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Bacia Hidrografia do rio Araguari e seus Aproveitamentos Hidrelétricos (AHE’s)

SUMÁRIO

Mapa 1. Bacia Hidrografia do rio Araguari e seus Aproveitamentos Hidrelétricos (AHE’s)

Fonte: ROSA et al. (2004). Adaptação: Hudson Rodrigues Lima (2013).

um tema de pesquisa, é fundamental que o método e metodologia de investigação

permitam diálogos diversos a fim de dar voz tanto aos empreendedores quanto aos

atingidos.

A princípio, este trabalho exige uma análise da legislação vigente para a construção

de empreendimentos hidrelétricos e a sua relação com o EIA – Estudos de Impactos Ambientais – e, principalmente, com os licenciamentos, prévio (LP), de implantação (LI) e de operação (LO), particularmente em seus condicionantes e, principalmente, o Relatório de

Avaliação de Desempenho Ambiental (RADA). A partir dessa análise, torna-se importante

relacioná-la com as políticas públicas municipais integradas aos royalties e/ou impostos

oriundos dos negócios AHE Amador Aguiar I e II. Esse procedimento poderá explicitar os

espaços onde possivelmente ocorrem os diálogos entre os interesses do capital e do

trabalho. Ao explicitar as políticas de implantação e funcionamento dos empreendimentos

hidrelétricos propostos neste trabalho, cria-se a possibilidade de compreender melhor que

tipo de sustentabilidade vem sendo construída socialmente. São poucas as pesquisas

fundamentadas no princípio de avaliação dos efeitos socioespaciais da sustentabilidade dos

empreendimentos hidrelétricos com base na Ecologia Profunda (CAPRA, 2000), por isso esta

pesquisa se justifica.

O Relatório de Sustentabilidade da Cemig (2008-2011) evidencia que a sua política é

reflexo muito mais de exigências legais (nos últimos anos a legislação ambiental brasileira

tem se aprofundado na perspectiva de uma apropriação um pouco menos dilapidadora dos

recursos), do que propriamente das demandas de uma sociedade civil organizada.

É compreensível que nas políticas do CCBE/Cemig, por estarem inseridas em uma

Economia de Mercado, a sustentabilidade ocorra no sentido de atender aos interesses do

que exigem o desenvolvimento de tecnologias mais complexas e dispendiosas no momento

da apropriação dos bens naturais. Essa situação compromete, sobremaneira, as exigências

de uma economia que realmente seja sustentável.

Ao mesmo tempo, é perceptível que a demanda por fontes de energia mantém uma

tendência crescente no mundo todo. Essa demanda vem esbarrando em questionamentos

sobre a capacidade de a natureza terrestre atender ao alto consumo de mercadorias no

mundo, principalmente quando se relaciona às fontes não renováveis de geração de energia

elétrica, voltadas à produção.

Nesse panorama, um grande empreendimento, como a Cemig, ao privilegiar negócios

de produção de energia elétrica com base em fontes renováveis, como a água e o vento, e

ao assumir uma política de sustentabilidade pioneira, pode diferenciar os seus negócios em

relação àquelas empresas do mesmo ramo que não a possuem, aumentando, assim, o seu

poder de concorrência e referência no mercado, expresso em seus indicadores econômicos e

pela forte cotação de suas ações no mercado de ações do Brasil e até no exterior.

Portanto, esta pesquisa depara-se com um problema amplo que envolve a política de

sustentabilidade da Cemig e das outras três empresas do Consórcio que administra o

Complexo Energético Amador Aguiar. Apesar das políticas gerais de sustentabilidade desses

grandes aglomerados econômicos brasileiros, percebe-se que essas políticas não são

explicitadas no caso específico do CCBE, apesar da legislação concernente ao SEB conduzir

todo e qualquer empreendimento elétrico a adotar algum tipo de política de

sustentabilidade. Dessa forma, é possível, na análise de relatórios e documentos de

licenciamento do Complexo Energético Amador Aguiar, identificar em escala menor, o perfil

a análise de como são propostas e executadas as políticas de sustentabilidade nos territórios

definidos para esta investigação.

Assim, torna-se necessário conduzir a pesquisa procurando responder às seguintes

questões:

1) Existe uma política de sustentabilidade explícita por parte do CCBE e do poder público para os territórios na Área de Entorno (AE) do Complexo Energético Amador

Aguiar?

2) Quais os efeitos socioespaciais da existência ou não de uma política de sustentabilidade de um grande projeto de investimento hidrelétrico na AE do

Complexo Energético Amador Aguiar, no baixo curso do rio Araguari?

3) Os efeitos socioespaciais provocados pelo Complexo Energértico Amador Aguiar levam em consideração princípios relacionados ou que apontam para a consideração

de outro paradigma científico que não o mecanicista/antropocêntrico, como, por

exemplo, o da Ecologia Profunda/Ecoética e os princípios do ecomarxismo?

A proposta de responder a estas questões é que justifica uma avaliação dos dados

científicos relevantes e significativos aqui apontados, com vistas a uma avaliação e à

construção de uma crítica ao paradigma implícito nas estratégias e políticas de

sustentabilidade do CCBE/Cemig, além de auxiliar na avaliação das políticas dos poderes

públicos dos municípios envolvidos na área investigada.

Por isso, pesquisas que possam descrever e analisar os processos políticos e sociais

relacionados ao chamado desenvolvimento sustentável devem servir de crédito, inclusive

para identificar cientificamente suas lacunas, a fim de poder indicar direções a serem

seguidas para uma consolidação desse tipo de desenvolvimento ainda longe de ser

Neste sentido podemos definir o objetivo geral dessa investigação:

Evidenciar o discurso de sustentabilidade nos negócios do Consórcio Capim Branco Energia (CCBE) e nas Prefeituras Municipais e sua territorialização na Área de Entorno

do Complexo Energético Amador Aguiar.

Os objetivos específicos da pesquisa:

Caracterizar os contextos de geração de energia hidrelétrica, no Brasil e particularmente no rio Araguari, no Complexo Energético Amador Aguiar;

Compreender as dinâmicas de funcionamento de um Grande Projeto de Investimento Hidrelétrico (GPIH);

Identificar o tipo de Institucionalismo econômico presente nas relações do Consórcio Capim Branco Energia e do Poder Público Municipal com as comunidades ribeirinhas

dos reservatórios das UHE’s Amador Aguiar I e II;

Analisar os conceitos de desenvolvimento sustentável e de sustentabilidade, na forma como estão sendo apropriados pelas corporações, poder público e

comunidades atingidas/afetadas, particularmente no setor da energia hidrelétrica;

Avaliar o grau de satisfação da população da Área de Entorno dos reservatórios em relação à atuação do CCBE e das Prefeituras Municipais, e

Apontar desafios a serem assumidos pelas comunidades atingidas e afetadas, Poder Público e CCBE, com vistas ao desenvolvimento territorial da Área do Complexo

Energético Amador Aguiar.

A proposta desta investigação optou por uma trajetória com certa dose de ousadia. A

primeira delas foi a de analisar/discutir os dados, desde os bibliográficos até os coletados

com empreendedores, poder público e comunidades atingidas e/ou afetadas, com princípios

A segunda ousadia foi a de enveredar pela polêmica discussão sobre o que venha a

ser sustentabilidade e desenvolvimento sustentável, conceitos colocados sob suspeita por

diversos pesquisadores e que são discutidos também no capítulo III.

A terceira ousadia foi a de procurar manter coerência com a opção de considerar a

Ecologia Profunda como princípio paradigmático e do ecomarxismo no discurso deste

trabalho, contemplando uma linguagem interdisciplinar. Esperamos ter alcançado esta

intenção e sobre isso destacamos os diálogos com a economia, particularmente com a

vertente da sociologia econômica, na discussão sobre o que vem a ser um Grande Projeto de

Investimento (GPI), sua relação com o SEB, bem como o seu funcionamento na perspectiva

do Institucionalismo Econômico. Estes diálogos estão presentes principalmente nos capítulos

I e II e a intenção é a de vislumbrar possibilidades de governança do espaço que permitam

políticas efetivamente éticas e inclusivas, contrariando o que impera de práticas antiéticas e

de exclusão socioespacial nos negócios de energia elétrica.

A última ousadia, tratada principalmente no capítulo IV, foi a de identificar, analisar e

avaliar a existência e/ou ausência de políticas de sustentabilidade nos territórios na área de

entorno dos reservatórios das UHE’s Amador Aguiar I e II. Para isso foram necessárias “navegações” por água e terra, dialogando com as comunidades atingidas pelo grande empreendimento e com o difícil e turvo diálogo com o CCBE e poder público municipal,

considerando como base as proposições existentes no Plano Diretor AHE Capim Branco I e II

(2005) e suas relações com os Planos Diretores dos municípios atingidos e afetados.

Espera-se que as reflexões e resultados da pesquisa na área de entorno das UHE

Amador Aguiar I e II não sejam entendidos como pontos que desvalorizam as iniciativas do

sua história passada e presente, a intenção é contribuir para sofisticar e melhorar os

procedimentos equivocados e valorizar os que sejam identificados como relevantes.

O desafio do trabalho é o de focalizar a inversão de análise dos impactos e efeitos,

saindo da esfera exclusiva da natureza e valorizando a perspectiva social dos mesmos.

Acredita-se que essa seja uma boa diretriz para os grandes empreendimentos

hidrelétricos nos estudos de viabilidade, nas autorizações de implantação e de

funcionamento, ou seja, verificar em primeiro lugar as repercussões do empreendimento

nas pessoas e seus descendentes. Com certeza as características de sustentabilidade dos

empreendimentos seriam outras. Mas, infelizmente o que vemos por toda parte, de

governos às pessoas, é o comportamento de não renunciar aos benefícios do crescimento

ilimitado, da ilusão do consumo de massa e isso está conduzindo a humanidade para

CAPÍTULO I