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DA CHINA -- FIDELIDADE, COMPREENSIBILIDADE E ELEGÂNCIA

Para Ma Zuyi (2006, p. 7), desde a tradução das obras sagradas do budismo, os tradutores começaram a resumir suas experiências de tradução, explorando a eloboração de leis ou regras da tradução. São justamente essas regras de tradução sugeridas pelos tradutores das obras do budismo, tais como a de “cinco casos em que se perde a originalidade” de Dao An, a de “oito preparações” de Yan Cong e a de “cinco princípios de não traduzir” de Xuan Zang, que são consideradas como a base preliminar da teoria da tradução da China. As teorias da tradução formadas durante a tradução de estudos ocidentais, tais como a teoria de “três dificuldades” de Yan Fu, a teoria de “aprender e ultrapassar”75

de Xu Guangqi e a teoria de “uma boa tradução”76

de Ma Jianzhong,

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Essa teoria afirma que é apenas através da tradução que se pode aprender e dominar “os estudos ocidentais”, e que é apenas através do aprendizado que se pode ultrapassar e vencer os ocidentais, demonstrando o objetivo da tradução naquela época.

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Com o termo “uma boa tradução”, Ma Jianzhong refere-se à tradução que tem o significado exatamente igual ao do texto original, para que os leitores da tradução possam experimentar sentimentos iguais aos tidos pelos leitores do texto original.

segundo Ma Zuyi (2006), são os pensamentos essenciais da tradução na China e construíram a base das teorias da tradução da China. Durante a República da China, a discussão entre “a tradução liberal e a tradução literal”, a discussão entre “fidelidade” e “fluência” e os comentários publicados por tradutores tais como Lu Xun, Qu Qiubai e Guo Moruo enriqueceram as teorias tradicionais da tradução na China.

Fidelidade, compreensibilidade e elegância, consideradas como as “três dificuldades” da tradução por Yan Fu, são três conceitos chaves não só da teoria da tradução de Yan Fu, mas conceitos essenciais presentes em vários textos teóricos da China durante a evolução das teorias da tradução naquele país. De acordo com a análise dos textos clássicos traduzidos e apresentados anteriormente no presente trabalho (capítulo 4), tornou-se evidente que quase todos eles mencionam o método da tradução de Yan Fu e as “três dificuldades” definidas por ele e, a partir dessa perspectiva, diversos tradutores construíram suas próprias teorias da tradução. Através desses textos, pode-se ver a grande influência que a teoria de Yan Fu tem desempenhado na evolução das teorias da tradução na China. A meu ver, a teoria de Yan Fu talvez não seja a mais correta, mas foi uma das teorias pioneiras na China. Essa teoria serviu como uma chave que abriu a porta para um novo mundo, levando muitos tradutores chineses para o caminho da exploração das teorias da tradução. Por isso, esses três elementos são considerados como palavras chaves das teorias da tradução no presente trabalho, servindo como base para a análise.

Os três elementos foram apresentados e considerados como critérios da tradução de uma forma clara, resumida e ordenada pela primeira vez por Yan Fu. Porém, o primeiro texto teórico da tradução na China, Prefácio do Dhammapada, de Zhi Qian, já tinha feito referência a esses três conceitos.

Tanto Yan Fu quanto Zhi Qian consideravam a fidelidade da tradução, em comparação com o texto original, muito importante e ao mesmo tempo muito difícil de ser atingida. No Prefácio do Dhammapada, Zhi Qian (224, In: LUO, 1984, p. 22) afirmou que “as coisas e os seus nomes são tão diferentes que não é fácil fazer a tradução”77. Yan Fu relatou no prefácio da tradução de Evolution and ethics and other essays que para “determinar um termo” que não existia em chinês, ele ficava “ponderando um mês”.

É justamente nesses dois prefácios, escritos respectivamente por Zhi Qian e Yan Fu, que podemos encontrar as origens e os fundamentos

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para esses três termos. Quanto à tradução das obras do budismo, no início Zhi Qian não gostava da linguagem que alguns tradutores adotavam na tradução pelo fato de ela não ser muito elegante. Entretanto, outros tradutores, como Wei Dinan, convenceram-no do contrário, declarando que “o discurso de Buda deve ser traduzido conforme o seu sentido e não ser adornado. Busca-se o seu sentido e não a exatidão da gramática. As traduções das obras sagradas devem ser compreensíveis e feitas de modo que não percam o significado original. Isso que é uma boa tradução.” (ZHI, 224, In: LUO, 1984, p. 22). Além disso, esses mesmos tradutores citaram a declaração de Lao Zi, “palavras bonitas não são sinceras e palavras sinceras não são bonitas” para apoiar essa ideia, como foi descrito no Prefácio do Dhammapada (ZHI, 224, In: LUO, 1984, p. 22). Concordando com esses tradutores, Zhi Qian afirmou no prefácio que a melhor forma de traduzir obras do budismo é fazer uma tradução “direta e compreensível”. Esse prefácio de Zhi Qian mostrou que os tradutores naquela época consideravam que a fidelidade e a compreensibilidade eram os critérios mais importantes para a tradução. A elegância da linguagem, por outro lado, não tinha a mesma importância, ou mesmo chegava a ser considerada contraposta à fidelidade.

No prefácio de Evolution and ethics and other essays, Yan Fu (1898, In: LUO, 1984, p. 136) citou ditos de Confúcio e uma frase de um livro de filosofia chinesa:

“O Livro das Mutações” diz: “a fidelidade é a base da escrita.” Confúcio disse: “uma escrita compreensível já é suficiente.” Ele também disse: “onde a linguagem não é refinada, o seu efeito não se estende para longe.” Esses três ditos definiram o caminho certo para a literatura e exemplos para a tradução. Por isso, além de fidelidade e compreensibilidade, devemos nos esforçar para a elegância na tradução.

Essa citação demonstra que a semelhança entre a teoria da tradução de Zhi Qian e a de Yan Fu é que as duas são baseadas na cultura e filosofias tradicionais da China, o taoísmo e o confucionismo. Entretanto, a teoria de Yan Fu tem um posicionamento diferente da teoria de Zhi Qian sobre a importância da elegância. Para Yan Fu, a elegância é uma característica importante da tradução que os tradutores

devem se esforçar para atingir, enquanto para Zhi Qian a elegância não é um critério necessário na tradução de obras do budismo.

O tradutor Qian Zhongshu (1979b) apontou que os três conceitos essenciais da teoria de Yan Fu apareceram pela primeira vez no prefácio de Zhi Qian, ou, em outras palavras, não foram criados por Yan Fu. A meu ver, por um lado, essas duas teorias têm semelhanças, mas por outro lado, têm muitas diferenças. Dessa forma, não é possível retirar o mérito de Yan Fu pela criação da teoria das “três dificuldades” e as razões para sustentar essa afirmação são analisadas nos três parágrafos seguintes.

Em primeiro lugar, é possível encontrar os três conceitos – fidelidade (信), compreensibilidade (达) e elegância (雅) – nos textos de Yan Fu e Zhi Qian. E, como referido anteriormente, as duas teorias são baseadas na cultura tradicional da China. A diferença básica é que para Yan Fu esses três conceitos foram todos considerados como critérios fundamentais para a tradução. Zhi Qian, por outro lado, escreveu o texto para mostrar a importância dos primeiros dois critérios e a razão por que desistiu do terceiro critério, a elegância. Pode-se dizer que a teoria de Zhi Qian prefere a tradução literal e a de Yan Fu está mais alinhada com o conceito de tradução liberal.

Segundo, a teoria de Zhi Qian apresenta sua ideia sobre critérios para a tradução de obras sagradas do budismo cujo público alvo é qualquer pessoa do povo chinês. É por causa das características desse gênero de obras originais que Zhi Qian considera a “elegância” não necessária para a tradução. Entretanto, a teoria de Yan Fu refere-se à tradução em geral. Para ele, os critérios da tradução não variam dependendo dos gêneros das obras originais. Além disso, os livros que Yan Fu traduziu são principalmente obras de economia, sociologia, ciência e filosofia do exterior. Por causa disso, posteriormente o conceito de elegância de Yan Fu foi criticado por diversos tradutores, como Chen Xiying, que considera a elegância somente necessária para a tradução de obras literárias que originalmente já têm uma linguagem elegante. Considerando o contexto histórico da China naquela época, como referido anteriormente no presente trabalho, a tradução de Yan Fu destinava-se mais aos chineses que tinham certo nível de educação ou posição política no governo e que poderiam contribuir para mudar a situação da China após o conhecimento e a aprendizagem dos estudos ocidentais. Por isso, para a sua justificativa, a elegância da linguagem da tradução é uma forma que Yan Fu adotou para atrair mais leitores do nível de educação mais alta, diferente do que o objetivo de tradutores de

obras do budismo de divulgar a religião para a maior parcela possível da população chinesa.

Outra grande diferença entre a teoria de Zhi Qian e a de Yan Fu é no uso da palavra fidelidade (信). A palavra “信” no texto de Zhi Qian apareceu na citação do dito de Lao Zi, “palavras bonitas não são sinceras e palavras sinceras não são bonitas (美言不信,信言不美)”. Nesse caso, a palavra chinesa “信” quer dizer “sincera” ou “confiável”. Por outro lado, no texto de Yan Fu, a palavra “信” apareceu na primeira frase do texto “A tradução envolve três dificuldades: fidelidade (信), compreensibilidade e elegância.” No caso da teoria de Yan Fu, a palavra “ 信 ” é um dos conceitos principais dos critérios da tradução: a fidelidade. Dessa forma, apesar de ambos os textos utilizarem a mesma palavra, ela é empregada com significados diferentes. Logo, mesmo que a palavra tenha aparecido anteriormente no texto de Zhi Qian, ela ainda pode ser considerada uma criação de Yan Fu. Todavia, mesmo que a palavra “信” não tenha sido empregada por Zhi Qian para remeter à ideia de fidelidade, o texto de Zhi Qian remete a esse conceito na frase “traduções das obras sagradas devem ser compreensíveis e que não percam o significado original” (ZHI, 224, In: LUO, 1984, p. 22).

Há tradutores, como Wu Guangjian (1979), que acham que a teoria de Yan Fu foi inspirada pela teoria ocidental. Há ainda tradutores, como Luo Xinzhang (1984), que são mais específicos ao afirmarem que a teoria de Yan Fu é muito parecida com a de Alexander Fraser Tytler.

As teorias de Yan Fu e de Tytler apresentam semelhanças e também diferenças. Na sua obra “Essay on the Principles of Translation”, publicada em 1791, Tytler estabeleceu três leis gerais para a tradução (the Three General Laws of Translation). A primeira lei corresponde com o conceito da “fidelidade” de Yan Fu e consiste em uma definição de “fidelidade”: “a tradução deve fornecer uma transcrição completa das ideias da obra original”78

(TYTLER, 1791, p. 15). Por outro lado, não se encontra uma definição clara da “fidelidade” tratada por Yan Fu.

A segunda lei é: “o estilo e a maneira da escrita devem ser do mesmo caráter do original”79

(TYTLER, 1791, p. 15). Alguns tradutores, como, por exemplo, Chen Ruishan (2009), acham que a segunda lei

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Tradução da autora da frase “[That] the Translation should give a complete transcript of the ideas of the original work”.

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Tradução da autora da frase “[That] the style and manner of writing should be of the same character with that of the original”.

proposta por Tytler corresponde com o conceito da “compreensibilidade” de Yan Fu. Em minha opinião, a segunda lei corresponde mais com o conceito de “fidelidade”, porque a fidelidade da tradução, além de ser demonstrada na igualdade ou semelhança com o conteúdo original da obra, também é mantida através da escolha de uma maneira de escrever que seja igual à utilizada na obra original. Essa perspectiva de Tytler apresenta alguma semelhança com o segundo conceito da teoria de Chen Xiying, a “fidelidade semântica”, que quer dizer que, além de transmitir o conteúdo original, a tradução demonstra o estilo da obra original.

A língua chinesa é muito diferente das línguas ocidentais em muitos aspectos, incluindo a semântica e a estrutura de oraçãos, como Yan Fu (1989, In: LUO, 1984, p. 136) explicou no seu texto:

Termos nos textos de línguas ocidentais são explicados logo que aparecem, o que é, de alguma maneira, similar às digressões em chinês. O que vem depois interage com a parte anterior e completa o sentido e a estrutura da frase. Por isso uma frase em língua ocidental consiste em um agrupamento que pode ter de duas ou três palavras a dezenas ou centenas de palavras. Caso sigamos essa construção de frase na tradução, a tradução provavelmente não será compreensível. E se excluirmos ou abreviarmos trechos, nós podemos perder algumas ideias expressadas no texto original. Quando o tradutor compreender e digerir totalmente o texto, em seguida, ele vai poder reescrever o texto da melhor maneira possível. Como o texto original é profundo em pensamento e complicado em estrutura, que é difícil de transmitir em conjunto, o que precede e o que segue na tradução devem ser correlacionados para mostrar a ideia original. Todo esse esforço é para atingir a compreensibilidade. E uma tradução só pode ser considerada fiel quando ela é compreensível.

Por isso, o conceito da “compreensibilidade” de Yan Fu, como pode ser observado no fragmento citado acima da tradução do prefácio de Evolution and ethics and other essays, se refere ao método da tradução domesticante que faz alterações, quando forem necessárias para a compreensão dos leitores, da maneira de escrever conforme os

hábitos da língua de chegada. Para Yan Fu, uma tradução só é compreensível para os leitores chineses quando é escrita conforme os costumes da língua chinesa e uma tradução “só pode ser considerada fiel quando ela é compreensível”. Além disso, a teoria de Yan Fu foca-se no aspecto linguístico, ou seja, na organização das orações e não envolve a questão do “estilo” da escrita que, para o meu entendimento, é um dos dois focos principais da segunda lei de Tytler. Considerando tudo isso, a “compreensibilidade” definida por Yan Fu não apresenta correspondência com a segunda lei de Tytler.

A terceira lei da tradução de Tyler é: “a tradução deve ter toda a naturalidade da composição original”80

(TYTLER, 1791, p. 15). Essa lei estabelecida por Tytler aplica-se à tradução de qualquer gênero de texto original, enquanto o conceito da “elegância” definido por Yan Fu tem uma aplicação mais restrita. Com a palavra “elegância”, Yan Fu se refere à língua chinesa clássica, porque considera que

o uso da morfologia e sintaxe das épocas anteriores à Dinastia Han facilita a compreensibilidade de princípios e pensamentos profundos, enquanto o uso da linguagem moderna e atual dificulta a compreensibilidade da tradução. (YAN, 1989, In: LUO, 1984, p. 136).

A preferência ao uso de chinês clássico de Yan Fu não é por desconsideração da composição original. Conforme Yan Fu, essa sua escolha tem a ver com o gênero da obra traduzida e o público-alvo da sua tradução de Evolution and ethics and other essays:

A minha tradução tem sido criticada por sua linguagem abstrusa e seus estilos envolvidos. Mas na verdade a intenção era só conseguir a compreensibilidade da tradução. O tratado do livro original é amplamente baseado em lógica, matemática e ciências como Astronomia. Caso o leitor não seja familiar com esses estudos, mesmo que ele seja da mesma nacionalidade e fale a mesma língua do autor, ele não será capaz de compreender muito e a situação é muito pior ao se ler uma tradução.

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Tradução da autora da frase “[That] the Translation should have all the ease of original composition”.

Com essa declaração, podemos ver que para Yan Fu a escolha do chinês clássico em sua tradução é justificada porque o livro traduzido é de gênero científico e o chinês clássico é a língua adequada para os “princípios e pensamentos profundos” serem mais compreensíveis. Além disso, a sua tradução é destinada ao leitor que “seja familiar com esses estudos”, em outras palavras, os estudiosos e intelectuais na China naquela época, que, em sua maioria, falavam o chinês clássico ao invés do chinês vernáculo. Na verdade, a escolha de Yan Fu foi baseada no seu próprio entendimento sobre o uso de chinês clássico e apresenta suas limitações históricas por ser contrária à tendência do desenvolvimento da língua chinesa. Aos poucos, as traduções de Yan Fu foram todas substituídas por novas traduções em chinês vernáculo. Além disso, o seu conceito de “elegância” e a sua justificativa foram cada vez mais criticados. A “elegância” não é uma palavra exata ou correta para descrever a característica das obras científicas e para muitos tradutores, tais como Lu Xun, Qu Qiubai e Chen Xiying, a elegância não é nem um critério necessário para a tradução, com exceção ao caso de obras literárias que originalmente já foram escritas em composições elegantes. Apesar de sempre ter tido a intenção de fazer traduções compreensíveis e fiéis, não são todas as traduções de Yan Fu que apresentam essas características, principalmente por causa da sua escolha de usar sempre linguagem elegante para traduzir qualquer tipo de obra original com a finalidade de agradar o gosto dos seus leitores alvos. O caso de Yan Fu constitui-se em um excelente exemplo do posicionamento de Venuti (1997, p. 37) sobre a fidelidade:

A fidelidade não pode ser entendida como a mera equivalência semântica: por um lado, o texto estrangeiro é suscetível a muitas interpretações diferentes, até no nível da palavra individual; por outro lado, as escolhas interpretativas do tradutor respondem a situação cultural doméstica e por isso, sempre excedem ao texto estrangeiro81.

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Tradução da autora de “Fidelity cannot be construed as mere semantic equivalence: on the one hand, the foreign text is susceptible to many different interpretations, even at the level of the individual word; on the other hand, the translator’s interpretative choices answer to a domestic cultural situation and so always exceed the foreign text.”.

O prefácio escrito por Yan Fu é um resumo da sua experiência das atividades de tradução, onde aproveitou para apresentar suas ideias sobre a tradução. A obra de Tytler, por outro lado, é um livro teórico que trata especificamente do estudo da tradução. Yan Fu é mais um tradutor do que um teórico da tradução. No seu prefácio, não se encontram definições claras sobre os conceitos essenciais. O objetivo de Yan Fu ao traduzir Evolution and ethics and other essays e ao escrever o prefácio era político, para que os estudiosos e intelectuais chineses pudessem aprender com os estudos ocidentais, desenvolver a China e eventualmente vencer os países ocidentais. Nesse caso, a tradução é mais funcional. Por outro lado, o objetivo de Tytler na publicação do livro era mais acadêmico e, para ele, a tradução é uma arte (TYTLER, 1791). Com essas razões apresentadas acima, é natural que as teorias de Yan Fu e de Tytler apresentem mais diferenças que semelhanças, mesmo que o alvo do estudo tenha sido o mesmo: a tradução.

Como referido acima, a teoria de Yan Fu é bem resumida e não fornece definições claras sobre os seus conceitos essenciais. Ela foi apresentada em um texto curto cujo objetivo não era meramente a exploração da teoria da tradução. Assim, os comentários e as críticas sobre a teoria de Yan Fu, incluindo a análise feita no presente trabalho, são baseados na interpretação própria de cada leitor.

A teoria da tradução de Yan Fu, além de ter sido uma das teorias mais influentes no final da Dinastia Qing, é também a base da formação ou o ponto de partida de diversas teorias da tradução na história da China. Por exemplo, a teoria de três categorias da fidelidade proposta por Chen Xiying, por um lado, desconsiderou os conceitos de “compreensibilidade” e “elegância” de Yan Fu como critérios da tradução literária e eliminou “elegância” nos critérios da tradução não literária, mas, por outro lado, foi elaborada com base nesses três conceitos propostos por Yan Fu. Provavelmente nem o próprio Chen Xiying ficaria ofendido se afirmarmos que a sua teoria foi elaborada com base na teoria de Yan Fu. A meu ver, a maior diferença entre a teoria de Yan Fu e a de Chen Xiying é que para Chen Xiying a fidelidade é o único critério para a tradução literária e ele detalhou e aprofundou o conceito de fidelidade, através de uma proposta de divisão do mesmo em três níveis: fidelidade de forma, fidelidade semântica e fidelidade espiritual.

Na presente seção, por serem conceitos que têm desempenhado muita influência na evolução das teorias da tradução na China e na formação de teorias da tradução de muitos tradutores chineses, os