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Balanço Nutrientes em Explorações Agrícolas da Ilha Terceira Nutrient balances in dairy farmsfrom Terceira Island

Falcão, Anselmo1, Pinheiro, Jorge1*, Fangueiro, David3

1Univ. dos Açores, Dep. Ciências Agrárias, Rua Capitão João d’Ávlia – Pico da Urze, 9700-042 Angra do Heroísmo, Açores, Portugal

*jpinheiro@uac.pt

3 Universidade de Lisboa, Instituto Superior de Agronomia,Leaf, Tapada da Ajuda, 1349-017 Lisboa, Portugal

Resumo

Este trabalho teve por objectivo caracterizar e descrever os balanços de nutrientes em explorações leiteiras da ilha Terceira. A partir destes balanços, estabelecidos à escala da exploração, foi então possível identificar problemas de gestão e propor soluções. Para o balanço de macronutrientes principais que nos propusemos realizar (N; P; K), foi efectuada a recolha de dados através de um inquérito realizado a um total de 20 explorações agrícolas complementada com dados analíticos dos solos das explorações.

Em todas as explorações inquiridas as principais entradasforam os alimentos concentrados e os adubos, enquanto que as principais e únicas saídas foram os produtos de transformação animal, leite e carne. Os concentrados representam 60,7% das entradas totais de N. Por outro lado, as entradas totais de P e K são maioritariamente observadas através da aquisi- ção de fertilizantes, representando 51,8% do P e 52,5% do K entrado nas explorações. Os balanços de nutrientes N, P e K por unidade agrícola de área útil é positivo (indicativo de excesso) em todas as explorações, variando entre 37,8 e 439,0 kg N ha-1, entre 0,6 e 130,6 kg P ha-1 e entre 10,5 e 191,7 kg K ha-1.

A partir das amostras de solo recolhidas e analisadas é possível verificar que, os níveis de pH, se encontram adequados para a maioria das explorações estudadas, com cerca de 71% das explorações, a apresentarem valores entre 5 e 6, exceptuando-se os terrenos onde se pratica ou praticou a cultura de milho, que por sua vez apresentaram níveis de pH demasiado baixos entre 4 e 5. Já no que toca ao fósforo, a maior parte das amostras recolhidas inserem-se no índice Muito Alto, mais concretamente 63% do total das amostras recolhidas. Indiciando assim risco de excesso para este nutri- ente. Para o K, a maior parte das amostras recolhidas inserem-se também no índice Muito Alto, mais concretamente 62% do total das amostras recolhidas indicando que à semelhança do P, também para o K, não é previsível a necessidade de fertilização a curto prazo para as culturas.

Palavras-chave: Balanço de Nutrientes, (N; P; K), Explorações agrícolas, Ilha Terceira, Açores. Abstract

This study aimed to characterize and describe the nutrient balances in some dairy farms of the Terceira island. From these statements, set the scale of the operation, it was then possible to identify management problems and propose solutions. For the balance of the main macronutrients that we set out to achieve (N; P; K) data collection was carried out through a survey of a total of 20 farms complemented with analytical data of farm soils.

In all surveyed holding the key entries were concentrated food and fertilizers, while the main outputs are unique and pro- cessing of animal products, milk and meat. The concentrates represent 60.7% of the total input of N. On the other hand, the total input of P and K are mostly seen through the acquisition of fertilizers, accounting for 51.8% P and 52.5% of K entered on farms. The nutrient balances N, P and K by floor area of agricultural unit is positive (excess indicative) in all farms, ranging between 37,8 and 439,0 kg N ha-1, between 0,6 and 130,6 P kg ha-1 and from 10,5 to 191,7 kg ha-1 K.

From soil samples collected and analyzed it is possible to verify that pH levels are suitable for most of the studied farms, with about 71% of holdings, the present values between 5 and 6, except in the land where he practiced or carried out corn crop, which in turn had too low pH levels between 4 and 5. Now as regards the phosphorus, most of the samples collected fall within the index too high, more specifically 63% the total of the samples taken.Thus indicating excess risk for this nutri- ent. For K, most of the collected samples also are inserted in the index too high, more specifically 62% of all samples taken indicating that like P, also for K, it is not likely the need for the short-term fertilizing for crops.

154 Introdução

A manutenção do equilíbrio entre a incorpo- ração de nutrientes no solo e a sua remo- ção pelas culturas é de extrema importância para a utilização racional de recursos (fertili- zantes inorgânicos e orgânicos) e para im- pedir a poluição relacionada com a deposi- ção excessiva de nutrientes, especialmente azoto e fósforo no solo.

Por outro lado, a deficiência de nutrientes nos solos põe em causa a sua fertilidade, afectando a produtividade das culturas ne- les instalados. O balanço de nutrientes, azo- to, fósforo e potássio, representa uma quan- tificação dos desequilíbrios observados en- tre a incorporação ou captação destes nutri- entes pelos solos agrícolas e a sua remo- ção pelas culturas neles instalados, dos quais resultam excedentes ou deficiên- cias[1].

O cálculo do balanço de nutrientes permite, assim, identificar situações de excesso ou défice de nutrientes no solo e antever situa- ções que podem colocar em risco quer o ambiente quer a produção agrícola [2]. Durante as últimas décadas, houve um au- mento considerável dos níveis de azoto (N), fósforo (P) e potássio (K) nos solos, devido à intensificação da produção agrícola. Co- mo consequência desta prática são regista- dos desequilíbrios de nutrientes, onde as actividades agrícolas são responsáveis por um forte impacto no ambiente, designada- mente devido aos valores consideráveis de N e P aplicados de forma ineficiente nas explorações agrícolas[3].

O facto de o azoto exercer um efeito signifi- cativo no crescimento e produtividade das culturas, faz com que alguns agricultores exagerem na sua aplicação elevando-a por vezes a níveis completamente insustentá- veis tanto do ponto de vista agronómico como ambiental. Assim, a utilização exces- siva de fertilizantes azotados, associada à elevada mobilidade do azoto no sistema solo-planta-atmosfera, pode traduzir-se em prejuízos económicos e acarretar importan- tes implicações na saúde humana, animal e no meio ambiente.

Nos atuais sistemas intensivos de produção animal, além da utilização de fertilizantes azotados, na produção de forragens e pas-

tagens, grandes quantidades de nutrientes são introduzidas nos sistemas agrícolas, através de alimentos concentrados utiliza- dos com o objectivo de aumentar a produti- vidade individual dos animais, situação esta que origina quantidades importantes de dejecções animais ricas em nutrientes e muito concentradas no espaço e no tempo [4].

Material e métodos

Este trabalho teve por objectivo caracterizar e descrever os balanços de nutrientes em algumas explorações representativas dos perímetros de desenvolvimento agrário da ilha Terceira, mais concretamente as bacias leiteiras de Altares/Raminho, Cinco Ribei- ra/Santa Bárbara, Serra do Cume/Agualva e a bacia leiteira do Paul (Figura 1).

A partir destes balanços, estabelecidos à escala da exploração, foi então possível identificar problemas de gestão e propor soluções. Para o balanço de macronutrien- tes principais que nos propusemos realizar (N; P; K), foi efectuada a recolha de dados através de um inquérito realizado a um total de 20 explorações agrícolas complementa- da com dados analíticos dos solos das ex- plorações.

Figura 1 – Criação eevolução dos perímetros de ordena-

mento agrário da Ilha Terceira.

O sector leiteiro no arquipélago dos Açores representa mais de 30% da produção naci- onal, e as explorações têm uma dimensão média de 28,2 cabeças. Segundo o Serviço Regional de estatística dos Açores, existem 4.507 explorações agrícolas na ilha Tercei-

ra, onde a superfície agrícola utilizada é de 24.354 hectares.

A escolha das explorações que foram alvo deste estudo teve por base a sua represen- tatividade no contexto do sistema agrícola a sua tipologia (instalações e estabulação), e ainda a aceitação dos produtores para cola- borarem neste trabalho (Figura 2).

Figura 2 – Localização das explorações alvo de estudo.

Resultados e discussão

Em todas as explorações inquiridas as principais entradas foram os alimentos concentrados e os adubos, eas principais saídas foram os produtos de transforma- ção animal, leite e carne. Os concentrados representam 60,7% das entradas totais de azoto, tendo o balanço de N variado entre 37,8 e 439,0 kg N ha (Figura 3).

Figura 3 – Balanço de azoto por exploração (ha).

Por outro lado, as entradas totais de fósforo e potássio são maioritariamente observadas através da aquisição de fertilizantes, repre- sentando 51,8% do fósforo e 52,5% do po- tássio entrado nas explorações.

O balanço de P por unidade agrícola de área útil é positivo, (indicativo de excesso) em todas as explorações (Figura 4), vari- ando entre 0,6 e 130,6 kg P ha-1.

Figura 4 – Balanço de fósforo por exploração (ha).

Por fim o balanço do K por unidade agrí- cola de área útil é também positivo em todas as explorações, variando entre 10,5 e 191,7 kg K ha (Figura 5).

Figura 5 – Balanço de potássio por exploração (ha).

A partir das amostras de solo recolhidas e analisadas é possível verificar que os valo- res de pH do solo (Figura 6) se encontram adequados para a maioria das explorações estudadas, com cerca de 71% das explora- ções, a apresentarem valores entre 5 e 6, exceptuando-se os terrenos onde se prati- cou a cultura de milho, que por sua vez apresentaram níveis de pH demasiado bai- xos entre 4 e 5.

Quanto ao teor de fósforo disponível no solo (Figura 7), a maior parte das amostras reco- lhidas inserem-se no índice Muito Alto, mais concretamente 63% do total das amostras

156

recolhidas,indiciando assim risco de exces- so para este nutriente.

Figura 6 – Distribuição dos valores de pH nossolos das

explorações agrícolas.

Para o potássio, a maior parte das amostras recolhidas inserem-se também no índice Muito Alto (Figura 8), mais concretamente 62% do total das amostras recolhidas indi- cando que à semelhança do fósforo, tam- bém para o potássio, não é previsível a ne- cessidade de fertilização a curto prazo para as culturas.

Figura 7 – Distribuição da concentração do fósforo nos

solos das explorações agrícolas.

Figura 8 – Distribuição da concentração do potássio nos

solos das explorações agrícolas.

Conclusões

Os balanços de nutrientes N, P e K por unidade agrícola de área útil em geral fo- ram positivos em todas as explorações. Um dos possíveis motivos associados a esta utilização excessiva dos recursos, tem a ver efectivamente com o desconhe- cimento dos níveis de P e K no solo, sen- do que a maioria das explorações não tinha registo de análises de solo recentes. Outro dos motivos será a limitação da área útil das explorações, que sendo ten- dencialmente insuficiente para os encabe- çamentos praticados, fazdisparar a aplica- ção de fertilizantes, aliado ainda à utiliza- ção exagerada de concentrados, que são o maior factor da entrada de azoto nas explorações.

É perceptível ainda um maneio cultural deficiente em relação à produção do milho para silagem, pois uma boa parte das ex- plorações inquiridas apresentam um pH demasiado ácido para este tipo de cultura, o que deverá suscitar a correção dos so- los afetados através de calagens em do- ses devidamente estimadas. O cálculo dos Balanços de Nutrientes permite, as- sim, identificar estas situações de excesso ou défice de nutrientes no solo e antever situações que possam colocar em risco quer o ambiente quer a produção agrícola.

Referências bibliográficas

[1] Schroder, J.J., Aarts, H.F.M., ten Berge, H.F.M., van Keulen, H., Neeteson, J.J., 2003. An evaluation of whole-farm nitrogen balances and related indices for efficient nitrogen use. Eur. J. Agron. 20, 33–44. [2] Fangueiro, D., Pereira, J., Coutinho, J., Moreira, N.,

Trindade, H. 2008. NPK farm-gate nutrient balances in dairy farms from Northwest Portugal. Europe. J. Agronomy 28 (2008) 625 – 634.

[3] Pinto, A. 2012. Sustentabilidade ambiental e económi- ca da bovinicultura leiteira da Sub-região Alto Alente- jo. Tese de Mestrado em Agricultura Sustentável. Ins- tituto Politécnico de Portalegre. Escola Superior de Elvas. Elvas.

[4] Trindade, H. M. F 1997. Fluxos e Perdas de Azoto em Explorações Forrageiras Intensivas de Bovinicultura Leiteira no Noroeste de Portugal. Tese Doutoramen- to. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Vi- la Real.DC, 2001. Trace elements in terrestrial envi- ronments: biogeochemistry, bioavailability and risk of metals. New York, Springer-Verlag.

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