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2 NEOLIBERALISMO NO ESTADO DE SÃO PAULO: A PRECARIZAÇÃO

2.2 IMPLANTAÇÃO DA PROPOSTA NEOLIBERAL PARA A EDUCAÇÃO

2.2.4 Avaliações e Resultados Educacionais

A gestão empresarial e os princípios neoliberais aplicados à educação paulista passam por critérios de mensuração que são perseguidos pela SEE/SP. As avaliações, de maneira geral, tornaram-se o centro da discussão administrativa como também pedagógica da rede estadual de ensino sendo destacada em praticamente todos os encontros e reuniões convocados pela SEE/SP e Diretorias de Ensino (a ramificação institucional mais próxima das escolas, solidificando um sistema administrativo, na educação, fortemente hierarquizado). Avaliações institucionais, internas, externas, avaliações em processo...imaginação não falta na criação das avaliações, muitas vezes desprovida de sentido para educadores, professores e alunos.

Contudo, as avaliações e resultados carregam consigo um significado mais profundo que não a real avaliação do ensino no estado de São Paulo, ou seja, o princípio da produtividade e competitividade. Cada vez mais, durante os vinte e quatro anos que o PSDB tem governado o estado de São Paulo, os princípios empresarias ditados pelo mercado e em sintonia com a dinâmica capitalista tem ganhado espaço no mundo educacional, afinal, “é preciso preparar para o mundo”. A naturalização da competitividade e da noção de produtividade, como princípio elementar da vida individual e social, tem sido cultivada através do currículo oficial e da ideologia meritocrática e também pelas práticas pedagógicas averiguadas. A parceria das escolas públicas com empresas, inclusive encaminhando alunos para um emprego, muitas vezes em detrimento de seus estudos, é estimulada pela SEE/SP e favorecida com programas como o “jovem aprendiz”. Assim, a educação acaba sendo reduzida a um momento de preparação para o mercado de trabalho e sociabilidade capitalista e, no caso das escolas públicas, um trampolim para trabalhos precários de péssima remuneração onde muitos destes alunos de baixa renda, neste processo, irão mergulhar no precariado.

Para os profissionais da educação pública, as escolas e seus direitos passam a ser geridos como numa empresa, aumenta-se a pressão por resultados que devem ser atingidos nas avaliações externas que classificam as instituições de ensino, na maioria das vezes inatingíveis pelos problemas sociais e condições de trabalho constatáveis nas escolas, a frustração alimenta o mal estar docente e a epidemia da síndrome de burnout e os resultados do excesso de avaliações parecem indesejáveis; os meios tornaram-se fins. É evidente que avaliar, planejar, refletir é indispensável no processo de ensino/ aprendizagem, contudo, não com os propósitos colocados pela SEE/SP durante a gestão PSDB. Ademais, a bonificação por resultado, num contexto de arrocho salarial e desvalorização docente, forçam os professores e todos os funcionários das escolas a trabalharem para produzir resultados que mascaram, na maioria das vezes, a péssima qualidade da educação e da formação intelectual dos estudantes; é notório e amplamente divulgado em pesquisas acadêmicas a existência de muitos analfabetos funcionais entre os alunos das escolas públicas que já se encontram no ensino médio.

O que evidencia-se é que as políticas educacionais implementadas pelo PSDB em São Paulo, no sentido de modelar a gestão das escolas e até mesmo o propósito de ensinar a partir do modelo empresarial, tem empobrecido a educação e pressionado ainda mais os trabalhadores da educação a trabalharem por resultado a qualquer custo:

No novo Plano Nacional de Educação (Lei n° 13.005), aprovado em 25 de junho de 2014, apesar de apontar em sua Meta 20 a garantia de 10% do PIB para a ampliação do investimento público em educação, medida que deveria impactar em termos qualitativos

a educação, houve a perpetuação das estratégias de controle sobre os trabalhadores da educação, apontando em sua Meta 7 o desenvolvimento de instrumentos de avaliação cuja eficiência em detectar os gargalos da educação é comprovadamente precária. Como desdobramento dessa meta, o item 7.36 estabelece políticas de estímulo às escolas que melhorarem o desempenho no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), aprofundando em nível nacional a estratégia adotada há anos no Estado de São Paulo, por meio da bonificação por mérito, cujo resultado já experimentado é a fragmentação do educador coletivo, deixando a qualidade social da escola de ser o elemento estruturante da prática coletiva escolar. Passa a imperar a busca por resultados a partir de metas quantitativas e sistemas de premiações, no melhor estilo da “qualidade total”, eufemismo que norteia as estratégias produtivas do setor empresarial (...) De forma acrítica, o PNE reconhece a legitimidade do Programme for International Student Assessment (PISA), uma iniciativa de avaliação comparada aplicada a estudantes na faixa dos 15 anos, ao término da escolaridade básica obrigatória no Brasil. O PISA é desenvolvido e coordenado internacionalmente pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), sendo que no Brasil, essa tarefa é realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). A ingerência das orientações econômicas dos reformadores neoliberais da educação se evidencia no programa, destacando-se as “novas áreas do conhecimento” a serem avaliadas: Competência Financeira e Resolução Colaborativa de Problemas, evidenciando o avanço da “pedagogia corporativa” na educação básica (LIMA; GONZALEZ; LOMBARDI, 2017, p. 929)

O governo PSDB não é o criador da ideologia das avaliações e bonificações por resultado e nem mesmo o pioneiro de sua aplicação na educação, porém, quando se trata de políticas neoliberais visando adaptar a vida social aos desejos do mercado, o estado de São Paulo parece estar à frente em relação a outros estados brasileiros. Como já foi ressaltado acima, quando o Plano Nacional de Educação, aprovado em 2014, estabeleceu diretrizes para aprofundar o controle por meio dos resultados através de bonificações pagas aos profissionais da educação no Brasil esta prática já estava consolidada em São Paulo há anos. Deste modo, seja na forma, conteúdo ou objetivos, o neoliberalismo penetra na educação em São Paulo a passos largos e com a fiscalização cada vez mais rígida, hierarquizada e empresarial das instituições educacionais.

Assim, pautado pelos organismos internacionais propositores das reformas educacionais engendradas há alguns anos, o PSDB vem consolidando o neoliberalismo e a precarização na educação paulista. Seja através do controle de investimentos, seja com a imposição de um currículo oficial ou ainda com a retirada de direitos (além da introjeção da ideologia das avaliações para controlar e fiscalizar o processo) os governos tucanos avançam na implantação do projeto neoliberal para a educação há mais de 24 anos. Dando sua contribuição às ambições globais do neoliberalismo, o PSDB responde aos desejos de formação da força de trabalho postos pelo mercado além de adequar aspectos jurídicos e pedagógicos da educação para que esta trabalhe em favor da construção do homem-empresa e da mentalidade empreendedora.

Como Marx já apontava em sua obra: o capitalismo transcende a esfera econômica e invade todos os espaços da vida social e subjetiva do indivíduo, a educação deve servir o neoliberalismo, neste contexto: “essa análise vai ao encontro com uma das intuições mais profundas de Marx, que compreendeu muito bem que um sistema econômico de produção era também um sistema antropológico de produção”. (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 27). A história, porém, é farta de eventos que demonstram a resistência dos trabalhadores às ofensivas do capital. Nestas décadas de implantação do projeto neoliberal na educação paulista não foi diferente, existem infinitos exemplos de lutas e resistências de professores e estudantes contra esta tragédia civilizatória denominada neoliberalismo.

No próximo capítulo, este estudo dedicará atenção para as resistências realizadas em São Paulo, no campo educacional, contra o governo PSDB e consequentemente contra a barbárie neoliberal.

3 DA RESISTÊNCIA (E SEUS DESCAMINHOS): MOVIMENTO SINDICAL E