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Idosos e Tecnologias da Informação

No documento Níveis de Literacia Mediática em idosos (páginas 73-75)

Cap 3 Literacia Informacional, Literacia Mediática e a construção de um conceito

Capítulo 4. Um mundo que envelhece

4.4 Idosos e Tecnologias da Informação

A massificação do uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), em especial, da Internet, registrada na última década, trouxe múltiplas oportunidades aos cidadãos no que concerne ao acesso à informação, aprendizagem, compartilhamento de conteúdos, facilitamento e barateamento do acesso às ferramentas comunicativas, desburocratização de tarefas cotidianas, maior participação cívica e outras. A lista de possibilidades vantajosas trazidas pelo maior acesso às TIC é enorme. Os desafios e desigualdades inerentes a esse processo, também.

No caso dos idosos, estes desafios aparecem emaranhados em um conjunto de elementos motivadores, que se apresentam em diferentes níveis e formas, amplificados pela própria condição

do ser idoso e os desdobramentos físicos e sociais que o processo de envelhecimento acarreta, como o isolamento, a diminuição da capacidade cognitiva e de movimento, o ócio e o aumento da dependência. Tudo isso desenvolvendo-se em um entorno social que solicita continuamente aos idosos o desenvolvimento de habilidades e destrezas no uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (Abad, 2013, p. 174).

As gerações mais velhas possuem mais dificuldade em adaptar-se aos avanços digitais, por conta da inserção tardia desses dispositivos na vida destes indivíduos, quando os mesmos já eram adultos mais velhos ou idosos e por estarem, muitas vezes, fora de ambientes de aprendizagem. Também colaboram para o afastamento dos idosos das TIC a falta de acesso à internet em casa; a reduzida consciência do que a tecnologia pode oferecer; publicidade inadequada (não direcionada ou desadequadamente direcionada para os mais velhos); e receios (as gerações mais velhas tendem a ter alguns receios em relação à tecnologia, como o custo, a segurança ou o medo de fazer algo errado ou avariar o equipamento) (Coelho, 2017, p. 5). Em outras ocasiões, o que afasta os idosos das tecnologias de comunicação são os próprios serviços oferecidos por estas, que muitas vezes não estão focados nem são aplicados aos possíveis usos concretos úteis para pessoas desta idade (González-Oñate, Fanjul-Peyró & Cabezuelo-Lorenzo, 2015, p.

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Dessa maneira, a utilização das tecnologias digitais por parte da população idosa envolve na maioria das vezes dificuldades, provocando a exclusão digital (Páscoa & Gil, 2017, p. 34). Para esse grupo geracional, usufruir do potencial das TIC requer aquisição de novas competências e aprendizagem ao longo da vida, que se torna importante para “diminuir o risco de exclusão e a desigualdade geracional e para proporcionar-lhes o direito de exercer a sua cidadania e de participar ativa e plenamente na sociedade em rede” (Coelho, 2017, p. 2). González-Oñate, Fanjul-Peyró & Cabezuelo-Lorenzo (2015, p. 20) defendem o desenvolvimento de mecanismos para que o ensino e a aprendizagem sejam contínuos e alcancem a maior quantidade de pessoas, em especial as de idade avançada, que necessitam de novos conhecimentos e habilidades digitais.

Segundo Coelho (2017, p.5), as gerações mais velhas, denominadas de “migrantes digitais” (Prensky, 2001), que tiveram contato tardio com as tecnologias comunicativas, são as que se encontram mais afastadas da internet. Dados recolhidos no projeto A Sociedade em Rede em Portugal (Cardoso e outros, 2015), mostram que é a partir do escalão dos 55 aos 64 anos que a utilização da internet é minoritária, e especialmente reduzida entre os menos qualificados. Apesar disso, há uma tendência mundial de crescimento no uso das novas TIC por pessoas idosas. Vários estudos realizados pela ONU (por exemplo, o “Reporte de Envejecimiento de la Población Mundial”), estimam que mais de 2.000 milhões de adultos idosos estarão usando a Internet em 2050, um crescimento de 300% em relação aos valores atuais (Luna, Mendoza & Álvarez, 2015, p. 86).

Entre as oportunidades que o uso das novas TICs oferece a esse contingente crescente de utilizadores estão a melhora dos processos psicológicos, aspectos sociais e questões particularmente relacionadas com a dependência (Llorente-Barroso, Viñarás & Sánchez, 2015, p. 30). Bosch & Currin (2015) propuseram uma pesquisa sobre os motivos que levam as pessoas idosas a utilizar a Internet a partir do conceito de Usos e Gratificações, que trata de compreender por que e como as pessoas escolhem meios específicos para satisfazer necessidades específicas (p. 12). Durante o estudo, os pesquisadores observaram a existência de três gratificações obtidas pelos idosos ao usar a Internet: gratificação de relaxamento e entretenimento, gratificação de informação e gratificação de utilidade social. A primeira delas, que diz respeito à dimensão da diversão na Internet, foi frequentemente citada pelos inquiridos, que afirmavam utilizar a rede para se livrar do tédio e distrair-se através da escrita de textos e da participação em jogos online. Também frequente, a gratificação de informação aparecia entre os entrevistados em situações como a leitura de notícias online e a pesquisa por termos no Google, que eles faziam para recolher informação necessária e depois passá-la nas conversas físicas que mantinham com outras pessoas. Mas era a utilização da Internet a partir de sua capacidade de socialização a gratificação mais forte notada no estudo. Na maior parte do tempo em que estavam a utilizar a Internet os idosos o faziam para manter contato com outras pessoas através de correio electrónico e das redes sociais, o que incluía enviar e-mails, fazer chamadas de voz e vídeo e enviar mensagens instantâneas para familiares e amigos, fisicamente próximos ou que viviam em países diferentes.

Llorente-Barroso, Viñarás & Sánchez (2015) propõem um modelo de análise semelhante dos usos da Internet pelas pessoas idosas, mas utilizando a nomenclatura “oportunidades”. Assim como no estudo de Bosch & Currin, anteriormente citado, discorre-se sobre oportunidades de “ócio e entretenimento” e “oportunidades comunicativas”, mas acrescenta-se uma nova categoria: as oportunidades transacionais e administrativas. Segundo os autores (p.33), a Internet facilitou certos hábitos cotidianos das pessoas idosas, graças à possibilidade de realizar transações e trâmites administrativos online. Eles fazem referência a Miranda (2004), que afirma que estas operações são especialmente úteis para aquelas pessoas que possuem restrições motivadas por problemas de saúde, condição muito comum às pessoas de idade mais avançada.

No documento Níveis de Literacia Mediática em idosos (páginas 73-75)