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CAPÍTULO 5 – ANÁLISE DA ALIMENTAÇÃO DOS JANGADEIROS E

5.4 Avaliação nutricional dos jangadeiros de Ponta Negra

Com o objetivo de se conhecer e avaliar a saúde dos jangadeiros de Ponta Negra, sob o aspecto nutricional, foi realizado, nos dias 25 de julho e 01 de Agosto de 2009, uma avaliação nutricional com os jangadeiros da Região. Segundo Hammond (2002), a avaliação nutricional é a: “Ciência que determina o estado nutricional por meio da história da análise da história médica, dietética e social do indivíduo; dados antropométricos; dados bioquímicos e interação droga-nutriente”

Para Cuppari (2005) com os resultados dos procedimentos de avaliação nutricional é possível realizar correlações mais fidedignas entre as necessidades nutricionais adequadas ao indivíduo e o seu desempenho no trabalho. A autora ainda completa afirmando que, por meio desta análise, também é possível identificar os distúrbios nutricionais causados pela baixa ingestão de alimentos ou o excesso deste, possibilitando uma intervenção adequada de forma a auxiliar na recuperação e/ou manutenção do estado de saúde do indivíduo.

Para realizar a avaliação do estado nutricional dos jangadeiros de Ponta Negra foi escolhido o método antropométrico por este apresentar alta confiabilidade, ser de fácil execução, não-invasivo e de baixo custo (VITOLO, 2008; NACIF e VIEBIG, 2007). A antropometria compreende a mensuração do tamanho corpóreo e de suas proporções, sendo as medidas mais utilizadas neste tipo de avaliação o peso, a estatura, as dobras cutâneas (bicipital, tricipital, subescapular e supra-ilíaca) e as circunferências (braço, cintura, quadril e abdome) (KAMIMURA et al, 2005). De acordo com Nacif e Viebig (2007), a avaliação antropométrica no adulto deve ser realizada de forma global, levando-se em consideração além destas medidas, os índices antropométricos: Índice de Massa Corpórea (IMC) e Relação Cintura- Quadril (RCQ), os quais, segundo Heyward e Stolarczyk (2000), identificam indivíduos em risco de doenças.

Dessa forma, a avaliação nutricional dos jangadeiros de Ponta Negra constou com a mensuração das seguintes medidas: peso (kg), estatura (m), circunferências do braço (cm), da cintura (cm), do abdome (cm), do quadril (cm) e da panturrilha (cm) (no caso de idosos); além das dobras cutâneas tricipital (mm), bicipital (mm), subescapular (mm) e supra-ilíaca (mm). Para tanto, foram utilizados equipamentos específicos para este fim como balança portátil Tanita, com precisão de 0,1 kg; um Estadiômetro

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Personal Caprice Sanny com precisão de 0,1 cm; uma fita inelástica Sanny com precisão de 0,1 cm e uma adipômetro científico Sanny, com precisão de 0,1 mm.

Para a análise dos resultados é importante ressaltar que dos vinte e um jangadeiros (população amostral), vinte são adultos e um é idoso. Um jangadeiro adulto não permitiu a realização das aferições das circunferências e pregas cutâneas. Não foi possível aferir a prega cutânea tricipital em três jangadeiros.

O resultado da avaliação nutricional revelou, de forma geral, um diagnóstico bem uniforme. Em relação à classificação proposta pelo IMC entre os adultos, cinco (25%) estão eutróficos, oito (40%) estão com sobrepeso e sete (35%) apresentam obesidade, estando seis (30%) com obesidade grau I e um (5%) com obesidade grau II (Gráfico 16). Já com relação ao idoso este apresenta-se com excesso de peso.

Gráfico 16: Classificação do estado nutricional dos jangadeiros de Ponta Negra, segundo o IMC.

Em relação ao percentual de gordura corporal (%GC), nenhum dos jangadeiros apresentou %GC próximo à média de normalidade. Dentre os vinte jangadeiros que participaram desse tipo de avaliação (um não permitiu a mensuração das dobras cutâneas), oito (40%) encontram-se com %GC acima da média e doze (60%) apresentam, segundo Lohman et al (1992) apud Nacif e Viebig (2007), %GC que os classificam como estando em risco de doenças associadas à obesidade (Gráfico 17).

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Gráfico 17: Diagnóstico nutricional dos jangadeiros de Ponta Negra segundo a %GC

O resultado da análise da Prega Cutânea Tricipital (DCT), a qual expressa à quantidade e distribuição de tecido adiposo subcutâneo, e consequentemente, pode indicar a quantidade de tecido adiposo corporal, as reservas corporais de energia e o estado nutricional atual, não apresentou boa correlação com os resultados expressados pela %GC. A análise isolada da DCT (comparada ao padrão de referência de Frisancho, 1990) revelou que dezessete (85%) jangadeiros apresentam normalidade quanto à reserva de gordura, estando apenas um (5%) com risco de déficit de gordura e dois (10%) com excesso de gordura. Este resultado apresentou-se incompatível com a análise da %GC, a qual demonstrou que 40% dos jangadeiros estão com %GC acima da média, e até mesmo em desacordo com a classificação (mesmo que menos precisa) do IMC, o qual classificou 75% dos jangadeiros com excesso de peso corporal (Gráfico 18).

Gráfico 18: Classificação do estado nutricional dos jangadeiros de Ponta Negra, segundo a Prega Cutânea Tricipital (PCT).

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Em relação ao risco de desenvolver alterações metabólicas, segundo a Razão Cintura e Quadril (RCQ), três (15%), destes pescadores apresentam risco baixo para alterações metabólicas; treze (65%), risco moderado; três (15%), risco alto; e um (5%), risco muito alto (gráfico 19). Já de acordo com a interpretação da circunferência abdominal/cintura isolada, nove (45%) jangadeiros não apresentam risco para complicações metabólicas, e dos onze (55%) que apresentam este risco, cinco (25%) tem risco aumentado e seis (30%) jangadeiros tem risco muito aumentado (gráfico 20). Como já foi discutido anteriormente, o uso da RCQ para o diagnóstico de riscos de desenvolvimento para complicações metabólicas vem diminuindo por este ser um parâmetro pouco específico para predizer o acúmulo de gordura na região abdominal.

Os parâmetros que avaliam a reserva de tecido muscular mostraram, de forma geral, a presença de eutrofia. De acordo com a Circunferência Muscular do Braço (CMB) 85% dos jangadeiros apresentam-se dentro dos intervalos de normalidade. Este resultado pode ter sido influenciado pela elevação do percentual de massa magra nestes indivíduos devido às exigências musculares para a realização da atividade o que favorece a hipertrofia muscular nestes indivíduos.

Após estas análises, pode-se inferir a existência de uma alta prevalência de obesidade entre os jangadeiros. Como já discutido anteriormente, a obesidade é importante fator de risco para diversas complicações metabólicas e no caso deles, além do prejuízo acarretado à saúde, ainda há o impacto negativo que tal condição representa Gráfico 19: Diagnóstico nutricional dos jangadeiros

de Ponta Negra segundo a Razão Cintura e Quadril

Gráfico 20: Diagnóstico nutricional dos jangadeiros de Ponta Negra segunda a circunferência abdominal

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no desenvolvimento da atividade, que tem seu rendimento reduzido pela diminuição no condicionamento físico que o excesso de gordura corporal ocasiona.

O diagnóstico nutricional dos jangadeiros reflete a inadequação existente no consumo alimentar desta população (resultados que foram discutidos nos tópicos 5.1, 5.2 e 5.3), a qual tem como base alimentar diária o arroz, feijão, pão, peixe frito, farofa, refrigerante ou sucos artificiais, etc. Verificou-se que, na dieta habitual destes, há uma inclusão de alimentos de alto valor energético e pouca quantidade de fibras (como a farofa e o pão francês), aliada à ausência no consumo de frutas e hortaliças. Uma ressalva importante a se fazer é em relação ao consumo de peixe, o qual é rotineiramente consumido frito, fazendo com que seus atributos nutricionais tão exaltados (baixo teor de colesterol, fonte de ácidos graxos w3 e w6) sejam minimizados pelo alto teor de gordura acrescentada a essa preparação.

É interessante salientar a impactante influência da dieta na composição corporal, pois apesar da atividade jangadeira demandar muita energia, o excesso de gordura corporal e sua distribuição em nível abdominal têm alta prevalência entre eles devido a inadequação dos hábitos alimentares presentes.

Sabendo desta realidade conclui-se que são necessárias ações de intervenção para a melhoria dos hábitos alimentares destes jangadeiros a fim de recuperar o estado nutricional e, conseqüentemente, o estado de saúde desta população para garantir uma melhor qualidade de vida e melhor desenvolvimento da atividade de trabalho.

Ressalta-se que para um melhor entendimento sobre os aspectos culturais que envolvem os hábitos alimentares destes pescadores foi necessária a utilização de instrumentos metodológicos de inquéritos alimentares aos quais possibilitaram a clarificação dos aspectos qualitativos e quantitativos que envolvem a ingestão de alimentos nesta comunidade e a sua relação com a saúde dos jangadeiros.

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Capítulo 6