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3   ESTUDOS DE IMPACTO DE VIZINHANÇA NO MUNICÍPIO DE SALVADOR 45

4.2   Escolha das categorias de análise – scoping e resultados alcançados 82

4.2.7   Paisagem Urbana e Riscos Ambientais 115

A paisagem urbana, em que pese ser um tema de altíssima relevância, não é o objeto central do presente estudo. Sua inserção na qualidade de categoria de análise foi realizada tendo em vista a sua inclusão no Estatuto da Cidade como matéria obrigatória do EIV e em virtude de sua aproximação com o tema do ambiente natural. Por estas razões, as explanações aqui se farão de maneira breve, no intuito de localizar o leitor no tema, mas sem a intenção de esgotá-lo.

De acordo com José Afonso da Silva:

Paisagem urbana é, assim, a roupagem com que as cidades se apresentam a seus habitantes e visitantes. Será tão mais atraente quanto mais constitua uma transformação cultural da paisagem natural do seu sítio, e tanto mais agressiva quanto mais tenham violentado a paisagem natural, “sem acrescentar-lhe valor humano algum” (SILVA, 2012, p. 302)

Em entrevista realizada com arquiteto e urbanista especialista na realização de Estudos de Impacto de Vizinhança e elaboração de Planos Diretores, elaboramos 03 (três) perguntas distintas acerca da paisagem. As perguntas e respostas seguem abaixo transcritas:

Pergunta 02 – Você considera que a análise de um empreendimento sujeito ao EIV deve passar pela averiguação dos impactos na paisagem urbana? Por quais razões?

Sim. A paisagem é um dos elementos fundamentais da ecologia urbana ou natural. A paisagem é uma forma de apreensão cultural. É a primeira instância do nosso senso de reconhecimento, pertencimento e bem estar. Relacionada diretamente à visão, mas também fortemente imbricada às relações de percepção climática, interação com o lugar, conexão cultural e social.

Interferir na paisagem é interferir na nossa primeiridade perceptiva dos aspectos semiológicos da nossa cultura.

Pergunta 03 – No que tange à análise de empreendimentos urbanos, com o objetivo de concessão de licenças urbanísticas, quais os critérios relativos aos impactos na paisagem urbana que são levados em consideração pela URBE?

Depende muito do entorno, mas em geral avaliamos todos os aspectos topológicos. Partimos da consideração dos signos culturais, de como a cidade já interage previamente com aquele espaço, como a comunidade utiliza equipamentos similares e como ele deve interagir com a paisagem preexistente.

A partir dessas considerações, que são de âmbito mais abstrato, partimos para os estudos físicos. A topografia, o “skyline” e as principais visuais dentro do perímetro de interferência são avaliados a partir de seções.

Também levantamos os pontos notáveis da paisagem preexistente e avaliamos as interferências. Esses pontos podem ser monumentos, arquiteturas, visuais, entre outros.

De forma indireta, mas a partir do mesmo estudo de paisagem, é possível verificar as interferências climáticas (ventilação e sombreamento) a partir de gráficos de insolação e anemogramas.

Pergunta 04 – Quais os critérios – além daqueles já utilizados – você consideraria essenciais para a análise de um empreendimento urbano no que diz respeito aos impactos na paisagem urbana?

Além de todos abordados nas respostas anteriores, a manutenção sempre que possível dos aspectos tradicionais da paisagem são essenciais. Isso não inclui apenas as preexistências arquitetônicas históricas, mas uma avaliação profunda sobre a memória do lugar.

No que tange à categoria “riscos ambientais”, sua análise leva em conta as vulnerabilidades de um local e, em regra, estará associada a assentamentos informais, razão pela qual sua importância perde força quando estamos diante de empreendimentos sujeitos ao EIV. Os riscos ambientais mais frequentes estão relacionados à falta de sistema de drenagem de águas pluviais, ocupação de morros e encostas, escassez de recursos hídricos ou ocupação de áreas contaminadas.

De acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente:

Verifica-se, no Brasil, a proliferação de assentamentos informais nas cidades em locais de risco, ambientalmente sensíveis ou de preservação obrigatória, em decorrência de sua exclusão das áreas legalmente urbanizadas, tornando difícil a sua legalização e integração nas cidades. Segundo dados da Política de Regularização Fundiária Urbana Sustentável do Ministério das Cidades, de 2010, todas as cidades com mais de 100 mil habitantes (60% da população brasileira) e 80% das cidades entre 100 e 500 mil habitantes possuem assentamentos precários, 4 em cada 10 domicílios são precários, 12 milhões de domicílios de baixa renda estão em situação de inadequação habitacional e há um déficit habitacional de 6 a 8 milhões de domicílios. Os assentamentos informais estão sujeitos a riscos e vulnerabilidades ambientais: degradação do solo suscetível à erosão com deslizamentos de terra, enchentes, poluição e escassez dos recursos hídricos, e por fim, a diminuição da biodiversidade nas periferias urbanas.

Segundo a PNSB de 2008, 34,7% dos municípios brasileiros total têm, em seu perímetro urbano, áreas de risco que demandam drenagem especial. Os tipos mais encontrados e suscetíveis a riscos no perímetro urbano são as áreas sem infraestrutura de drenagem (62,6%) e as áreas de baixios (depressões) sujeitas a inundações e/ou proliferação de transmissores de doenças (56,8%).

(...)

É necessário que o planejamento urbano no Brasil utilize cenários de vulnerabilidades previstos pelo Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), com a finalidade de identificar os espaços e as situações com maior potencial de riscos à população e à própria infraestrutura urbanística: encostas de morros, áreas no entorno dos corpos d'água, áreas impermeabilizadas sem redes de drenagem adequadas. Assim, se aplicados em situações peculiares de cada localidade, com ações de justiça ambiental e

 

 

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tecnologias apropriadas, será possível mitigar possíveis danos e riscos às realidades existentes e evitar a geração de novas vulnerabilidades29.

Da mesma forma com a qual lidamos com a paisagem urbana, trouxemos a categoria de riscos ambientais pela sua elevada menção na doutrina, mas atentos ao fato de que a visão aqui proposta é preventiva e não mitigadora de riscos, o que nos fez tratar sem grande profundidade do tema.

4.2.7.1 Resultado da pesquisa

Da análise da legislação e doutrina, bem como da entrevista realizada com o arquiteto e urbanista especialista, pudemos extrair os seguintes critérios, relacionados com a paisagem urbana:

- Impactos na paisagem urbana e nas áreas e imóveis de interesse histórico, cultural, paisagístico e ambiental

No que tange aos riscos ambientais, estes foram os critérios adotados em nossa pesquisa:

Risco à saúde e ao meio ambiente Risco de desastres ambientais

Aumento do escoamento superficial e risco de erosão.

 

  Após a elaboração e aplicação dos questionários, obtivemos os seguintes resultados relacionados aos temas presentes:

 

 

  No campo “outros” obtivemos a sugestão de inclusão do critério “estudo de sombra e iluminação”.

                                                                                                               

29 Informações disponíveis no sítio virtual do Ministério do Meio Ambiente. Disponível em

http://www.mma.gov.br/images/arquivo/80058/Produtos_Consultores/Carolina%20Herrmann%20-

%20CONSOLIDACAO%20DE%20PROPOSTA%20DE%20DIRETRIZES%20AMBIENTAIS%20PARA%20 O%20DESENVOLVIMENTO%20DE%20%20CIDADES%20SUSTENTAVEIS.pdf . Acesso em 20 de janeiro de 2016.

 

Os impactos de empreendimentos urbanos na paisagem são considerados como questões obrigatórias a todos os Estudos de Impacto de Vizinhança do país, nos termos do inciso VII do artigo 37 do Estatuto da Cidade. No entanto, 02 (dois) dos entrevistados se abstiveram de opinar acerca do tema, tendo os 16 (dezesseis) remanescentes aderido à hipótese, somando, assim, 100% (cem por cento) das respostas.

No que tange aos riscos ambientais, em que pese a cidade de Salvador ser conhecida por seus recorrentes deslizamentos de terras, que datam de desde o século XIX, consoante explanado em título anterior, nenhum dos critérios elaborados obteve a unanimidade de respostas positivas. Todavia, todos as 03 (três) medidas sugeridas contaram com o apoio da maioria dos entrevistados, ficando a análise do “risco à saúde e ao meio ambiente” no topo das medidas obrigatórias sugeridas.

4.3 Resultados: panorama geral e demais aspectos questionados  

O questionário elaborado foi respondido por 18 (dezoito) profissionais de nível superior que atuam diretamente na área de meio ambiente e urbanismo. Todos indicaram que conhecem ou já ouviram falar em Estudo de Impacto de Vizinhança e 17 (dezessete) ou 94,4%, concordam que o EIV é uma espécie de Avaliação de Impactos Ambientais, tendo apenas 01 (um) entrevistado informado que “não sabe responder” o referido quesito.

Com relação ao conceito de “meio ambiente urbano”, apenas um entrevistado pareceu não concordar com o termo, identificando-o como “conceito confuso e complicado” e um entrevistado o resumiu como “onde grande quantidade de pessoas moram”. Os demais foram