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Primeiras iniciativas no debate e promoção da Literacia Mediática: um percurso histórico

No documento Níveis de Literacia Mediática em idosos (páginas 49-51)

Cap 3 Literacia Informacional, Literacia Mediática e a construção de um conceito

3.2 Literacia Mediática

3.2.1 Primeiras iniciativas no debate e promoção da Literacia Mediática: um percurso histórico

Segundo Lopes (2014, p.47), há cerca de meio século, a “problematização conceptual, o enquadramento teórico e o reconhecimento da necessidade de desenvolver ações especificamente dirigidas” à Educação para os Media vêm sendo abordados por diferentes instituições e organizações internacionais. Diversos autores (Aguaded Gómez, Ferrés i Prats, Cruz Díaz, Pérez Rodríguez & Sánchez Carrero, 2011; Perez Tornero, 2007; Pereira, Pinto & Moura, 2015) elegem, como marco inicial das atividades relacionadas à Literacia Midiática, a Declaração de Grunwald, aprovada no ano de 1982 após um encontro que reuniu pesquisadores, educadores e comunicadores de 19 países, promovido pela UNESCO na cidade germânica homônima.

O documento aborda a onipresença dos media na vida cotidiana das populações e conclama, em uma declarada oposição à condenação do uso em grande escala destes dispositivos, um olhar mais

17 Os editores da versão (brasileira) utilizada neste trabalho preferiram utilizar o termo alfabetização para

estar em consonância com os termos usados na Espanha e outros países da América: Alfabetização Informacional.

simpático em relação aos media, aceitando “o seu impacto significativo e a sua difusão por todo o mundo como um fato consumado”, pedindo a seguir a valorização de sua relevância como um fator da cultura atual.

O documento prossegue afirmando que, cientes da importância dos media no processo de desenvolvimento e na função de instrumento através dos quais os indivíduos participam ativamente na sociedade, cabe aos sistemas educativos e políticos reconhecer suas obrigações na promoção de uma compreensão crítica da comunicação entre os cidadãos. A Declaração aponta uma escassez na realização de iniciativas educativas formais e não formais voltadas para a educação18 para os

media, levando a uma disparidade entre a formação educativa recebida e as realidades em que o indivíduo está inserido. Nesse mundo dominado pela palavra, imagem e som, como discorre o documento, o papel da família também é importante no que toca à preparação dos mais jovens para “decifrar esses três esquemas simbólicos”. Dessa maneira, seriam pais, professores, comunicadores e decisores os responsáveis por promover a educação para os media e da integração entre os sistemas educativos e comunicativos (Unesco, 1982, s/p).

Entre os apelos contidos na Declaração de Grunwald e direcionados às autoridades estariam o lançamento e apoio à educação para os media desde as idades escolares primárias até o ensino universitário e a educação para adultos, que incluiria a análise de conteúdo mediático, a utilização dos media como meios de expressão criativa e a participação eficaz nos canais de media disponíveis, o desenvolvimento de cursos de formação para professores e outros agentes educativos, o estímulo às atividades de pesquisa nesta área e o apoio à ações realizadas ou previstas pela Unesco com o objetivo de incentivar a cooperação internacional na área de educação para os media.

O debate realizado em Grunwald teve seguimento nas posteriores conferências promovidas pela Unesco, como a ocorrida em Toulouse, no ano de 1990, onde foi formulada uma sistematização e definição mais precisa do campo, o encontro de Viena, em 1999, onde os participantes direcionaram as análises para a educação mediática nos emergentes contextos digitais e a conferência de Sevilha, em 2002, que destacou a necessidade de ação através de políticas de promoção ativa em quatro áreas: 1) Investigação; 2) Formação; 3) Cooperação entre escolas, meios de comunicação social, ONGs, empresas privadas e instituições públicas; 4) Consolidação e promoção da esfera pública da sociedade e seu relacionamento com a mídia (Peréz Tornero, 2007, pp. 11-12). Mais recentemente, verificou-se a realização da Agenda Paris da Unesco, em 2007, que emitiu 12 recomendações para a educação mediática, entre as quais se sugere o desenvolvimento de programas de educação para os mídia em todos os níveis, treinamento de professores, pesquisa

18 O presente trabalho entende Educação para os Media como o processo que conduz a determinados níveis de

e cooperação internacional (Aguaded et al., 2011); e a Global Media and Information Literacy

Week, realizada entre o final de outubro e o começo de novembro de 2017, na Jamaica19.

Assim como a Unicef, a União Europeia também tem empreendido esforços para o desenvolvimento da investigação em Literacia Mediática através da promulgação de diretivas e estudos a nível aprofundado. A Diretiva 2007/65/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, define a Educação para os Media como um processo que “visa as competências, os conhecimentos e a compreensão que permitem aos consumidores utilizarem os meios de comunicação social de forma eficaz e segura”. A mesma Diretiva acrescenta que “as pessoas educadas para os media”, ou seja, os cidadãos com maiores graus de literacia, “são capazes de fazer escolhas informadas, compreender a natureza dos conteúdos e serviços e tirar partido de toda a gama de oportunidades oferecidas pelas novas tecnologias das comunicações. Estão mais aptas a protegerem-se e a protegerem as suas famílias contra material nocivo ou atentatório” (Pereira, Pinto & Moura, 2015, p. 9). Dois anos mais tarde, em 2009, a Comissão Europeia, através da Recomendação 2009/625/CE, volta a tratar da Educação para os Media e define a Literacia Mediática como “a capacidade de aceder aos media, de compreender e avaliar de modo crítico os diferentes aspetos dos media e dos seus conteúdos, e de criar comunicações em diversos contextos” (Pereira, Pinto & Moura, 2015, p. 8).

Ainda segundo os autores, por meio da Diretiva 2010/13/UE7, o Parlamento Europeu e o Conselho instituem a necessidade de a Comissão Europeia apresentar um relatório sobre os níveis de Educação para os Media. Em resposta à essa determinação, o estudo “Study on Assessment Criteria

for Media Literacy Levels” coordenado pela EAVI20, por solicitação da Comissão Europeia (2009),

teve como objetivo delinear um modelo de análise capaz de avaliar a Literacia Mediática, o qual detalharemos melhor a seguir.

No documento Níveis de Literacia Mediática em idosos (páginas 49-51)