Neste trabalho fez-se necessário discutir assuntos importantes para a compreensão
do tema desta dissertação, sem a pretensão, no entanto, de esgotar a discussão. Assim,
debatemos o sistema econômico vigente, o capitalismo, e sua influência nas políticas de
sustentabilidade, novas formas de entender as relações entre o dito desenvolvimento
sustentável e GPIH a fim de compreender e fomentar a discussão sobre o território e
políticas de sustentabilidade no Complexo Energético Amador Aguiar – Rio Araguari/MG. Desta forma, é importante, nesta última parte da dissertação, tecer considerações
sobre questões que foram essenciais na elaboração do texto deste trabalho.
Foi possível perceber durante este trabalho que há uma distância considerável entre
o discurso e idealizações de empresas capitalistas e do poder público e por que não dizer, da
comunidade vivente na AE do Complexo Energético Amador Aguiar, sobre o que realmente
deveria ser um desenvolvimento sustentável do território. De acordo com Michel Foucault
(1996, p.10) “por mais que o discurso seja aparentemente bem pouca coisa, as interdições que o atingem revelam logo, rapidamente, sua ligação com o desejo e com o poder”, ou seja,
por meio do discurso se exerce poder sobre o outro, o discurso revela um jogo de poder no
campo abstrato da palavra. Justamente por meio deste mecanismo de poder que muitas
empresas e o próprio Estado conseguem fazer de suas ações, mesmo quando prejudiciais,
bem vistas socialmente.
Desta forma, é importante ter consciência de que os discursos e as práticas de
políticas de sustentabilidade das instituições e organizações políticas e econômicas, que são
grandes aglomerados de capital, perpassam muito mais por um projeto de marketing e
eficiência nos custos dos negócios, do que efetivamente apostam em investimento em um
modelo de desenvolvimento de fato sustentável, ou seja, que considere as lutas de classes
existentes sobre o território e as considere com vistas à distribuição justa da renda, do
cumprimento dos direitos humanos e dos das outras formas de vida. Tenta-se impingir na
expressão sustentabilidade, a congruência de interesses, mas que na verdade são
incongruentes: o que a empresa capitalista quer não é de fato o que o cidadão necessita.
A empresa capitalista tem por objetivo primeiro obter lucro, pois não é pela boa ação
ao consumidor e ao planeta que os seus acionistas valorizarão, ou seja, exige-se mais do que
boa vontade para que uma empresa capitalista se torne uma empresa cidadã, que promova
o desenvolvimento sustentável. Ao mesmo tempo, as empresas começam a perceber, diante
de um caos ecológico eminente, que é preciso se projetar no futuro e, por isso mesmo, não
podem se esquivar das questões do desenvolvimento sustentável. Por quê? Com certeza não
é por causa do planeta e da humanidade, mas sim para ter produtos e serviços que possam
continuar a serem consumidos.
Sobre esse paradoxo do mundo empresarial com a crise ecológica, de que se “peça” ou se espere de uma empresa agir de modo que as pessoas diminuam suas necessidades de
detrás de todas as políticas e discursos de sustentabilidade no SEB. Ou seja, para o
capitalista o que está posto é buscar tal eficiência energética produtiva/tecnológica que não
ameace os seus interesses mercantis. Assim, os GPIH que dizem ou buscam a
sustentabilidade em seus negócios, não o fazem para as pessoas e ecossistemas. Estes
podem ser beneficiados em decorrências de suas intenções, pois no mundo dos negócios
localizam-se ainda em segundo plano de interesse. O desafio posto é administrar os
negócios tendo as pessoas e os ecossistemas em primeiro plano.
Desta forma, poder-se-ia colocar em prática as recomendações do relatório
Brudtland, publicado em 1987, no que tange à construção de uma humanidade com base no
desenvolvimento sustentável; é preciso urgentemente “obrigar” a civilização humana a se projetar no futuro; por isso o título do referido relatório: Nosso futuro comum. É por essa
ideia que se justifica a proposição de que o Estado deve retomar seu lugar na economia.
Nesse sentido, se considerarmos que não está posta hoje nenhuma organização coletiva que
defenda uma revolução social, é preciso, pelo menos, pressionar o Estado Capitalista a
tomar a frente desta projeção de futuro que resguarde a continuidade humana na superfície
terrestre. Entretanto, é notável nesta pesquisa que o Estado é das grandes corporações e
não de todas as pessoas. O fato das comunidades da Área de Entorno do Complexo
Energético Amador Aguiar ter avaliado o poder público municipal de forma bem mais
negativa do que o Consórcio Capim Branco Energia, demonstra indícios de que as pessoas
não estão enxergando o Estado como o seu representante. Pelo contrário, sendo o
Consórcio melhor avaliado, cria-se e reforça a ideia de que a iniciativa privada é bem mais
eficiente, quando se trata da relação de conflitos de interesses entre as comunidades e os
A intervenção estatal não significa retomar os termos já experimentados outrora de
dirigismo de Estado e muito menos de totalitarismo, mas que em suas mãos possa regular
coerência no modelo de desenvolvimento que se deseja planejar para o bem comum e não
para o bem privado.
Nota-se que a proposta é forte e contradiz ao controle que os interesses privados
têm sobre o Estado, fazendo-o cada vez mais volúvel e entrelaçado com a ideia de
velocidade do tempo predominante no mercado. A esperança de um tempo lento, de longo
prazo, que amadurece, se deposita hoje no Estado. Mas ele, na democracia liberal moderna,
é composto e funciona pela participação de todos, principalmente por meio de algum tipo
de eleição e legitimação de suas instituições. Isso comunga com a nossa discussão sobre o
institucionalismo, exposta no capítulo II. O Estado funciona por meio das instituições,
particularmente as econômicas, e só ele pode, por exemplo, impor regras e leis que
obriguem ao capital dar valor efetivo ao bem comum, como os ecossistemas terrestres e a
cultura/civilização humana. O espaço deveria ser bem comum, mas no capitalismo é por
natureza, um bem privado. Se o ecossistema terrestre dá sinais de que todos estão sob
riscos de sobrevivência, cabe ao Estado obrigar que o privado se manifeste no cuidado com
o bem comum. E não só o Estado com a empresa capitalista, também com todos os
cidadãos, que comportam sob a lógica ideológica do mercado capitalista.
Os “sermões estatais” são fundamentais a médio e longo prazos. Por esse caminho é possível convencer as pessoas, da existência de uma vontade coletiva de enfrentar os
problemas, caso contrário tudo se volta ao individualismo, caráter fundamental da ideia de
crescimento econômico e não de desenvolvimento social. Relacionando isso com os GPIH
observa-se que existe uma dificuldade enorme de salvaguardar a boa informação e a
informação, normalmente concentrada nas mãos do empreendedor, sem que a população
local efetivamente saiba e participe. Por isso, a regulamentação, o incentivo e persuasão
fazem sentido nas relações de conflito, tendo o Estado como facilitador disso.
Entretanto, o Estado que temos está longe de ser “exemplar”, pois suas decisões e suas práticas cotidianas, são incoerentes com o discursos de uma “ecorresponsabilidade”.
Vê-se o quanto que o Estado Brasileiro, para não dizer Capitalista, ainda está longe de
cumprir esse papel de Estado exemplar, reforçando a ideia de que o capitalismo em sua
essência, não tem como ser sustentável. É factível que não é fácil para um governo,
representante estatal, ser coerente. Muitas vezes ele promete mais do que pode cumprir.
Entretanto, na perspectiva da população que vive hoje predominantemente sob o regime de
democracias liberais, o mercado político funciona pressionado pelos eleitores que exigem
resultados rápidos para suas necessidades e isso é constatado, por exemplo, na demanda
por energia elétrica. Essa cultura de atendimento rápido às necessidades dos cidadãos faz
com que a política funcione com base em ações estritamente para os curtos prazos; isso
distancia da ideia de desenvolvimento sustentável e é justamente nessa relação que o
Estado tem patinado em sua função por excelência, a de delinear e governar ações de longo
prazo, exigência de toda e qualquer ação sustentável. Isso ocorre porque esse Estado das
grandes corporações está viciado em crescimento a qualquer custo. Os agentes econômicos,
alegam que precisam responder às necessidades dos cidadãos-consumidores, induzidos a
aumentarem suas despesas com compras e demandas por serviços ditos públicos.
É possível vislumbrar que as responsabilidades por um desenvolvimento sustentável
não são unilaterais: a do Estado regulador; mas bilateral, para não dizer multilateral. Os
cidadãos consumidores/agentes econômicos também devem desenvolver sua dose de ações