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3.3 DA FUNDAÇÃO DA REPÚBLICA DA CHINA À

3.3.3 Avanços na teoria da tradução

Nessa época, muitos tradutores chineses contribuíram para o aprofundamento e desenvolvimento da teoria da tradução estabelecida por Yan Fu.

3.3.3.1 Aprofundamento da teoria da tradução de Yan Fu

Como referido anteriormente no presente trabalho, o tradutor Yan Fu propôs uma teoria de tradução composta por três palavras: fidelidade, compreensibilidade e elegância. Essa base teórica foi considerada como “critérios da tradução” por muitos tradutores chineses. Entretanto, com o desenvolvimento da tradução na China, os tradutores começaram a sentir a necessidade de aprofundar e ampliar essa teoria.

Apesar de ter resumido as essências da tradução em três palavras, a teoria de Yan Fu não está clara em diversos aspectos. Um desses aspectos é a relação existente entre as três palavras propostas, ou seja, se a “fidelidade”, a “compreensibilidade” e a “elegância” têm a mesma importância ou apresentam importâncias diferentes conforme a sua ordem na teoria. Esse foi o foco de uma discussão que ocorreu entre muitos tradutores do final dos anos 20 ao início dos anos 30 do Século XX. Tradutores tais como Lu Xun e Ai Siqi consideram que em caso de não se poder fazer uma tradução que seja fiel e compreensível ao mesmo tempo, a fidelidade da tradução é mais importante que a compreensibilidade. Esse levantamento foi criticado por alguns tradutores como Liang Shiqiu, que acha que uma tradução não compreensível é como se a obra não fosse traduzida e por esse motivo, a compreensibilidade deveria ser o fator mais importante da tradução. Na verdade, esses tradutores tiveram entendimentos diferentes da palavra “compreensível”. Como Lu Xun explicou mais tarde nos seus textos, quando falou que é melhor ter uma tradução fiel e não compreensível do que uma tradução compreensível e não fiel, ele estava se referindo a uma tradução não muito fluente, mas não impossível de ser entendida.

A disputa terminou com um entendimento comum entre as duas partes. Como Ai Siqi (1937) declarou, a “fidelidade” é a base fundamental do princípio da tradução. A “compreensibilidade” e a “elegância” são inseparáveis da “fidelidade”, porém, são de importância secundária.

3.3.3.2 Teoria da tradução de Chen Xiying

Após a discussão sobre a teoria de Yan Fu, começaram a surgir outras teorias da tradução. Uma delas, que exerceu importantes influências na evolução da tradução na China, é a teoria do tradutor Chen Xiying. No seu artigo “Sobre a tradução” (1929, In: LUO, 1984), Chen criticou a teoria de Yan Fu. Para Chen, a única condição da tradução literária é a fidelidade. Discordando de Yan Fu, Chen considera “compreensibilidade” e “elegância” elementos não necessárias para a

tradução, porque não são todas as obras literárias que têm uma linguagem elegante e obras do abstracionismo não são muito compreensíveis.

Na sua teoria da tradução, Chen propôs três níveis de “fidelidade”: fidelidade de forma, fidelidade semântica e fidelidade espiritual. A fidelidade de forma refere-se à tradução que focaliza no conteúdo e ignora o estilo do texto original. Para ele, a tradução realizada dessa forma é de baixo nível de qualidade. Para obter a fidelidade semântica na tradução, além de transferir o conteúdo, o tradutor deve focalizar em como o autor original apresentou esse conteúdo. A fidelidade espiritual, por sua vez, é uma característica da tradução que pode causar a mesma ressonância espiritual do leitor como o texto original. Além do conteúdo e o estilo, o tradutor deve traduzir a inspiração que o autor teve na produção do texto original. Claro, a fidelidade espiritual é o critério mais difícil de ser alcançado.

Na verdade, a teoria de Chen não é uma negação completa da “compreensibilidade” e “elegância” da teoria de Yan Fu, porque para muitas obras literárias, a “compreensibilidade” e a “elegância” fazem parte dos seus estilos ou até espíritos. Além disso, os significados da “compreensibilidade” e da “elegância” dependem da interpretação dos leitores também. Por exemplo, para o tradutor Guo Moruo, a “elegância” não se refere à beleza da linguagem, mas ao valor artístico da obra – e por isso é um elemento essencial na tradução. Apesar disso, o destaque na tradução do espírito na teoria de Chen demonstrou que os tradutores chineses dessa época estavam procurando uma elevação da qualidade da tradução. Em geral, a teoria de Chen causou muita repercussão na China durante essa época e contribuiu para o desenvolvimento do estudo da tradução.

3.3.3.3 A tradução como uma arte

Durante essa época, alguns tradutores começaram a integrar a teoria da arte na teoria da tradução e considerar a tradução como uma forma da arte. Um dos tradutores representantes dessa teoria artística da tradução é Lin Yutang.

Baseando na teoria de Yan Fu e de Chen Xiying, Lin propôs os seus três critérios da tradução: a fidelidade, a fluência e a beleza (GAO, 2009). Além disso, ele resumiu esses três critérios como responsabilidades do tradutor: o primeiro é a responsabilidade do tradutor em relação ao autor da obra original, o segundo é a responsabilidade do tradutor em relação aos leitores chineses e o último

é a responsabilidade do tradutor em relação à arte. Para ele, a beleza da tradução inclui a beleza na pronúncia, no sentido, no espírito e na forma. Na opinião de Lin, os tradutores devem considerar o seu trabalho de tradução como um tipo de arte e tratar a tradução com prudência e cautela, como os artistas tratam as suas obras. Especialmente na tradução literária, deve-se ficar atento à questão de beleza da linguagem. A consideração de tradução como uma forma de arte, por um lado, fez com que os tradutores procurassem melhorar a qualidade da sua tradução e, por outro lado, elevou a importância da tradução, considerando-a como uma criação.

3.3.3.4 Textos sobre a teoria da tradução

Comparando com o final da Dinastia Qing, essa época teve mais avanços na publicação dos textos teóricos da tradução. Durante as discussões entre os tradutores chineses sobre questões tais como o uso de chinês vernáculo, o método de tradução e os critérios da tradução, muitos textos teóricos de tradução foram publicados em revistas e jornais relativos à tradução. Coleções de textos sobre a tradução foram elaboradas, tais como “Teorias da tradução” 36

– selecionada e organizada por Wu Shutian (1933) nos anos 30 – e a “Coleção das teorias da tradução”37

de Huang Jiade, publicada em 1940. Conforme Chen (2010), a primeira monografia específica sobre as teorias da tradução foi a “Estudos da tradução”38

de Yang Zhenhua, publicada em 1935.