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4.4. Bacias sedimentares em outros continentes

4.4.1. Bacias africanas

As gêneses das bacias africanas pós-paleozóicas podem ser resumidas a três eventos principais: isolamento de Madagascar, Índia, Austrália e Antártica durante o Neojurássico; intenso vulcanismo e reativação do cinturão móvel criptozóico da África Oriental no Eocretáceo; abertura do Atlântico e separação da América do Sul no Neocretáceo. Portanto o registro fóssil está controlado pela tectônica continental (JACOBS et al., 1996). Estes eventos ocupam um papel importante na biogeografia dos Crocodyliformes (GOMANI, 1997). Neste contexto, o entendimento das bacias africanas, e a paleofauna nelas presente, é diretamente relacionado com a história evolutiva dos Crocodyliformes do Grupo Bauru.

O contexto geológico da África apresenta pouco consenso sobre sua organização (ANDRADE, 2005), pois os processos de formação e evolução dos vales de riftes ainda não se encontra finalizado, e estas estruturas estão em constante modificação. Portanto o registro fóssil da África pode se mostrar particularmente bom para alguns períodos, e pobre para outros.

4.4.1.1. Bacia Iullemmeden

Andrade (2005) situa o Grupo Tegama dentro da Bacia Tegama, porém diversos autores (KOGBE, 1981; MOODY & SUTCLIFFE, 1991; RAUHUT et. al., 2009) tem inserido este grupo na Bacia Iullemmeden, que estende-se da Mauritania até a África Ocidental, alcançando os territórios do Niger e Mali, sendo composta por uma sequência de depósitos mesozoicos, terciários e recentes (MOODY & SUTCLIFFE, 1991), formados devido às

forças de subsidência consequentes da abertura do Atlântico (RAUHUT et al., 2009). Neste contexto, os fósseis de Crocodyliformes são encontrados nos afloramentos das formações Elrhaz, Echkar e Ibeceten, situadas em uma região conhecida como Gadoufaua, localizada próximo ao Deserto Ténéré no Niger. Trata-se uma extensa faixa de sedimentos com 150 km de extensão e menos de 2 km de largura, onde ocorrem arenitos, siltitos e argilitos (Figura 49). Normalmente é atribuída uma idade eocretácica, entre Aptiano e Albiano (SERENO et

al., 2003; ANDRADE, 2005), para as formações Elrhaz e Echkar, e Coniaciano - Santoniano

para a Formação Ibeceten.

A fauna de Crocodyliformes desta região tem se apresentado muito diversificada, ao mesmo tempo em que relaciona-se com os morfótipos do Grupo Bauru (Mariliasuchus

amarali, Peirosaurus torminni, Montealtosuchus arrudacamposi, Uberabaushcus terrificus e Itasuchus jesuinoi). Para a Formação Elrhaz foram descritos Sarcosuchus imperator (BROIN & TAQUET, 1966), Araripesuchus wegeneri (BUFFETAUT, 1981) e os mais recentes Stolokrosuchus lapparenti (LARSSON & GADO, 2000) e Anatosuchus minor (SERENO et al., 2003). Para a Formação Eckhar são conhecidos Kaprosuchus saharicus e Laganosuchus thaunatos (SERENO & LARSSON, 2009). Para a Formação Ibeceten é descrito Trematochampsa taqueti Buffetaut, 1974, com base em uma grande quantidade de material

fragmentado.

Figura 49 - Mapa geológico e perfil estratigráfico da Bacia Iullemmeden (retirado de Rauhut & Arbarello, 2009).

4.4.1.2. Oasis Bahariya

Uma das principais unidades sedimentares do Egito é uma depressão localizada no Centro do Deserto Ocidental, conhecida como Oasis Bahariya. Seus afloramentos estão situados em um intervalo de tempo entre Cenomaniano e Oligoceno. As rochas de idade cenomaniana pertencem à Formação Bahariya, caracterizada por intercalações de siltitos e arenitos, estratos amalgamados de arenitos com estratificação cruzada e arenitos ferruginosos (Figura 50). Esta deposição reflete uma sucessão fluvial (CATUNEANU et al., 2006; KHALIFA & CATUNEANU, 2008).

Da Formação Bahariya provém Libycosuchus brevirostris e Stomatosuchus inermis Stromer, 1925. Libycosuchus brevirostris apresenta semelhanças com Notosuchus terrestris e tem sido interpretado como um Notosuchia basal (PRICE, 1959; GOMANI, 1997; ORTEGA

et al., 2000; CARVALHO et al., 2004; POL & APESTEGUIA, 2005; FIORELLI & CALVO,

2008). Stomatosuchus inemis é um Neosuchia sem relações bem definidas, embora seja ocasionalmente comparado com Eusuchia na Família Nettosuchidae (STELL, 1973; SERENO

& LARSSON, 2009).

4.4.1.4. Kem Kem Beds

As Kem Kem Beds são uma sequência de afloramentos localizadas a Sudeste do Marrocos, datando do Neocretáceo (Figura 51). As divisões utilizadas são todas informais. Aflorando ocorre uma plataforma de carbonatos que data do neo-Cenomaniano ao Turoniano, os acamamentos abaixo desta plataforma são então divididos na unidade superior de margas e na unidade inferior de arenitos vermelhos. Abaixo dos arenitos ocorrem acamamentos interpretados como fácies deltaicas não marinhas, e divididas entre as unidades superiores compostas de arenitos vermelhos a bronzes grossos a finos, intercalados com lamitos em igual quantidade e as unidades inferiores, compostas de arenitos finos a grossos, com estratificações cruzadas, canais de seixos, icnofósseis verticais e restos de vertebrados. Ocorrem aqui bioturbações, “ripple marks”, horizontes de pegadas e arenitos fossilíferos. Estes depósitos datam do Cenomaniano (SERENO et al., 1996). Hamadasuchus rebouli Buffetaut, 1994 provém de um afloramento desta localidade.

4.4.1.3. Bacia de Mahajanga

A Bacia de Mahajanga situa-se em Madagascar e possui uma importância biogeográfica para o entendimento da fauna do Gondwana. Está situada em um intervalo de tempo entre Permiano e Paleoceno (Daniano). A porção cretácica encontra-se separada dos sedimentos jurássicos por oito unidades informais intercaladas, sobre as quais estão os basaltos do Coniaciano (ROGERS et al., 2000). Quatro unidades sedimentares do Neocretáceo são reconhecidas após os basaltos: Ankazomihaboka “Beds” (Coniaciano a Santoniano), Marovoay “Beds” (Santoniano a Campaniano), Formação Maevarano (? Campaniano a Maastrichtiano) e Formação Berivostra (Maastrichtiano) (ROGER et al., 2000; ABRAMOVICH et al., 2002) (Figura 52). Somente a Formação Maevarano possui fósseis de Crocodyliformes.

Roger et al. (2000) caracterizam a Formação Maevarano principalmente por arenitos de grãos poucos selecionados, fixando sua idade no Maastrichtiano, dividindo-a em três membros: Masorobe, Anembalemba e Miadana. Estes autores sugerem um ambiente de deposição formado por planícies de inundação com rios cruzando transversalmente essas planícies em direção ao mar.

O Membro Masorobe se caracteriza por arenitos em sua maioria avermelhados, grossos e pouco selecionados, ocasionalmente intercalados com arenitos finos, siltitos e lamitos, bem como paleosolos. Ocorrem poucos fósseis de vertebrados e normalmente estão pouco preservados (ROGER et al., 2000). Restos de Simosuchus clarkii são encontrados no Membro Masorobe, porém são apenas dentes isolados (KRAUSE et al., 2010). O ambiente deposicional do Membro Masorobe é entendido como canais fluviais de baixa sinuosidade, largos e rasos, com vegetação abundante.

O Membro Anembalemba é caracterizado por duas fáceis de arenitos bem distintas. A Fácies 1 consiste de arenitos com grãos finos a grossos, pobremente selecionados, ocorrendo estratificações cruzadas. A Fácies 2 é composta por arenitos ricos em argila, com grãos finos a grossos, muito pouco selecionados, maciços de cor verde oliva. O Membro Anembalemba representa um ambiente deposicional fluvial com canais rasos e largos, em um regime efêmero de descargas de cheias. A Fácies 1 é interpretada como representativa de um período sem chuvas, enquanto a Fácies 2 representa um momento de rápida sedimentação, durante as cheias (ROGER et al., 2000).

Fósseis de vertebrados ocorrem em ambas as fácies do Membro Anembalemba (ROGER et al., 2000). Infelizmente os trabalhos consultados (Buckley et al. 2000; Turner,

2006; Turner & Buckley, 2008) se limitam a informar apenas o membro onde foram encontrados, não mencionando a qual fácies o afloramento pertencia. Provêm do Membro Anembalemba Simosuchus clarkii, Araripesuchus tsangatsangana e Mahajangasuchus

insignis. A localização exata de Miadanasuchus oblita não foi informada por BUFFETAUT & TAQUET (1979), mas novos materiais da espécie foram encontrados próximo ao contato

entre os membros Anembalemba e Miadana (SIMONS & BUCKLEY, 2009).

Figura 52 - Mapa da Bacia de Mahajanga (retirado de ABRAMOVICH et al., 2002).

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