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A avaliação de desempenho de parques tecnológicos é um tema pouco explorado na literatura, principalmente na língua portuguesa. Isto talvez seja em decorrência de ser um movimento recente. Destaca-se que só a partir do início do século XXI que os parques tecnológicos vêm sendo considerados de forma mais orgânica pelos governos na formulação das políticas científica e tecnológica e industrial. Além do mais, a maioria dos parques tecnológicos ainda está em fase inicial de desenvolvimento.

Entretanto, torna-se fundamental a tarefa de se avaliar a real contribuição dos parques tecnológicos, considerando que países, regiões e cidades de todo o mundo geram grandes aportes de recursos para estes habitats (SQUICCIARINI, 2009b). A avaliação de desempenho oportunizaria um olhar sobre estes modelos, seu funcionamento, seus resultados e a implementação de políticas públicas para o setor.

De acordo com Jung Neto e Paula (2009), apesar de serem apontados diversas vantagens e muitos benefícios, para a avaliação de desempenho, ainda não se conhece um sistema de medição capaz de apoiar a gestão dos parques tecnológicos e garantir a satisfação dos seus principais atores. Jung Neto e Paula (2009) destacam, ainda, que somente sistemas de avaliação de desempenho que contemplem múltiplas dimensões ou perspectivas serão capazes de atender os diversos interesses envolvidos. Desta forma, informam que as avaliações de desempenho de parques tecnológicos devem contemplar os seguintes indicadores e respectivos variáveis, na percepção dos principais stakeholders:

x Aspectos Financeiros e Sociais Postos de trabalho gerados.

Número de empresas instaladas por segmento de atuação.

Número de empresas geradas/graduadas por segmento de atuação. Faturamento total.

x Aspectos de Gestão e Científicos e Tecnológicos Qualificação da equipe gestora (incluindo flexibilidade).

Número de projetos de P&D/ano com Universidades e Institutos de Pesquisa, (mantenedora) ou da região do PqT .

Áreas de conhecimento ou competência do PqT e da Universidade.

x Aspectos Competitivos e de Infraestrutura e Sustentabilidade

Quantidade e disponibilidade de mão de obra qualificada formada na região e pela mantenedora do PqT nas áreas de conhecimento do PqT.

Infraestrutura do PqT e região: tamanho dos prédios, peso suportado, transporte, energia, link de dados, restaurantes, estacionamentos, auditórios, segurança, hotéis, etc.

Custos de instalação (locação, condomínio, etc.).

Já Silveira (2010) analisando parques tecnológicos sob o ponto de vista de metas de desenvolvimento sustentável alinhou, entre outros, os seguintes indicadores e variáveis:

x Cultural

Valorização de elementos e profissionais ligados à cultura local. x Ecológica

Proteção, respeito e educação ambiental.

Prudência no consumo de materiais e eficiência energética. Apoio as pesquisas cientificas e de tecnologias ecológicas. Avaliação das pesquisas e inovações sob impacto ecológico. x Econômica

Acesso ao conhecimento científico e tecnológico. Promoção do equilíbrio dos setores econômicos. Geração de novas idéias, produtos e processo.

Promoção, articulação ou apoio a ciência, tecnologia e inovação. Desenvolvimento tecnológico e a inovação no setor privado Capacitação profissional e aumento da competitividade local Avaliação das pesquisas de inovações sob impacto econômico. x Espacial

Distribuição espacial equilibrada de atividades e infraestruturas. Promoção do planejamento urbano.

x Social

Distribuição equilibrada de recursos para o desenvolvimento social. Geração de oportunidades de equilíbrio social (emprego e renda). Promoção da formação de grupos sociais.

Promoção da educação nos mais diversos níveis.

Avaliação das pesquisas e inovações sob impacto social.

Por sua vez, Vedovelo, Judice e Maculan (2006) informam que há uma carência de indicadores firmes e precisos que possam consubstanciar a institucionalização dos parques como um instrumento de política pública frente aos objetivos esperados de sua implementação, em particular os relacionados ao processo de inovação tecnológica. Os autores observam que há ceticismo e incerteza quanto à efetividade dos instrumentos quando se avalia outros aspectos problemáticos relacionados a esse tipo de empreendimento, tais como: (i) longo prazo de desenvolvimento e maturação; (ii) elevado custo de implantação; (iii) dificuldades em conciliar múltiplos objetivos dos stakeholders variados. Os autores concluem que há uma ausência de indicadores de desempenho que validem os diversos impactos oriundos da implantação dos parques tecnológicos. Para eles, seria interessante desenvolver indicadores especificamente desenhados para este fim.

Para Machado, Costa e Silva (2005), a avaliação da atuação dos parques tecnológicos tem sido feita através de formas diferenciadas. Uns, comparam por meio de pesquisas o desempenho de empresas fora e dentro do parque. Outros, procuram identificar indicadores ou fatores críticos. Os autores destacam que apesar de existir uma preocupação em avaliar o desempenho dos parques, não há um modelo próprio para este fim. Acrescentam ainda que há um número muito reduzido de trabalhos publicados no Brasil sobre esta questão, não possibilitando a análise do funcionamento dos parques.

Para muitos pesquisadores há limitações na tarefa de se avaliar os parques tecnológicos em decorrência da diversidade de suas características, tais como: (i) falta de uma definição unívoca desses habitats; (ii) diferentes missões e metas; (iii) instalações desenvolvidas; (iv) estrutura de gestão estabelecida; (v) estrutura sistemática de interações entre os atores do parque (WORLD BANK, 2010).

É importante, quando se trata da avaliação dos parques, a definição de método e critérios adequados para o processo (WORLD BANK, 2010). Desta forma, torna-se possível perceber se todas as variáveis de desempenho estão contempladas no modelo a ser desenvolvido.

Por sua vez, Fukugawa (2010) informa que os estudos empíricos, mesmo embrionários, têm avaliado o impacto da política dos parques tecnológicos e os próprios habitats por meio de diversas perspectivas, como: (i) promoção do fluxo de conhecimento; (ii) taxa de sobrevivência das empresas; (iii) crescimento do parque;(iv) taxa de sucesso das

empresas; (v) crescimento de emprego gerado; (vi) produção de inovação; (vii) formação de massa crítica de P&D na região; (viii) reputação de seus atores.

A possibilidade de comparação do desempenho de um parque tecnológico com outro representa um elemento-chave das avaliações, uma vez que os gestores públicos precisam desta consistência para a tomada de decisão nas políticas de investimentos para o setor. Assim, o processo de avaliação deve considerar os impactos positivos que o parque tenha trazido não só para seus atores, mas também em sua região de influência (MONK; PETERS, 2009).

No Quadro 6 são apresentados os diferentes critérios de avaliação de parque tecnológicos em estudos realizados por pesquisadores da área no período de 2000 a março de 2013, selecionados no estudo bibliométrico realizado pela autora..

Quadro 6 - Diferentes critérios de avaliação de parques realizados por pesquisados

ANO AUTORES CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO

2002 BAKOUROS et.al. Avaliação de desempenho da Interação Universidade-Empresa e importância da proximidade física entre ambos. 2002 DELMASTRO COLOMBO; Performance das empresas dentro e fora do PqT, considerando a taxa de criação de empregos, resultados quanto à inovação, acessibilidade

e financiamentos públicos.

2002 LINDELÖF;

LÖFSTEN

Avaliação do desempenho econômico entre empresas similares dentro e fora de Pqts sob o enfoque de incremento na geração empregos dentro e fora de PqTs sob o enfoque de incremento na geração de emprego, incremento nas vendas e na rentabilidade das empresas.

2003 SIEGEL et. al. Comparação do desenvolvimento de EBTs dentro e fora de PqTs, baseado em sua performance. 2004 APPOLD Avaliação da influência dos PqTs como instrumentos de atração de novos laboratórios de pesquisa em municípios/regiões específicas. 2004 FERGUSON & OLOFSSON Avaliação da taxa de sobrevivência, geração de emprego, taxa decrescimento em empresas dentro e fora de PqTs. 2005 LÖFSTEN & LINDELÖF

Comparação entre empresas similares localizadas dentro e fora de PqTs, tendo como foco o desempenho das empresas de acordo coma sua origem acadêmica ou corporativa.

2005 HANSSON et. al.

Avaliação do ambiente pró-ativo para criação de empresas inovadoras (para comercializar tecnologias), mas não necessariamente como ambiente inovador (para produzir tecnologias comercializáveis baseadas em conhecimento).

2005 PHAN et. al. Avaliação de políticas pública para institucionalização dos PqTs. 2005 CHAN; LAU Avaliação do modelo de incubação de empresas dos parques quanto ao alcance de resultados esperados na criação de start-ups. 2006 SANZ Avaliação dos PqTs sob ponto de vista de suas estratégias utilizando a ferramenta de benchmarking. 2006 BIGLIARDI et. al. Avaliação das estratégias dos PqTs - missão, o ambiente eo contexto nos quais o PqT está inserido, sua maturidade e o comprometimento

dos stakeholders.

2006 LINK; SCOTT Avaliação quanto a influência da proximidade dos PqTs às universidades, sua especialização setorial e a organização gestora - pública ou privada.

Quadro 6 - Diferentes critérios de avaliação de parques realizados por pesquisados

(conclusão)

ANO AUTORES CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO

2007 HANSSON Avaliação das políticas de C&T voltadas para PqTs. 2008 GEENHUINZEN; VAN

SOETANTO

Proposição de requisitos que contribuem para avaliação de impacto de parques científicos.

2008 ANPROTEC et. al. Avaliação do crescimento e do impacto à geração e consolidação dos PqTs por meio de um conjunto de indicadores. 2009 YANG et. al. Avaliação da produtividade de P&D entre empresas dentro e fora de PqTs, por meio da mensuração dos investimentos em P&D

realizados pelas empresas e dos resultados obtidos.

2009 MYRZAKHMET RADOSEVIC; Avaliação por meio da comparação da capacidade de inovação entre empresas similares dentro e fora de PqTs no Casaquistão. 2009 JUNG NETO;PAULA Proposição de indicadores de avaliação de desempenho para o parque científico e tecnológico da PUCRS – TECNOPUC, 2009b SQUICCIARINI Avaliação por meio da comparação entre empresas dentro e fora de PqTs quanto ao depósito de patentes.

2010 TESTA; LUCIANO

Proposição dos elementos que determinaram o sucesso de um empreendimento derivado da inovação gerada a partir da interação universidade-empresa.

2010 FUKUGAWA Avaliação da interação entre EBTs do PqT e universidades ou institutos de pesquisa sob a ótica do favorecimento pelo arranjo organizacional ao invés da vantagem da localização física.

2010 SILVEIRA Avaliação de um parque de inovação sob o ponto de vista de metas de desenvolvimento sustentável e o alinhamento com os princípios, premissas e objetivos da Política Catarinense de inovação.

2011 KHARABSHEH; MAGABLEH; ARABIYAT

Apresentação de obstáculos que reduzem ou inibem o sucesso de parques tecnológicos.

2012 PAZOS; BABIO Proposição de um conjunto de indicadores para avaliar a utilidade de parques científicos e tecnológicos como aceleradores na criação Universidade de spin-offs.

2011 SÁ Avaliação de práticas de gestão do conhecimento de parques tecnológicos

2012 ZENG; XIE; TAM

Avaliação e medição da capacidade de inovação de um parque de ciência, utilizando, entre outros os seguintes critérios: Taxa de crescimento anual de investimento regional; volume de negócios do mercado de tecnologia; grau de cooperação cluster e grau de proteção propriedade Intelectual em cluster.

Fonte: Adaptado e complementado de Sá, (2011).

Observa-se no quadro 6 que os estudos procuraram avaliar parques tecnológicos por comparações de diferentes critérios de performance. Quando focados nas empresas, os estudos tomaram por base fatores como: (i) desempenho econômico; (ii) desempenho em inovação (investimentos em P&D e produção de patentes); (iii) criação de empregos; (iv) acesso a financiamento público; (v) longevidade do negócio e; (vi) gestão de conhecimento de empresas no Parque Tecnológico (SÁ, 2011). Quando focados no parque tecnológico como um todo, os estudos avaliaram fatores como: (i) capacidade de atratividade de atores de inovação à região do PqT; (ii) impacto global na empregabilidade da região do PqT; (iii)

criação de novos empreendimentos; (iv) modelo de gestão e governança; (v) intensidade de relação universidade-empresa e; (vi) práticas de gestão de conhecimento (SÁ, 2011).

Diante dos estudos apresentados no quadro 6, constata-se também que os critérios utilizados para avaliar o desenvolvimento dos parques tecnológicos estão concentrados na maioria na etapa de operacionalização. Desta forma, pode-se afirmar que existe uma lacuna na literatura no que tange à avaliação de desempenho da etapa de implantação de parques tecnológicos. É neste sentido que esta pesquisa se solidifica, colabora com a ampliação das pesquisas sobre avaliação de desempenho de parques tecnológicos e estende o conhecimento destes empreendimentos.

A seguir, apresenta-se uma síntese dos conceitos de avaliação de desempenho e respectivos autores, bem como dos indicadores apresentados na literatura e de potencial utilização pelo Sapiens Parque que é base deste estudo.