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Envelhecimento Ativo

No documento Níveis de Literacia Mediática em idosos (páginas 68-70)

Cap 3 Literacia Informacional, Literacia Mediática e a construção de um conceito

Capítulo 4. Um mundo que envelhece

4.2 Envelhecimento Ativo

O conceito de Envelhecimento Ativo, proposto em 2002 pela Organização Mundial de Saúde/World Health Organization (Serviço Nacional de Saúde, 2017), é definido como “o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas” (World Health Organization, 2015; citado em Serviço Nacional de Saúde, 2017, p. 6). Em um documento de 2017, o órgão internacional volta a definir o termo, dessa vez como o “

o processo de desenvolvimento e manutenção da capacidade

funcional que possibilita o bem-estar na velhice”

28. Esta habilidade funcional é determinada pela

capacidade intrínseca do indivíduo (ou seja, a combinação de todas as capacidades físicas e mentais do indivíduo - incluindo psicossociais), os ambientes em que ele ou ela habita (o que inclui ambientes físico, social e político) e a interação entre estes (World Health Organization, 2015, p. 3).

O termo “ativo” está relacionado com a participação contínua na vida social, económica, cultural, espiritual e cívica, indo além da possibilidade de ser física e profissionalmente ativo. O envelhecimento ativo é definido como o processo de otimização das oportunidades para a saúde, participação e segurança, para a melhoria da qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem (World Health Organization, 2002, citado em Serviço Nacional de Saúde, 2017). A Gerontologia, campo de estudos que pesquisa o processo de envelhecimento com base em conhecimentos oriundos das ciências biológicas, psicocomportamentais e sociais (Gomes, 2007, p. 4) encara o conceito de velhice ativa, também chamada de velhice saudável ou bem sucedida ou produtiva, como um construto dos seguintes aspectos: físico, composto por saúde física, capacidade funcional, capacidades de autocuidado, evitação de fatores de risco como álcool e

28 Tradução própria a partir do original “the process of developing and maintaining the functional ability that

tabaco e envolvimento com atividades físicas; social, formado pelo engajamento em atividades de lazer, trabalho, satisfação com a carreira, suporte social, amigos e família e ter uma pensão adequada; emocional: satisfação com a vida geral e com a saúde em particular; pessoal, onde estão inseridas atitudes favoráveis ao envelhecimento e senso de controle e motivação para transmitir conhecimentos a pessoas mais jovens (Strawbridge, Wallhagen, & Cohen, 2002; Fleck, Chachamovich, & Trentini, 2003 citado em Ribeiro et al., 2009, p. 502).

Cabral, Ferreira, Silva, Jerónimo & Marques (2013), em sua obra “Processos de Envelhecimentos

em Portugal - Usos do tempo, redes sociais e condições de vida” oferece uma visão apurada e

brilhantemente crítica do conceito de Envelhecimento Ativo. O autor inicia sua análise verificando as diferentes definições do termo formuladas por organismos internacionais como a Comissão Europeia, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a OMS, esta última, já citada anteriormente no presente capítulo. Segundo ele, apesar de o tema ser comum nas agendas dos distintos organismos, a forma distinta como ele é encarado resulta, pelo menos em partes, “dos objectivos e do âmbito de intervenção que caracterizam essas organizações” (Cabral et al, 2013, p. 13).

O autor cita a definição da OCDE, que enuncia o envelhecimento ativo como

(...)a capacidade de as pessoas que avançam em idade levarem uma vida produtiva na sociedade e na economia. Isto significa que as pessoas podem elas próprias determinar a forma como repartem o tempo de vida entre as actividades de aprendizagem, de trabalho, de lazer e de cuidados aos outros. (OCDE, 1998, p. 92)

Relativamente a esta definição, chama atenção para o foco dado pela organização à ligação entre o envelhecimento e a produtividade económica. De acordo com ele, há neste contexto um realce da necessidade de prolongar a condição de ativo, desde que as condições de exercício profissional possam acompanhar os condicionalismos resultantes do processo de envelhecimento. A repartição do tempo entre atividades produtivas e não produtivas, segundo as preferências e as necessidades do indivíduo, aponta para uma desvinculação gradual do mundo do trabalho (Cabral et al, 2013, p. 13).

Por outro lado, aponta o autor, a Comunidade Europeia (CE) encara o envelhecimento ativo como

(…) uma estratégia coerente visando permitir um envelhecer saudável nas sociedades envelhecidas”, sendo para isso necessário desenvolver um conjunto de práticas que englobam “(...)a educação e a formação ao longo da vida; o prolongamento da vida activa; o adiamento da entrada na reforma e, mais progressivamente, por conseguir que as pessoas idosas se tornem activas durante a reforma e realizem actividades que reforcem as suas capacidades e preservem a saúde. (CE, 2002, citado em Cabral, 2013, p. 14)

Para ele, a definição destaca principalmente a actividade, seja ela produtiva ou não, embora exista claramente uma referência ao prolongamento da vida profissional na relação que estabelece com o estado de saúde. Segundo a CE, é através da actividade que o envelhecimento se torna saudável.

Cabral chama a atenção para uma dimensão comum nas definições acima citadas: a necessidade de prolongar a carreira activa. Aqui, o “estar ativo” está marcadamente ligado ao estar mantendo atividade profissional, o que permite que o indivíduo se integre de forma mais ampla na sociedade, evitando ou, pelo menos, adiando a diminuição dos contactos sociais e institucionais que resulta, habitualmente, da passagem à reforma. Na óptica do envelhecimento activo, é desejável que a inactividade surja o mais tarde possível (Cabral et al, 2013, p. 15).

Essa preocupação com o adiamento da inactividade, denuncia Cabral, não se restringe, entretanto, à preocupação em manter as pessoas ligadas por mais tempo à esfera do trabalho, por este tratar- se de uma instituição de integração na sociedade. Segundo observa o autor, os princípios do envelhecimento ativo têm sido usados para

(…) justificar o adiamento da idade da reforma, ditado sobretudo pela necessidade de assegurar a sustentabilidade financeira da segurança social, o que obriga, no atual quadro da política de transferência intergeracional e de baixa taxa de fecundidade, ao prolongamento das carreiras contributivas. (Cabral et al, 2013, p. 15)

Neste quadro, segundo Cabral et al, o prolongamento da vida ativa estaria a ser impulsionado mais pela “necessidade de estender os percursos contributivos do que pela necessidade de manter a atividade e a integração social das pessoas à medida que envelhecem”(Cabral et al, 2013, p. 15). Assim, o discurso do envelhecimento ativo, defende Cabral, tem um carácter simultaneamente pragmático e ideológico, em que recomendações indiscutivelmente vantajosas para os indivíduos (relativas à adoção de hábitos de vida saudáveis), independentemente da sua condição social, se misturam com recomendações ditadas por considerações e interesses económicos alheios aos da maioria dos idosos.

Diante deste contexto, o autor reafirma que o envelhecimento activo não pode ser reduzido a uma única vertente - em especial a financeira, previdenciária e trabalhista, mas deve levar em conta o curso de vida dos indivíduos e a condição social de cada idoso. O estudo do envelhecimento deve assentar em uma

(…) abordagem global que contemple as relações entre os múltiplos aspectos que o integram, como a vida familiar, o emprego, a educação, a integração sociocultural, a saúde e a qualidade de vida, sem esquecer os preconceitos associados à idade (idadismo) que acentuam o seu estatuto marginal” e convida a “reformular a articulação entre a atividade e a reforma, entre o trabalho e a saúde, entre a participação e a exclusão, enfim, convida a que se caminhe para uma sociedade sem discriminações em torno da idade. (Cabral et al, 2013, p. 17)

No documento Níveis de Literacia Mediática em idosos (páginas 68-70)