• Nenhum resultado encontrado

4.2.1. Bacia do Parnaíba

Localizada na porção Noroeste do Nordeste brasileiro ocupa uma área de aproximadamente 600.000 km², atingindo 3.500 metros de profundidade no depocentro. Esta unidade bacinal foi chamada de Bacia do Maranhão, Bacia Piauí-Maranhão e Província Parnaíba. Desenvolveu-se durante o estágio de estabilização da plataforma sul-americana (GÓES & FEIJÓ, 1994; BIZZI et al, 2003). Segundo Góes & Feijó (1994) seus depósitos são divididos em cinco supersequências, ou sub-bacia, limitadas por discordâncias: Bacia Parnaíba (Siluriano a Carbonífero-Triássico), Bacia Alpercatas (Jurássico-Cretáceo), Bacia do Espigão-Mestre (Cretáceo) e Bacia São Luís / Grajaú (Cretáceo) (Figura 42).

Embora Góes & Feijó (1994) sustentem que a divisão em várias sub-bacias ajuda a compreender o quadro tectônico-sedimentar que ocorreu na região, Vaz et al. (2007) mostram que a eustasia foi o principal controlador dos ciclos e consequentemente das discordâncias da bacia. Assim a divisão em várias sub-bacias é abandonada, e as divisões estratigráficas da Bacia do Parnaíba passam a ser determinadas pelas supersequências (Figura 43).

Deste modo, o Grupo Serra Grande abrange a Supersequência Siluriana, com as formações Ipú, Tianguá e Jaicós. O Grupo Canindé abrange a Supersequência Mesodevoniana-Eocarbonífera, com as formações Itaim, Pimenteiras, Cabeças, Longá e Poti. A Supersequência Neocarbonífera-Eotriássica abriga o Grupo Balsas, onde inserem-se as formações Piauí, Pedra de Fogo, Motuca e Samambaia. A Formação Mosquito não é inserida em nenhuma supersequência. A Supersequência Jurássica abriga apenas a Formação Pastos Bons. Acima dela ocorre a Formação Sardinha e a Supersequência Cretácica, com as formações Corda, Grajaú, Codó e Itapecurú (Vaz et al., 2007).

Batrachomimus pastosboensis, um Neosuchia derivado, foi descrito para a Formação

Pastos Bons (MONTEFELTRO et al., 2013). Esta unidade apresenta na base arenitos brancos, com tonalidades esverdeadas ou amareladas, de granulometrias fina a média, grãos subarredondados, com estratificações paralelas e lentes de calcários. Na porção intermediaria ocorrem siltitos, folhelhos e argilitos cinzas a verdes, intercalados com arenitos. E na porção superior ocorrem arenitos rosa-avermelhados, de grãos finos, que gradam para siltitos com alguns níveis de folhelho (VAZ et al, 2007).

Segundo Vaz et al. (2003) a Formação Pastos Bons teria sido depositada em depressões continentais lacustrinas, com alguma contribuição fluvial, em clima semiárido a árido. A idade da Formação Pastos Bons ainda é motivo de debate. Góes & Feijó (1994) situam-na no Jurássico, na Época Dogger, uma terminação informal para o Jurássico Médio. Gallo (2005) admite uma idade no Jurássico Superior, interpretada como sendo o intervalo Oxfordiano/Kimeridgiano por Montefeltro et al. (2013).

A Supersequência Cretácica foi tratada, por alguns autores, como uma unidade bacinal independente, a Bacia São Luís-Grajaú (MEDEIROS, 2001; ROSSETI & GÓES, 2003; SILVA et al., 2003). A Formação Itapecuru, de idade Albiano, possui fósseis predominantemente de organismos terrestres, duas espécies de Mesoeucrocodylia são descritas para a região, Candidodon itapecuruensis, proveniente da região Norte-Nordeste da bacia, que guarda semelhanças com Malawisuchus, sugerindo uma possível troca faunística com a África. A outra trata-se de Coringasuchus anisodontis Kellner et al. 2009, um provável Notosuchia. A camada que contém os fósseis é composta de arenitos avermelhados, intercalados com siltito argiloso, datada palinologicamente de Albiano médio, e interpretada como um ambiente fluvial, formado por pequenos canais que alimentavam um lago raso (CARVALHO, 1994; NOBRE & CARVALHO, 2000; NOBRE, 2004).

Figura 43 - Carta estratigráfica da Bacia do Parnaíba (retirado de VAZ et al., 2007).

4.2.2. Bacia do Araripe

Estendendo-se nos territórios dos estados de Ceará, Pernambuco e Piauí, trata-se da mais extensa sequência de depósitos sedimentares do Nordeste brasileiro, com aproximadamente 9000 km². É também a mais complexa em termos estruturais, com cada sequência tendo sido formada em um contexto paleogeográfico diferente, e integrado a bacias vizinhas (ASSINE 2007). A subsidência da porção pré-rifte teve início com a fragmentação do Gondwana e a abertura do Atlântico Sul, sendo influenciada pelo rifte oceânico, relacionado ao desenvolvimento da dorsal atlântica, que ocorria a leste (BRITO-NEVES, 1990; GHIGNONE et al., 1986; MARQUES et al., 2014).

Segundo Assine (2007), o desenvolvimento da Bacia do Araripe compreende os estágio de sinéclise intracratônica, pré-rifte, rifte, e pós rifte. A Formação Cariri caracteriza o estágio de sinéclise e é constituída por depósitos fluviais, datando do Neo- ordoviciano/Mesodevoniano; seguem-se os sedimentos neojurássicos da fase pré-rifte, formações Brejo Santo e Missão Velha; os depósitos da fase rifte da Formação Abaiara, que

datam do Valangianiano-Hauteriviano; e finalmente a fase pós-rifte estende-se no intervalo entre neo-Aptiano e Cenomaniano, representado pelas formações Barbalha, Santana, Araripina e Exu (ASSINE, 2007) (Figura 44). Marques et al., 2014 datam a inversão da Bacia do Araripe no Neocretáceo (80 a 65 Ma) e relacionam com o levante da Cordilheira dos Andes.

A Bacia do Araripe é uma unidade reconhecida por seu conteúdo fossilífero, com peixes, artrópodes, pterossauros, dinossauros e crocodilomorfos, e preservação de tecidos moles (e.g. MAISEY, 1991; NEUMANN et al., 2003; SAYÃO & KELLNER, 2006; MARTILL et al, 2007). Fósseis de crocodilomorfos são encontrados apenas na Formação Santana, mais especificamente nos membros Crato e Romualdo. Duas espécies chamam a atenção devido a seu caráter bioestratigráfico, Araripesuchus gomesii (Price, 1959) e

Caririsuchus camposi (Kellner, 1987). A primeira sabe-se apenas que foi encontrada na

Formação Santana, porém FREY & SALISBURY (2007) reportam a ocorrência de um

Araripesuchus para a Formação Crato. Susisuchus anatoceps Salisbury et al., 2003 também é

reportado para este mesmo nível estratigráfico.

É válido lembrar que ASSINE (1992; 2007) se refere como Membro Crato para a esta sequência litoestratigráfica, inserindo-a na Formação Santana, conforme a proposta original de BEURLEN (1962). Porém ocorrem controvérsias a respeito desta divisão na literatura (NEUMANN & CABRERA, 2000). Isto é um reflexo do nível de complexidade estrutural da Formação Santana, que supera aquela das outras formações da Bacia do Araripe (ASSINE 1992).

A Formação Santana iniciou sua deposição no neo-Aptiano e sua base representa contato gradual com o topo da Formação Barbalha, representando uma transição de um ambiente fluvial para outro lacustre (NEUMANN et al., 2003). Tende a ser dividida em três membros: Crato, Ipubi e Romualdo. Porém ASSINE (1992; 2007) reforça que a divisão da Formação Santana em membros não é inteiramente apropriada, por se basear em critérios ambientais e não litoestratigráficos. Com base nestes critérios este autor une o Membro Ipubi ao Membro Crato.

O Membro Crato é constituído por depósitos pelíticos de origem lacustre em episódios de deposição em baixa energia (ASSINE, 1992). Caracteriza-se por arenitos finos siltosos de espessuras decimétricas, estratificações horizontais, intercalados com folhelhos cinza- esverdeados (CHAGAS, 2006). A presença de Gipsita da Camada Ipubi, no topo do Membro Crato, está associada aos evaporitos e ocorre em camadas de lentes descontinuadas, interpretadas como um ciclo transgressivo-regressivo de passagem para o ambiente costeiro

do Membro Romualdo, uma vez que apresenta uma discordância no topo (ASSINE 1992, 2007).

O Membro Romualdo representa principalmente a porção eo-Aptiana da Formação Santana. Caracteriza-se por uma sucessão de folhelhos, arenitos e carbonatos, com estruturas sedimentares indicativas de retrabalhamento por ondas e abundantes concreções carbonáticas, frequentemente contendo fósseis (SILVA SANTOS & VALENÇA, 1968). Caririsuchus

camposi foi encontrado em uma destas concreções (KELLNER 1987). Acima do nível das

concreções, no topo do Membro Romualdo, ocorrem camadas de coquinas em um contato discordante com a Formação Araripina. Este membro teria sido depositado em um ambiente transicional costeiro plataformal (ASSINE, 2007).

Documentos relacionados