• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III – CAMPO, CONTEXTO E ATORES

3.1 AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL PARTICIPATIVA (AIP): O CASO DE

Dado o interesse em conhecer e investigar o tema da participação juvenil no ambiente escolar – interesse que surgiu de uma experiência enquanto professor orientador no processo de constituição do Grêmio Estudantil na escola onde ainda leciono – a recente experiência em curso das Comissões Próprias de Avaliação (CPA), mecanismo institucional de avaliação participativa das escolas municipais de Campinas – SP, se mostrou interessante para um trabalho empírico acerca da participação dos estudantes dos últimos anos do Ensino Fundamental nessas comissões. A aproximação em relação ao caso se deu por intermédio da Prof.ª Dr.ª Dirce Pacheco e Zan da Faculdade de Educação da UNICAMP. Ainda no início da pesquisa, em meados do ano de 2012, realizamos uma conversa informal na qual a pesquisadora apontou o caso como um campo propício para o estudo pretendido, dada a especificidade “participativa” dessa proposta de Avaliação Institucional, que contaria com a participação de adolescentes, e também pela sua novidade, já que havia sido recentemente implantada no município, no ano de 2008 (SORDI & SOUZA, 2009). A partir de então, foi realizado um estudo bibliográfico preliminar sobre o caso, a fim de conhecer melhor o sistema de AIP do município, seus fundamentos teórico-metodológicos e práticos, bem como as primeiras experiências relatadas.

Nessa pesquisa bibliográfica e documental, verificou-se que, de acordo com os princípios constitutivos da proposta de AIP do município (CAMPINAS, 2003, 2007; SORDI & SOUZA, 2009), chama a atenção seu reiterado posicionamento político de se lançar na contramão de um modelo hegemônico e disseminado de Avaliação. Enquanto este teria como

objetivo estimular a competição entre os avaliados, a proposta do município se propõe como um novo paradigma no campo da avaliação, sendo concebida como um processo de reflexão coletiva para a auto-organização das unidades escolares. Guiado pelos princípios da qualidade negociada, da participação e da emancipação, o sistema prevê a existência de uma Comissão Própria de Avaliação (CPA) em cada escola, que deve ser composta pelos diversos atores envolvidos no processo escolar (estudantes, docentes, famílias, funcionários/as, gestores/as), e tem como principal objetivo inclui-los no processo de avaliação institucional da unidade escolar.

Em prefácio de publicação22 que visa lançar referências para a experiência de AIP na cidade de Campinas, o professor e pesquisador da Faculdade de Educação da UNICAMP, Luiz Carlos de Freitas, descreve o sistema como fruto de um trabalho que visa a desenvolver os processos de mediação necessários para que os sistemas de avaliação se constituam como forma de mobilização dos atores escolares para a negociação de patamares de qualidade cada vez mais elevados. Nesse sentido, a partir de um discurso contrário à lógica empresarial das políticas de avaliação correntes, que produzem dados para ranquear, classificar, premiar e punir os avaliados, a Secretaria Municipal de Educação (SME) de Campinas, em parceria com o Laboratório de Observação e Estudos Descritivos (LOED) da mesma Faculdade de Educação da UNICAMP, pretende instaurar um novo paradigma de avaliação no âmbito da rede municipal de educação escolar.

Guiada pelo princípio da qualidade negociada, a avaliação educacional deverá, então, ser um processo de reflexão coletiva, onde os dados produzidos seriam usados pelos interessados na geração de processos de reflexão local e melhoria da escola, sendo, assim, um processo construtivo e global, que envolveria participantes internos e externos e deve combinar autoavaliação, avaliação por pares e também olhar externo dos órgãos administradores e de pesquisa (SORDI e SOUZA, 2009).

O modelo de avaliação da proposta ancorou-se nas premissas do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) do Ministério da Educação (MEC), portanto é composto pelos processos de avaliação interna, avaliação externa e um sistema de avaliação de desempenho de alunos. Porém, como não se pretende fazer um estudo da proposta de avaliação em si, mas da participação dos jovens no contexto de sua implementação, se faz necessário compreender um pouco mais detalhadamente no que consiste e como funciona o

22 SORDI, M. R. L.; SOUZA, E. S. A avaliação institucional como instância mediadora da qualidade da

escola pública: a Rede Municipal de Campinas como espaço de aprendizagem. Campinas, SP : Secretaria de

processo de avaliação interna do qual participam os adolescentes investigados.

Em cada unidade escolar administrada pelo município há uma a Comissão Própria de Avaliação (CPA), que é formada pelos diversos segmentos envolvidos no processo escolar e deve fazer, de forma processual, a avaliação institucional interna da escola. Para uma definição conceitual do que é a CPA, quais suas atribuições e objetivos, Sordi e Souza (2009) esclarecem:

A CPA identifica as fortalezas e debilidades institucionais, com críticas e sugestões de melhoramento ou de providências a serem tomadas (seja pela própria instituição por meio da ação dos seus atores seja por meio de órgãos da SME); sistematiza informações, analisa coletivamente os significados de suas realizações, desvenda formas de organização, administração e ação, identifica pontos fracos, bem como pontos fortes e potencialidades, e estabelece estratégias de superação de problemas, de análise, interpretação e síntese das dimensões que definem a escola. (idem, pp. 56-7)

Ainda com as autoras, as CPA são formadas pelos diversos segmentos envolvidos no processo escolar de cada escola em que se situam, visando a integração e a participação da comunidade escolar num processo de avaliação institucional descentralizado e participativo. Dessa forma, com vistas à democratização da gestão escolar, gestores, diretores, coordenadores, professores, funcionários e estudantes com seus pais e mães são convidados a participar de espaços de construção coletiva no âmbito da CPA.

Contrários à lógica administrativa privada de gestão que propõe mudanças a partir de processos de decisão restritos ao topo do sistema ou aos poderes centrais, o sistema de AIP em questão toma os princípios da participação e da emancipação como orientadores do processo de avaliação, a fim de promover o controle social da educação, como bem público, realizado a partir da auto-organização das unidades escolares. Assim, este trabalho partiu do interesse em observar a atuação dos jovens alunos nessas comissões, bem como questionar os sentidos que atribuíam a suas experiências de participação nesses espaços institucionalizados, nas diferentes formas em que se configuram nas duas escolas em que as análises foram realizadas. Porém, como se verificou que os sentidos da escola e as experiências de participação se davam para além do espaço das CPA, a análise migrou para outros espaços e indagou a relação desses jovens com a participação entre os espaços institucionalizados e os espaços não institucionalizados em que construíam suas experiências juvenis.