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Avaliações de Literacia Mediática em Portugal

No documento Níveis de Literacia Mediática em idosos (páginas 59-63)

Cap 3 Literacia Informacional, Literacia Mediática e a construção de um conceito

3.2 Literacia Mediática

3.2.3 Avaliações de Literacia Mediática em Portugal

A nível nacional, alguns estudos têm sido desenvolvidos na última década para dar conta da necessidade de entender não só os hábitos de consumo mas, principalmente, os níveis de literacia da população portuguesa através da aplicação de questionários para a recolha de dados pessoais e concomitantemente, aplicação de testes de avaliação de literacia mediática. Os pesquisadores Paula Lopes, Sara Pereira, Pedro Moura e Amália Carvalho, no artigo “Avaliações de literacia mediática: o caso português”, dedicam-se a recensear os principais trabalhos de pesquisa dos níveis de literacia mediática da população portuguesa realizados até o ano de 2015, data em que o artigo foi publicado.

Entre os trabalhos apontados pelos estudiosos como tendo relevância nesse campo destaca-se aquele desenvolvido em 2008 pelas investigadoras Sílvia G. João e Isabel Menezes, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Faculdade do Porto, que tiveram como objetivo construir e validar indicadores de literacia mediática a partir do conhecimento dos mecanismos de funcionamento dos media e das capacidades exploratórias e reflexivas de avaliação crítica e integração dos conteúdos. Para isso, os participantes (alunos dos cursos de Jornalismo, Psicologia, Direito e Engenharia da Universidade do Porto), tiveram que explicitar sua concordância diante de afirmações sobre a socialização e autonomia dos media, acerca de notícias de caráter preconceituoso e o tipo de mensagem contida em uma tira de banda desenhada. O resultado da avaliação apontou para a não existência de diferenças significativas entre os cursos em relação ao conhecimento acerca do funcionamento dos media. No caso da notícia discriminatória, os alunos

de Direito foram os que mais negaram a existência de discriminação (Lopes, Pereira, Moura & Carvalho, 2015, p. 49).

Em “Teorias da conspiração: sedução e resistência a partir da literacia mediática”, tese de mestrado defendida em 2010, a pesquisadora Sandra Silva propôs-se avaliar os efeitos da teoria da conspiração que colocava os atentados do 11 de setembro como pretexto intencionalmente criado para iniciar a Guerra no Oriente Médio. Para isso, a autora criou seis textos diferentes que se relacionavam com dois indicadores de literacia mediática: o posicionamento do jornalista (alinhado ou neutro) e as fontes de informação citadas (credíveis, duvidosas e sem fontes). Os inquiridos foram alunos dos cursos de Ciência da Informação, Ciências da Comunicação e Línguas Aplicadas da Universidade do Porto. Segundo a autora, os alunos de Ciência da Comunicação não demonstraram níveis de literacia mais elevados e deixaram-se seduzir por textos de origem duvidosa (Lopes, Pereira, Moura & Carvalho, 2015, p.50).

Outro estudo citado pelos pesquisadores foi desenvolvido pela investigadora Paula Lopes, que tentou entender se as práticas mediáticas e a literacia mediática dos indivíduos têm impacto relevante nas suas práticas de cidadania. Na tese de doutoramento “Literacia mediática e cidadania: práticas e competências de adultos em formação na Grande Lisboa”, defendida em 2014, Paula Lopes apresentou e analisou os resultados da aplicação de um questionário (para recolha de informação acerca de práticas mediáticas e de práticas de cidadania) e de uma prova de literacia mediática (para avaliação de competências de literacia mediática) a uma amostra de 500 estudantes adultos que frequentavam classes dos níveis básico e secundário do Ensino e Formação de Adultos e cursos de licenciatura e mestrado, em estabelecimentos do ensino superior, na Grande Lisboa, no ano letivo 2011-2012. Entre outras conclusões, o estudo não encontrou relação entre os níveis de literacia e a participação cívica dos inquiridos, concluindo que as competências em literacia mediática não são determinantes para o exercício de uma cidadania ativa e plena.

Em “Avaliação dos níveis de literacia mediática: estudo exploratório com adultos no mercado de trabalho”, tese de mestrado defendida em 2015 na Universidade do Minho, a autora Amália Carvalho dedicou-se a avaliar os níveis de literacia mediática de indivíduos que compõem a população ativa portuguesa. Para isso, aplicou um questionário, um teste de competências e realizou grupos de focos com trabalhadores da empresa Bosch, que trabalhavam na unidade localizada na cidade de Braga.

A autora elaborou uma série de questões para avaliar a dimensão de compreensão e análise crítica dos participantes e posteriormente cruzou estes resultados com os dados sociodemográficos dos inquiridos, culminando em uma avaliação rica da relação entre estas duas dimensões e na divisão dos participantes em três níveis de literacia mediática: básico, intermediário e avançado.

Também citado pelos autores (p. 56), o importante trabalho Níveis de literacia mediática: estudo

exploratório com jovens do 12º ano, desenvolvido e publicado pelos investigadores Sara Pereira,

Manuel Pinto e Pedro Moura em 2015, consistiu na aplicação e interpretação dos dados obtidos através de um questionário de usos e um teste de avaliação mediática respondido por 679 estudantes de 46 escolas públicas portuguesas, tendo em conta as unidades territoriais (NUT II). Entre as três dimensões de literacia mediática avaliadas que consistem nos acessos e usos; a compreensão, análise e avaliação; produção e participação, apenas as duas últimas resultaram em pontos para os inquiridos, já que os autores não acreditaram ser a primeira dimensão um indicador de maior ou menor nível de literacia. No fim da avaliação, os autores concluíram que, apesar da onipresença do uso de alguns meios de comunicação como o telemóvel, “os conhecimentos existentes serão ora pouco específicos ora pouco presentes” (Pereira, Pinto & Moura, 2015, p. 94 citado em Lopes, Pereira, Moura e Carvalho, 2015, p.57), e que “o envolvimento dos alunos na produção e participação através dos meios não revelou grande sofisticação ou recorrência” (Pereira, Pinto & Moura, 2015, p. 94 citado em Lopes, Pereira, Moura e Carvalho, 2015, p.57).

No documento Níveis de Literacia Mediática em idosos (páginas 59-63)