100%

Aplicando a margem de erro de aproximadamente 11,2% para 18 entrevistados, de acordo com uma população total estimada de 50 sociedades empresárias de consultoria urbanística e ambiental na cidade, pudemos, com auxílio da plataforma virtual de análises estatísticas Raosoft Sample Size Calculator (aplicativo disponível no sítio virtual http://www.raosoft.com/samplesize.html), alcançar os seguintes parâmetros majoritários (>50%):

ÁGUA:

Parâmetros incluídos:

Viabilidade EMBASA 14 77.8% - 66,6%

Impacto sobre o regime de escoamento das águas pluviais - drenagem urbana 18 100% - 88,8%

Solução para o esgotamento sanitário 16 88.9% - 77,7%

Impacto na recarga dos recursos hídricos subsuperficiais 13 72.2% - 61% Utilização de tecnologias alternativas de saneamento básico 12 66.7% - 55,5%

Utilização de reuso de água 16 88.9% - 77,7%

Utilização de tecnologias de consumo eficiente da água 17 94.4% - 83,2% Impacto da impermeabilidade na bacia hidrográfica 13 72.2% - 61% Parâmetros excluídos:

Absorção, pelo empreendimento e áreas abertas que o circundam, de toda a sua água pluvial. 10 55.6% - 44,4%

ASPECTOS BIÓTICOS

Parâmetros incluídos:

Alteração do microclima local 12 66.7% - 55,5%

Existência de vegetação especialmente protegida 18 100% - 88,8% Impacto sobre a fauna 15 83.3% - 72,1%

Redução de áreas verdes 15 83.3% - 72,1%

Proposta de proteção / melhoria dos recursos naturais existentes no imóvel 16 88.9% - 77,7%

Parâmetros excluídos: Nenhum

AR

Parâmetros incluídos:

Geração de ruídos e/ou vibrações 15 83.3% - 72,1% Geração de poluição atmosférica 17 94.4% - 83,2%

Impacto no sistema de ventilação em função da modificação do perfil do terreno e de suas características superficiais 15 83.3% - 72,1%

Emissão de poeira e material particulado durante o período de limpeza do terreno e movimentação de máquinas 16 88.9% - 77,7%

Impacto nas superfícies de absorção e reflexão da radiação solar, causando eventual impacto térmico e/ou luminoso 15 83.3% - 72,1%

Impacto no tráfego de veículos e das emissões de poluentes veiculares. 13 72.2% - 61%

Parâmetros excluídos: Nenhum

ENERGIA

Parâmetros incluídos:

Impacto na demanda por serviços públicos de distribuição de energia 14 77.8% - 66,6%

Utilização de fontes alternativas de produção de energia 15 83.3% - 72,1% Aproveitamento energético eficiente do empreendimento (Normas de eficiência energética) 14 77.8% - 66,6%

Parâmetros excluídos: Nenhum

SOLO

Parâmetros incluídos:

Observância do zoneamento local 14 77.8% - 66,7%

Alterações no uso do solo e de atividades na vizinhança 16 88.9% - 77,7% Parâmetros excluídos:

Alteração da morfologia do sítio 11 61.1% - 49,9%

Construção de acordo com a morfologia e topologia locais 11 61.1% - 49,9%

PAISAGEM

Parâmetros incluídos:

Impactos na paisagem urbana e nas áreas e imóveis de interesse histórico, cultural, paisagístico e ambiental 16 100% - 88,8%

Parâmetros excluídos: Nenhum

RESÍDUOS

Parâmetros incluídos:

 

 

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Geração e disposição final de resíduos da construção civil 17 94.4% - 83,2% Impactos na infraestrutura urbana de coleta de lixo 16 88.9% - 77,7%

Existência de programas de redução da produção de resíduos sólidos 13 72.2% - 61%

Existência de programas de reciclagem de resíduos sólidos 14 77.8% - 66,6%

Parâmetros excluídos: Nenhum

RISCO AMBIENTAL

Parâmetros incluídos:

Risco à saúde e ao meio ambiente 17 94.4% - 83,2% Risco de desastres ambientais 16 88.9% - 77,7%

Aumento do escoamento superficial e risco de erosão. 14 77.8% - 66,6% Parâmetros excluídos:

Nenhum

Dos parâmetros ambientais aplicados, portanto, apenas o denominado “absorção, pelo empreendimento e áreas abertas que o circundam, de toda a sua água pluvial”, com 44,4% de respostas positivas após aplicação da margem de erro; a “alteração da morfologia do sítio”, com 49,9% de respostas positivas com aplicação da margem de erro; e a “construção de acordo com a morfologia e topologia locais”, também com 49,9% de respostas positivas após a aplicação da margem de erro foram considerados minoritários e, consequentemente, retirados da relação de obrigatoriedade para estudos que tratem de empreendimentos urbanos.

Foi possível observar, ademais, que a legislação urbanística vigente possui lacunas de interpretação por parte dos profissionais da área, tendo em vista que diversos critérios legalmente obrigatórios não foram reconhecidos como tal no momento de resposta ao questionário.

Outrossim, restou comprovada a hipótese inicial da pesquisa, no sentido de que a avaliação de um empreendimento urbano deve levar em conta as nuances naturais, artificiais e sociais do local e entorno, não devendo o Estudo de Impacto de Vizinhança se ater aos impactos considerados como estritamente urbanísticos do empreendimento.

A ideia de facilitação de licenciamentos urbanísticos aos empreendedores que optarem por adotar condutas favoráveis ao meio ambiente, no entanto, não obteve aceitação unânime, tendo 03 (três) entrevistados negado esta possibilidade e um informado que “não sabe responder”.

No que tange aos aspectos examinados por intermédio do questionário aplicado, passemos à sua exposição geral, de acordo com as setorizações constantes do referido formulário:

01 – Qualificação do entrevistado 1.1 Escolaridade

1.2 Área de atuação

Os 03 (três) entrevistados que assinalaram o campo “outros” informaram as seguintes áreas de atuação:

- Licenciamento ambiental - Aluno

- Filantrópica da saúde pública

02 – Noção Geral

2.1 Você sabe o que é ou já ouviu falar em Estudo de Impacto de Vizinhança?

2.2 Caso sua resposta anterior tenha sido afirmativa, você considera que o Estudo de Impacto de Vizinhança é uma forma de Avaliação de Impactos Ambientais?

 

 

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2.3 O que você entende por “meio ambiente urbano”?

- Basicamente é a manifestação do conceito de meio ambiente aplicado ao sistema urbano, com suas peculiaridades.

- Todas as coisas e seres vivos e não vivos que compõe a área urbana, ou seja, das cidades. - Área de vida no contexto do ambiente urbano

- Ambiente com capacidade de reter grandes concentrações energia.

- Conjunto dos parâmetros ambientais que envolvem os meios físico, biótico e socieconômico na cidade.

- Todo sistema funcional dentro de uma cidade urbana. O meio ambiente é tudo que envolve um determinado local (Árvores, Animais racionais e irracionais, Vegetação, Rios, Lagos, Solo, Pedras, Ar, Clima, ....) e que por dependência mútua se relacionam de forma natural ou não natural.

- Meio Ambiente onde o principal meio envolvido é o socioeconômico, sem, no entanto, desconsiderar os fatores bióticos e físicos.

- O meio ambiente integrado ao meio urbano de forma harmônica. - Onde grande quantidade de pessoas moram

- Conceito confuso e complicado. a própria cidade

- Engloba todos os meios bióticos e abióticos, meios físicos,químicos sociais da zona urbana, e suas facetas para uma boa gestão.

- Harmonização entre as necessidades e a qualidade de vida dos habitantes de núcleos urbanos com a imperiosa preservação e conservação dos recursos naturais disponíveis

- É um ambiente artificial transformado pelo homem para suprir as suas necessidades. Este Ambiente quando sofre expansão desenfreada sem qualquer estudo tem a probabilidade de cem porcento de ter problemas ambientais.

- Entendo como o ambiente que sofre interferência humana, transformando em um ambiente com obras/exitência de vias, locomoção, habitação etc.

- É a adoção de diretrizes e conceitos da sustentabilidade sustentável entre as atividades urbanas e o meio ambiente.

- Um ambiente estruturado para grandes concentrações de pessoas onde se busca obter vida com qualidade por meio de instrumentos e serviços produzidos pelo ser humano, em parte provenientes do ambiente rural. Alguns autores conseguem distinguir um ambiente não urbano e não rural - uma transição.

- Meio ambiente urbano se constitui em um ambiente artificial, transformado pelo ser humano conforme suas necessidades, caracterizando as aglomerações urbanas, que vão se reestruturando na medida em que a sociedade se modifica, e, em inúmeras etapas do processo histórico, as cidades assumem formas e características distintas.

- Local de interação entre aspectos ecológicos, sociais, econômicos, culturais, políticos e especiais que envolvem diretamente a transformação do ambiente pelo homem.

04 – Conclusão

4.1 Você acha que programas de utilização eficiente e sustentável dos recursos naturais deveriam ser incentivados ao empreendedor através de uma facilitação no procedimento de licenciamento urbanístico?

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

   

Antes de enunciarmos as conclusões finais, faz-se necessário tecer algumas considerações, a fim de dar unidade ao presente e permitir que as alcancemos da forma mais próxima possível da realidade.

Inicialmente, gostaríamos de trazer a noção de urbanismo sustentável de Douglas Farr, a qual parece se adaptar perfeitamente aos objetivos aqui buscados:

Reduzido aos seus princípios mais básicos, o urbanismo sustentável é aquele com um bom sistema de transporte público e com a possibilidade de deslocamento a pé integrado com edificações e infraestrutura de alto desempenho. A compacidade (densidade) e biofilia (acesso humano à natureza) são valores centrais do urbanismo sustentável.

(...)

O urbanismo sustentável usa os conhecimentos dos sistemas humanos e naturais para integrar o urbanismo que prioriza o pedestre e o transporte público com edificações de alto desempenho e a infraestrutura de alto desempenho (FARR, 2013, p. 28 e 55).

O conceito acima exposto se mostra importante na medida em que a elaboração e realização de um Estudo de Impacto de Vizinhança adequado não serão a solução completa para o alcance da tão almejada cidade sustentável. O urbanismo sustentável vai além do simples desenho urbano, da implantação de um sistema de transporte público eficiente e plural ou da busca pela construção de empreendimentos de alto desempenho, etc. A ideia que aqui se propõe é que o Estudo de Impacto de Vizinhança é apenas um dos diversos instrumentos da política para o alcance das cidades sustentáveis.

Ressalte-se, ademais, que o EIV possui executividade municipal e é o Município que deve determinar o seu alcance e hipóteses de incidência. Não é todo e qualquer empreendimento urbano que se sujeitará ao Estudo de Impacto de Vizinhança. Apenas aqueles com significativo impacto urbano estarão sujeitos à utilização do instrumento e é o Município que determinará que significativos impactos serão estes.

Antônio Beltrão vai além do que aqui se afirma, para, tratando mais especificamente do Estudo de Impacto Ambiental, asseverar que um instrumento desta espécie não protege o ambiente por si, mas apenas informa o procedimento a serviço do agente decisório:

Portanto, o EIA, por si próprio, não protege o meio ambiente. Tal procedimento não impõe nenhum comando sobre preservação ambiental ou controle da poluição. Logo, não se trata de uma norma ambiental substantiva, mas procedimental. O EIA consiste em um procedimento

pragmático que objetiva tornar acessível ao agente decisório todas as informações relevantes sobre os potenciais impactos que o projeto proposto poderá ocasionar. (BELTRÃO, 2007, p. 16)

Rogério Rocco, por sua vez, traz a natureza jurídica híbrida do Estudo de Impacto de Vizinhança, para concluir que este pode ser considerado, além de uma norma procedimental, como verdadeiro direito subjetivo dos citadinos a uma cidade sustentável:

Portanto, temos no Estudo de Impacto de Vizinhança um instituto de natureza jurídica híbrida, que incide como limitação administrativa, ao mesmo tempo que se caracteriza como direito subjetivo ao exercício da cidadania para a gestão da sustentabilidade das cidades – como devidamente assegurado pelo princípio constitucional da função social da propriedade. (ROCCO, 2009, p. 40)

Ultrapassando as questões eminentemente jurídicas acerca do Estudo de Impacto de Vizinhança –que estão fora do escopo do presente estudo - , podemos ainda aduzir, em sede de considerações finais, que a aplicação de instrumentos de defesa do urbanismo sustentável não se deve amparar única e exclusivamente em um conteúdo legal. O Administrador Público, ao se deparar com um empreendimento de significativo impacto, possui liberdade para ir além da lei e exigir estudos detalhados e específicos que se adequem à realidade circunstancial.

Douglas Farr, ao tratar do conteúdo de estudos urbanísticos nos Estados Unidos, afirma que praticamente toda a urbanização dispersa, que contribui para as mudanças climáticas e que é hostil aos pedestres nos EUA, foi desenvolvida legalmente de acordo com os planos abrangentes e zoneamento (FARR, 2013, p. 50).

Assim, faz-se imperativo ir além do que determina cegamente a legislação. É imprescindível que o Administrador Público utilize do poder discricionário a ele concedido para aplicar o Estudo de Impacto de Vizinhança da forma mais útil possível. É forçosa a real utilização do EIV enquanto instrumento que busca a sustentabilidade urbana e não como mera fase do procedimento de licenciamento urbanístico de empreendimentos de significativo impacto.

Utilizando das palavras de Luis Enrique Sánchez podemos afirmar que:

As pessoas encarregadas da tomada de decisões, públicas ou privadas, decidem acerca daquilo que lhes é submetido. Os tomadores de decisão raramente também são criativos, inovadores ou empreendedores. Logo, a prevenção do dano ambiental não pode começar pelo fim (a tomada de decisão), mas, é claro, pelo começo, ou seja, a formulação, a concepção e a criação de projetos e alternativas de soluções para determinados problemas. Assim, a função do processo de AIA seria a de incitar os proponentes a conceber projetos ambientalmente menos agressivos e não simplesmente julgar se os impactos de cada projeto são aceitáveis ou não. O que tradicionalmente fazem engenheiros e outros técnicos é reproduzir, para cada novo problema, maneiras de solucioná-los que atendem a certos critérios técnicos e econômicos, enquanto o que se pretende com a AIA é introduzir o

 

 

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conceito de viabilidade ambiental e coloca-lo em pé de igualdade com os critérios tradicionais de análise de projeto. A AIA tem a capacidade de estruturar a busca de soluções que possam atender aos novos e mais exigentes critérios ambientais, o que, idealmente, resultaria em aprendizagem e, consequentemente, em projetos que levassem em conta os aspectos ambientais desde sua concepção. (SÁNCHEZ, 2013, p. 104)

Muitos desafios ainda se mostram e se mostrarão, à medida em que forem sendo implementados os instrumentos de execução do planejamento urbano, a exemplo do Estudo de Impacto de Vizinhança. No entanto, é inegável a sua evolução como ferramenta de busca a um urbanismo sustentável, que se mostra cada dia mais eficaz na busca do desenvolvimento das cidades.

Os desafios mencionados se mostraram presentes, inclusive, na pesquisa que aqui se apresenta, na medida em que esta possui limitações de ordem espacial, haja vista ter se limitado à cidade de Salvador; temporal, por se tratar de análise presente sujeita às alterações legislativas e doutrinárias subsequentes; e de recursos, tendo em vista que uma dissertação de mestrado é elaborada no intervalo de 02 (dois) anos, com recursos particulares para sua realização.

Mesmo assim, com todas as dificuldades e limitações encontradas no decorrer da elaboração da presente, foi possível alcançar conclusões bastante exitosas, sobre as quais passa-se a discorrer.

As questões relativas ao meio ambiente e às cidades, em que pese terem sido por muitos anos segregadas em modelos de defesa distintos, agora se unem diante da construção de um marco legal regulatório uno (Estatuto das Cidades) e através de políticas públicas que buscam a participação popular, numa sintonia temporal e administrativa que demonstra que não há mais espaço para setorizações.

Desta forma, buscamos um conceito de meio ambiente que pudesse abarcar tanto a natureza em si quanto a cidade, haja vista entenderemos que a cidade é natureza e sua defesa passa, necessariamente, pela compreensão da luta por um meio ambiente sadio e equilibrado.

Para a legislação nacional, o meio ambiente é conceito complexo e interrelacional, que traz consigo elementos naturais, normativos, físicos e biológicos. O conceito de cidade, por sua vez, não vem descrito em qualquer texto legal, sendo sua construção uma atividade constante da doutrina, haja vista as vicissitudes, complexidades e dinamismos intrínsecos ao objeto.

A partir dessas ideias iniciais, construímos um conceito de meio ambiente urbano que pudesse englobar toda a complexidade urbana, para perceber além dos equipamentos

construídos, atingindo aquelas áreas especialmente protegidas e alcançar um sistema complexo, que envolve o social e o natural, a denominada “socionatureza”.

Tendo em vista que o ambiente citadino comporta a coexistência relacional e equilibrada entre o natural e o construído, expusemos uma nova visão do meio ambiente urbano, atrelada a uma nova ética de respeito à natureza em si e tutela das relações dos homens entre si e com a natureza.

Neste contexto, aplicamos a denominada “função socioambiental da propriedade urbana”, que insere também o meio ambiente como aspecto essencial a ser levado em conta no momento de decisão para a implantação de empreendimentos urbanos.

A partir do conceito de meio ambiente urbano e da nova função socioambiental da propriedade urbana, alcançamos o conceito de Estudo de Impacto de Vizinhança como um instrumento de política urbana que visa à tutela do bem estar social, materializado em documento técnico exigido por lei municipal para a concessão de licenças urbanísticas para a implantação de empreendimentos e atividades públicas ou privadas com significativo impacto em área urbana, cujo objetivo busca conciliar interesses geralmente conflitantes, que são, de um lado, o interesse na realização de construções e, de outro, o interesse da cidade na realização daquelas construções.

O EIV se apresenta, destarte, como um instrumento que permite conciliar os interesses relativos ao proprietário e ao desenvolvimento com a proteção e o ordenamento do meio ambiente urbano, em especial no que tange à vizinhança, prevendo os impactos negativos que o empreendimento ou atividade pode vir a causar às suas adjacências. Neste ínterim, o EIV objetiva a promoção do desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade, garantindo a qualidade de vida dos habitantes urbanos.

Para possibilitar a aplicação prática do EIV faz-se necessário determinar a extensão dos impactos na implantação de empreendimentos e atividades no ambiente urbano, o que exige, em primeiro lugar, a averiguação do incômodo ou benefício da população. Ou seja, o conceito de vizinhança passa, necessariamente, pelo conceito de sociedade civil.

O conceito primordial de sociedade civil deve conceber os diversos anseios e desejos de um povo, representado através de parcela da sua população direta ou indiretamente afetada por determinada atividade. Assim, a sociedade civil deve ser composta por dissensos, diferenças e clamores, os quais, quando olhados através de uma perspectiva ampla e harmonizadora, devem fazer emergir o chamado “bem comum”.

O Estudo de Impacto de Vizinhança deve ser interpretado como instrumento averiguador de impactos de atividades no meio urbano, classificado como espécie de

 

 

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Avaliação de Impactos Ambientais – AIA, devendo, portanto, proceder à análise não apenas da perturbação do novo empreendimento à urbe, mas a todo o contexto no qual este se localiza. O Estudo de Impacto de Vizinhança deve antever os impactos dos empreendimentos no meio ambiente urbano como um todo, abrangendo os abalos físicos e sociais e as relações